Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 5
Na cama com Nero


Notas iniciais do capítulo

Heeeeey, nem faz tanto tempo assim (pros meus padrões) que eu postei aqui, mas fiquei meio desamparada sem OAEC, então escrevi um cap aqui pra me animar heuaheuaueh
Cap para a linda da Quel, que recomendou a história *.*
O título quem deu foi a Nana, porque ela gostou muito do Nero HAUEHUAHSEUHAE
Boa leitura :)



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Sim, eu era a namorada descarada que mentia pro namorado sem vergonha nenhuma. Não me orgulhava disso, mas uma garota precisa fazer extremos para sobreviver, às vezes.

Principalmente se essa garota é namorada de James Clarke.

James e eu nos conhecemos numa festa da igreja em Parsons e eu lembro de ter ficado encantada com seu caderno de adesivos do Looney Tunes, que estava completo enquanto eu nunca conseguia preencher um inteiro. Eu tinha 6 anos. Ele tinha 7.

Não, não foi então que começamos a namorar.

Para falar a verdade, nunca nem fomos amigos na infância. Mas nos conhecíamos, como todo mundo naquela província. Estudávamos na mesma escola e assistíamos à mesma missa aos domingos. Nossos pais se conheciam, nossos avós se conheciam. Provavelmente, toda a árvore genealógica da nossa família se conhecia. Pelo menos a família do pai dele, já que a mãe era italiana.

Com sua pele dourada herdada da mãe, os olhos verdes do pai, cheios cabelos castanhos e um físico perfeito, James era o cara mais popular do colégio. Jogava no time, tirava notas boas, participava do grêmio estudantil e todas essas coisas que os populares costumam fazer. Eu não podia me excluir desse grupo, afinal era líder de torcida, representante de classe e presidente do comitê de formatura.

Em outras palavras, éramos o casal perfeito.

Começamos a sair quando eu estava no segundo ano e ele, no terceiro. Foi meu primeiro namorado, porque, apesar de ter mais do que alguns garotos atrás de mim, nunca me senti muito inclinada a namorar e essas coisas. Mas era impossível resistir ao charme de James. Ele me beijou pela primeira vez no nosso segundo “encontro”, que na verdade foi depois de um dos jogos de futebol americano que nossa escola venceu; ele me levou para debaixo das arquibancadas e, ainda sujo e suado, encostou seus lábios nos meus, inexperiente e desajeitadamente.

Nem precisava dizer que, apesar de tudo, eu fiquei rodopiando pelo quarto naquela noite, cantando I Could Have Danced All Night super desafinada.

Fui pedida em namoro duas semanas depois, no baile de primavera. Todo o ginásio estava enfeitado com flores de plástico e uma luz azul fraca iluminava a “pista de dança”, que estava cheia de casais agarradinhos ao som de You’re Beautiful, do James Blunt. Ele sussurrou o pedido na minha orelha e, sem esperar que eu respondesse, me beijou apaixonadamente.

E assim, nos tornamos o casal mais bonito e grudento da Parsons Senior High. Perdi minha virgindade com ele um ano depois, no banco de trás do seu carro, durante sua festa de formatura. Apesar de ser uma menina romântica e boba, eu não tinha muitas expectativas sobre a minha primeira vez, já que Erin havia me dito que era como tomar um xarope. Ruim de modo meio adocicado, mas necessário. Depois de tudo, James me apertou forte entre seus braços e me prometeu que, assim que terminasse a faculdade de medicina, nós nos casaríamos.

Eu não contestei. Estava vivendo O Sonho Adolescente. Namorar o menino mais popular do colégio, perder a virgindade na festa de formatura, me formar, casar, ter um casal de filhos, um labrador e uma bela casa com cerquinha branca. E ser feliz.

Com 17 anos, eu ainda pensava assim. Com 19, quando James foi para Wichita, a pouco mais de duas horas de Parsons, para estudar medicina na Universidade do Kansas, eu já havia mudado. Tornei-me meio inquieta, meio ansiosa. Parecia que nada mais era certo e as coisas que antes me agradavam, não me satisfaziam mais. Foi quando Erin, que já morava em Nova York, me convidou para morar com ela. Meus pais me apoiaram, mas James e sua família, não. Quando eu contei meus planos, ele disse que, se eu fosse, tudo estava terminado entre nós. E eu fui, mesmo com o coração despedaçado.

Foi a primeira vez que terminamos.

Mas a verdade era que, mesmo com o término do meu namoro de colégio, eu estava ansiosa para sair de Parsons. Era a menininha da cidade pequena indo pela primeira vez para uma cidade grande. Para Nova York! Eu estava ansiosa para ir, para estudar na NYU – sim, eu era uma excelente aluna – e para experimentar uma vida com a qual eu nunca nem havia sonhado.

