O Trauma De Ron escrita por Katerina_


Capítulo 4
Fuga




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Wilfred chegou na casa de Hermione e Ron às 3 horas da manhã. Hermione atendeu-o sonolenta e se surpreendeu ao vê-lo ali. Até esqueceu que ele era seu informante.

— Will? Isso são horas? Que é que você quer? – disse, quase rispidamente.

— Hermione, o Ronald tem que fugir, agora! – disse Willie, sério. Ela empalideceu.

— Por quê? O que aconteceu? – perguntou em voz baixa, recuando para que ele entrasse no vestíbulo e fechando a porta. Os vizinhos também eram, em boa parte, hostis. Das crianças com quem Ron costumava jogar quadribol no fim de semana, só duas ainda o cumprimentavam se o viam na rua.

— Eu estava numa festa, na casa de uma colega. E eu converso com todo mundo, você sabe. Tínhamos ido eu e Liza, você conhece, e ela me apresentou um primo que é auror. Não lembro o nome agora, mas não vem ao caso, só que eu já tinha ouvido que esse cara estava envolvido na investigação do caso do Ronald, então tentei conquistar a amizade. Depois de algumas canecas de hidromel puxei o assunto do caso, que é o que mais se comenta; por sorte tinha algumas garotas em volta, e o cara, louco pra se exibir, saiu contando tudo o que sabia. Disse que o Ministério apurou novos fatos: confirmaram que o sangue no casaco de Ron era mesmo do menino...

— Dã! O próprio Ron falou que ficou segurando o garoto um tempo! – Hermione replicou, indignada.

— ... e que não havia realmente nenhuma pegada no terreno da casa...

— Aparatação! Ora, raios, se não havia nenhum bruxo lá antes, porque o Ministério recebeu um chamado? E...

— Deixe-me acabar, Hermione! – interrompeu Reed. – Só estou contando o que ele disse. Então o cara assumiu um ar de primeira mão e disse: “Pois eu mesmo vou prender o canalha, assim que amanhecer. Não é possível deixar um bandido desses a solta...” e ele continuou falando, mas assim que eu pude me escapei para cá pra te avisar. Hermione, é sério, seu marido precisa fu...

— O que está acontecendo aqui? – perguntou Ron, na soleira da porta, olhando sério do esbaforido Reed para a pálida Hermione.

— Ron! – Hermione correu e abraçou-o com força de gigante, como se não fosse soltá-lo nunca mais. Começou a chorar. Ron olhou para ela, espantado, e depois lançou um olhar desconfiado e inquisitivo a Reed.

— Você tem que fugir – disse este, sério. Como Ron olhasse-o estranhamente ainda, ele completou – O Ministério mandou prenderem você e virão de manhã.

O rapaz empalideceu. Tentou afastar Hermione gentilmente, mas ela não cedeu.

— Mas por quê...? – Ron balbuciou. – Droga, eles realmente acham que... Mas estão enganados! Eu vou provar pra eles. Vou me recuperar e explicar-lhes claramente que estão cometendo um engano... Não podem ser tão estúpidos, sei que tudo vai se esclarecer... – o rapaz planejava, confuso.

— Esquece isso, Weasley; não vai dar certo. Ninguém pretende te dar ouvido, eles já decidiram o assunto – descartou Wilfred. – A única coisa que você tem a fazer é procurar um lugar onde possa permanecer refugiado por um tempo, se quer sair dessa história vivo e são. E com urgência.

—  Não vou fugir da Justiça – negou Ron, ficando rouco e meneando a cabeça. – A verdade está do meu lado.

— Não é questão de verdade ou mentira, Weasley. Toda a opinião pública está contra você. Estão pressionando o Ministério para tomar uma providência já faz algum tempo. Mesmo que eles seguissem outra pista, ninguém acreditaria. Provavelmente vão ter que aparatar com você direto no Ministério ou em Azkaban, porque estava cheio de jornalistas no local onde eu soube que você seria preso. Devem estar escrevendo o furo agora, e na hora da prisão vai haver uma multidão aqui, pronta para o linchamento. Os jornais te pintaram como um vilão de marca maior.

A seriedade por trás dos óculos de Reed era perturbadora. Ron afastou Hermione de si com delicadeza e perguntou:

— Isso é verdade, Hermione?

Ela confirmou com a cabeça, sem erguer os olhos para ele. Ron empalideceu..

