Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 24
Quero partir seu coração


Notas iniciais do capítulo

MILAGRE ACONTECENDO AGAIN OOOOO:
Enfim, surto de inspiração bateu e aqui estou eu o/
Eu estou respondendo aos comentários sim, mas desculpem pela demora. Vou responder todo mundo ainda!
Tem uma música nesse capítulo e dane-se, não é uma songfic, mas eu quis botar, até porque, se isso aqui fosse uma novela, essa seria a música tema do Asher e da Max. Vocês já devem até saber qual é, porque tem um trecho dela na própria capa da história. ALIÁS, MANDEM UM BEIJO ENORME PRA NANA, que me guiou nesse capítulo ehusaheuha. Enfim, a música é We Can't Be Friends. http://letras.mus.br/lorene-scafaria/1978921/
BOA LEITURA, PESSOAAAAAAAAAS (:
Não me odeiem.



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Minha mala não estava muito pesada, embora a cada passo que eu dava, parecia que seu peso ia aumentando. Por algum motivo, era assustador voltar. Eu já não era a mesma pessoa que tinha ido embora e, ainda que tenha sido apenas por uma semana, eu não era a mesma Max Hyde que havia fugido de Nova York depois de um beijo.

Um beijo que ainda me mantinha acordada à noite, mas mesmo assim, um beijo.

Peguei minha chave e percebi que minha mão tremia. Respirei fundo e tentei me controlar o bastante para girar a chave na fechadura. Finalmente, entrei no apartamento que dividia com Asher. Casa. Broome Street, Manhattan. Nova York.

Ir para Parsons tinha sido bom. Educativo. Definitivo. Eu sempre teria uma casa lá com meus pais, isso era verdade, e seria difícil deixar de me referir àquele lugar como casa. Mas ele não era mais. Minha casa agora era ali, exatamente onde eu estava, parada no vestíbulo do apartamento, percebendo com apenas um olhar que o lixo estava acumulado e que havia louça suja na pia. Eu sorri. Depois ri. Eu me sentia leve e feliz como não me lembrava de ter estado em muito tempo.

Nunca havia imaginado que pratos sujos e embalagens vazias de cup noodles podiam me fazer tão bem, mas a verdade era que faziam. E o motivo para isso era apenas um. Era o habitat do cara mais sexy daquela ilha – o cara cuja falta eu sentira a cada segundo, como se tivéssemos passado meses separados e não apenas alguns dias.

O apartamento estava vazio e, depois de fechar a porta, eu fui com minha mala até meu quarto. A desfiz rapidamente, colocando minhas roupas com cuidado no armário. Depois fui até a janela e a abri completamente, sentindo o vento frio do outono atingir meu rosto e tingir minhas bochechas de vermelho. Era como eu sempre ficava no frio, rosada como uma maçã. Tirei meu cachecol e minhas botas e girei no meio do quarto, com os braços bem abertos, os olhos fechados. O sorriso não abandonando meus lábios nem por um segundo.

Eu havia feito a coisa certa.

Dizer não para James havia sido mais fácil e, ao mesmo tempo, mais difícil do que eu havia imaginado. Foi fácil recusar, porque eu não me sentia nem um pouco tentada. Eu não queria me casar com ele. Eu não queria me casar e pronto. E foi difícil, porque eu não queria magoá-lo. Mas eu também havia jurado não me magoar deliberadamente. E era isso que eu faria se tivesse dito sim.

Era o que eu faria se continuasse com ele.

Não foi bonito. Não foi limpo. Não foi fácil. Quebrou um pouquinho do meu coração, o pouquinho que sempre pertenceria a James.

– Como... como você pode dizer que não está apaixonada por mim depois de...depois de me amar desse jeito, Max? – ele havia perguntado, vestido apenas com a calça, logo depois que eu dissera que não podia me casar com ele porque não o amava mais. Não como antes.

Eu havia me coberto com o lençol, embora achasse um pouco ridículo. Ele havia estado dentro de mim minutos antes, por que a modéstia? Talvez porque fizesse as coisas um pouco mais fáceis para nós dois.

– Esse é o problema, James – eu respondera, ainda sentada na cama. – Isso que acabou de acontecer entre nós não foi amor. E se você não conseguiu ver a diferença, só faz com que minha decisão pareça mais certa. Nós não podemos continuar com isso.

