Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 18
Querer


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei. Primeiro fico 2 meses sem postar e depois posto dois capítulos em dois dias seguidos. Infelizmente não posso prometer que eu escreva o próximo tão rápido. Mas aqui está e eu espero que vocês gostem de lê-lo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo. Quero pedir que vocês escutem essa música http://www.youtube.com/watch?v=fvEZUbzqqyM ou essa http://www.youtube.com/watch?v=oxCBH18tmTs enquanto leem pra entrarem no clima. E quero agradecer à MsAbel por ter revisado pra mim ♥
Até as notas finais :*



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Eu tinha consciência de meu relacionamento com Peg não voltaria com tanta pressa ou facilidade. Saber que talvez a principal causa da briga fosse o relacionamento não fazia com que eu me sentisse menos magoado. E o elogio de Susi não cumpria o efeito desejado; suas palavras não eram tão relevantes quanto ela queria que fossem.

Portanto, foi especialmente difícil ver Peg entrando no quarto com o rosto inchado e sem me dar nenhuma saudação. Ela passou direto pelo meu olhar e deitou-se de costas para mim, sem uma única palavra proferida.

Tive vontade de me abraçar a ela e pedir desculpa por tudo o que disse, reconhecendo agora que meu cansaço não se devia de fato a ela e a suas atitudes. Suas atitudes sempre foram incríveis.

Ela aceitava fazer coisas que pudessem ajudar os outros sem se importar com o seu próprio corpo, mas quando fazia coisas para si mesma, negava por reconhecer suas próprias limitações. Quando eu disse aquilo, provavelmente a feri gravemente. Foi um ato quase covarde.

E quanto àquilo que ela disse sobre eu sufocá-la. Talvez seja verdade. Talvez enquanto exijo coisas desnecessárias e reconhecimentos prévios, eu a esteja sufocando. Talvez enquanto a acuso por coisas que não são concretas eu a esteja sufocando. Talvez se eu disser uma única palavra esta noite ela se sinta sufocada.

Casais brigam. Relacionamentos se desgastam. E o que fazemos quanto a isso? Renovamos ideias e contratos. Essa é a teoria de Susi.
E quanto à minha?

A minha teoria diz que enquanto houver amor, tudo continuará. Enquanto houver saudade, tudo continuará. Enquanto houver alegria, tudo continuará. Enquanto houver tristeza, tudo continuará. Enquanto houver brigas, tudo continuará. Enquanto houver relacionamentos, tudo continuará. Enquanto houver duas pessoas unidas, tudo permanecerá.

Consigo ver o corpo de Peg se mexendo conforme ela respira controladamente. Seus cabelos loiros lhe caem nas costas, cobrindo uma parte dela. De costas parece um anjo assim como de frente. Falta somente um par de asas desenhado em seu corpo, fazendo-a levantar voo.

Sem relaxar completamente me deito. Deixo uma de minhas mãos entre nossos corpos separados, apenas para sentir seu calor natural. Inspiro, sentindo o cheiro de mofo e de sua pele, mesmo com ela longe de mim.

Sei que nossa briga não será eterna, mas sinto um vazio profundo dentro de mim, que somente ela pode preencher. Pensando em alguma maneira de nos reconciliarmos, eu caio na inconsciência.

No dia seguinte, Peg se mudou de quarto – foi dividir um quarto com Jared e Melanie, tirando completamente a privacidade dos dois. Pelo o que eu soube, ela foi muito bem recebida. Uma raiva desconhecida me preencheu.

O tempo passou arrastadamente. Percebia cada milésimo de segundo, principalmente durante a noite, quando sua ausência se fazia presente – a cama ficava fria e grande demais. Faltava ela e o espaço minúsculo que ocupava.

Várias pessoas a paparicavam, enquanto ninguém sequer me olhava. Não queriam que eu me sentisse culpado, mas me acusavam quase com dedo apontado para a minha cara. Apenas Susi ainda se importava comigo e, mais da metade do tempo, passava com Jamie.
Não sobrava ninguém para mim.

***

– Já parou de se culpar? – perguntou-me Susi com condescendência, em um dia qualquer em que veio me fazer uma visita noturna no meu quarto.

– Não exatamente – respondi, brincando com minhas mãos. – Não é tão fácil quando você é ignorado por praticamente todas as pessoas que você convive.

