Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 17
Hipócrita


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não abandonei essa história. Depois de muuuuuuuuuuuuuito tempo eu estou aqui de novo! Bom, eu sei que fiquei 2 meses e 3 dias sem postar, mas agora estou voltando com força total e espero conseguir finalizar essa história (pelo menos essa). Quero agradecer a MsAbel que revisou pra mim. E é isso. Espero que vocês gostem e que não tenham me abandonado!
Até lá embaixo :*



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Susi entra com calma. Retira a porta do caminho delicadamente e a coloca novamente no lugar com movimentos medidos. Ela encosta-se à parede por um segundo, para me analisar e ver se valeu realmente à pena ter vindo me visitar. Pela maneira como vem se sentar junto comigo no meu colchão posso dizer que se convenceu de que estou maleável. Pelo menos um pouco.

Encaramo-nos por um tempo, em uma disputa silenciosa de quem se manifestará primeiro. Quando ela consta que ficarei quieto, finalmente fala:

- Tudo bem com você? – sua voz parece quase materna. Ela parece preocupada de verdade.

- É – digo, fazendo uma careta. – Na medida do possível, é claro.

- O que aconteceu lá? Por que não foi jogar? – eu sabia que era somente a maneira como ela havia achado para começar a conversa. Queria parecer curiosa no lugar de preocupada.

- Peregrina não contou? – minha voz ficou ácida quando toquei no nome completo de Peg. Eu não queria parecer tão estúpido, mas foi inevitável controlar o tom de minha voz.

- Bom, ela não parecia nada bem. Mel foi falar com ela, mas eu continuei jogando – ela parecia sincera. – Percebi que você não estava lá e, apesar de nossa relação ainda não ser a melhor, quis saber o que tinha acontecido. Talvez seja só curiosidade – ela estava se incriminando quando afirmava que tudo tinha sido por causa da curiosidade. Entretanto, como percebi a mentira fácil, consegui levar adiante a conversa.

- Eu e Peg, nós... brigamos – confessei, fechando meus olhos.

- Desculpa, mas... isso épossível? – ela completou com uma risada fraca e incrédula no final.

Abri meus olhos novamente e balancei a cabeça, passando a encarar o colchão gasto. Comecei a brincar com uma parte solta da estrutura do colchão, para não precisar fingir que estava gostando da conversa.

- Por incrível que pareça, sim. É possível. Embora eu não goste muito.

- Mas o que aconteceude fato?

- Basicamente, eu disse que Peg era chata por sempre voltar tudo para seu corpo diminuto e ela, por sua vez, disse que eu a sufoco. Foi isso – dei uma risada no final, querendo convencer Susi que eu era indiferente àquele fato, mas ela não se deu por vencida.

Continuei a olhar para o colchão, tentando me concentrar em outra coisa. Ou simplesmente achar um jeito para ela ir embora.

- Puxa! – ela exclamou, depois de um tempo de silêncio.

- Estranho, não? – perguntei, querendo desaparecer e achando, finalmente, ridícula a causa de minha briga com Peg.

- Ah, não, eu não acho estranho. Posso ser bem sincera? Eu acho engraçado e estou tendo que me segurar para não dar uma bela gargalhada na sua cara.

Sua fala me deixa tão surpreso que meus olhos saltam do colchão para sua face. Mas ela parece séria e com certeza não está contendo uma gargalhada. Fico confuso até perceber o que está acontecendo. Respiro fundo, irritado.

- É feio mentir – minha voz se faz ameaçadora, mas ela não teme. Olha-me com as sobrancelhas ligeiramente curvadas para cima, em uma especulação.

- Precisava de sua atenção. Quero falar algo importante.

- Algo importante? Não sei por que eu não acredito nisso.

- Porque é hipócrita.

- Você veio aquipara me acusar?

- Eu vim aqui a fim de te mostrar a verdade sobre você.

- Que eu sou um hipócrita?

- Não. A verdade que você não sabe lidar com os seus sentimentos corretamente.

- O que você sabe sobre mim pra me falar algo sobre isso?

- Eu sei osuficiente, O’Shea.

- Agora se acha no direito de me chamar pelo meu sobrenome?

- Convenhamos, essa parte de nossa discussão está sendo ridícula. Não importa como eu te chamo. Quero somente que você preste a devida atenção em mim.

- Por isso que você me chamou de hipócrita?

- Por isso que eu falei que achava engraçada a sua briga com Peg.

- E quanto à parte do hipócrita?

- Esqueça a parte do hipócrita.

- Eu não vou esquecer. Eu não quero ser assim!

- Se você me escutar, você não vai ser hipócrita.

- Eu não vou te escutar enquanto você não me disser se eu sou um hipócrita ou não.

- Eu não vou te falar.

- Então se sinta à vontade para sair daqui. Já ouviu falar aquela expressão sobre a porta ser a serventia da casa?

Ela me encarou incrédula por um tempo, pensando que eu me daria por vencido muito antes disso tudo acontecer. De uma maneira brusca, se levantou e seguiu até a porta, não medindo seus movimentos dessa vez.