E aí havia sido quando eu resolvi contar toda a verdade para ele. Sobre Asher e como eu morava com ele havia meses. Sobre o beijo. Sobre como eu me sentia sobre ele.

E James, que nunca havia me tocado com violência, nem mesmo quando eu o traí com Kenneth, agarrara-me pelos braços com força suficiente para me assustar. Não havia chegado a me machucar, mas eu podia ver o quanto ele estava se controlando e mesmo assim, não parecia ser suficiente.

– Você dormiu com ele, Max? – perguntara, o rosto próximo do meu. – Responde!

Eu só pude negar com a cabeça. E ele saberia que eu não estava mentindo. Eu não tinha motivos para isso.

Então, soltara-me com a mesma rispidez com que havia me segurado. Vestira seu suéter e calçara suas botas. Eu continuava sentada na cama, enrolada no lençol.

– Mas você o ama, não é? – sua voz soara áspera. Pesada, como se ele estivesse se controlando para não chorar.

Eu não tinha o mesmo controle e as lágrimas já enchiam meus olhos.

– Não – minha voz saíra fininha e quase inaudível.

E eu sabia que aquela negativa era ainda pior. Eu não estava trocando James por outro homem, como da última vez. Eu apenas não o queria mais. Não havia inimigo para lutar dessa vez. Era apenas eu.

– Eu te amei, Max. Droga, eu te amo! Eu faria qualquer coisa por você – sua voz fora quebrando, exatamente como algo dentro de mim.

– Então faça, James. Deixe-me ir. Deixe-me ir e seja feliz.

Eu realmente esperava que ele pudesse atender a esse último pedido. Eu realmente queria que ele fosse feliz. Eu queria ser feliz. James seria apenas uma boa lembrança, de agora em diante. O meu primeiro grande amor. Porque sim, eu o havia amado como não acreditava que pudesse voltar a amar e não era porque tinha acabado que não havia sido amor de verdade. Porque sim, tinha sido de verdade, até deixar de ser.

Tonta, parei de rodar. Deixei cair a última lágrima que derramaria por James, que morreu em meu grande sorriso. Agora eu tinha toda a vida para viver, um capítulo novo da vida para escrever. Eu sentia que era, na verdade, o primeiro capítulo que eu realmente iria escrever e que não estava já escrito para mim. Eu tinha o desconhecido. Eu era livre. Eu podia ir aonde quisesse, amar quem quisesse, quebrar meu coração mil vezes. Porque agora eu era dona dele mais uma vez.

E, por enquanto, aquilo me bastava para ser feliz.

...

Minha felicidade, no entanto, durou o tempo que levou para Asher chegar em casa. Mais ou menos umas duras horas.

Eu estava assistindo a última temporada de Jersey Shore no netflix e tentando entender porque diabos a Snooki tinha levado o filho dela pra lá quando ouvi a porta da frente se abrir. Eu estava no meu quarto, sentada com as pernas cruzadas no chão, e fechei o notebook quando percebi que era Asher entrando. Eu estava feliz por poder vê-lo de novo e queria me desculpar por não ter respondido suas mensagens ou atendido suas ligações. Não podia ser nada sério e ele aparentemente tinha dado um jeito no apartamento que, tirando a bagunça normal deixada por ele, parecia bem decente.

E eu também duvidava que Asher fosse agir estranho por causa do beijo. Ainda que ele se lembrasse do ocorrido, beijar mulher atrás de mulher era algo tão corriqueiro em sua existência que eu realmente não achava possível que ele tivesse perdido tempo pensando nisso. Então sim, eu estava animada para vê-lo, para...para saber se aquela atração toda era coisa da minha cabeça ou não. Explorando-a ou não, era bom saber que agora eu era livre para me sentir atraída por quem quisesse.

E eu estava atraída pelo cara que entrou no apartamento naquele momento. Derrubando as chaves no chão. Beijando outra mulher tão profundamente que nem notou que eu estava ali.

Eles pareciam incapazes de desgrudar e Asher começou a puxar o trench coat amarelo que a garota usava, expondo sua pele negra e perfeita. Ela era pequena, passando apenas alguns centímetros dos ombros de Asher, e vestia uma elegante saia envelope que alcançava seus joelhos, cobertos por uma meia calça preta. Percebi que ela usava saltos, ou seja, era ainda menor do que eu tinha imaginado. Seu cabelo descia em perfeitas ondas até abaixo dos ombros, cor de mogno com algumas mexas cor de mel.

