Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 6
Gostosa do Kansas


Notas iniciais do capítulo

OLÁ PESSOAS DA TERRA O/
Então, estou correndo com prazos de fim de semestre, não terei férias em julho, a coisa tá feia e blablabla, sorry pela demora D:
Mas em compensação, eu fiz um capítulo bem maior que os outros, yeeeeeeey, apesar de ter dito que os caps aqui seriam menores, eu não consigo negar meu sangue (?). Mas esse vai ser uma exceção, os caps continuarão pequenos :)
Dedicado a Loph e a Manu, pelas recomendações. Valeu, honeypots *>*
A parte mais legal desse cap saiu da cabecinha da Nana sheuashuehase tipo, ela deu a ideia e eu escrevi, já que ela é preguiçosa. Sério, a menina tem as melhores ideias e a maior preg pra escrever ¬¬
Bom, espero que gostem :*



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Agente Cooper estava no Twede’s Cafe com o xerife Harry, tomando uma xícara de café. Não havia um só episódio em que ele não tomasse café, o cara adorava aquilo. E Erin era ligeiramente apaixonada por ele. Ok, muito apaixonada. Não por café, mas pelo agente Cooper.

Eu sempre podia contar com minha melhor amiga para se apaixonar por personagens fictícios.

Mas eu não podia culpá-la. Não era como se ela fosse a única. Eu não podia negar minha ligeira paixão pelo príncipe Andrei Bolkonsky de Guerra e Paz – principalmente interpretado pelo Mel Ferrer, no filme de 1956 –, pelo doutor Derek Shepherd – mais conhecido como McDreamy – de Grey’s Anatomy e – embora fosse mais fácil eu mastigar vidro a admitir isso em voz alta para alguém – pelo Angel, de Buffy, a caça vampiros.

E claro, que garota não era pelo menos um pouquinho apaixonada pelo Sr. Darcy, de Orgulho e Preconceito?

Mas pelo menos eu não ficava suspirando apaixonadamente como se tivesse treze anos cada vez que um deles aparecia na tela, como Erin fazia em cada cena de close do agente Cooper.

E, honestamente, o cara tinha sonhos bizarros com anões e gigantes. Ele era totalmente pirado.

Não que eu não curtisse a série preferida da minha melhor amiga. Era até interessante – mas da primeira vez, apenas. Quando você já sabia quem diabos tinha matado Laura Palmer, a coisa meio que perdia o ponto.

Bom, pelo menos para quem não hiperventilava à mera visão daquele policial pirado.

– Vou fazer mais pipoca – anunciei, levantando do sofá com o balde de pipoca vazio. Erin apenas assentiu, sem tirar os olhos da TV. Eu fui para a cozinha e bocejei enquanto os milhos explodiam dentro do micro-ondas. A pipoca tinha sido apenas uma desculpa para me levantar e não acabar dormindo no sofá. Erin odiava quando as pessoas dormiam na frente da TV, principalmente durante uma maratona da sua série preferida. Mas a verdade era que eu estava acabada e precisava de um descanso.

Uma noite mal dormida, ter Asher Lockwood me dando lição de moral, trabalhar no sábado – a galeria abria de terça a sábado então sim, eu era escravizada até no final de semana – e precisar ouvir a indignação de JJ por causa dos meus “calçados inaceitáveis” durante seis horas direto meio que tinha me detonado.

Ah, e ser acusada de assassinato também não tinha sido legal. JJ havia dito que usar crocs era a mesma coisa que enfiar uma adaga no coração de Christian Louboutin.

E eu já estava há três horas vendo TV com Erin.

Eu só queria ir para casa.

Mesmo que a ideia de que eu estava pensando no apartamento do Lockwood como casa fosse meio perturbadora.

– Ei, por que você está demorando tanto? – Erin perguntou, entrando na cozinha usando shorts de moletom e um suéter velho do Mitch. – Vai perder a melhor parte!

Suspirei e dei de ombros.