É claro que, depois de dois meses, James apareceu na porta do meu alojamento com um enorme buquê de flores e um pedido de desculpas. E voltamos.

Mesmo com nossas diferenças, eu o amava. Eu só sabia amá-lo, só conhecia o seu amor.

E agora ele estava no último ano da faculdade e, assim que recebesse seu diploma, voltaria para Parsons para trabalhar no hospital do pai. E nós nos casaríamos.

Oh Deus.

– Tem certeza de que está tudo bem? – James perguntou. – Você está meio distraída hoje.

Ainda estávamos no telefone. Eu havia conseguido trocar de roupa e agora estava me sentindo ridícula usando a minha camisola branca sexy enquanto fazia curativos nos meus pés.

– Eu usei os sapatos errados para o trabalho hoje – respondi, enfaixando o pé esquerdo com gaze. – Fiquei cheia de bolhas e estou fazendo curativos.

Ficamos conversando mais um pouco sobre qualquer coisa. Eu tentava, mas não consegui prestar muita atenção a ele naquela noite. De repente minha porta foi entreaberta e uma criatura gorda e amarelada invadiu meu quarto.

Nero, o gato psicopata do meu colega de quarto. Sério, aquele felino me odiava com todas as forças das suas unhas afiadas. Minha bolsa de couro Kate Spade era a maior prova do poder de destruição da criatura. Só havia uma coisa que Nero odiava mais do que a mim.

Quando Asher levava vagabundas para o apartamento e o expulsava do quarto.

– Oh, ótimo – gemi baixinho quando ele subiu na minha cama e se deitou confortavelmente num travesseiro. Minha cama ia ficar cheia de malditos pelos de gato preguiçoso.

– O que você disse? – James perguntou.

– Nada, não – disfarcei. Ele não sabia que eu tinha um gato.

Eu não tinha um gato. Mas ele não sabia que meu colega de quarto tinha um. Na verdade ele não sabia que eu tinha um colega de quarto.

E eu voltava ao pensamento de que era uma namorada mentirosa e descarada.

Não era como se eu quisesse mentir para ele. Eu precisava. James sempre havia sido desnecessariamente ciumento quando éramos adolescentes e a coisa só piorara com os anos. Ele nunca permitiria que eu morasse com um homem, então quando Erin foi morar com Mitch, eu menti para ele e disse que tinha ficado morando sozinha.

Essa mentirinha era mais difícil de manter do que eu tinha imaginado no princípio. Como James estava no último ano da faculdade, tinha pouco tempo para mim, quase nenhum para me visitar. Ele havia vindo à Nova York só duas vezes nos últimos cinco meses enquanto eu havia ido três vezes a Parsons. E nessas visitas, eu conseguira fazer com que Erin e Mitch me emprestassem o apartamento e passassem o final de semana em um hotel.

Sim, eu tinha consciência de ter os melhores amigos do mundo.

Eu estaria simplesmente morta se meu namorado descobrisse a existência de Asher. E meus amigos sabiam disso.

Como se tivesse ouvido meus pensamentos e com a total intenção de me ferrar, gemidos altos e inconfundíveis começaram a ser ouvidos, vindo do quarto ao lado.

Aquelas malditas paredes eram finas como papel.

– Então eu disse para a mamãe que aquele...Max, que barulho é esse?

Ferrou. Total.

– B-barulho? – gaguejei pateticamente. – Que barulho?

– Max, eu estou claramente ouvindo gemidos de... – ele se interrompeu e respirou fundo, de modo que eu sabia que ele estava a um passo de ficar furioso. – Max, me diga a verdade agora. O que está acontecendo aí?

Ah, nada, só o gostoso do Lockwood que está no quarto ao lado fodendo loucamente uma garota de seios enormes. Quem é Lockwood? Ah, só o cara com quem eu moro há cinco meses, que não tem nenhum senso de moral e não sabe o que significa privacidade. E sabe o que mais? Ele que escolheu a camisola transparente que estou vestindo agora. Mas você não precisa se preocupar, meu bem, nós não somos nem amigos. Nem gostamos um do outro, apesar de sempre espiarmos os vizinhos juntos.

Tá, certo.

– Ok, James, você me pegou – confessei com um suspiro. – Eu estou assistindo um filme pornô.

A linha ficou muda durante alguns segundos, antes que meu namorado insensível explodisse numa gargalhada incrédula.