Eu não conseguia ver seu rosto, mas o que eu via já a fazia entrar para a lista das mulheres mais lindas que meu colega de quarto já havia conquistado – sim, existia uma lista – e, mais do que isso, era de longe a mais elegante. Asher tinha por hábito levar para casa mulheres que havia conhecido em bares ou boates decadentes e, apesar de normalmente parecerem garotas legais, eram normalmente groupies ou garotas liberais de faculdade, que usavam jeans e camisetas de bandas.

Aquela mulher nos braços dele estava vestida bem o suficiente para tomar chá com a nata da sociedade de Manhattan.

E no entanto, ela estava ali, beijando Asher Lockwood. Meu Asher.

Garota idiota. Ele não era meu.

Levantei-me, nem sabia muito bem por que, eu só não queria ficar ali sentado, olhando enquanto os dois tentavam engolir um ao outro. Mas quando dei um passo, tropecei no notebook que havia deixado no chão e soltei um palavrão, fazendo Asher e sua companhia tomarem um susto e se soltarem, virando-se imediatamente para mim.

Por um momento, ficamos os três calados. Durante esse tempo, pude colocar a desconhecida que Asher ainda segurava pela cintura – embora um pouco distante do seu corpo – no topo da maldita lista. Ela era absolutamente estonteante, com feições perfeitas e delicadas e olhos amendoados, castanho esverdeados. Parecia ter mais ou menos a minha idade.

– Max – Asher disse e depois ficou calado. Só isso. Apenas meu nome. Sem nenhuma inflexão, sem nenhuma emoção, sem me dizer nada.

– Asher – falei em resposta, arqueando uma sobrancelha, como se estivesse zombando dele, embora por dentro eu fosse apenas uma grande bagunça.

O que diabos eu estava esperando, afinal? Que eu chegaria e Asher estaria me esperando com pipocas queimadas e o DVD de Núpcias de Escândalo?

Mordi os lábios, apenas desejando que os dois não percebessem o quanto eu me sentia idiota e humilhada. Asher e eu não tínhamos nada. Nada. Nós nem gostávamos muito um do outro. Não éramos amigos. Apenas morávamos juntos e, uma vez, enquanto ele estava com um caso sério de álcool no sangue, nos beijamos. Um beijo que eu nem tinha certeza se ele lembrava ter acontecido.

Só isso.

Colocando assim, parecia tão pouco que era patético. Mas por que eu não sentia que era só isso?

De repente o clima pareceu mudar. E, num piscar de olhos, Asher passou de atordoado para zangado. O cara estava puto, por falta de uma palavra melhor. E, assim como eu tinha certeza disso, eu tinha certeza de que a beldade em seus braços não havia percebido. Asher era muito bom em esconder sua raiva, eu só percebia porque já havia me acostumado a ela. Algo mudava em seus olhos, em sua respiração. O ar a nossa volta parecia simplesmente mais pesado, quase difícil de respirar.

Eu não sabia por que ele estava tão irado e isso era meio assustador. Era comigo? Apenas porque eu havia interrompido o que tinha tudo para ser uma noitada inesquecível? Não. Já havia acontecido antes e ele nunca me olhara com tamanho desprezo nos olhos.

– Então essa é a famosa Maxine Hyde? – a garota falou com uma voz baixa e meio rouca, alternando os bonitos olhos entre Asher e mim. Era só o que me faltava, até a voz da maldita soava sensual.

E como ela sabia quem eu era?

Asher suspirou e fez as apresentações, não parecendo nada satisfeito:

– Seren, essa é Max, minha colega de apartamento. Max, esta é Seren Jacobs.

Eu acho que ainda estava meio fora de ar, porque fiquei olhando mais tempo do que seria polido para a mão estendida de Seren. Ela havia se soltado de Asher e caminhado até mim com um sorriso tímido no rosto.

Finalmente pisquei e apertei a mão dela.

– Asher está sendo um verdadeiro amor ao me mostrar a cidade – falou e, pela primeira vez, eu percebi o sotaque britânico. – Meu pai é um grande amigo da avó dele e mencionou que eu estava vindo para Nova York pela primeira vez. Ela falou sobre isso para Asher e ele muito gentilmente se ofereceu para ser meu guia turístico.

Soltei a mão de Seren e fitei Asher por cima do ombro dela. Eu nem sabia que ele tinha uma avó. Eu nem sabia que ele tinha qualquer família. Eu também não sabia que ele podia ser um amor, que podia se oferecer para fazer algo que eu sabia que odiava, que era bancar o turista em sua própria cidade.