– Estou esgotada, Erin – respondi, soando tão cansada como me sentia. – Acho que vou para casa.

Ela franziu o cenho.

– Se está tão cansada, você sabe que pode dormir aqui. Eu não quero ficar sozinha mesmo e o Mitch só vai chegar amanhã.

Eu sabia, ela já tinha me falado que Mitch precisara fazer uma pequena viagem de trabalho. Mas eu não queria ficar ali. Podia ser egoísta, mas eu só queria muito dormir na minha cama.

– Sinto muito, mas eu realmente quero ir para casa – insisti.

Erin ainda tentou me convencer a ficar e, é claro, jogou um pouco com a chantagem emocional “você vai abandonar a sua amiga grávida sozinha e desamparada”, mas eu fui firme. Tá, talvez eu estivesse sendo mais do que apenas egoísta, talvez eu estivesse sendo fria e agindo com descaso com minha melhor amiga. Mas eu sempre era a melhor pessoa do mundo para ela e só queria, por uma vez, fazer o que eu sentia vontade de fazer e pronto.

Ela acabou entendendo e, resignada, me “deixou” ir.

– Mas leva essa pipoca com você – ordenou, quase jogando o saco de pipoca em mim. – Você deixou um minuto a mais de novo, Max, eu nunca mais vou deixar você fazer a pipoca. Você sempre queima.

Era verdade. E, mesmo que fosse ligeiramente nojento, eu só gostava de pipoca queimada e, às vezes, esquecia que as outras pessoas do mundo não tinham gostos estranhos como eu.

Depois de pegar minhas coisas e calçar minhas crocs tão ofensivas, Erin me levou até a porta.

– Me liga quando chegar em casa para eu saber que você não foi sequestrada, estuprada e esquartejada no caminho – mandou, como sempre fazia quando eu saía de noite da sua casa.

Eu sorri e a deixei me dar um rápido abraço.

– E se eu for sequestrada, estuprada e esquartejada? – perguntei.

– Me liga mesmo assim.

Eu ri e fui embora.

Ainda era cedo, passava um pouco das nove da noite. Encolhi-me no meu casaco, tremendo um pouquinho com o vento frio, e caminhei vagarosamente até o metrô. Não estava tão cheio, então eu até consegui um lugar para sentar e comer minha pipoca queimada. Encostei minha cabeça na janela depois e até fechei os olhos por alguns minutos. Eu estava realmente quebrada.

Sorri quando finalmente desci do metrô e fui andando, dessa vez um pouco mais apressadamente – já que tinha ficado mais frio – para casa. Foi um alívio finalmente entrar no apartamento e encontrá-lo totalmente escuro. Asher não estava em casa. Não que ele me incomodasse muito – ok, incomodava – mas eu me sentia muito mais à vontade sem o cara se esgueirando por aí.

Certo, ele não ficava se esgueirando, mas...sei lá.

Acendi as luzes e todo o meu alívio foi embora como se nunca tivesse estado lá. A sala estava em tal estado de nojeira que era uma cena quase apocalíptica.

Normalmente, a sala de Asher é bem grande e aconchegante. Tinha um sofá grande em formato de L meio coberto por uma colcha macia, no qual eu havia colocado várias almofadas coloridas – em que o idiota do meu colega de apartamento fazia questão de sentar, mesmo depois que eu taquei um vidro de ketchup nele por isso –, um tapete felpudo que me fazia sorrir de satisfação quando pisava nele com pés descalços, uma estante totalmente lotada de DVD’s – todos de Asher e a maioria era composta por documentários inacreditavelmente chatos; os meus DVD’s ficavam a salvo no meu quarto –, alguns livros de arquitetura renascentista, uma pequena coleção de discos de vinil e, por mais esquisito que fosse, um manual de como sobreviver durante um apocalipse zumbi. Não havia nada meu naquela estante, só para registrar. Não sei em que mundo eu precisaria de um manual de sobrevivência zumbi, mas vai saber em que mundo Asher Lockwood vivia. No real é que não era.

