- Pausa para comida! – Digo dando pause no seriado e me levantando. – Alguém vai querer alguma coisa?

- Ainda vamos continuar vendo isso? – Dean murmura.

- Eu quero pipoca! – Cléo diz se levantando do sofá.

Estávamos quase no fim da primeira temporada de Xena, a Princesa Guerreira. Dean estava quase dormindo, Cléo animada porque ama o seriado (ela não confessa e nunca confessará) e eu... Bem, quem não gosta de Xena?

- Traz comida então para mim. – Dean diz se jogando para o lado a fim de deitar no sofá enquanto tirava seu celular do bolso. – E não esqueça a bebida.

Reviro os olhos e ando com Cléo até a cozinha.

Enquanto estávamos preparando as coisas para comer, nos sentamos e Cléo começa a contar sobre o dia dela. Não fora tão emocionante quanto os outros dias, mas ela parecia satisfeita com isso.

- E o seu, Deli? – Cléo pergunta.

- Hm... Normal. – Diga pausadamente. – Sabe, conheci um cara maneiro...

- Um cara? Como ele é? Qual é o nome dele? Casado ou solteiro?

- Credo Cléo. – Digo rindo da empolgação dela.

- Não é todo dia em que Delilah Oswald conhece alguém. – Ela diz dando de ombros. – Então, quero saber de todos os detalhes.

Começo a contar todos os detalhes no “encontro” com Robert. Digo o que conversamos, como ele é e respondo todas as suas perguntas – tipo, muitas!

- Meu Deus, a Delilah teve um encontro com um Doutor Gostoso! – Cléo diz alta e animada. – Eu sabia que você encontraria alguém a sua altura. Estou tão orgulhosa de você.

- Hã... Obrigada, eu acho. – Falo incerta.

- E quando vão sair novamente?

- Ele disse que iria me ligar e tal. – Comento levantando e indo pegar a pipoca que estava pronta. – Espero que seja logo, gostei dele.

- Espere sentada Delilah, ele não irá te ligar. – Escuto o comentário com uma risada de deboche.

Desligo o fogão e me viro para encarar a criatura de Deus.

- Oi? – Faço de desentendida.

- Você entendeu exatamente o que eu disse Delilah, ele não ligará para você. – Dean fala caminhando até mim. – Não quero você fique magoada de novo, então é melhor aceitar o fato e seguir em frente.

- Você nem o conhece. – Rebato.

- E não preciso, todos os homens são iguais. – Ele diz com convicção.

- E desde quando ouvir conversa atrás da porta te dá o direito de falar alguma? – Cléo intervém ficando ao meu lado e olhando para Dean.

- Vocês demoraram com a pipoca, e eu vim ver o que tinha acontecido. – Dean se defende. – Além do mais, deveriam me agradecer por dizer a verdade.

- E você por acaso sabe qual é a verdade? – Pergunto ficando cada vez mais irritada.

- A verdade é que todo homem que diz que irá ligar para a mulher, não liga. – Dean fala cruzando os braços. – Então, não se iluda Delilah.

- E quem é você para falar alguma coisa? Quer dizer, afirmar alguma coisa?

- Sou o cara que ficou dois meses te aturando chorar porque o Emanuel decidiu te trair, sou o mesmo cara que conhece todos os joguinhos de homens. E o cara que está te dizendo para não criar expectativas. – Dean fala sério.

Eu fico em silêncio o encarando. Não tinha resposta para lhe dar, não a altura. Cléo também o encarava, provavelmente pensando em uma maneira de fazê-lo quebrar os dentes por ser tão babaca.

- Pois saiba que Robert não é da mesma corja que você. – Digo por fim séria.

- Não quer acreditar em mim? Ótimo! Agora não venha chorar para mim, nem estragar minha vida de novo, porque o “Doutor Gostoso Robert” te deixou esperando pela eternidade. – Dean conclui sério. – Agora, se fizer a gentileza de me alcançar à pipoca, eu agradeceria.

Eu o olho mais uma vez, antes de pegar a panela com pipoca e despejar em um balde. Dean estende a mão para pegar as pipocas e para sua surpresa, eu jogo o balde de pipoca em cima de sua cabeça.

- Fique tranquilo Dean, eu não te procurarei para mais nada. – Falo saindo da cozinha com raiva e me jogo no sofá.

- O que foi aquilo amiga? – Cléo aparece rindo.

