Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 16
Sufocar


Notas iniciais do capítulo

Estou escrevendo rápido ultimamente, acho que ando inspirada haha
Bom, não me matem nem me abandonem por esse capítulo, porque eu tenho um gosto meio estranho voltado pro que eu escrevi. É uma história, calma que ela vai desenrolar ainda. Calminha, ok?
Quero agradecer à Wanderer que mesmo não me ajudando diretamente nesse capítulo me ajuda sempre e à MsAbel que sempre revisa pra mim e me dá ideia pra títulos.
Até lá embaixo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/361035/chapter/16

Jogar. Soava como um termo novo e desconhecido para mim, como se eu o tivesse usado em outra vida. Em uma vida passada e antiga.

Há muito tempo deixamos de jogar regularmente. Desde o julgamento de Kyle, quase três anos atrás. Estremeço levemente com a lembrança e Peg aperta minha mão, passando-me um olhar questionador, porém quando dou de ombros ela volta a caminhar normalmente.

Kyle havia tentado matar Peg. Logo Peg. Aquela de quem eu gostava, não importando em quais condições ela vivesse. Aquela que era humana acima de outros humanos, mais humana que o meu irmão.

Essa ocasião do julgamento dele não me fez bem. Tanto por ele ter tentado matar Peg quanto por eu ter desejado que ele fosse mandado embora das cavernas. No fundo eu agradeci quando ele ficou aqui, seguro. Provavelmente eu não suportaria perdê-lo, não com a cumplicidade que havia se estabelecido entre nós dois.

Seguimos para a Sala de Jogos, o grupo da caverna com uma vibração diferente da comum, mais animada, mais agitada. As conversas se distribuem irregularmente, com assuntos extremamente diferentes.

Não converso com Peg. Apenas sigo segurando-a pela mão delicadamente.

Também estou vibrando internamente. Jogar. Isso soa perfeito para mim.

Jamie e Susi seguem em nossa frente, rindo de tempos em tempos por bobagens. Eles estão muito próximos, mãos milimetricamente separadas. Volta e meia eles trocam olhares cheios de emoção, com um brilho diferente.

– Jogar relembrando os velhos tempos é bom – comenta Mel atrás de nós, presa embaixo dos braços de Jared, que segura a bola com outra mão.

– Eu gostava de jogar quando estava no seu corpo – Peg se intromete, olhando para trás de soslaio.

– Gostava? Por que o uso do passado? – pergunto.

– Ora, porque esse corpo não foi feito pra isso.

– O corpo de novo?

– O corpo de novo – ela repete o que eu digo numa afirmativa.

– Sabe, você tem que parar de usar isso como desculpa pra tudo.

– Desculpa pra tudo? – ela parece ofendida com a minha fala, me olhando com um olhar incrédulo.

Paro no meio de um passo e a encaro, meio cansado disso tudo. Tudo, em absolutamente tudo o que vamos fazer, a Peg usa como desculpa o corpo diminuto dela. Apenas quando é para sair em incursão que ela considera ridículo isso de ela ser frágil demais. Desprendo minha mão da sua.

As pessoas passam nos desviando, querendo evitar a briga. Acabamos ficando para trás do bando que segue em direção à Sala de Jogos.

– Sim – afirmo, balançando a cabeça positivamente. – Tudo o que vamos fazer você fala “eu não tenho altura, eu não tenho força, eu não consigo, eu não posso” – minha voz se inclina suavemente na direção da dela, tentando imitá-la. – Olha, se você não queria esse corpo, você podia ter dito isso anos atrás que nós trocávamos. Não nos importaríamos se você reclamasse. Mas essa coisa mais sutil é mais chata. Ela cansa.

Ela parecia chocada comigo. Eu também estava, mas não queria parar de criticá-la. Eu a amo? Sim, claro. Entretanto a bondade dela, a vontade de não querer reclamar, mas fazê-lo mesmo assim, e todo esse amontoado de coisas vai enchendo até subir à tampa.

– Ok, então... eu não posso falar nada ou eu tenho que falar tudo? Porque eusinceramente não sei o que você quer. Eu tenho que reclamar de verdade, igual uma ingrata? Ou ficar calada, não fazer nenhum comentário sobre meu corpo?

– Eu quero que você seja feliz, Peregrina – o uso do nome completo dela desestabilizou-a por um milésimo de segundo, antes dela retornar mais feroz.

– Eu sou feliz, Ian, eu sou! Por que tudo o que eu falo soa mentira nos seus ouvidos?

Estávamos sozinhos no corredor, abandonados por todos aqueles que estavam indo jogar. O direito de falar mais alto nos foi concedido e eu não consegui controlar o tom da minha voz, que foi quase um rosnado.

– Isso não é verdade...

– Não? Não? Então me explique como não. Porque todas as vezes que eu me lembro você falou comigo como se eu fosse uma criança frágil e estivesse mentindo que fosse forte e vice-versa. Isso também cansa.

Minha boca se forma num “o” e eu balanço a cabeça lentamente para os lados, cético.

– Não acredito que estou ouvindo isso...

– Não? Pois trate de acreditar. Ian, eu te amo. Te amo muito, com toda a minha alma. Amo também as suas atitudes e tudo que envolve você. Mas sabe, às vezes eu me sinto sufocada. Presa. Eu não sou sua bonequinha. Eu não sou perfeita, não vou fazer tudo o que você quer sempre, Ian, você precisa entender isso.