Os poucos espaços vazios da estante eram preenchidos com cadeiras de design assinadas e miniaturas de Jack-o’-lanterns.

O cara tinha uma séria obsessão por abóboras em formato de caveiras.

A TV, é claro, era ridiculamente grande. Como éramos dois malucos viciados, a TV grande era um ponto em que concordávamos totalmente. Isso e as duas janelas com cortinas totalmente abertas, como a maioria das pessoas fazia em Nova York. Gostávamos de poder observar a vida alheia do prédio da frente, mas isso não era nenhuma novidade.

Atrás do sofá, como que separada por uma linha invisível, ficava a parte da sala que era para ser uma sala de jantar. Realmente tínhamos – ou Asher tinha, estava lá quando eu cheguei – uma enorme mesa de jantar retangular, com três cadeiras em cada lado e uma em cada ponta. Não havia nada nela. Eu odiava toalhas de mesa e Asher não via o ponto dos centros de mesa, então deixávamos daquele jeito mesmo, já que nunca a usávamos de qualquer jeito. Sempre comíamos no balcão que separava a sala da cozinha ou no sofá.

Esse lado da sala – o lado da mesa inútil – estava intocado, como sempre. Porém, o lado aconchegante, do sofá com as almofadas coloridas, da enorme e convidativa TV e da estante cheia de porcarias estava um caos. Parecia que as portas do inferno tinham sido abertas ali e o próprio Diabo saíra espalhando morte e destruição.

Bom, morte era meio que um exagero. Mas eu estava bem certa sobre a destruição.

Minhas lindas almofadas estavam jogadas por todo lado, uma delas estava rasgada e suja. Eu estava quase apostando que aquele rasgo tinha sido obra de um salto alto. A colcha e o sofá estavam cobertos de restos de comida e manchas escuras. Chegando perto, eu pude sentir o cheiro de cerveja. Não que eu realmente precisasse do meu olfato para saber que aquilo era cerveja, já que havia pelo menos umas trinta latinhas amassadas pelo chão e em cima do sofá mesmo. Aproximando-me da cena devastadora, eu quase pisei numa poça do que eu achava que era mais cerveja. Não era.

Alguém não conseguiu chegar no banheiro a tempo.

Porra.

A estante estava bagunçada – embora os Jack-o’-lanterns estivessem em perfeita segurança na prateleira mais alta – e eu até encontrei um dos livros de arquitetura do Asher quase embaixo da cortina. Alguém tinha desenhado um pênis na capa.

Como eu me arrependia de não ter simplesmente ficado na Erin.

Por pelo menos uns cinco minutos – tempo demais, sim, mas eu estava tentando me recuperar do choque – eu fiquei ali de pé, parada, apenas piscando. Eu estava decidindo se deveria simplesmente correr para o meu quarto para chorar de desgosto e depois dormir, caçar Asher por toda a cidade e mutilar aquele corpo do qual ele era tão orgulhoso ou simplesmente começar a limpar aquela bagunça.

Sim, as duas – especialmente a segunda – primeiras opções eram as mais apelativas. E eu realmente preferiria ter escolhido uma delas, mas a criatura obsessiva por controle, arrumação e limpeza dentro de mim não permitiu. Eu nunca conseguiria simplesmente me enfiar no meu quarto e dormir. A visão da sala no estado em que se encontrava me manteria acordada até de manhã e eu sabia que, quando meu colega de apartamento chegasse – se chegasse – ele nem piscaria para a bagunça e faria exatamente o que eu nunca conseguiria fazer – se trancar no quarto e ignorar. E a coisa provavelmente ficaria daquele jeito até algum vizinho começar a sentir o cheiro e chamar a polícia para dizer que havia um corpo em decomposição no sexto andar. Então talvez o folgado do Lockwood fizesse alguma tentativa de limpeza.