– Só pode ser brincadeira! – exclamou, ainda rindo. – Você, a recatada srta. Hyde, assistindo um filme pornô?!

Tudo bem, para qualquer pessoa que me conhecesse, aquilo realmente soava esquisito. Não que eu fosse recatada como dissera James, mas eu era meio envergonhada quando se tratava dessas coisas.

– Sim, eu estou vendo um filme pornô, James – insisti veementemente. Agora era uma questão de orgulho. – E é um daqueles bem pesados, só pra você saber.

Ele parou de rir e eu fui me ajeitar na cama. Acabei esquecendo do meu hóspede indesejado e me apoiei em cima do rabo dele, fazendo-o soltar um longo e indignado miado.

– Isso aí foi um gato? – logo veio a pergunta confusa e curiosa.

Oh, droga.

– Acontece que eu gosto de um sexo meio estranho – inventei, fuzilando Nero com o olhar e mal acreditando na barbaridade que estava saindo dos meus lábios.

Dessa vez James não riu e sua voz se tornou baixa e rouca:

– Não sabia desse seu lado, amor. Então já que você está com vontade, por que não me diz exatamente o que está acontecendo nesse seu filminho?

Ok, a situação estava definitivamente fora de controle. Eu precisava terminar aquela ligação. Imediatamente.

– James, eu não vou fazer sexo por telefone – afirmei, categórica. – Você pode esquecer.

Ouvi um muxoxo de decepção do outro lado da linha.

– Ah, qual é, você me deixou na vontade. E eu adoro quando você fala sacanagem.

– James, eu preciso desligar. Tenho que dormir cedo, porque tenho muito trabalho amanhã. Até logo.

Ele suspirou, mas cedeu.

– Tudo bem, até logo. Amo você, querida.

– Também amo você – e desliguei, soltando um longo suspiro aliviado.

Se meus pés não estivessem totalmente inutilizados, eu iria até o quarto de Asher e cortaria fora as partes de menino das quais ele tanto se orgulhava.

Maldito!


...





Acordei no dia seguinte com os pés apenas ligeiramente melhores, eu já conseguia encostá-los no chão, mesmo que doessem um pouco e eu andasse engraçado. Enchi meus olhos de colírio – a esperta havia dormido com as lentes de contato e acordou com os olhos pregados – e me dirigi vagarosamente ao banheiro. A casa ainda estava silenciosa, então eu assumi que os outros ocupantes ainda estavam muito cansados pela noite de ontem.







Eu preferia nem pensar nesse assunto. Estava tentando não me estressar logo pela manhã.





Enfiei-me embaixo do chuveiro e praticamente renasci embaixo da água quente. Um dos meus maiores talentos era conseguir ficar embaixo da água quase fervendo por um tempo ridiculamente longo, sem cozinhar. Era melhor que terapia.


Exceto quando se é interrompida pelo seu colega de quarto.

– Dia, Max – o cara disse com a maior voz de satisfação enquanto entrava no banheiro.

A sorte era que ele não podia me ver, já que a cortina do chuveiro era grossa. Mas eu realmente odiava quando ele fazia isso.

– Porra, Lockwood – exclamei, esquecendo totalmente que não queria ficar estressada e apertando o sabonete com força entre meus dedos. – Você não está vendo que o banheiro está ocupado?

Eu não vi, mas podia jurar que ele dera de ombros. Logo em seguida, ouvi o barulho do seu zíper abrindo.

– Você só está tomando banho, o banheiro é grande – respondeu simplesmente. – E eu preciso dar uma mijada. Você sabe que meu banheiro está quebrado.

Dar uma mijada.

Oh Deus.

Viver com um cara estava oficialmente no top 5 de piores coisas que poderiam me acontecer, bem entre sofrer um acidente de avião e precisar ir ao salão de beleza com a minha sogra.

Antes que eu pudesse responder àquele exemplo de eloquência, a porta do banheiro foi aberta novamente.

– Bom dia, amor – disse uma voz suave e feminina.

Ótimo, agora só o que faltava era o Lockwood levar a Jenna para o chuveiro para eles continuarem o que começaram ontem.

– Só pode ser brincadeira! – exclamei, furiosa.

– Qual o problema dela? – ouvi a garota perguntar.

– Ela acha que estamos invadindo sua privacidade – Asher respondeu.

– Mas ela está tomando banho e eu só quero escovar meus dentes – comentou como se entrar num banheiro em que uma jovem e respeitável garota está tomando banho e um cara totalmente babaca e sem noção está dando uma mijada para escovar os dentes fosse a coisa mais normal do planeta.