Ela fez um som de desprezo com a garganta, ignorando meu argumento.

– Bando de idiotas – resmungou, sendo sincera ao extremo e falando exatamente o que pensa. – Pensam que você é o culpado e colocam a Peg no lugar de coitadinha. Queria que soubessem da missa a metade.

– O que quer dizer? – quis rir da maneira como ela disse tais palavras, balbuciando para o nada e ao mesmo tempo querendo falar para mim.

– Quero dizer que... – ela fez uma pausa para olhar para mim. E no fundo de seus olhos azuis, eu reconheci a verdade nua e madura, pronta para ser saboreada. – Quero dizer que você não é o culpado. Acho que nem Peg é. Creio que ambos deveriam ser tratados da mesma maneira, sem distinção. Porque, você sabe, eu já te disse, você é uma pessoa incrível.

– Eu não sou uma pessoa incrível – contestei, negando veementemente. – Sou apenas um humano errante.

– Quem não erra, Ian? – ela me olhou incrédula por eu considerar isso um defeito. - Isso faz parte do ser humano. E me diga um elogio melhor que esse? Melhor que humano?

Estava pronto para dizer algo quando ouvi uma voz fina de soprano vindo da direção da porta.

– Humano com coração de alma. Esse é um elogio melhor que somente humano – a voz de Peg estava exatamente como eu me lembrava; fina, delicada, constrangida e confiante. Ela permanecia parada de braços cruzados encostada à parede de pedra.

– Bom... – comentou Susi, incerta.

– Eu acho. – Peg falou antes que Susi dissesse qualquer coisa para discordar. – Aliás, Jamie estava te procurando. Creio que é melhor você encontrá-lo.

Susi suspirou antes de se levantar do meu colchão, onde estava sentada. Ela olhou para Peg com um olhar desanimado.

– Tudo bem, eu vou vê-lo. Onde ele está?

– Na cozinha.

– Comendo ainda?

– Não, somente te esperando.

– Mas ele não estava me procurando?

– Eu disse que sabia onde você estava e que te chamaria por ele.

– Ah, tudo bem. Obrigada, eu acho. – Susi se virou para mim e olhou-me com sinceridade. – Acredite em tudo o que eu lhe disse. Boa noite, Ian.

– Boa noite, Susi – respondi à meia voz.

– Boa noite, Peg.

– Boa noite, Susi.

Susi então partiu, deixando-nos sozinhos. Encarei Peg por um momento, analisando-a minuciosamente. Ela estava com uma camisa de flanela por cima de uma regata e usava uma calça justa, mas não completamente colada em seu corpo. Seu calçado era exatamente o que eu me lembrava: um tênis rosa, que ela herdou de Pet.

Ela estava de braços cruzados ainda, analisando-me também. Eu estava vestindo algo razoável: uma camiseta preta, uma calça jeans escura e um tênis surrado que eu tenho há tempos. Pela maneira como me olhava ternamente eu sabia que ela não queria brigas nem discussões. Queria esclarecimentos, entendimentos. Queria pagar dívidas e receber o que estavam lhe devendo.

– Não vai entrar? – perguntei, com um tanto de timidez me invadindo. Esse sentimento não se encaixava para mim, entretanto. Eu nunca fora tímido; pelo contrário, sempre enfrentava diversas coisas que poucos conseguiam. E agora, a timidez era tudo o que eu conseguia distinguir em mim mesmo. A timidez e o constrangimento.

Um sorriso se insinuou em sua face, mas não tomou seu lugar em seu rosto totalmente. Ela andou até a grande porta e a colocou novamente no lugar, proibindo a passagem de curiosos. Eles sabiam que quando a porta de algum quarto estava fechada, é porque queriam privacidade. Senti que a conversa que se seguiria seria séria.

Ela caminhou até o nosso colchão em passos medidos, deliberando a cada instante sobre dever ou não continuar seguindo seu caminho até mim. Pelo que percebi, ela decidiu me dar uma chance de uma vez por toda: uma reconciliação – eu me sentia pronto para isso finalmente.

Ela sentou-se, ainda mantendo certa distância de mim, e pousou suas duas mãos sobre suas pernas. Sustentou meu olhar curioso e sorriu um pouquinho. Simplesmente para eu saber que tudo iria se resolver.