Eu não sabia nada sobre o cara com o qual eu vinha sonhando. Com o qual eu morava há meses. O cara que tinha cabelos macios e lábios que eu só podia pensar em beijar.

Lábios que, aparentemente, haviam andado ocupados aquela semana.

– Ahn, que ótimo – consegui dizer, embora tivesse certeza de que não tinha conseguido passar entusiasmo na minha voz. – Er...eu acho que eu vou dar uma passada na casa de um amigo... – falei, indo até o armário para tirar um par de sapatos. – JJ me pediu para ir lá quando voltasse...

– Não – a voz de Asher, firme e decidida me fez parar antes que minhas mãos alcançassem minhas sapatilhas pretas de camurça. – Você vai ficar exatamente onde está.

Não havia dúvidas de com quem ele estava falando. Seus olhos cinzentos estavam quase abrindo um buraco em meu rosto.

Subitamente quebrou nosso contato visual e se virou para Seren, indo até ela e acariciando com suavidade seu rosto, mostrando como o contraste entre suas peles era bonito. Desviei o olhar, assustada. Aquele toque...aquele toque era...doloroso. Era mais íntimo que o beijo, mais carinhoso, mais...mais. Eu nunca vira Asher tocar uma mulher daquele jeito. Ele era sempre sobre beijos e sedução. Nunca sobre carinho. Nunca.

Exceto...comigo.

I wanna pick you up, I don't care what time
I wanna drive real fast to some place in town

– Desculpe por isso – eu o ouvi dizer a ela. – Mas eu realmente preciso...resolver umas coisas com a Max. Você quer que eu te leve para o hotel?

– Não – ela respondeu com voz agradável, me surpreendendo. – Meu motorista ainda deve estar aí embaixo. Eu acho que consigo chegar sozinha.

– Me ligue, pelo menos. Para eu saber que você chegou bem.

E, de repente, o ar que havia ficado pesado por causa da raiva de Asher, virou algo quase sólido, que se recusava a descer por minha traqueia. E dessa vez não era pela raiva de ninguém. Era medo. Havia uma mão gelada apertando meu coração e eu não tinha a menor ideia de onde ela surgira.

– Tchau, Max – ouvi Seren dizer e me virei para ela, conseguindo dar um aceno e forçar um sorriso. Ela, em troca, sorriu lindamente para mim, com todos aqueles dentes muito brancos, e foi embora. Asher a levou até a porta.

Eu não pude ouvir o que diziam, mas ouvi quando a porta se fechou. Continuei onde estava, na frente do armário, de costas para a entrada do meu quarto. Percebi, porém, quando Asher entrou. Eu o sentiria em qualquer lugar. Seus olhos faziam minhas costas se arrepiarem, bem entre as omoplatas. O ar que ele respirava parecia brincar com meus cabelos, acariciando minha nuca, mesmo que ele estivesse a metros de distância.

Eu não sabia por que, mas era assim.

– O que veio fazer aqui? – sua voz era áspera, inflexível. – Pegar suas coisas?

Virei-me para ele tão rápido que meu cabelo golpeou minha bochecha.

– Quê? – a surpresa era evidente naquela única palavra.

Asher estava, como esteve muitas vezes antes, encostado no batente da porta do meu quarto, os braços cruzados. Mas nunca com aquela expressão. Ele me encarava como se eu o tivesse traído da forma mais vil possível, como se eu tivesse cravado uma faca em suas costas. Como se eu houvesse...quebrado seu coração.

O que era ridículo e provavelmente significava que eu estava imaginando coisas. Eu nunca tivera o coração de Asher nas mãos para ter o poder de machucá-lo. E duvidava que qualquer mulher já o tivesse tido.

– Você vai embora, Max – sua voz continuava firme, mas...vazia. – Dê o seu jeito de desaparecer da minha vida antes do natal.

As palavras saíam de sua boca, mas não pareciam fazer sentido em minha cabeça. Que merda era aquela? O que havia acontecido com o homem que eu achava que conhecia? Ele realmente dissera aquilo?

Eu me aproximei alguns passos e parei, incerta do que fazer.

Um olhar para aquele rosto bonito me fez ver que ele não estava brincando.

– Asher... – comecei, dizendo o nome dele como num ofego. – Eu não entendo...eu...o que aconteceu? Por que você está fazendo isso?