Respirei fundo e contei mentalmente até 10. Você vai para a cadeia se assassinar seu colega de quarto e a namorada dele, Max, pense nisso...

Felizmente, os dois se apressaram e logo deixaram o banheiro. Não antes que eu exigisse que Asher lavasse as mãos e ele me chamasse de fresca.

Pelo menos ele fez o que eu pedi.

Aquele banho já havia deixado de ser relaxante, então eu também me apressei e saí logo de lá, enrolando-me na enorme toalha e voltando para o meu quarto, onde vesti jeans justos e um moletom da Abercrombie. Sequei meus cabelos rapidamente com o secador e passei um pouco de corretivo nas minhas olheiras, que consegui graças ao adorável casal que fez barulho a noite toda e não me deixou dormir.

Abri meu guarda-roupa e fiquei pelo menos uns vinte minutos pensando no que diabos eu iria calçar. Foi com muita tristeza que escolhi minha crocs branca, a única coisa que não iria maltratar meus pés mutilados.

JJ iria morrer ao ver isso.

Mas não tinha outro jeito mesmo, então as calcei, peguei minha bolsa e saí do quarto. Asher estava jogado no sofá só de calça jeans, deixando seu tronco esguio e com poucos músculos cobertos por pele pálida à mostra, assim como a tatuagem ridícula que ele tinha no ombro.

Era um Jack-o’-lantern.

Quem, com a cabeça no lugar, tatuaria um Jack-o’-lantern no corpo?

O mundo estava perdido e Asher Lockwood ainda mais.

Ele estava com os óculos de leitura que, sem que ele percebesse, lhe davam um ar meio intelectual, embora fosse só ar mesmo, porque o Nero era mais intelectual que aquele vagabundo. Ele só usava aqueles óculos para ler – Max, Miss Óbvia, eram óculos de leitura – e, naquele momento, estava concentrado num livro de capa preta que havia surrupiado do meu quarto, já que eu nunca deixava meus livros pela casa.

Ele estava lendo Jane Eyre.

Céus.

– Olá, Max, eu fiz ovos com bacon, você quer? – Jenna ofereceu quando eu coloquei minha bolsa no balcão da cozinha, sentando-me no banco alto e ficando de costas para o Lockwood.

Assenti enquanto pegava uma caneca e colocava um pouco do café que ela também havia feito.

– Essa mulher é muito otária – comentou a criatura atrás de mim. – Ela prefere ficar pobre, passar fome, viver sem o cara que ama e quase morrer a ficar com o Sr. Rochester só porque ele é casado? Qual o problema dela?

Jenna havia sentado ao meu lado e nós duas estávamos saboreando o café da manhã que ela havia feito – e que estava muito bom – e eu rolei os olhos e bebi um gole de café antes de responder:

– Para te explicar isso, primeiro eu precisaria te dar uma aula de princípios. E isso vai ser muito trabalhoso, então por que você não vai ler outra coisa?

Eu havia me virado para vê-lo e ele apoiou o livro nas pernas, baixou os óculos para a ponta do nariz e me olhou com cinismo.

– Então a garota que vive mentindo para o namorado acha que pode me dar aulas de princípios? Tem algo errado aí.

Filho. Da. Puta.

Infelizmente, era um filho da puta certo.

Perdi a fome e larguei tudo lá mesmo, levantando-me para ir escovar os dentes e ir ao trabalho. O fato de eu estar andando engraçado e isso tê-lo feito rir só me fez sentir mais raiva e eu passei o mais rápido que pude pela sala quando estava saindo, mas ainda pude ouvi-lo dizer:

– Cuidado, com essa roupa você parece ter 12 anos. Vão processar a galeria por trabalho infantil.

Mandei o dedo do meio para ele, antes de bater a porta com força desnecessária. Entrei no elevador e decidi que seria impossível andar até o trabalho com aqueles pés inúteis e eu teria que pegar um táxi.

Eu era uma bagunça de hipocrisia. E um vagabundo desempregado e promíscuo, que não lavava as mãos depois de ir ao banheiro havia acabado de jogar isso na minha cara. O que mais faltava para aquele dia, que apenas começava, ser tão ruim quanto o anterior?

Meu celular vibrou e eu o peguei no bolso do moletom. Era uma mensagem de Erin.

Vamos ver uma maratona de Twin Peaks hoje e eu não aceito não como resposta.

E esse era o meu programa para sábado. Não tinha mesmo como piorar.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu respondi tooooooooodos os comentários, então sejam legais e deixem mais heuahusehaueha é sério, eu vou chamar um padre pra exorcizar os fantasmas :(
Beijo pra todo mundo, a Nana é linda, tchaaaaaau :*