Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 10
Culpado


Notas iniciais do capítulo

Demorei de novo! Desculpa, desculpa, desculpa...
Bom, não sei se o capítulo ficou bom, mas um dia as coisas vão melhorar, tenham muita calma comigo AHDUIASHDI
Vamos aos agradecimentos de sempre: Wanderer e MsAbel, pra variar sempre me ajudando ♥
Espero que gostem, nos vemos lá embaixo :*



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A mão de Susan estava levantada e fechada em punho, como se ela fosse bater em alguma porta. Eu sabia que ela pretendia bater na porta de meu quarto para falar comigo, mas antes disso escutou os ecos de minha conversa com Peg e parou no último segundo. Faz quanto tempo que ela está escutando a conversa? Qual parte ela ouviu?

Sim, eu estava curioso, mas não ousaria abrir minha boca. Peg também estava calada. Era um momento embaraçoso, ninguém fazia idéia de como prosseguir.

A mão de Susan caiu lentamente ao lado de seu corpo. Perguntei-me se ela choraria.

Eu não queria ter dito aquilo em voz alta. Deveria ter guardado meus pensamentos para mim. Ou talvez pudesse ter maquiado um pouco a verdade, seria menos insensível. No entanto, eu falei tudo o que eu queria e agora estou sentindo o peso disso.

Sinto que estou desejando coisas demais nesses últimos dias. Penso que se tudo tivesse sido diferente, as coisas seriam melhores. É claro que sim. Mas infelizmente não podemos mudar o passado e tenho certeza de que no futuro isso fará alguma diferença boa para mim. É como diz aquela música: “Se eu soubesse antes o que sei agora erraria tudo exatamente igual”. No futuro. Ainda continuo no presente.

Sempre fui muito ligado com essa história de passado, presente e futuro. Passava dias inteiros pensando sobre isso. Comecei a pensar que ou não existia futuro ou não existia presente. Passado existe porque quando terminei de pensar isso já estava no passado. E no passado nós pensamos no futuro. Então quando eu escrevi isso aqui eu estava pensando no futuro, mas o futuro seria meu presente agora. Foi quando eu cheguei a uma conclusão. Vivemos, no presente, o futuro que o passado criou.

Mas agora isso não importa.

O silêncio parece infinito. Susan se abraça com medo.

– Peg – uma voz conhecida chama. Por muito tempo essa voz pertenceu à Peg, mas hoje não mais.

– Peg, preciso falar com você – poucas pessoas perceberam a diferença quando as duas trocaram de corpos, mas eu percebia. O tom de voz era diferente, mais estridente quando Melanie o usava. Eu poderia mudar essa fala para como a Peg usaria. Vamos inverter as situações.

“Mel, posso falar com você? Se isso não for incomodar, é claro.”

Ela parou ao lado de Susan, obviamente não percebendo a situação em que estava exposta. Encostou a mão na parede para recuperar o fôlego e finalmente olhou ao redor.

– Gente – disse espantada. – O que aconteceu?

“Gente, está tudo bem? Se quiserem me contar qualquer coisa estou aqui.”

Ninguém abriu a boca. Ninguém ousou respirar. Meus olhos dançavam entre as três mulheres na minha frente, mas Peg encarava Susan e Susan me encarava.

Ótimo, pensei com um ar amargurado.

Peg suspirou baixinho, mas eu não relaxei de minha posição. Susan se encolheu ainda mais.

– Posso... – começou, mas teve que respirar fundo antes de concluir a frase. – Posso deixar vocês dois sozinhos? – ela não olhou para mim.

Meu coração deu uma batida dolorida por causa desse simples fato de ela me ignorar.

Susan assentiu quase imperceptivelmente.

– Tem certeza? – perguntou em dúvida.

– Por favor, o que você pensa que eu sou? – perguntei, irritado com o jeito que ela estava falando implicitamente de mim, quase como se eu fosse machucar Susan.

Ela continuou a olhar reto, ignorando-me completamente.

– Tem certeza? – tornou a perguntar.

Susan assentiu de forma mais pronunciada, talvez por causa de minhas palavras. Ela confiava em mim. Uma batida arrependida de meu coração.

