O Trauma De Ron escrita por Katerina_


Capítulo 9
Jogando




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No outro dia, tinha se aprontado para sair e estava dando café para Rose quando chegou uma coruja do Profeta Diário. Trazia um bilhete sucinto da direção, junto a um exemplar do jornal de brinde:


“Prezada Sra Hermione Weasley



Lamentamos informar que estamos dispensando seus serviços de redatora, pois recentemente eles têm apresentado qualidade abaixo da esperada. Todo o valor correspondente a seus últimos artigos será depositado em sua conta no Gringotes num prazo de quatro (04) dias.



Respeitosamente,


____________

Atônita Lettuce 


______________

Gedidiah P. Walrus.”



Hermione apenas deu um sorriso zombeteiro e botou o bilhete de lado. Deu uma olhada na manchete e no lide da matéria de capa: “POR UM TRIZ: assassino do menino trouxa é denunciado pela filha. Aurores chegam um segundo mais tarde”, e jogou o exemplar no lixo. A moça estava de bom humor, ainda sob a impressão da descoberta de Leonard, e assim continuou. Tempo depois pegou a filha e ia saindo quando tocaram a campainha.


Era Wilfred Reed. Indignado, revoltado, falando bem rápido.

— Hermione, eu vim correndo para cá assim que soube! Eles não podem fazer isso com você, é uma injustiça! Você escreve melhor que qualquer um lá, que todos eles juntos! Bandidos miseráveis, vendidos de uma figa!

Hermione riu. Afastou-se para um lado para dar espaço para o rapaz entrar e fechou a porta do vestíbulo.

— Sabíamos que isso ia acontecer, Will, era só uma questão de tempo. Não somos ingênuos a respeito da natureza “comerciável” do nosso querido jornal.

— Mesmo assim; mesmo que eles estivessem certos. Já contribuíram bastante para destruir tua vida com os artigos daquela vaca; deviam ter pelo menos a decência de não tirar a fonte de renda de uma mãe de família! Eles não pensaram que o Ronald não pode estar sustentando vocês? Como é que fica você e a Rose agora, Hermione? – ele estava mais nervoso que ela.

— Não se preocupe com isso, Will. O clã Weasley nunca desampara um dos seus. E além disso, o Profeta não é o único lugar em que se pode escrever no mundo bruxo. Na verdade eles me fizeram um favor, porque eu não queria fazer a traição de trabalhar para a concorrência estando atrelada a eles. Mas você sabe que se for preciso eu faço, como já fiz antes, e estava morrendo de vontade de fazer de novo. Conte-me sobre as coisas lá. Soube do pequeno fiasco na minha casa ontem? Apresse-se que eu tenho que sair.

— Sim; o que o PD não sabe? Eu estou trabalhando com aquele bofe da Hotshard. Só aceitei porque você pediu pra ficar de olho no caso. Mulherzinha miserável. Diz que quer fotos de você e da Rosie. “Um close, de preferência!”. Vou levar é a bunda gorda da avó dela...

— Will! – repreendeu Hermione, com ar divertido, tampando ou ouvidos da filha, que acompanhava a conversa quietinha com ar atento. Já tinha aprendido pelo menos cinco palavras feias desde o começo dela, o que não agradava à mãe.

— Desculpe. É que aquele docinho me estressa. Mas você parece calma apesar de tudo; eu diria que até melhor que antes das desgraças. Tem alguma boa notícia? Aonde é que você vai, a propósito?

— Ao Ministério, dar queixa da invasão. Quer ir comigo? – ela perguntou, displicente. Wilfred aceitou de pronto.

— Eu adoraria. Na verdade, não perderia isso por nada, ainda mais sabendo que vou irritar a fulana. Estou fazendo meu trabalho, é te seguir, mesmo! Vou dizer que não cheguei perto o suficiente para tirar foto – e ele riu, antecipando o gozo do chilique da colega. Então os três partiram.

