O Trauma De Ron escrita por Katerina_


Capítulo 5
Alívio/Pressão




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Passara uma semana e Hermione começava a se desesperar quando teve notícias de Ronald. Uma décima coruja chegou na sua janela, e ela já estava aborrecida de respondê-las, mas a letra fez com que ela estremecesse. Pôs-se a lê-la de imediato.

“Querida Hermione,


Lamento ter demorado tanto para mandar notícias. Estou passando um tempo na estação de férias onde Snuffles ficou. Pensei nela porque Snuffles tinha o mesmo problema que eu; o ar primitivo do local talvez seja de alguma ajuda. Descobri que não havia papel em minha bagagem e não é tão fácil arranjá-lo aqui; se puder me mandar algum, agradeço.


Eu estou bem, embora triste e entediado. Não adiantaria tentar esconder isso de você. Sinto sua falta, e não vejo a hora de tornar a ver a pequena Rosie. Cubra-a de beijos por mim, sim?


Como estão as coisas por aí? Sabe que o local onde estou não é muito privilegiado, e só consigo jornais atrasados. E fico preocupado. Você não está em apuros, está? Meu problema não parece em vias de se resolver, mas se precisar de mim, estarei aí imediatamente. Ainda tenho aquele isqueiro, lembra?


Acha que eu poderei te visitar logo? Por favor, me diga a melhor hora e a melhor forma de aparecer. Andei pensando que talvez fosse preferível eu passar antes pela casa de um ou outro parente. Eles também devem estar com saudades e fazendo escalas chamo menos atenção... para minha óbvia preferência por você.


Responda o quanto antes. Mil beijos em você e na Rosie,


Seu eterno amante,


Andy.”


Hermione efetivamente tinha um primo Andrew, e isso era uma sacada de gênio de Ron. Se pegassem aquela carta, nunca saberiam que era dele, e do que se tratava. Mas Hermione conhecia a grafia grande e torta do marido, e todos os códigos utilizados na carta. Ron escondera-se na caverna que Sirius usara como esconderijo no quarto ano deles, próxima a Hogsmeade. E estava bem. Hermione releu a carta algumas vezes antes de gritar pela Sra Weasley, que veio correndo com Rose, e ler (e explicar) a carta para a sogra.

Molly ficou emocionada. Andava muito triste pelo filho. Pediu que Hermione lhe avisasse quando da visita de Ron. Depois que elas compartilharam o alívio, Hermione concentrou-se em responder:

“Querido amigo,


Foi muito bom receber sua carta. A minha negligência com o papel foi mesmo estúpida. Por aqui estamos levando a vida. Tive que responder umas perguntas esses dias, mas creio que as respostas satisfizeram, pois tenho estado consideravelmente na paz desde então.


Sobre aquele problema com meu marido, bem, as investigações continuam na mesma. Sem muito progresso. Mas se tenta.


Você vir me ver é uma idéia ótima. Rosie não pára de perguntar por você, sempre te adorou. Combinei que minha sogra também estará por aqui no dia em que você quiser vir, ela te considera um rapaz excelente, pediu pra te dizer. Todos, eu, ela, Rosie e mais todo o resto torcemos pelo dia em que seu problema chato se resolverá e ansiamos por ele.


Acho que é melhor você não vir sozinho para cá. Sabe que meu marido não está em casa, e meus vizinhos são bastante fofoqueiros. Pode haver falatório. Vá à casa do meu cunhado, George, ele te traz aqui. Diga somente a ele que a lareira não é uma boa opção, ele entenderá. Se você fosse bruxo poderia aparatar.


Quinta-feira é um bom dia pra mim, se for bom pra você. Gostaria que você pudesse vir antes, mas receio que estarei ocupada.


Com muito amor,


Hermione Weasley.”



Interceptar corujas era um costume antigo do Ministério, quando de investigações. Então esses códigos eram necessários; toda essa imparcialidade, esse disfarce, isso incomodava Hermione. Sempre achara isso uma coisa melosa e boba, mas colocou seu perfume na carta – Ron precisava do máximo de sua presença pra superar esse momento. Mandou Píchi pra ele – sabia que Ron, embora habilidoso, não era selvagem como Sirius para conseguir ficar capturando aves diferentes – mas a pequena coruja voltou vazia.