— É mais um motivo para eu ficar aqui – disse, porém, firme, franzindo as sobrancelhas. – As pessoas se voltariam contra a minha família. Não me importa que me peguem, contanto que Hermione e Rose estejam seguras. Preciso protegê-las.

— Ron... – Hermione falou, baixinho. – Wilfred tem razão. É melhor que você vá. Lembra do que aconteceu com Sirius. Ele também foi acusado injustamente.

— Se quiser ver sua filha crescer, não há outra coisa a ser feita. Sabe que os crimes contra trouxas têm recebido punição mais severa desde Voldemort. Com a publicidade que esse caso ganhou, é bem provável que te deem pena de morte, sem muita conversa – Reed continuou: – Quanto a Hermione e Rose, não se preocupe. Elas estão seguras porque também estão sob a guarda da lei trouxa.

Ron suspirou. Recuou, encostando-se na parede, e deixou-se cair, escorregando para o chão. Hermione abaixou-se ao lado dele e abraçou-o.

— Ron... – ela murmurou, chorosa. – Por favor, por mim, vá! Eu não suportaria... ver você sofrer mais do que já está... e nem posso pensar... Salve-se, não se preocupe conosco. Eu juro que ficaremos bem! Nem que tenha que viver entre os trouxas, eu juro! Mas você vai? Diga que vai, por favor, você vai?

O rapaz fez que sim com a cabeça, sem olhá-la, apenas uma vez.

— Obrigada, obrigada! – Hermione murmurou, apertando-o contra si e acariciando os cabelos dele. Ouviu uma tosse atrás de si. Voltou-se.

— Hermione, se não se importa, eu vou indo... Estou muito cansado, queria ver se consigo dormir uma horinha antes de ir para o jornal. Vou ficar de orelha em pé, e qualquer coisa nova eu corro direto pra cá – prometeu Wilfred.

— Obrigada, Will – murmurou Hermione, estendendo para ele a mão, que ele beijou. – Não sei o que faríamos sem você.

— Boa sorte, Weasley – disse Wilfred, para Ron, com pena.

— Obrigado – Ron ergueu os olhos tristes para o poeta e apertou a mão dele. Wilfred foi embora. Ron levantou-se, tonto, para preparar-se para partir, sem saber muito que fazer primeiro. Hermione pegara a bolsinha de contas encantada e se pusera a enchê-la com coisas que Ron ia precisar (comida, casacos, cobertas, escova de dente, etc.). O rapaz, que estava de pijama, foi vestir-se. Em quinze minutos Hermione encontrou-o com a bagagem no quarto. O rapaz estava ao lado do berço da filha, fitando-a com ar triste. Acariciou o rostinho e os cabelos da menina, que ressonava tranquila e riu, sentindo cócegas. Ron teve dificuldade em tirar os olhos dela quando Hermione lhe tocou no ombro.

— Aqui está – ela murmurou, entregando a bolsinha de contas sem olhá-lo. – Eu coloquei tudo que achei que você fosse precisar.

— Eu precisaria de vocês também, na verdade – ele respondeu em mesmo tom, acariciando o rosto dela com as costas da mão.

— Temos que ficar aqui, Ron, pra descobrir como te tirar dessa – Hermione respondeu. Uma pausa. – Onde é que você vai ficar? – ela perguntou. Quando ele ia falar alguma coisa, porém, tapou os ouvidos. – Não, é melhor eu não saber – ela disse, então. – Para o caso de me darem poção da verdade.

— Se forem te interrogar eu não vou – ele ameaçou botar a bolsa de lado.

— Vou ficar bem, Ron. Prometo – ela ressegurou, detendo a mão dele. – Assim que passar o primeiro tumulto dou um jeito de me comunicar com você. Eu te amo. Agora vá – ela acrescentou, tendo percebido réstias de sol entrando pela janela, ainda tênues.

Ronald tomou a esposa nos braços e beijou-a apaixonadamente, como há muito não fazia (sentia-se indigno e evitava os carinhos dela desde o dia em que aquilo acontecera, ou apenas os aceitava sem reação). Hermione retribuiu da mesma forma, tentando expressar naquele beijo rápido tudo o que ela precisava dizer-lhe e que levaria séculos para fazê-lo com palavras. Ron logo a afastou e sem dizer nada ou sequer olhar para ela, desceu as escadas, saiu de casa e aparatou em algum lugar.

Hermione deixou-se cair na cama, tensa, e tentou segurar o choro até depois de ter recebido os algozes. Alguns minutos depois, se trocou e ficou sentada na sala, esperando tocarem a campainha.