– Vamos – disse Peg para Melanie, pegando em seu braço e a puxando. Mel me lançou um olhar interrogativo e deu uma piscadela, seja lá o que isso significasse.

Estabelecemos-nos no silêncio por um momento, não sabendo como prosseguir.

Seria a hora para me redimir e usar o cavalheirismo. Respirei fundo.

– Quer entrar? – perguntei da forma mais delicada possível, tentando ignorar a vontade doentia de correr atrás de Peg. Susan se encolheu um pouco mais. – Não vou fazer nada contra você, juro – odiei ter que falar isso, como se pudesse levantar a mão contra uma mulher. Tudo por causa de algumas palavras impensadas. Estúpido, amaldiçoei-me.

Levantei-me com movimentos lentos, tentando não assustá-la. Ainda assim ela recuou um pouco quando eu me aproximei da porta.

– Pode entrar – fiz uma reverência. Não do tipo de reverência brincalhona, exagerada, apenas indicando com delicadeza que ela podia entrar e permanecer em segurança. Ela me olhou com os olhos arregalados e questionadores. Assenti em incentivo.

Ela deu um passo curto, depois outro e mais um. Não era um avanço constante, lembrava-me quando Peg se assustava nos casos em que precisava falar com Jared. Eu era o Jared, nesse caso.

Fechei a porta logo depois de ela ter entrado e ela deu um pulo com o barulho.

– Sente-se – apontei para a minha cama. Ela engoliu em seco e sentou-se com uma postura um pouco rígida demais, como se fosse correr.

Eu estava triste. Por ela, por mim. Ela não devia ter escutado e eu não devia ter falado. Não, não, eu não devia ter pensado.

Sentei-me na cama mais relaxado do que ela, sabendo exatamente o limite de meus atos. Nada a temer, especialmente.

Não sabia como prosseguir depois disso. Ela olhava para as próprias mãos, prestando mais atenção às cutículas do que eu achava necessário.

– Eu... – comecei meio hesitante. Ela demonstrou interesse, tirando os olhos de suas mãos e passando a me encarar com um olhar questionador. Ela estava obstinada. Magoada também, mas com muita, muita raiva. Alguma coisa mudou. O medo não faz mais parte dela.

E foi isso que me intimidou. Vi-me incapaz de concluir minha frase.

– Eu?... – ela me olhou com suas sobrancelhas arqueadas e com um sorriso irônico.

Apenas uma coisa: toda e qualquer culpa evaporou nesse olhar.

– Me desculpa – pedi mesmo assim. Não era de o meu feitio ignorar a culpa.

– E por que eu deveria lhe desculpar? – perguntou com um ar especulativo. Sua cabeça tombou pouco para o lado.

– Eu disse aquilo sem pensar, então... – comecei e logo fui interrompido.

– Então o quê? Se arrepende? – sua voz estava cheia de escárnio. E mágoa. Uma mágoa reprimida. Ela tentava esconder com seu tom de voz e seu olhar severo, mas eu podia ver que ela choraria a qualquer momento. – Não, você não se arrepende. Se disse que falou sem pensar é porque falou o que estava sentido, e você estava arrependido. Não por me magoar, mas por ter me salvado – pelas últimas palavras sua voz tinha perdido a força.

Senti-me culpado novamente. Quando isso pararia? Ela estava completamente certa! Mas como eu poderia concordar sem fazê-la sofrer mais um pouco?

– Você está certa – sinceridade. Seria esse o melhor caminho? Seu rosto pareceu desabar um pouquinho. – Eu não pensei no que eu disse, então quer dizer que eu disse exatamente o que eu estava pensando – concluí. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela desviou seu rosto para se recuperar.

– Então por que quis conversar comigo? – perguntou-me com uma voz gélida. Sua maneira de querer reprimir seus sentimentos a fazia lembrar Kyle. Já havia se tornado um hábito comparar seus atos com atos de outras pessoas conhecidas.

– Porque... por Peg – resolvi usar a sinceridade novamente. – E porque eu fiquei realmente mal por você ter escutado. Queria me justificar – expliquei. Ela pareceu acreditar na segunda parte facilmente.