Esperou pela quinta-feira com impaciência crescente, mas no dia anterior aconteceu algo que a perturbou sobremaneira. Dois investigadores vieram bater novamente na porta dela, e pediram para que ela os acompanhasse ao Ministério da Magia. Ela estranhou, porque tinham-na deixado em paz. Morreu de medo de terem interceptado sua correspondência e entendido. Mas manteve o sangue frio e fingiu tranqüilidade. A Sra Granger estava lá naquele dia.

— O que aconteceu, filha? – perguntou, preocupada, trazendo Rose no colo, enquanto Hermione arrumava a bolsa.

— Nada, mãe, está tudo bem. Só um interrogatório de rotina. Aquela chateação de sempre – Hermione sorriu, disfarçando. – Leve a Rose para a sua casa, é melhor, mãe; talvez eu demore um pouco a voltar, e você se sente melhor lá, sem tantos artefatos bruxos, que eu sei. Vou buscá-la quando voltar.

— Está tudo bem mesmo? – a mãe olhou Hermione (que estava pálida) desconfiada.

— Claro, mãe. Tchau – ela beijou o rosto da mãe e da filha, abraçando-as.

— Num vai, mãe! – choramingou Rose, estendendo os braços para ela quando ela ia saindo. Hermione morreu de vontade de voltar, mas apenas jogou um beijo para a filha e aparatou com os dois homens no Ministério.

A sala de interrogatório era como as dos trouxas, com o espelho característico, mas o ar era mais medieval e havia uns instrumentos esquisitos que Hermione não queria saber para que serviam. Sentou-se calada e reta ao lado da mesa. Um dos homens fechou a porta e a um aceno de sua varinha uma luz branca forte brilhou no quarto escuro surgida do nada quase no nível dos olhos de Hermione.

— Então, vamos começar isso logo. Não tenho tempo pra perder – disse um dos homens, apressado.

— Vá com calma. Deixe que eu faça as perguntas – murmurou o outro, mais calmo.

Hermione apenas olhou de um para outro numa muda interrogação.

— Então faça logo. Temos um perigoso foragido da justiça.

— Certo – o homem calmo sentou-se defronte de Hermione. – Bem, já deve saber por que estamos aqui, não? Queremos saber o paradeiro de Ronald Weasley.

— Sim – o monossílabo de Hermione foi totalmente vago, sem qualquer significado.

— Então, você vai nos dizer por bem onde ele está? Ou prefere por mal? – engrossou o outro.

— Sinto muito; não posso ajudar – Hermione respondeu.

— Senhora Weasley – o homem mais tranquilo. – Nós apenas queremos o seu bem. Não pense que somos insensíveis; eu sei como deve estar sendo difícil para a senhora. Tudo o que peço é que entregue esse caso nas mãos da justiça. Há pessoas mais prontas para lidar com isso, que têm uma visão global da situação. Agirão com toda a cautela, ninguém sairá prejudicado...

Hermione permanecia quieta, olhando o homem com ceticismo.

— É compreensível que não queira denunciar seu marido. Talvez não seja necessário, basta que a senhora convença-o a entregar-se. Eu sinceramente acredito que ele está inocente nessa. Conheço o Ron, e...

— Qual é seu nome? – interrompeu Hermione, curiosa.

— Lewis – disse o outro, feliz por estar ganhando confiança.

“Lewis Dewart, o cara que manda a própria mãe para Azkaban se isso lhe render uma promoção”, Hermione constatou, lembrando-se de uma conversa com Harry e Ron sobre colegas de trabalho. Um sorriso irônico aflorou-lhe aos lábios.

— Então, Hermione, posso chamá-la assim? – Hermione deu de ombros com indiferença. – Eu acho mesmo que seria muito melhor para o Ron ele se entregar. Se não tem o que temer... Apenas gostaríamos que escrevesse pra ele dizendo isso.

— E interceptariam a coruja – completou Hermione, irônica.

— Então confessa que sabe onde ele está?! – exclamou o outro homem, o cara do “então”, socando a mesa.

— Estamos todos trabalhando com hipóteses aqui, não é? – a mulher respondeu, mantendo o sangue frio.

— Claro – respondeu Lewis, trocando um olhar com o colega.

— Se está com medo pela sua filha, sabemos que a criança não escolhe o pai – disse este.

— No entanto, eu o escolhi – Hermione retrucou, cruzando os braços.

— Tampouco levaremos isso em conta – respondeu o Sr Dewart. – Quantos anos tinha quando casou com ele? Vinte, vinte e um? Nessa idade as pessoas são muito cegadas pelo emocional, especialmente as mulheres. Você não poderia ver quem ele era realmente. Qualquer júri leva isso em consideração.

