Ron e George aparataram em Watton-at-Stone às 23h, direto na sala onde a mãe deles os esperava com Hermione e Rose. A primeira visão de Ron dissipou na mente de Hermione todas as idéias desagradáveis. Ela só queria saber tudo sobre o estado dele. Depois George e a Sra Weasley foram embora, e Hermione dispôs-se a repor o estoque da bolsinha de contas. Começou a arrumá-la, andando pela casa e colocando tudo aquilo que achava que ele podia precisar. Ron ficou brincando com Rosie, enquanto Hermione fazia isso.

Então os pensamentos voltaram todos de uma vez. E a base deles era uma: o homem que Ron desenhara não existia. Era parecido com um rapaz cuja foto não era impossível que Ron tivesse visto – ou podia ser apenas coincidência. E a pista acabava aí. O culpado não existia – ou pelo menos não era quem Ron dissera que era. TUDO apontava o contrário. E o contrário era sinistro.

Hermione tinha se sentado à escrivaninha, observando Ron balançar Rosie nas pernas, e estava assim enquanto pensava isso, bem no momento em que Ron olhou pra ela. Os olhares deles se cruzaram, e desde muito cedo em Hogwarts que eles se comunicavam com pleno entendimento por olhares. Ron leu tudo o que estava na cabeça de Hermione, associou as coisas (ela apenas tinha lhe falado indiferentemente que seguira uma pista fria) e foi como um balde de gelo derramado na cabeça dele.

—  Você está com medo de mim – ele disse, acusador, sem conseguir se conter. Hermione já havia corado quando ele lhe olhara; agora empalideceu.

—  Não, Ron! – ela protestou, veemente, quase gritando. – Não! Eu não poderia.

— Até você... – ele murmurou, fracamente, porque fraco era como se sentia. Levantara-se com o primeiro choque, e agora colocou a filha sentada no sofá, afastada dele, sem escutar os protestos da garotinha.

— Eu nunca acreditei, Ron, nem por um minuto! – Hermione gritou, ficando de pé e dando um passo em direção a ele, como para detê-lo de alguma coisa que ela não sabia bem o quê, mas refreando-se em seguida. Esqueceu-se por um momento da presença da filha; focou apenas os olhos de Ron pra que ele visse que ela estava sendo sincera.

— Mas passou pela sua cabeça! – ele acusou, em voz baixa. – Você chegou a considerar, ou ia... – ele estava muito triste, muito decepcionado com ela. Afastou-se dela e deu-lhe as costas, olhando para a parede. Hermione não tentou negar, não adiantaria nem seria sincero. Ela apenas lançou-se para frente e agarrou os joelhos de Ron, chorando.

— Me perdoe, querido... me perdoe... eu te amo, foi um segundo de fraqueza... Ron, eu juro que nunca acreditei, NUNCA... minha mente é que trabalha demais, com todas as possibilidades... não é justificativa, me perdoe... Você é tão bom... eu não te mereço, te feri tanto, querido, fui tão podre... Ron...

Rosie assustou-se com o que estava acontecendo; correu e agarrou-se à mãe, chorando alto. Ron queria acalmá-las, mas estava mesmo tão ferido que não conseguia reagir. Uma sorte que Hermione tivera sangue frio suficiente para lembrar de usar um Abaffiato na casa (entre muitos outros feitiços protetores) antes de receber Ron.

Eles ficaram assim por uns bons dez minutos, Hermione chorando e murmurando lamentações desconexas, com a filha agarrada a si, e Ron incapaz de qualquer reação. Depois ele pegou Rosie no colo e acalmou-a, e levantou Hermione, aceitando o abraço dela, mas com os olhos longe e o coração sangrando.

O resto do tempo que Ron ficou ali foi mais cerimonial. Por mais que Hermione se desdobrasse em obséquios, sabia que nada poderia apagar o pensamento imperdoável que se insinuara na sua mente naquele justo momento e fora percebido por Ron. Era um absurdo completo e nunca voltaria a passar nem perto de seu raciocínio, mas estivera lá uma vez e Hermione se sentia torpe e má por isso. Ron estava gentil e lhe perdoara, mas estava muito magoado. O clima estava péssimo. Depois que Ron foi embora e Rosie dormiu, Hermione passou o resto da noite revolvendo-se na cama, infeliz e preocupada com Ron; como ele ficaria? Conseguiria se cuidar, sentindo-se daquele jeito?