E caçar o cara pela cidade era simplesmente impossível. Como eu ia saber em que buraco ele estava enfiado? Seria perda de tempo e esforço. E eu sempre poderia esperar o idiota chegar pra arrancar a pele dele.

Suspirei e fui para o meu quarto que estava abençoadamente intocado. Nero estava lá, esparramado na minha cama, como o gato folgado que ele era. Mas eu nem liguei muito, já que o entendia. Nero podia ser odioso, mas nós compartilhávamos o mesmo amor por limpeza, então era óbvio que ele buscaria refúgio no lugar mais limpo da casa. Resolvi ignorá-lo e coloquei minha bolsa em cima da cama, guardei meu casaco no armário e tirei as crocs antes de voltar a sala e começar a arrumar tudo. Sim, eu sabia da enorme injustiça que era eu precisar arrumar as merdas do Lockwood. Sim, eu não concordava com aquilo. Sim, eu achava que o babaca precisava de umas aulas de responsabilidade e consideração. Não que fosse eu a pessoa a dar essas aulas para ele. No meu humor atual, só o que eu tinha vontade de fazer era esfregar a cara dele naquela poça no chão.

Mas, apesar de tudo isso, eu era uma maníaca por limpeza. Não, eu não me incomodava com um par de sapatos fora da sapateira nem lavava minhas mãos 392 vezes por dia. Eu não era louca a esse ponto – ainda –, mas aquilo era simplesmente além do que eu conseguia suportar e eu não conseguiria ter meu merecido descanso com toda aquela bagunça a apenas uma porta de distância.

Então sim, eu limpei a sujeira do Asher. E não, não me orgulhava disso.

Levou quase uma hora para deixar a sala limpa, cheirando a desinfetante e do mesmo jeito que estava quando eu saí de casa. Bom, quase. Uma das almofadas coloridas agora jazia na lixeira do prédio e a colcha que cobria o sofá estava na máquina de lavar. Além disso, eu havia colocado o livro de arquitetura que estava no chão em um lugar de destaque na estante.

Uma garota precisa prestar atenção aos detalhes.

Eu já estava exausta quando cheguei em casa, então agora estava totalmente acabada. Por um momento, pensei em tomar um relaxante banho na banheira, mas eu provavelmente cairia no sono e não queria morrer afogada. Então seria o chuveiro mesmo. Tomei um banho quente e rápido, mal me aguentando em cima dos meus pés. Fui para o meu quarto enrolada na toalha e ignorei minhas roupas de baixo, vestindo só uma camisa cinza em que estava escrito Max’s Kansas City e que chegava até quase os meus joelhos.

Max’s Kansas City era um clube noturno bem famoso em Nova York nos anos 60 e 70. Ficava na Park Avenue South e era o ponto para músicos, artistas e poetas e foi fechado no início dos anos 80. Mitch havia me dado a camisa porque, segundo ele, era a maior coincidência do mundo o fato de eu me chamar Max, ser do Kansas e ter me mudado para uma cidade que, anos atrás, abrigou um clube chamado Max’s Kansas City.

Eu só achava idiota.

Mas a camisa era confortável e, como eu só a usava para dormir, ninguém me via nela mesmo. JJ com certeza ameaçaria cortá-la em pedaços, se a visse. Ele tinha essa ideia louca de que uma mulher como eu só deveria usar camisolas sensuais para a cama.

Mas, e eu tinha a recente experiência para provar meu ponto, usar uma camisola sensual quando você vai dormir sozinha é meio deprimente. E nem um pouco confortável.

Deitei-me na cama, empurrando o gato gordo para o lado, e me encolhi entre as grossas cobertas com um suspiro de contentamento. Finalmente, finalmente, eu poderia ter um longo e tranquilo sono. O babaca do meu colega de apartamento não estava, ou seja, sem sexo barulhento para me manter acordada...ok, isso não soou certo. Sem sexo barulhento com outras mulheres para me manter acordada. E, como eu não tinha trabalho no dia seguinte, poderia me dar ao luxo de dormir até mais tarde.