“Como muda de discurso fácil!” pensou Hermione, indignada. Respondeu irritada, com chamas nos olhos:

— Acontece que eu o conheço desde os onze anos, e sei perfeitamente que ele seria incapaz de uma sujeira dessa, como qualquer um que passe um par de horas com ele saberia. Sei também que da mesma forma que o depoimento de uma esposa não vale para salvar um cara, não vale para condená-lo. Então por que continuam com isso? Não vai levar vocês a nada. Pra quê me atormentam?

— Acalme-se – murmurou Lewis, tocando o braço de Hermione. Ela, que tinha se inclinado para frente no ímpeto da fala, encolheu-se na cadeira. – Estamos aqui apenas conversando. Penso no bem da senhora quando faço essas sugestões. Vamos, acalme-se. Estar nervosa faz mal. Tome um chá.

Hermione recusou com um gesto abrupto a caneca de chá que o outro fizera flutuar na sua frente.

— Não quero seu Veritasserum, obrigada. A burocracia não anda tão rápido, vocês não estão autorizados a me dar isso ainda – pelo olhar azedo de Hermione, eles perceberam com desagrado que estavam lidando com uma bruxa familiarizada com as leis e os processos do Ministério. Deviam ter desconfiado, jornalista! – E agora, será que eu posso ir, ou vão me obrigar a ficar aqui olhando muda para a parede até o fim da tarde?

Os inquisidores não tiveram outro remédio senão deixar Hermione ir embora. Ela saiu dali com as pernas bambas e o coração disparado. Chegou em casa ainda fingindo tranquilidade (sabia que estava sendo vigiada), mas correu em seguida e rabiscou num bilhete trêmulo: “Andy, não venha. Problemas de fofoca. Estarei ocupada. Não venha mesmo. Eu estou bem. Conversamos depois. Te adoro muito. Hermione.”

Ela já ia colocando Píchi pela janela com o bilhete quando se deu conta de que era exatamente isso que queriam que ela fizesse. Saiu, então, levando Píchi no bolso do sobretudo (um pouco de dificuldade em ocultar seus pulos), e aparatou perto da casa da mãe, fazendo o resto do caminho a pé. Lá pediu pra ir um momento ao seu quarto, de onde aparatou disfarçadamente na loja de George. Ammy estava lá para o almoço. Hermione contou rapidamente o que ocorrera, e ela e a prima deram um jeito de despachar Píchi no meio de algumas corujas de encomendas. Acrescentaram ao bilhete uma ordem para que Ron mudasse de esconderijo (e não dissesse para onde ia, porque o Veritasserum estava iminente) e o pedido de um desenho das pessoas que elas deviam procurar, cuja descoberta se tornava mais urgente e era mais difícil se dependesse da vaga descrição que ele tinha feito (com um pouco de dificuldade de expressão).

Depois Hermione aparatou de volta em seu antigo quarto, pegou sua filha e veio se afligir em casa.

Quando Ron recebeu o bilhete, ficou bastante perturbado. Procurou outro esconderijo, mas pensou em contrariar a esposa e ir visitá-la de qualquer forma. A preocupação com Hermione e Rose, e com o resto da família, o consumia a cada instante. Mas conseguiu evitar a besteira depois de uma dolorosa batalha razão vs. emoção. Concentrou-se em fazer o tal desenho. Ele não desenhava mal, mas para o retrato que lhe pediam, seus talentos eram insuficientes. Lembrou-se então dos treinamentos de auror – retrato falado era rotina no QG, e havia penas especiais para fazê-los. Ron, naturalmente, não tinha uma pena destas, elas só eram vendidas a retratistas profissionais, porque ninguém mais se interessava. Havia um feitiço para improvisar isso, encantando uma pena comum. Não era muito usado, Ron teve que quebrar cabeça, mas lembrou: pictoria vocabilis.

Na segunda-feira seguinte, Hermione recebeu os desenhos. Copiou-os diversas vezes e deu-os aos amigos que estavam na caça dos bandidos (Ammy, Harry, Neville, Luna, Wilfred, Petter, entre outros, e os Weasley). Ela mesma, sendo tão vigiada, tinha muita dificuldade em sair para fazer investigações. Junto dos retratos, duas linhas de “Andy” dizendo que viria nessa quinta de qualquer forma e não aceitaria adiamentos, apenas queria a hora.


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