A fúria que estava fervendo lentamente sob aquela capa fina de civilidade que ele parecia vestia fluiu para a superfície. Asher se afastou do batente e veio até mim, falando enquanto destruía a distância entre nós com firmes passadas.

– O que aconteceu? O que aconteceu? Você está realmente me perguntando isso? – seu rosto e voz mostravam incredulidade. – Aconteceu de eu acordar na manhã seguinte ao meu aniversário e perceber que você havia sumido. Aconteceu de eu esperar por você e me preocupar porque você não atendia a porcaria do celular. Não consegui falar com sua melhor amiga e seu novo marido, mas consegui falar com o Spencer do seu trabalho. E ele também não tinha ideia de onde você podia estar. Depois de dois dias, eu fui até a polícia. E foi aí que finalmente Spencer me ligou e falou que tinha falado com você. E que você estava bem, na casa dos seus pais.

Eu estava literalmente boquiaberta. Não conseguia imaginar aquele homem se preocupando comigo daquele jeito, era maluquice demais. Mas...mas fazia sentido. E eu não respondi suas mensagens nem retornei suas ligações...e só dois dias depois falei com JJ...mas Asher sabia que eu ia para casa no dia de Ação de Graças, eu havia mencionado em alguma de nossas conversas, tinha certeza.

E foi o que eu disse a ele. Isso só o fez rir. Mas não era uma risada boa.

– Eu sabia que você tinha uma passagem para o Kansas com a data de dois dias depois. Eu não tinha ideia de que você estava tão ansiosa para ver seu querido namoradinho que decidiu adiantar a viagem.

Sua voz era tão cheia de veneno e de deboche, como eu nunca tinha ouvido antes. E eu não entendia o que James tinha a ver com aquilo tudo. Eu me sentia como se estivesse no meio de uma guerra e não tinha ideia de como havia chegado lá. E também não tinha nenhuma armadura.

– Asher, isso não tem nada a ver com – comecei a dizer, mas ele se aproximou ainda mais, fazendo-me recuar dois passos, surpresa.

– Cala a boca – ele falou, mas soou mais como um pedido. Sua voz era baixa, grave. – Cala a boca, Max. Eu não quero ouvir você.

Wanna stress you out
Wanna make things hard

Eu sentia que meus olhos se abriam como duas bolachas. O que aquilo significava? O que eu podia ter feito para deixar Asher tão furioso comigo?

Tentei mais uma vez:

– Asher...

Dessa vez, quando ele se aproximou, foi tão rápido que eu soltei um gritinho involuntário. Suas mãos se fecharam em meus braços, puxando-me com violência para perto dele, quase fazendo com que nossos corpos se tocassem.

– Você me beijou, Max – ele sussurrou, a voz contradizendo a raiva em seus olhos. – Você me envolveu com esses braços, você moveu sua boca contra a minha. Você me abraçou e me deixou te abraçar.

Eu não pude dizer nada. Eu mal conseguia controlar minha respiração, que saía em leves arquejos. Meu olhar corria da boca de Asher para os seus olhos e era como se eu estivesse revivendo aquela noite na escada de incêndio. Como se, se eu fechasse os olhos, pudesse sentir novamente tudo o que ele dizia. Nossas bocas se movendo juntas, seu corpo apertando-se contra o meu, meus braços envolvendo seu pescoço, a textura macia dos seus cabelos em meus dedos. O ruído da música dentro do apartamento. O vento frio de outono.

Ele se lembrava.

Wanna take your hand
Wanna leave this bar

Wanna wake you up on a driving train
That's led it's tracks down inside my brain

– E no dia seguinte, você foi embora – continuou, sua voz soando com desprezo, mas seu olhar percorrendo o mesmo caminho em meu rosto que eu fazia no dele. – Você me deixou beijá-la e, no segundo seguinte, correu para o seu namoradinho, como se quisesse...

Ele me largou e não completou a frase. Eu perdi o equilíbrio por um momento e precisei me segurar na ponta da cama para não cair. Asher virou as costas para mim.

– Você falou de mim para ele? – perguntou, debochado. – Ou nosso singelo beijo não entra na sua lista de traições? – suas palavras tiveram o efeito de um soco no estômago e me deixaram sem ar por um momento. – Ele te perdoou ou todas as suas mentiras finalmente fizeram seu querido James abrir os olhos?