– Sobre o que vocês falavam? – ela perguntou, como se despretensiosa.

Não consegui responder imediatamente – havia me desacostumado a trocar falas com Peg em todo esse tempo em que ficamos separados. E quando finalmente consegui balbuciar alguma coisa, minha voz saiu fraca.

– Sobre mim – pareceu-me egoísta isso, mas era a verdade. Falávamos sobre minha briga com Peg, mas principalmente sobre o meu lado da situação. E era essa parte que realmente contava.

– Isso soa estranho. Quando foi a última vez que você conversou com alguém sobre você?

– Na verdade, isso foi alguns minutos atrás – não consegui me conter; a piada apareceu de modo natural, como se nunca tivesse desaparecido de minha vida.

Ela revirou os olhos e ameaçou rir, mas parou a si mesma no último segundo. Planejava uma conversa séria e o teria.

– Você entendeu o que eu quis dizer – acusou, sem cerimônia.

– Eu converso com outras pessoas frequentemente sobre mim – estava sendo sincero, mesmo não querendo ser. Era ridiculamente egoísta conversar com outras pessoas sobre os meus problemas.

– E depois de tantas conversas, você já sabe quem você é? – ela estava cavando pelas beiradas, usando um método completamente diferente de outros que foram aplicados em mim.

– Não exatamente.

– Ainda se culpa por tudo?

– Sim – suspirei, sem perceber que estava prendendo a respiração.

Ela sustentou meu olhar por mais algum tempo. Seus olhos estavam estreitos e questionadores, tentando desvendar algo sobre mim. Alguma verdade, mesmo que parcialmente dita. Creio que queria apenas uma explicação sobre nossa briga – afinal, o que eu pensava realmente sobre o que eu disse a ela?

– Você acha que nossa briga aconteceu simplesmente por sua causa? – ela entrou no assunto evitado, por fim. Sabia que esse sempre fora seu objetivo ao vir falar comigo. Ela estava curiosa e queria reconciliação. Será que eu faço tanta falta na vida dela quanto ela faz na minha?

– Acho que aconteceu em parte por minha causa. Eu que a comecei, pelo menos.

– Bem, você a desencadeou, não posso negar, mas não foi só você que ofendeu.

– Você... me magoou bastante, pra dizer a verdade.

– Exatamente. E é por isso que estou aqui. Quero me explicar assim como quero uma explicação – esse era seu objetivo. Queria se explicar. E de repente eu percebi que ainda não tinha pensado sobre mim; quase me esqueci de que ela me ofendeu tanto quanto eu a ofendi. Talvez eu não fosse tão egoísta assim.

– Eu estava completamente errado naquilo que eu disse... – tomei frente da situação, querendo acabar logo com essa tortura.

– ... eu sentia que era uma mentira minhas acusações...

– ...você não é chata, na verdade sempre pensa nos outros...

– ... você não me sufoca, pelo contrário, zela por mim...

– ... você pensa única e exclusivamente nos outros quando não reclama sobre o seu corpo...

– ... porque tudo o que você sempre fez foi querer o meu bem...

– ... e você pensa sobre você quando fala sobre suas limitações corporais. E tudo o que eu sempre quis ver em você era seu egoísmo...

– ... e eu não aguento mais ficar longe de você...

– ... simplesmente porque eu te amo...

– ... e não consigo viver sem te ter do meu lado.

Então nos silenciamos. Depois de declarações amorosas, não tínhamos mais nenhuma palavra boa o suficiente para preencher o momento. Olhar para seus olhos cinza-prateados novamente fez uma chama se acender dentro de mim. Ela estava viva e era eterna. Era o nosso amor.

– É isso – ela disse, abrindo um sorriso satisfeito em seu rosto. Mas eu senti tanta falta desse sorriso em minha vida...

Estendi minha mão trêmula pelo espaço vazio entre nossos corpos e a pousei calmamente em seu rosto, tocando-o levemente e com medo de uma rejeição. Ela fechou os olhos sem desmanchar seu sorriso radiante e colocou uma de suas mãos sobre a minha, afagando-a enquanto eu fazia movimentos circulares com o meu polegar em sua bochecha.

Analisei sua pele lisa e macia com o meu tato e visualizei suas sardas, que a deixavam mais linda do que já era. Ainda temia uma rejeição, mas avancei um pouco no espaço entre nossos corpos, sem parar de fazer carinho em seu rosto.