Pra todo lugar que Hermione ia no mundo bruxo, logo provocava um burburinho nas circunstâncias atuais. No Ministério não foi diferente. Os olhares a seguiam como se ela fosse uma artista famosa. E todo o tipo de comentário, também. Hermione ignorava, embora isso a aborrecesse bastante.

Assim ela andou impassível até o QG dos aurores, com Wilfred atrás com ares de guarda-costa, e Rose no colo dela. Tentaram impedir a entrada dela, mas a recepcionista resolveu deixar o trabalho desagradável para a secretária do chefe. Então Hermione passou. E foi indo sem olhar para trás ou para os lados até que ouviu uma voz familiar.

— Hermione! – era Harry. Ela virou-se. – Está tudo bem com você? Eu li no jornal, ia te procurar, mas tive que levar Albie no St. Mungus, ele comeu umas plantas que não devia. Andy estava lá ontem? – Harry perguntou, estranhando. Harry estava a par das visitas de Ron, e o dia anterior não era previsto.

— Não; pura balela. É por isso que estou aqui, inclusive. Invadiram minha casa, Harry, do nada. Sem mandado – Hermione piscou para Harry. Ele também entendeu que isso era bom pra eles.

— Nossa. E aí, alguma novidade do nosso amigo Leo?

— Sim; a Ammy não comentou com você? São boas novas.

— Recebi uma coruja dela ontem, mas não tive tempo de ler com atenção.

— Então leia, e conversamos depois. Temos que conversar mesmo. Dá um beijo na Gina e nas crianças.

— Espera! Hermione, eu ouvi que você saiu do Profeta. Se estiver precisando de qualquer coisa... Eu ficaria ofendido se você tivesse vergonha de recorrer a mim.

— Não se preocupe, Harry. Conversamos mais tarde, eu realmente estou um pouco apressada agora.

E a moça rumou para o extremo do QG, onde ficava a sala do chefe. Pediu para falar com ele.

— Tem hora marcada? – foi a pergunta, em tom enfadonho.

— Bem, eu acho que alguns aurores marcaram hora pra mim quando invadiram a minha casa – ironizou Hermione. A mulher fingiu não ouvir. Fazia parte do seu treinamento.

— Lamento, mas ele não pode atendê-la agora. Está com uns problemas a resolver com urgência. A senhora vai ter que esperar ou voltar outra hora.

— O meu problema é provavelmente um desses que ele tem que resolver. E se não for, eu logo faço tornar-se – Hermione ameaçou.

— Qual é o assunto? – a secretária perguntou, de má vontade. Hermione olhou-a de modo hostil. Aquela mulher só podia estar brincando com a cara dela.

— A senhorita poderia apressar as coisas, por favor? – Hermione disse, elevando a voz.

— Deixe-a entrar, Gladys – disse uma voz, de dentro da sala.

Hermione pediu que Wilfred cuidasse de Rose um momento e foi.

— Muito bem, Sra Weasley, qual é a sua reclamação? – o chefe dos aurores perguntou. Era um velho barbudo e durão, que Hermione conhecia desde o tempo em que ela mesma fora sua subordinada. Não era má pessoa, mas também não era ele quem mandava no Ministério.

— O senhor sabe. O senhor ouviu, e já sabia antes disso, porque ontem eu avisei os seus aurores que não ia deixar barato – Hermione esperou um convite para sentar que não veio, mas isso não a intimidou.

— A senhora tem plena consciência de que acobertar um criminoso é crime? – o homem desviou sutilmente o assunto, usando um tom frio e rígido.

— Sim. E é justamente por isso que estou aqui. O Ministério está seguindo uma linha de investigação unilateral, baseado em “provas” bastante questionáveis, com isso acobertando possíveis culpados e perseguindo um inocente, o que é mais crime ainda – Hermione retrucou, com ousadia. – E o senhor não pense que vai me enrolar com esses joguinhos de intimidação. Conheço-os desde Hogwarts, sei bem que esse é o estilo do Ministério, mas isso não me atinge, porque também conheço bem as leis. Perante elas vocês têm ido longe demais. Eu não queria comprar essa briga, porque é mais atenção negativa para a família, mas não duvide da minha capacidade de vencê-la.