– Então se justifique, ora! – disse ela, finalmente me olhando. – Você não falou nada que não fosse confirmar o que eu escutei. Agora eu quero saber o maldito motivo de tudo isso! – ela explodiu.

Mais uma vez Kyle. Até as palavras que ela usava a faziam se tornar parecida com ele.

Ela quer uma justificativa. Tenho eu uma justificativa para tudo isso? A minha justificativa é tão egoísta que fiquei com vergonha de pronunciá-la.

– Eu... eu... – não sabia como prosseguir. Estava envergonhado demais para fazê-lo.

– Me diga – seu humor oscilava. Ela está prestes a chorar novamente. Deve estar tão estressada. Imagino como tudo isso deve ser desconcertante. Como posso eu culpá-la por tudo isso? Fui eu quem briguei com todos por causa dela, não ela que forjou tudo isso como estava em minha cabeça. São os meus pensamentos que estão oscilando, não as emoções dela.

– Eu pensei que a culpa de todas essas brigas fosse sua – disse em uma voz baixinha. – Mas é claro que não é sua culpa. Claro que... – não terminei. Captei seu olhar. Estava cheio de dor. Quanto ela tinha escutado? Teria ela escutado quando eu falei de todas as brigas que aconteceram nos últimos dias? Sua expressão me dizia que não.

– Você... – tampouco ela conseguiu terminar a frase. Ela desabaria. Por minha culpa. – Mas foi você que me salvou... – ela tentou achar algum sentido em tudo o que eu havia dito.

– Sim, fui eu – interrompi impaciente. – Por isso que agora percebo que a culpa não é sua...

– Você ainda me culpa sim! – gritou ela, se levantando de repente. Seu dedo veio parar em meu rosto. Ela estava chorando de raiva. – Você me culpa! Você culpa alguém porque alguma coisa aconteceu! Claramente o culpado não foi você, fui eu que chamei tua atenção, você só fez o que qualquer um faria. Você acredita que a culpa é minha porque de fato é! – ela não esperou pela minha resposta. Recuou alguns passos para trás e tirou a porta do caminho, pondo-a de volta quando saiu do quarto. Escutei seus passos enquanto ela corria a toda velocidade para longe de meu quarto.

Não tive reação alguma. Fiquei parado, sentado em minha cama, esperando o choque passar. Foi um processo lento e quando aconteceu eu me deixei cair em minha cama. Com quantas pessoas eu ainda brigaria hoje? A culpa era minha. Culpa. Perguntei-me por que essa palavra estava tão presente em meu dia de hoje. Tudo girava em torno dela. O que fazia meu estômago dar nós esquisitos era a culpa. Eu briguei com Kyle, depois com Peg e finalmente com Susan. Acho que briguei até com Jeb. E contradisse Jared. Eu não podia culpar ninguém por meus atos. Estaria eu tentando me esconder, fugir? Isso não era de meu feitio, mas eu não estava em meu melhor dia.

Preciso me redimir. Mas antes disso quero ficar sozinho para organizar meus pensamentos. Massageio minhas têmporas e respiro fundo, fechando os olhos. Dormir seria uma boa distração, mas prefiro ficar acordado. Preciso pensar.

Será que eu não dormi bem? Seria uma ótima explicação para meu comportamento estranho. Dormi em horas completamente erradas, talvez seja isso que esteja afetando meus limites. Normalmente sou eu que tenho a cabeça no lugar, mas ando me arriscando muito na emoção esses últimos dias. Até Kyle percebeu isso.

Será que se eu dormir eu vou conseguir pensar com clareza e fazer alguma coisa certa? Não custa tentar. Dou de ombros para mim mesmo e fecho meus olhos, concentrando-me em relaxar e respirar com calma. Estou quase mergulhando na escuridão, no esquecimento, quando uma coisa me faz acordar.

Três batidas. Na porta de meu quarto, no meu coração.

– Peg? – pergunto com minha voz colorida de esperança.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem reviews, é importante saber da opinião de vocês.
Como eu disse, tenham calma porque as coisas demoram pra se desenrolar e toda história tem a parte chata, então não me abandonem.
Até o próximo capítulo :*



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