Doía ter meus segredos, minhas confidências, jogados contra mim. Asher me desprezava por minhas ações. Eu quase não conseguia acreditar, mas parecia que era a verdade. Eu era a mentirosa, eu era a traiçoeira.

– Ele descobriu a vadia que você é?

Eu não me mexi quando ouvi essas palavras, mas por dentro, eu senti algo se despedaçar. Algo frágil, bonito. Mas eu não o deixei ver. Asher já havia ganhado muitas batalhas comigo. Ele já havia me machucado mais do que conseguia enxergar.

Se eu não podia impedir as feridas, me restava apenas escondê-las.

– Eu estou perguntando, Max. O que ele fez dessa vez? – ele tinha voltado para me encarar, os olhos frios como o céu de uma tempestade de neve. – Te perdoou e disse “vamos começar de novo”?

Ergui o queixo.

– Me pediu em casamento – respondi antes que pudesse pensar duas vezes, forçando minha voz a soar tão inflexível quanto a dele tinha sido.

Pude ver sua surpresa. Seu choque. Também pude ver que, apesar de me considerar uma mentirosa, ele acreditava em mim.

Bom, eu não estava mentindo mesmo.

Ele deu dois passos em minha direção. Eu o imitei e nós nos encarávamos a centímetros um do outro. Não desviei os olhos dos dele, cobri os meus com uma capa de orgulho e arqueei as sobrancelhas em desafio.

Queria machucá-lo. Queria-o no chão. Por aqueles segundos enquanto nos encarávamos, eu só queria vê-lo sofrer.

Ele deu mais um passo para mim. Eu dei mais um passo para ele.

Sua boca estava mais uma vez perto da minha. Estava limpa, o que queria dizer que ou o batom de Seren era muito bom ou seus lábios tinham aquela adorável cor rosada naturalmente.

Eu queria chorar. Queria que Asher me abraçasse e tocasse meu rosto com a mão, com a mesma delicadeza que mostrara à Seren. Queria que aquela maldita garota não existisse.

I wanna be unique
I wanna be your kind

Queria fazer aqueles olhos frios se fecharem, queria que seus lábios tocassem os meus, que sua língua acariciasse a minha e que seus braços me apertassem forte contra ele. Queria tanto beijá-lo que acabei fazendo exatamente isso.

Wanna make you hate me then change your mind

Não o peguei de surpresa. Ele imediatamente passou os braços por minha cintura e me puxou para ele. Apertei sua cabeça contra mim para impedi-lo de ir embora, mas ele não foi. Beijou-me de volta. Não era como o beijo na escada de incêndio. Esse não pedia permissão, nem a minha nem a dele. Era uma briga, uma guerra. Era para ferir, machucar.

Puxei seus cabelos e ele apertou-me mais contra ele. Sua mão desceu para o fim da minha espinha e seus dedos machucavam minha pele, mesmo através da roupa.

E eu percebi que aquela dor não me importava. Que, enquanto seus lábios estivessem nos meus, eu não me importava se ele me machucava ou não.

Wanna wear a skirt
I wanna make mistakes
I wanna kill you first then take your name

Empurrei-o e me afastei o máximo que pude, parando apenas quando senti a beira da cama contra a parte de trás das minhas coxas.

Asher tinha o rosto corado e sua respiração era um reflexo da minha, pesada e errática. Seus olhos estavam nublados, mas não frios como antes.

– Por quê? – perguntou e eu não precisava ser ler mentes para saber que ele estava perguntando por que eu o havia beijado.

Ele ia me machucar. Eu sentia. Como James nunca poderia. Como Kenneth não conseguira. Asher Lockwood podia me destruir. Podia acabar com o que restava de mim.

E eu não o deixaria fazer aquilo.

Quando eu pensara que meu coração era meu para dar a quem quiser, eu sabia que nunca o daria para aquele homem. Asher nunca cuidaria dele. Asher não se importaria com ele. Mas era tarde demais. Eu não havia dado meu coração a ele.

Ele o havia levado sem pedir permissão. Sem que eu sequer notasse.

Machuque-o, Max. Antes que ele machuque você. Quebre seu coração antes que ele quebre o seu.

Wanna tear you apart
Wanna make your bed

– Porque eu posso – respondi.

I wanna break your heart
I wanna break your head

Asher ficou pálido. Cambaleou ligeiramente, como se tivesse perdido o equilíbrio por um momento. Mas se recuperou. Endureceu o olhar e falou, a voz afiada como uma faca:

– Fora daqui. Você não é nada para mim, Hyde. Desapareça.