- Qual é o seu problema Oswald? – Rosna Dean entrando na sala tirando as pipocas de seus cabelos e tentando tirar o sal que estava em sua roupa.

- Você. – Eu respondo. – E eu lhe pergunto, qual é o seu problema?

- O meu problema é viver na mesma casa que você vive. – Ele grita com raiva.

- Se esse é o seu problema, então você pode sair pela aquela porta e ir embora. – Grito de volta apontando para a porta de entrada. – A porta é serventia da casa! – Conclui cruzando os braços.

- Eu te odeio Delilah Oswald! – Ele grita andando pesadamente até a porta.

- Eu te odeio Dean Blake! – Grito no mesmo instante em que ele bate a porta com força. – Argh! – Exclamo com raiva.

Aquele homem simplesmente me deixava... Louca! Eu queria matar ele por ser tão cafajeste... Tão cheio de si, tão dono da verdade. Eu o odiava com todas as fibras do meu corpo. Eu apenas queria que ele fosse embora para sempre da minha vida. Ninguém nunca havia me irritado tanto quanto Dean conseguia.

Olho para os lados com raiva até que eu paro minha atenção em Cléo que assistia tudo sem falar nada. Ela não ria mais, me conhecia bem o suficiente para saber que eu estava a “ira em pessoa”.

- Perdi a vontade de ver Xena. – Falo tentando me acalmar.

- Quer que eu fique com você? – Ela pergunta depois de alguns segundo de silêncio.

- Se não for te magoar, eu queria ficar sozinha. – Pedi gentilmente.

- Tudo bem. – Cléo concordou e foi pegar seu casado que estava sobre a mesa perto da porta. – Me liga se precisar de alguma coisa.

- Tudo bem... E obrigada Cléo! – Digo abrindo a porta.

- Eu nem gosto de Xena mesmo. – Ela diz sorrindo. – Boa Noite.

- Boa noite. – Digo fechando a porta de casa.

Olho para a sala e não sinto animação suficiente para arruma-la. Apenas desligo a televisão e fecho as cortinas. Ando até meu quarto e me jogo na cama. Não sabia o que fazer, ou melhor, o que sentir. Não sabia se devia chorar ou gritar ou dormir. Não sabia se deveria me preocupar com Dean fora de casa essa hora, ou se deveria ficar feliz com sua partida.

Não sei quanto tempo demorou, mas fui vencida pelo cansaço e adormeci.

***

Escuto meu celular tocar.

Alguém estava me ligando, e eu ainda estava dormindo.

Abro os olhos rapidamente pensando que poderia ser uma chamada da policia ou do hospital ou quem sabe da funerária avisando que Dean havia sido preso/machucado/morto.

Atendo rapidamente.

- Alô?

- Hm, te acordei? – Escuto uma voz masculina.

- Quem é?

- Robert, o cara que tomou café com você ontem...

Meu coração falhou. Robert estava mesmo me ligando.

Um ponto para mim e nada para Dean.

- Oi Robert, como vai? – Mudo completamente a minha voz e me arrumo melhor na cama.

- Então, eu queria saber se estava a fim de almoçar comigo hoje. – Robert pergunta. – Se estiver livre é claro.

- Eu gostaria sim. – Respondo abrindo um sorriso.

- Sabe o restaurante ao lado do shopping? – Ele pergunta e eu afirmo. – Pode me encontrar meio dia lá?

- Claro! – Afirmo. – Estarei lá meio dia.

- Ótimo. Então, nos vemos mais tarde.

- Tudo bem, nos vemos mais tarde.

- Tchau.

- Tchau. – Digo por fim desligando o telefone.

Ainda sorrindo, mando um “S.O.S.” para Cléo e levanto da cama animada para começar o dia. Saiu do quarto e ando em direção à cozinha para comer alguma coisa – depois de ter feito minha higiene matinal, claro. Enquanto comia meu cereal, não escutei nenhum barulho em casa. Deduzi que Dean ainda estivesse com raiva de mim. Terminei meu café e fui até o corredor. Dei uma espiada no quarto de Dean, só para confirmar e realmente ela ainda não havia voltado para casa. Pego meu celular e mando uma mensagem.

“Espero que a funerária não me ligue avisando que você morreu.”

Menos de um minuto, recebo a resposta.

“Você não teria tanta sorte, ainda vou viver muito!”

“A propósito, pretende voltar para casa hoje?”

“Está sentindo saudades de mim?”

“Não mesmo!”

“Porque você não admite que me ama e que me quer com você ai na sua casa?”