Eu já estava me esticando para apagar a luz do abajur na minha mesinha de cabeceira quando ouvi um barulho alto de porta batendo e, antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, a porta do meu quarto foi aberta com violência e um homem vestido em jeans rasgados e jaqueta de couro entrou cambaleando.

O homem era Asher e a única coisa que ele fez, antes de desabar na beira da minha cama, foi vomitar no chão.

Filho da puta.

Eu o empurrei da cama rapidamente, antes que ele voltasse a vomitar e sujasse meus lençóis. Ele caiu no chão com um baque surdo e não fez esforço algum para se levantar. Xingando até os mortos da família dele – não que eu conhecesse a família dele, eu nem sabia se ele tinha uma, mas se tivesse, todos eram culpados por terem trazido aquele pedaço de merda para o mundo –, eu me levantei e comecei a puxá-lo por uma perna para fora do quarto. O cheiro doce e enjoativo do vômito começava a impregnar no meu quarto e a última coisa que eu queria era que ele vomitasse mais. O idiota, apesar de magro e não muito alto, era mais pesado do que parecia e eu tive dificuldade em arrastá-lo para fora. Quando finalmente consegui, o larguei lá no chão mesmo e fui até a lavanderia pegar um balde, panos limpos e desinfetante. Também coloquei luvas de borracha e voltei rapidamente para o quarto.

Limpar o vômito do maldito do Lockwood entrou para a lista de coisas mais horríveis que eu já precisei fazer na vida. Tive que prender a respiração para me impedir de vomitar também, ao sentir aquele cheiro de vômito misturado com álcool, mas respirar com a boca só fez com que o cheiro parecesse grudar embaixo da minha língua. Até Nero saiu rapidinho do quarto, aquele fresco. Minutos depois, tudo estava limpo de novo, embora eu estivesse enjoada e meus olhos, marejados. Não, eu não estava chorando. É que controlar a ânsia de vômito fez meus olhos lacrimejarem.

Levei as coisas de volta à lavanderia e, quando voltei, Asher tinha se sentado e estava escorado na parede. Ele estava com as mesmas botas de sempre, mas era a primeira vez que eu via aqueles jeans. Eles eram quase apertados demais, mas pareciam encaixar perfeitamente ao corpo dele. Eu fiquei me perguntando se ele estava usando alguma coisa por baixo, mas logo balancei a cabeça para tirar esse pensamento idiota da minha mente. Ele não estava usando uma camisa por baixo da jaqueta, no entanto. Seu peito liso, pálido e ligeiramente definido estava a vista para quem quisesse olhar. Não que eu quisesse olhar.

– O que você estava fazendo no meu quarto? – ele perguntou de repente, a voz arrastada e grogue.

Tive vontade de chutá-lo, mas me controlei. Também queria gritar com ele, mas ele estava tão bêbado que eu duvidava que fosse entender alguma coisa. O melhor era esperar até o dia seguinte, quando ele estivesse sóbrio.

E – e o pensamento trouxe um minúsculo sorriso aos meus lábios – com uma ressaca infernal.

Aí sim seria divertido gritar com ele.

– Esse não é o seu quarto – respondi com a voz mais calma que consegui, depois de contar até dez mentalmente. – É o meu. E, por sua culpa, agora ele está fedendo.

Era verdade. Nem o cheiro forte do desinfetante havia conseguido tirar o cheiro ruim. Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas eu realmente continuava sentindo e não conseguiria dormir ali enquanto não fizesse uma limpeza minuciosa.

Mas era tarde e eu já tinha passado há muito tempo do limite da exaustão e meu corpo estava tão pesado que até meus movimentos pareciam lentos.