Logo eu estava ajoelhado em sua frente, ainda trêmulo e inseguro. Tomei então seu rosto com as minhas duas mãos e ela abriu seus olhos, para acertar em cheio nas minhas íris azuis. Ela ainda não tinha fugido de meu toque, então aproximei nossos lábios lentamente.

Primeiramente, deixei nossos lábios se roçarem docemente. Tentei lembrar-me da sensação do nosso beijo, mas não consegui. Principalmente porque não conseguia me concentrar. Então, para potencializar a sensação, eu friccionei meus lábios nos dela uma única vez.

A chama da saudade foi tão grande que nós estouramos como nunca havia acontecido antes. Deixei meus lábios se perderem nos lábios dela, que tinham um gosto adocicado, e ela se manteve presa em mim, afagando meu cabelo o tempo todo.

Minhas mãos deslizaram das laterais de seu rosto e foram parar em suas costas, apertando-a mais contra mim. Suas unhas compridas arranhavam minha nuca enquanto ela entrelaçava seus dedos em meu cabelo escuro, mas não me importei. Não sei se eu conseguia sentir.

Eu queria que esse momento fosse eterno e durasse um pouco mais que isso. Não queria que fosse inevitável o fato de termos de separar nossos lábios algum momento, para qualquer que fosse a necessidade. Passamos tempos demais separados; eu queria que esse nosso tempo pudesse se estender pela infinitude de algumas coisas.

Quando o ar se fez necessário, passei os beijos para seu pescoço, aproveitando para sentir seu cheiro inebriante. Senti que ela afundou seu rosto em meu cabelo e me abraçou mais forte – ela também queria a eternidade.

Consegui perceber quando meu aperto se tornou firme demais, ligeiramente descontrolado. Eu sabia que queria mais do que podia ter e que devia parar a tempo, então suavizei meu toque e separei meus lábios da pele de Peg, encostando nossas testas.

– Ian, o que foi? – ela me perguntou com um ar de preocupada.

Olhei no fundo de seus olhos; olhei tão profundamente que não consegui focalizar por muito tempo. Sorri um pouquinho e coloquei uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha, demonstrando que eu estava mais calmo agora.

– Desculpe-me. Sério, eu... não sabia o que estava fazendo.

– Por que você está me pedindo desculpa? – ela parecia confusa de verdade, franzindo seu cenho de forma engraçada.

– Ora, eu sei que quase passei do sinal vermelho...

– Sinal vermelho? Qual sinal vermelho? Eu, pelo menos, não estabeleci nenhum – ela arqueou suas sobrancelhas, me desafiando a responder sua pergunta. Não consegui achar nada de concreto para lhe dizer. Ela suspirou. – Ian, está tudo bem. Estava tudo bem. Não acha que nosso relacionamento está meio velhinho pra tantos adiamentos?

– Eu não sabia se você queria...

Ela tomou meu rosto em suas mãos, para eu não desviar meu olhar.

– Eu quero. Isso basta pra você?

– Peg, eu não sei...

Ela desistiu de me falar alguma coisa, então simplesmente pegou minhas duas mãos e as colocou sobre o primeiro botão de sua camisa de flanela, deixando-as lá. Eu não sabia se devia prosseguir, entretanto, mesmo com essa dúvida em minha cabeça, eu desabotoei o primeiro botão, olhando-a para ver se podia continuar. Ela parecia meio impaciente, na verdade. Mas eu fiz tudo calmamente, sempre olhando para ela para confirmar se a continuação me era permitida.

Ela me permitiu ir até o fim e, quando finalmente nos unimos, eu soube que eu não tinha outra definição para o que eu sentia por ela. Era o amor. Em sua forma mais verdadeira e pura. Tínhamos uma aliança concreta e isso significava que éramos eternamente um do outro. Eu não reclamaria disso.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Quero reviews, hein! Juro que estou me esforçando pra vocês gostarem de ler essa fic tanto quanto eu gosto de escrevê-la. Bom, já disse que não posso prometer que eu vá escrever o próximo capítulo tão rápido, mas eu juro que vou tentar não ficar 2 meses sem postar, ok? Podem falar comigo por mensagem privada ou pelo twitter @lenisemendes se quiserem notícias também ♥
Até o próximo :*



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