“Hm... Deixa eu pensar... Porque eu não te amo?”

“Sem graça!”

“Tá, você vai voltar para casa hoje ou não?”

“Porque se importa?”

“Porque eu vou sair e não quero ficar preocupada com a possibilidade da policia bater aqui em casa dizendo que você está preso por que seu ego incomoda muita gente... E nem quero o Senhor Robert vir aqui te prendendo por não cumprir nenhum dos acordos.”

“Credo, para que um texto tão grande? E para fim de sua curiosidade, estou tirando agora mesmo o alargador e tudo o que você disse para eles.”

“O QUE?”

“Para que o espanto? Acha que eu não sou um homem de palavra?”

“Quer mesmo que eu responda?”

“Dispenso seus comentários desnecessários... E vai sair para onde?”

“Robert me ligou, vamos almoçar juntos agora. Estou pronta para receber suas desculpas por ser um grosso, idiota e arrogante.”

“Não terá minhas desculpas... Viva com esse fato!”

“Já vale o fato deu estar certa e você errado!”

“Eu não estou errado, mais cedo ou mais tarde, você verá!”

“Pare de azar minha vida!”

“Ah, traga comida quando chegar do encontro.”

“Porque sempre quer que eu compre sua comida? Não sou sua mãe!”

“Porque eu tenho mais o que fazer da vida... E acha que eu te aturo de graça? Pelo menos seja uma boa Delilah e alimente o deus aqui.”

“Metido!”

“Chata!”

“Idiota!”

“Sonsa!”

“Cachorro!”

“Cadela!”

“Insuportável.”

“Ainda continuo querendo minha comida...”

“Tá, eu vou te trazer a maldita comida!”

“Obrigado!”

Jogo meu celular em cima da cama por fim e vou até a porta de entrada já que a campainha estava tocando. Provavelmente era Cléo atendendo meu pedido em plenas 9 horas da manhã.

- Onde é o fogo? – Cléo pergunta entrando em casa como um furacão.

- Que fogo? – Pergunto fechando a porta.

- Você mandou um “S.O.S.”. – Cléo exclama.

- Não tem fogo nenhum... Preciso da sua ajuda, tenho um encontro!

- Com o Doutor Gostoso Robert?

- Dá para parar de chama-lo assim? – Digo rindo. – Você nem o conhece.

- Mas se é doutor, então é gostoso. – Ela diz rindo.

- Você não presta mesmo.

Andamos para o meu quarto. Enquanto eu experimentava várias roupas até decidir qual iria usar para o almoço com Robert. Parecia pouca coisa, eu nem deveria estar animada para isso... Mas não conseguia controlar a ansiedade de sair com Robert, pela segunda vez. E não saber qual roupa vestir, era o primeiro sinal de que eu estava nervosa.

- Deli, você já provou todas as roupas do seu armário. – Cléo diz. – Escolhe uma que você se ache bonita e confortável e pronto.

- Falar é fácil né Cléo? – Digo revirando os olhos.

Vejo minha amiga revirar os olhos e depois rir um pouco. Viro-me para ela sem entender a vejo olhando para meu celular. Pergunto o porquê de ela estar rindo.

- Você e o Dean são engraçados. – Ela comenta dando de ombros. – Parecem aqueles casais de velhinhos que ficam se bicando o tempo todo.

- Nada haver.

- Ele praticamente disse “amor descongela o frango hoje”.

- Por favor, Cléo. – Digo revirando os olhos. – Não tem nada haver nossas mensagens com aquelas mensagens de casados.

- Tá bom, não está aqui quem falou. – Ela diz rindo. – Mas que parece, parece.

- Você está no lado de quem afinal? – Eu pergunto com uma careta.

- Estou do seu lado. – Minha amiga se defende rapidamente.

- Então vamos focar na roupa que eu irei usar no almoço e não nas mensagens de casados com Dean. – Digo e percebo o que falei.

Cléo na risada batendo palmas como uma retardada dizendo “eu disse”. Reviro os olhos e não falo mais nada. Como se eu e Dean tivéssemos uma relação a mais do que... Ódio. Por favor. Não conseguimos nem passar uma noite juntos sem brigar, quem dirá fazer outras coisas.

Tá, isso ficou estranho.

Bufo de impaciência. E volto a procurar uma roupa para eu poder sair.

Aquilo seria uma missão impossível... Ainda mais que minha amiga da onça não está propensa a me ajudar e sim ficar rindo de mim!

Eu mereço!