— Ah, e como? – escarneceu o velhinho, azedo. – Que eu saiba a senhora não está mais tão influente no Profeta Diário.

— Ele não é o único veículo de comunicação do mundo bruxo. Tem concorrência, caso o senhor não saiba. E com um bom escândalo é fácil fazê-los mudar de lado. O senhor sabe que eles vivem de atacar o Ministério; e também que a opinião pública nem ia perceber a mudança, e ainda a seguiria.

— Que tipo de escândalo? Vai trair seu marido com um membro da alta cúpula? – o homem zombava e fazia pouco caso. Mas o objetivo em seus olhos perspicazes era descobrir o que Hermione tinha na manga. Ela também era esperta, porém.

— Não precisa sondar, não me importa que conheça minhas armas. Há aurores vigiando a minha casa. Isso é normal e até esperado. Mas estão proibidos de estar dentro do limite do meu quintal sem um mandado. Se fizerem isso novamente, vou processar o QG. Sabe que meu cunhado ganharia o processo.

— Seu cunhado Percy Weasley? – o velhote riu. Os Weasley estavam mesmo desconceituados na sociedade bruxa, e há meses Percy não pegava um caso. Mas isso não reduzia sua capacidade e Hermione sabia disso.

— Não importa. Desviaria o foco do caso principal. E tem outra questão: a vigilância constante da casa dos meus pais. Está à margem do Sigilo. Vi um dos seus aurores quando estive lá; loiro, de estatura mediana – Hermione estava chutando, mas não seria muito difícil acertar. Descrever alguém assim correspondia a nomear John Smith. – É contra a lei a vigilância de trouxas exceto em ocasiões extremas, o que não é o caso. Além do quê, é incoerente, porque a história toda é pra vingar justo um menino trouxa. Eu nasci trouxa, e tenho também a lei deles do meu lado. O senhor imagine as consequências disso tudo e me diga se quer evitá-las.

O homem ficou quieto um momento. Não queria dar o braço a torcer muito rápido; não era inteligente numa negociação. Mas era inevitável.

— Muito bem; e como a senhora faria as coisas? – disse, de má vontade.

— Eu conduziria uma investigação paralela – respondeu Hermione, sentando-se a um aceno dele. – Os senhores estão fazendo um trabalho imprudente ao não dar ouvidos ao Ronald. Deviam pelo menos tentar seguir os depoimentos dele.

— Sra Weasley, a senhora sabe muito bem que o Ministério precisa ter uma posição definida. Por isso nunca trabalhamos em duas frentes. Além disso, seria difícil conseguir aurores para averiguar de boa-vontade os argumentos dele, depois das campanhas de Nelly Hotshard-Boff – o chefe falou.

— Eu posso conseguir esses aurores – Hermione disse, rapidamente. – Sei que vocês não trabalham, oficialmente, em duas frentes. Mas o Ministério não precisa realmente se envolver. Eu posso montar uma equipe pra isso. Apenas preciso que o Ministério feche os olhos para, digamos, invasões de arquivo ou coisas assim.

— O procedimento que me pede para “apadrinhar” é totalmente ilegal – o velho constatou, com ar irônico e divertido.

— E totalmente tradicional – Hermione disse. O homem novamente demorou a responder, mas cedeu.

— Seja. Mais alguma coisa? – o sarcasmo azedo em sua voz era evidente. Hermione o estava irritando, mas não mais que sua impossibilidade de prendê-la. Aqueles subordinados iam pagar por isso.