Eram 7:30 da manhã quando isso aconteceu. Hermione foi até a porta e abriu-a com um ar assustador de tão impassível. Havia três aurores do lado de fora.

— Pois não? – ela questionou, polida.

— Temos uma ordem de prisão para Ronald Bilius Weasley – disse um dos homens.

— Ele não se encontra. Lamento – ela retrucou.

— Seria sensato a senhora me informar o paradeiro dele. Fugir da Justiça só acarretará em aumento da pena dele... Isso se não for pena de morte – retorquiu o outro, frio.

— Acontece que eu não sei. Ele saiu esta madrugada e não me disse para onde ia – Hermione tinha plena consciência de que cada uma dessas palavras piorava a situação jurídica de Ron, mas não havia outra coisa para dizer.

— Vai ver, ele já esperava que fossem prendê-lo e como tem culpa do que aconteceu, resolveu fugir para se livrar de Azkaban, provando assim que assassinou aquele menino trouxa – deduziu o auror. – Vamos. Vou encontrar esse assassino repugnante nem que seja no inferno! – e deu as costas a Hermione.

Hermione encostou-se na soleira, tonta. Despertou com o choro de Rose e foi atender a filha. A fuga de Ron foi noticiada em todos os jornais do mundo bruxo, sua cabeça posta a prêmio. Traziam uma foto antiga dele, de uma ocasião em que ele fora condecorado pela prisão de um comensal da morte (bastante incoerente, sim). Todos os amigos mandaram corujas a Hermione perguntando o que acontecera, de modo que a sua sala ficou parecendo um corujal, porque ela não tinha ânimo para responder. Harry apareceu de noite (Gina ficou com os meninos. Era perigoso para eles ali porque havia alguns ativistas pró-trouxa acampados na frente da casa, vaiando qualquer um que parecesse ter qualquer relação com ela).

— O que aconteceu, Hermione? Você não respondeu nenhuma das minhas corujas! – perguntou Harry, preocupado.

— O que aconteceu? O que os jornais dizem, Harry, Ron fugiu – Hermione respondeu, aparentemente tranquila, brincando com a filha. – Soubemos que ele ia ser preso e decidimos que era melhor assim.

— É, eu li. Mas achei que era mais uma mentira dos jornais... – respondeu Harry. – De qualquer forma, foi melhor assim – acrescentou Harry. – E você? Como está?

Ela ergueu os olhos desesperados para ele. E começou a chorar. Harry não soube o que fazer.

— Calma, Hermione. Vamos dar um jeito nisso, você vai ver. Isso tudo vai passar... – ele abraçou-a. Hermione suspirou.

— Ah, Harry... por que isso tinha que acontecer com a gente? Eu não sei onde Ron está, não sei quando nem como vou saber disso. E se ele estiver em perigo, se estiver precisando de mim? Ron é sensível, Harry, você sabe que quando está triste ele sempre fica pensando em coisas que o deixam mais triste. Fora de casa... na solidão... eu queria que nada disso estivesse acontecendo.

— Eu não sei, Hermione... Parece que nem depois de Voldemort temos mais sossego. Tem sempre alguma coisa para nos atormentar. Agora é o Ron, acusado injustamente. Parece que a história se repete. O enredo foi o mesmo com o Sirius. E eu me sinto inútil por não conseguir ajudar o meu melhor amigo! – disse Harry, irritado.

— Justo quando estávamos quase conseguindo a penseira... – Hermione baixou os olhos para a filha e esta devolveu o olhar. O azul era exatamente igual ao do Ron, o que fez Hermione chorar mais ainda. – Você t-tem alguma p-pista de quem foram os culp-pados reais? – Hermione soluçou.

— Não, não tenho. Estamos trabalhando assiduamente no caso, mas, está complicado... – respondeu Harry.

E, realmente, o que Harry dizia fazia todo o sentido. A descrição dos verdadeiros culpados circulava entre os amigos de Ron, e eles faziam o possível para encontrar os caras. Alguns, como Harry, se esforçavam sobremaneira. Naquele dia ele ajudou Hermione a responder a todas as corujas, tranquilizando e amenizando a situação. Voltou outras vezes, com frequência. Sofria ao ver seus amigos sofrendo. Gina também vinha, Ammy e George... A Sra Weasley estava muito aflita. Ela e o pai de Ron vinham frequentemente. Às vezes Molly passava o dia com a neta, porque Hermione queria sair atrás de alguma pista, ou vinha só fazer companhia à nora para dividir a tristeza e a aflição.


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