Minha visão ficou turva e eu perdi minha voz. Assim, de repente, meu coração se encolheu e se partiu em um milhão de pedacinhos. Estilhaçado. Meus ouvidos não acreditavam no que recebiam. Engoli em seco, sem desviar os olhos por um segundo sequer.

– Peg, Ian... – Jamie chegou correndo e parou no meio de um passo, ao dar de cara com nós dois nos encarando com lágrimas nos olhos. – Eles querem vocês pra jogar – o volume da voz dele havia diminuído consideravelmente nessa última parte.

A chegada de Jamie não foi o suficiente para acabar com a discussão, não exatamente. Eu estava com raiva, muita raiva, e muito magoado também. Tomo os ombros de Peg com força e encosto bruscamente minha testa na dela, encarando-a com fogo no olhar. Ela engole em seco, conhecendo o que a ira faz comigo.

– Então – sussurro em uma voz penetrante e raivosa, quase um rosnado. – Nesse caso, eu sinto muito se te desapontei, Peregrina – solto os ombros dela rispidamente e me viro, seguindo meu caminho quase em uma marcha.

Não olho pra trás. Não quero fazê-lo.

– Ian – a voz de Peg foi um pedido fraco e silencioso que eu ignorei.

Marcho até meu quarto, levantando uma poeira púrpura e baixa durante o caminho, conseqüência de meus pés revoltosos. Aperto minhas mãos em punhos e desejo socar alguma coisa para descontar minha raiva. Cogito a parede, mas eu me machucaria de verdade e, mesmo com o remédio das almas, não conseguiria me curar sozinho.

Fugir. Era nisso que eu havia me transformado, um fugitivo. Fugindo dos pensamentos, dos sentimentos, da verdade, do mundo, da minha própria namorada. Era isso que eu era? Um covarde? Um medroso? Uma pessoa que temia o passado, o presente e o futuro? Que era atormentado todas as noites por causa disso?

Sinto-me aliviado ao chegar à porta de meu quarto e poder descontar minha ira em algo. Tiro a porta do caminho com um chute forte e a coloco novamente no lugar com um soco. Jogo-me na minha cama e tento não chorar. Engulo em seco, respiro fundo, fecho os olhos com força, rôo minhas unhas, mas em hipótese alguma choro. E tento também não enlouquecer.

Então eu a sufoco? Meu zelo, todo o meu cuidado, é sufocante? Ela se sente presa? Ela está... infeliz? Estremeço ao pensamento de ela estar infeliz comigo. Ela enjoou de minha companhia? Os anos que passamos juntos serviram para mostrá-la que eu fui sempre uma ilusão? Apenas uma ilusão?

Dou um soco raivoso no colchão e me esforço novamente pra não chorar. Respire fundo, respire fundo. Você não vai chorar. Não novamente. Não estou com raiva de Peg. Estou com raiva de mim. Por ter sido tão idiota. Por não ter visto o que estava em minha frente. Por ter sido tão ridiculamente cego pensando que Peg estava feliz comigo, em minha companhia.

Levanto-me e procuro por alguma coisa quebrável no quarto. Eu preciso bater em algo. Bater em alguém. Eu preciso canalizar essa raiva sufocante. Sufocante, meu pensamento é um gemido.

Desisto, exausto, caindo na cama e segurando minhas lágrimas entre espasmos. E o pior? É minha culpa, novamente, como sempre. Sofrer cansa. Brigar cansa. Não ter Peg cansa. Ser sempre o culpado cansa.

Respiro fundo e deito de costas, encarando o teto e tentando esquecer. Tento pensar em outras coisas mais leves. Tento desviar minha cabeça para outros temas.

Brinco, como costume, com a aliança em minha mão e me lembro do dia em que a resgatamos. Tiro-a de meu dedo e mexo nela com as minhas duas mãos, analisando-a de todos os ângulos. Ela é grossa e prateada. Há uma pedrinha pequena sobre ela, não muito feminina, apenas simbólica. Uma auréola fina de ouro a rodeia delicadamente, a dando um toque especial.

Uma aliança. Eterna. Não é uma briga que destruirá com tudo o que construímos durante anos. Brigas não são eternas, não é? Contudo é difícil acreditar nisso nessa situação, quando estou tão magoado.

Fecho forte meus olhos e tento respirar fundo a fim de acalmar minha respiração quase animal de tão descompassada. Rolo na cama por um tempo, procurando uma posição, antes de relaxar deitado de costas. Minhas mãos ainda estão fechadas em punho, mas se abrem lentamente, dedo por dedo, enquanto eu me acalmo gradativamente.

A raiva não desapareceu, apenas se ausentou por um tempo. Tempo suficiente para eu dormir. Dormir para esquecer.

Sonhar não foi tão difícil quanto parecia.

Acordo horas, ou minutos depois, com algumas batidas fracas na porta. Sei que não é Peg, apesar da delicadeza das batidas. Peg não bateria na porta de meu quarto para entrar nele.

Coço meus olhos e me espreguiço, estalando algumas juntas. Logo que sento sinto uma pontada perto de meu coração. A briga. Quase a esqueci. Respiro fundo e tento controlar as batidas descontínuas de meu coração.

– Pode entrar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vão me bater? Vão me bater? Calma que ainda estamos no meio da história HSAHUIDUASUIDSA
Deixem reviews, digam o que eu preciso melhorar e etc. E agora vou imitar a Ju, porque sei que ela não vai se importar hehe Podem me falar o que vocês acham no twitter também: @lenisemendes
Enfim, até o próximo capítulo ;**



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Almost Human" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.