— Na verdade, sim. Como eu disse, nada de invasões. Mesmo com mandado, eu quero que batam na porta. E que cessem de interrogar a mim e a qualquer outro Weasley, porque nós já dissemos tudo que havia a dizer. É tortura psicológica. Se puderem dar uma prensa em Nelly Boff, eu também agradeceria.

— Pois não, madame – debochou o barbudo, irritado, fingindo anotar tudo cuidadosamente. Hermione levantou-se.

— Qual a necessidade de ser tão ferino? O senhor conhece o Ron; acredita realmente que ele seria capaz disso? – perguntou, aborrecida.

— O que eu acredito ou deixo de acreditar não interfere nos fatos, então qual a utilidade de manifestá-lo? – o outro respondeu, cansado, e provavelmente entristecido com essa condição.

— Por isso que eu desisti de ser auror para ser jornalista – murmurou Hermione, suavemente. Apertou a mão do homem cordialmente e saiu dali.

— E não adiantou muito – disse Wilfred, entregando Rose para a mãe.

— O quê? – Hermione questionou, confusa, enquanto eles partiam.

— Virar jornalista. Algumas invenções de seu cunhado são bem úteis. Sempre ando com uma destas – Will murmurou, indicando disfarçadamente um fio cor de carne que pendia no meio de seus cabelos negros. Uma Orelha Extensível. Hermione riu.

— Então já sabe das boas novas. Reunião na casa do Harry esta noite. Você vai ter que avisar ele e os outros. Tudo bem?

— Claro – ele parou. – Acho que devemos nos separar agora, então – Hermione concordou e beijou o rosto dele, se afastando. – Se precisar de qualquer coisa, me chame – ele gritou. – Não importa a hora, nem se estou trabalhando. A Nelly que vá se danar.

E assim Hermione foi embora. Por volta das 20h, aparatou com Rosie na casa de Harry. Lá estavam ele e Gina (naturalmente), George, Ammya, Petter Sommerville, Wilfred, Neville, Luna e Dino Thomas. Formavam a principal equipe de resistência.

Hermione contou-lhes as conquistas e a reunião girou sobre o tema do programa de investigação do mês seguinte: quem pesquisaria, quem seguiria, quem vigiaria, como fariam isso, entre outros detalhes. Ficou decidido que fariam uma escala de vigilância à velha Datwillis, porque um dia o sobrinho deveria visitá-la. Só Hermione não participaria, porque a velha conhecia seu rosto. Outro ramo faria a pesquisa da família em si. Wilfred sairia para o campo da conversa nesse caso. Quando achassem Leonard, o que fariam? Houve uma pequena discussão a esse respeito. Ammy, Petter e Dino eram a favor de entregá-lo imediatamente ao Ministério, para que pudessem livrar logo a cara do Ron. Mas Hermione lembrou-lhes que ele não era o assassino, apenas um dos caras que estavam lá, e eles precisavam chegar ao assassino, o que seria mais difícil quando o Ministério alardeasse a prisão de Datwillis. E além disso, ainda não tinham provas concretas contra ele. George sugeriu então que o pegassem e o assustassem para que ele entregasse os outros. Depois de algum debate, essa sugestão foi aprovada. Também a busca dos outros pelo retrato falado não cessaria; e Hermione devia tentar atacar o Profeta Diário (por escrito) para mudar a opinião pública. Sobre isso ela conversou posteriormente com Luna Thomas e ficou acertado que daria uma entrevista, ou melhor, uma série de entrevistas ao Pasquim, falando sobre a situação e sobre Ron. Também fariam uma série de reportagens com os amigos deste, colocando dúvidas sobre a pintura de “cara mau” que o PD fizera dele. Luna ficou muito empolgada com a idéia, principalmente por poder ajudar os amigos, sendo fundamental a eles, na verdade.

As coisas, a partir daí, melhoraram um pouco para os Weasley. O povo que lia o Pasquim (não eram muitos, mas alguns eram influentes) começou a pensar de outra forma. E então havia de novo um tímido grupo simpatizante de Ron.


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