Eu podia ter sido jogada naquela guerra sem armadura, sem direções, sem arma nenhuma. Mas mesmo assim, eu não perderia. Nem que fosse apenas por orgulho, nem que fosse só o que restava, eu não perderia.

– Eu sei que não sou nada pra você – falei, a voz composta como se estivéssemos tendo uma agradável conversa sobre o tempo. – Não sou nem sua amiga, lembra? E agora também não sou sua colega de apartamento.

– Quando eu voltar, quero que você esteja longe – murmurou. Um pouco mais baixo e eu não o escutaria.

– Eu estarei.

So, I guess this means we can't be friends

Ele virou e saiu do quarto com passos largos. Segundos depois, ouvi a porta da rua ser aberta e bater com força.

Nero entrou no meu quarto um segundo depois e subiu na minha cama, esticando-se preguiçosamente. Subi na cama também e peguei o gato no colo.

Abracei-o mesmo sabendo que ele provavelmente me arranharia.

...

Comecei a arrumar algumas das minhas coisas, mas a maioria teria que ficar ali por algum tempo, até eu arrumar um lugar para ir. Liguei para JJ e expliquei rapidamente que precisava de um lugar para ficar por um tempo e ele na mesma hora ofereceu seu apartamento. Era minúsculo e só tinha um quarto, mas eu estava feliz por ele me abrigar.

Nero continuava esticado na minha cama, indiferente mesmo depois de ter quase arrancado meu braço fora. Eu já havia passado antisséptico nos arranhões e agora o olhava com cara feia enquanto colocava meus sapatos ordenadamente na mala.

Dessa vez não haveria abraços e pedidos para ficar. Eu também não os esperava. Asher não havia bebido nem nada assim, ele estava perfeitamente são quando me chutara dali.

E eu não ficaria mesmo que ele voltasse para pedir.

Havia um número de baques que meu orgulho podia suportar e, infelizmente, eu já havia atingido meu limite. Perceber que eu estava, muito provavelmente, perto de me apaixonar por um cara que me expulsava de casa daquele jeito era quase pior do que ter sido expulsa.

E eu ainda não entendia o que exatamente havia acontecido. Sim, eu tinha ido embora dois dias antes do programado e até entendia que Asher ficasse um pouco preocupado, mas furioso daquele jeito? Ele agia como se...como se esperasse algo de mim. Como se tivesse o direito de esperar algo de mim e eu o tivesse decepcionado. Traído.

Peguei as duas malas grandes e uma bolsa de mão. Já havia colocado o meu casaco e enfiado as luvas de couro nos bolsos. Abri a porta e apertei o botão do elevador, voltando para puxar minha bagagem com dificuldade. Quando estava indo fechar a porta, o telefone tocou. Pensei em ignorá-lo, mas ninguém sabia que eu estava saindo dali e poderia ser para mim. Ótima hora para aproveitar e avisar que eu não morava mais naquele lugar.

– Alô? – disse ao atender.

– Oi, eu estou procurando pelo Ash – disse uma bonita e desconhecida voz feminina. – Ele está? É a Georgie.

Soltei o ar com força pela boca. Por que eu não estava surpresa? Não importava que ele estivesse beijando Seren mais cedo ou que depois tivesse me beijado também. A vida de Asher Lockwood era uma sucessão interminável de mulheres e eu duvidava que aquilo fosse mudar.

– Não – respondi de má vontade e continuei, antes que pudesse me controlar. – E aqui é a namorada dele. Então faça um favor, Georgie? Não ligue mais.

Bati o telefone, perguntando internamente qual era o meu problema. Dava pra ter sido mais idiota? Provavelmente, não. Mas eu estava feliz por pelo menos ter privado Asher daquela conquista.

Olhei uma última vez para o apartamento que havia sido minha casa pelos últimos seis meses. E jurei que não iria chorar.

Eu não tinha culpa se um grão de poeira havia caído no meu olho. Mas eu não estava chorando. Não mais.


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Notas finais do capítulo

COMENTEM NOS DOIS CAPÍTULOS.
Sério.
Hey, to pensando em fazer mais um bônus do Asher...e acho que esse vai ser o último da história...
Espero que tenham gostado!
Beijos!
EI, QUEM VAI PRO LOLLA? VAMOS NOS VER LAAAA