- Você realmente vai se arrepender de não ter me ouvido – em seguida, colocou a porta com força novamente no lugar.

Alguma força me impulsionou a levantar e segui-la, não acreditando de verdade que ela estava me abandonando. Ela foi a única pessoa que ainda escolheu me fazer companhia e eu senti que não deveria deixá-la escapar de mim assim tão facilmente.

Tiro a porta do caminho com destreza, consequência de anos vivendo no mesmo lugar. Ela está se afastando com passos firmes e corro para alcançá-la, pegando-a pelo braço e fazendo-a se virar bruscamente. Seus olhos estão cerrados e irônicos quando ela se volta para mim.

- O que foi agora? – ela pergunta de maneira sarcástica.

Respiro fundo, percebendo que estamos no meio do caminho e que alguém facilmente pode ouvir nossa conversa. Entretanto, sei que ela não voltará para meu quarto para me falar o que precisa, então me rendo de uma vez por todas.

- O que eu sou? – resolvo ser direto, afinal é somente por isso que eu fui atrás de Susi quando ela não merecia.

- Não quer mais saber se é um hipócrita ou não? – ela está se divertindo às minhas custas e isso me irrita profundamente. Meu aperto se firma e ela dá um gemido fraco de dor. – Já pode parar de apertar meu braço – ela fica séria demais de repente e me obrigo a soltá-la para ela falar alguma coisa relevante.

- Qual é a verdade sobre mim? – pergunto, encarando-a com um olhar exausto.

- Sabe qual é o seu maior problema? – ela começa, depois de um pequeno tempo decidindo se eu merecia escutar alguma palavra de sua boca. – Você não se aceita. Não se reconhece. Não consegue seenxergar.Ian, você não é um poço de erros. Você não é desprezado. As pessoas gostamde você. De verdade. Já parou pra pensaralgum diaemquemvocê é?

Ela esperava por uma resposta concreta, não somente um balanço de cabeça, então disse o que eu achava ser verdade:

- Sim – minha voz estava baixa. Um tanto envergonhada, posso até dizer. – Penso frequentemente em quem eu sou.

- Não, você está errado. Você pensano quêvocê fez. Não em quem você é.

- Eu sei que eu sou um culpado.

- Culpado pelo que? Por um crime que você não cometeu? – ela parecia saber mais sobre mim do que eu imaginava. A convicção de sua fala me deixou confuso e curioso; até que ponto ela me conhece? Ela deu a impressão de saber exatamente sobre o que eu estava falando.

- Você não sabe o que aconteceu.

- Não, e não sou curiosa a ponto de invadir tua privacidade te perguntando isso. Mas tenho uma breve noção que você não fez nada de muito grave. Ian, eu te conheço.

- Ok, você me conhece. E agora, vai me mostrar até qual ponto você me conhece terminando o raciocínio dequemeu sou?

- Você lembra o que aconteceu quando você me resgatou?

- Lembro algumas partes.

- Acho que você lembra o que eu quero então. Você me resgatou da mão dos Buscadores, certo?

- Sim.

- E depois se irritou comigo por eu não gostar de Peg. Confere?

- Sim.

- E então você se arrependeu de ter me resgatado por todas as brigas que aconteceram depois que eu cheguei aqui, não é?

- Sim.

- E brigou com Peg naquela época por causa disso também. Lembra-se disso?

- Lembro.

- Você me resgatou e se arrependeu pouco tempo depois por causa das brigas. E pensou que eu era a culpada. Mas no fim, você culpou a si mesmo por tudo. Você acha que você sempre é e sempre vai ser o culpado por tudo?

- Mas eu sou sempre o culpado por tudo.

- Não acha que nesse caso da briga com Peg, o relacionamento é o culpado?

- O que quer dizer?

- Relacionamentos se desgastam. Precisam de renovações de contrato com atitudes amorosas e inovadoras. A monotonia também é a culpada às vezes. Talvez vocês precisem de algo diferente. Talvez vocês só precisem mudar um pouquinho.

Com a questão no ar, ela começa a se afastar novamente, com passos tranquilos e com a expressão leve. Cumpriu sua missão, afinal.

- Eu sou hipócrita? – pergunto, antes que ela desapareça de minha vista.

Ela se vira lentamente com um sorriso no rosto.

- É – sua voz demonstra que ela está se divertindo e ela dá uma risadinha franca. – Mas você pode reverter esse caso. Pelo menos uma vez na sua vida, se aceite da maneira como você é. Porque você é, de fato, incrível.

E ela segue seu rumo, deixando o elogio pairando no ar junto com a poeira.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Sentiram minha falta? Quero muitos reviews porque sinto falta de você nas minhas atualizações! Se quiserem podem vir falar comigo por mensagem privada e qualquer coisa é só me chamar no twitter @lenisemendes
Bom, é isso. Até o próximo capítulo (prometo que eu não vou demorar tanto pra postar) :*



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