Os passos da vizinha de cima ecoavam no escuro que estava meu quarto, nada mais podia ser visto ali. Ela não parava de andar quase nunca, às vezes sua casa parecia um ponto de encontro e isso me fazia dormir na sala. Mudei de posição na cama dando de cara com a foto de Tanya e Lizzie, ela sorriam na foto e eu senti meu coração se apertar.

Joguei o cobertor pro lado e me levantei da cama, não tinha motivos pra ficar ali. Peguei a chave do carro e sai do apartamento, passava das três da manhã e ainda havia pessoas nas ruas, alguns bebendo e fumando e outros apenas andando sem rumo. Assim como eu. Meu pensamento se voltou para Tanya e senti vontade de jogar o carro no primeiro muro.

Tanya e eu nos casamos a dois anos, no mesmo ano ela engravidou de Lizzie. Minha vida estava completa, eu tinha a mulher que eu amava ao meu lado e ainda iria ser pai. Quando Lizzie nasceu eu entrei pro corpo de bombeiros da cidade, era apenas um cargo temporário mas já ajudava a manter a casa. Dois meses atrás antes de sair para o trabalho deixei Lizzie e Tanya dormindo, coloquei um bilhete ao lado de Tanya na cama e sai fechando a porta. Uma hora depois um chamado fez todos sairmos as presas.

Era na minha rua o chamado, mais precisamente em minha casa. Meu corpo travou quando vi a casa em chamas e o primeiro impulso foi correr entre as chamas e pegar minha mulher e filha. Um dos caras me seguiu e conseguimos subir até o quarto de Lizzie, tirei minha filha do berço enquanto vi Jason entrar em nosso quarto, ele saiu sem ninguém nos braços e então apertei Lizzie ainda mais e sai da casa. Sentia meu braço queimando, mas nada importava, eu queria minha filha salva e viva. A levaram ao hospital e eu tive que ficar para ajudar como fogo, Tanya havia morrido. Não havia sobrado nada, enterrar um caixão vazio era doloroso demais.

Três dias depois o hospital informou que Lizzie não havia resistido. Então eu era um homem sozinho. Pedi transferência para Seattle e vivo em um apartamento barulhento e com vizinhos estranhos, meus pais vivem implorando para que eu volte pra Londres mas não consigo pensar em colocar meus pés lá tão cedo. A policia havia dito que o incêndio havia sido criminoso, o mesmo que colocou fogo em minha casa havia colocado em mais três, ele estava preso e eu espero que ele morra na prisão.

Eu tinha duas cicatrizes desse dia, uma queimadura em meu braço direito e um corte em cima da boca. Suspirei ligando o carro e voltei a rodar a cidade, ainda tinha tempo ate precisar entrar pro trabalho. Voltei pra casa e apertei o botão da secretaria eletrônica.

- Hey Edward, a Angel nasceu – a voz animada de Jasper me fez sorrir – Ela é linda cara, parece tanto com a Alice, ate mesmo o cabelo preto é igual – ele riu – Espero que você venha logo pra cá e traga presentes pra sua sobrinha, ela te espera e a gente também.

Suspirei me jogando no sofá com o telefone na mão, não iria ligar para eles. Minha irmã já era mãe, a mesma irmã que brigava comigo por destruir suas Barbies. Sorri com aquela imagem e me deite, consegui dormir até as seis então coloquei a roupa dos bombeiros e sai. Mais um dia de trabalho, mais um dia salvando vidas.

Afinal de contas, esse é o meu trabalho.