Olhei para o homem sentado no chão e pensei que seria bem feito se ele dormisse ali mesmo. Então entrei no meu quarto, peguei lençóis limpos no armário, meu cobertor, meu travesseiro e meu celular, e tranquei a porta quando saí. Asher parecia ter desmaiado, dormido, sei lá, mas eu não me arriscaria. Ele continuava sentado no chão e seus olhos estavam fechados. Seu cabelo muito preto caía descuidadamente em seu rosto e, se não fosse pelo movimento calmo que seu peito fazia, eu diria que ele tinha encontrado o Criador.

Não tinha tanta sorte.

Deixei-o lá e fui para o quarto dele. Eu raramente ia lá, se pudesse evitar. Era ligeiramente maior que o meu, mas era bem menos ocupado. Ele tinha poucos móveis, só uma cama bem grande, um guarda roupa, uma poltrona velha e uma estante igual a da sala, com mais DVD’s. Coloquei minhas coisas na poltrona e fui até a cama que, obviamente, estava desarrumada e cheia de roupas jogadas. Tirei tudo – inclusive o lençol – e enrolei num enorme bolo nos meus braços, saindo do quarto para colocar na lavanderia. Depois voltei e arrumei a cama com os meus lençóis – nem morta que eu dormiria nos lençóis do Asher, eu poderia acabar pegando uma DST – e me deitei. Por sorte, o quarto dele não fedia. Para falar a verdade, tinha até um cheiro bom, o cheiro dele. Era uma mistura de loção pós-barba e balas de canela. O cara podia não lavar as mãos depois de ir ao banheiro, mas ele tomava banho todos os dias. Ponto para ele.

Eu estava quase dormindo quando a porta se abriu e o dono do quarto entrou por ela.

– Agora você está no meu quarto – ele disse com um sorriso bêbado. Ele não estava mais vestindo a jaqueta e todo o seu tronco estava nu. As botas também tinham sumido e seus pés descalços pisavam na barra dos jeans. – Sabia que, mais cedo ou mais tarde, você iria parar na minha cama.

Eu rolei os olhos e joguei um travesseiro no chão.

– Sim, e enquanto eu estou na sua cama, você fica no chão, Lockwood – falei, irritada. – E vai escovar os dentes!

Surpreendentemente, ele foi. Ou pelo menos, eu achava que sim. Não cheguei perto o suficiente para sentir seu hálito quando ele voltou, minutos depois.

– Eu não quero dormir no chão – reclamou como uma criança, parado, mas não muito estável, perto da cama. – Quero dormir na cama com você.

Apesar de estar reclamando como uma criança, o cara não tinha nada de infantil. Seu cabelo preto estava bagunçado de um jeito extremamente sexy enquanto seus olhos cinzentos estavam em mim. Não exatamente no meu rosto, mas no contorno do meu corpo embaixo do lençol. Ele levantou um braço para levar a mão até o rosto, esfregando-o como que para espantar o sono. O movimento fez os músculos do seu corpo esticarem um pouquinho, iluminados pela luz que vinha da sala através da porta entreaberta, o que me fez ficar olhando para ele diretamente, até perceber a merda que eu estava fazendo.

Max Hyde, você não estava checando o corpo de Asher Lockwood.

Ok, eu estava sim.

Merda.

– Foda-se, Asher – falei, virando-me na cama e dando as costas para ele. – Não interessa o que você quer, você fica no chão. Ninguém mandou vomitar no meu quarto.

Se ele estivesse em seu estado normal, com certeza teria discutido. Ele nunca me deixava ganhar uma discussão, o bastardo. E sempre fazia o oposto do que eu queria, só para me irritar. Acho que irritar a Max era meio que um hobby para ele. Ele com certeza faria algum comentário sexual só para me deixar constrangida ou deitaria na cama de qualquer jeito.

Mas se ele estivesse em seu estado normal, não teria vomitado no meu quarto e eu não seria obrigada a dormir no dele.

Enfim, pela primeira vez na vida, Asher não foi uma dor na bunda e simplesmente fez o que eu mandei. Eu o ouvi deitando-se no chão, mas não me virei para olhar. Minutos depois, o som cadenciado e suave da sua respiração me disse que ele havia dormido.

Surpreendentemente, pouco tempo depois, eu segui o seu exemplo.

Mas meu sono não durou muito. Ou pelo menos, eu sentia como se não tivesse durado. Acordei sentindo meu corpo meio duro, como se eu tivesse dormido numa posição ou num lugar desconfortável. No entanto, eu me sentia aquecida, o que era bom, já que eu sempre acordava com frio, mesmo com meu cobertor. Será que o Asher tinha ligado o aquecedor?

Abri os olhos lentamente, percebendo que o que tinha me acordado não era o desconforto. Era um som alto e agudo, que parecia uma campainha. Demorei alguns segundos para perceber que era um toque de celular. Demorei mais outros segundos para perceber o motivo para estar desconfortável e aquecida.

Eu estava dormindo no chão, embora minha cabeça estivesse em cima de um travesseiro. E tinha alguém atrás de mim. Minhas costas estavam coladas a um peito quente e masculino, uma perna nua estava sobre as minhas embaixo do lençol, que só me cobria até os quadris. Uma mão grande e ligeiramente áspera havia se esgueirado por baixo da minha blusa idiota e estava pousada confortavelmente sobre a minha barriga.

O corpo atrás de mim se moveu, mas não me largou. Ao contrário, a mão na minha barriga me puxou mais de encontro ao dono daquela mão, fazendo-me sentir todo o contorno do seu corpo que que, oh meu Deus, não parecia ter nada cobrindo suas indecências.

Eu mal acreditava que havia acabado de usar, ainda que em pensamento, a palavra “indecências”. Céus, eu parecia a minha mãe.

De qualquer jeito, o que me paralisou não foi apenas o fato de o corpo atrás de mim parecer estar em “estado natural”. Não. O que me paralisou foi o fato de ele parecia...bem...feliz em me ver, se é que dá para entender.

O barulho agudo finalmente parou. Eu pensei que, quem quer que fosse que estivesse ligando, tivesse desistido. Mas então ouvi uma voz rouca atrás de mim dizer, bem próxima à minha orelha:

– Alô?

Só essa palavra fez minha pele arrepiar. A voz não era apenas rouca, era íntima, quente e, de alguma forma, sexy. A mão na minha barriga começou a acariciar minha pele levemente enquanto um queixo áspero pela barba por fazer roçou meu ombro.

– Mal, cara, não posso falar agora – a voz disse depois de alguns segundos de silêncio. – A gostosa do Kansas tá babando no meu travesseiro.

Isso fez a névoa que parecia estar cobrindo minha mente se dissipar, pelo menos um pouco. Gostosa? Kansas? Babando?

Levantei os olhos e encontrei um rosto bem próximo do meu. Olhos cinzentos me encaravam, mas não eram os olhos de sempre. Estavam escurecidos, quase cinza-chumbo. A mandíbula estava apertada, embora os lábios estivessem ligeiramente entreabertos. A barba por fazer escurecia a pele pálida demais na luz da manhã, que entrava pela janela. A luz deveria fazer aqueles olhos ficarem mais claros, não mais escuros.

Asher era uma visão em qualquer hora do dia. Mas ao acordar, ele me tirou o fôlego. Ele havia erguido um pouco o tronco para olhar para mim de cima e eu fiquei um pouco perdida com a intensidade do seu olhar e com a expressão primitiva em seu rosto.

Até que eu reparei que, com a mão que não estava acariciando a pele da minha barriga, ele segurava um celular no ouvido.

O meu celular.

A gostosa do Kansas tá babando no meu travesseiro.

Oh, droga.


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Notas finais do capítulo

Perdoem-me pelos possíveis erros, é que eu quis postar logo e a Nana - como sempre - não me dá sinal de vida. Depois eu peço pra ela ler e consertar qualquer erro, aquela linda ehuashuehasea
Não esqueçam de deixar reviews, vou precisar deles para sobreviver durante esse mês em que todo mundo estará de férias menos eu D:
Beijos :*