O Trauma De Ron escrita por Katerina_


Capítulo 3
Agravamento




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Ron voltou ao trabalho no Ministério no dia seguinte, mas só de fachada. Quando não estava sendo interrogado, inquirido, questionado ou investigado a respeito daquele caso, ficava ocupado em arquivar papéis, organizar o material do Quartel-General dos Aurores, passar memorandos. Não saiu mais em nenhuma missão, não lhe entregaram mais nenhum caso. As pessoas no QG o olhavam de lado. Isso o deixava positivamente deprimido.

A humanidade tem um pouco de urubu. Quanto mais trágico um acontecimento, tanto mais atenção ele desperta. Especialmente quando acontece numa época de enfadonha calmaria e tem seu ar de mistério. Os jornais, revistas, e outros órgãos da imprensa sabem explorar esse ponto fraco do caráter humano como ninguém, para fazer dinheiro com ele. Isso, sejam bruxos ou trouxas, não importa, é sempre assim.

E a opinião pública é manejada como uma perigosa marionete. É muito útil de vez em quando arranjar um “cara mau”, alguém que deixe todos ocupados em cuspir nele enquanto coisas mais importantes acontecem no escuro. Especialmente em tempos de crise, problemas na segurança do banco ou da prisão ou coisas assim. O governo costuma respirar aliviado quando aparece alguém para apedrejar em um momento desses. Nem ele nem ninguém se pergunta se o “cara mau” não é porventura inocente.

Com Ron foi o mesmo processo. Logo suas declarações foram liberadas pelo Ministério para publicação. Foi um sucesso, uma vez que cada mínimo caquinho de vaso encontrado era noticiado com alarde e acompanhado pelo público com avidez.

No começo, a lembrança da família Weasley como uma das mais pró-trouxa do mundo bruxo retraiu até as línguas mais venenosas do Profeta Diário. Mas aos poucos as pessoas começavam a “ter idéias” (que ninguém percebia que tinham tirado das entrelinhas dos jornais), e comentavam a meia boca: “Eu não acredito nisso, ele tem jeito de ser tão bonzinho... mas as aparências enganam, não é? E quem é que pode provar que ele é mesmo inocente como diz?”. Essas pessoas negariam se lhes perguntassem se tinham mesmo dito isso. Mas o número delas era cada vez maior.

Ron foi afastado do trabalho no Ministério um tempo depois. Oficialmente, para uma licença de saúde. Mas todos sabiam a verdade. Hermione proibiu-o de atender a porta, por causa da multidão de repórteres que ia incomodá-los todos os dias. Ele ficava confuso quando alguém o importunava – ela já sabia melhor como mandá-los embora, e já vinha fazendo isso há tempo sem que ele soubesse.

Seguindo o conselho de Wilfred, ela não voltara ao Profeta Diário. Era o poeta que trazia todas as notícias para ela, qualquer boato que ouvia, para ela estar de sobreaviso. Logo no dia seguinte àquele em que ela estivera no PD, ele foi vê-la.

— Hermione, deram seu caso ao inimigo! – ele chegou dizendo.

— Pra quem? Skeeter? – ela questionou, preocupada, voltando a sentar-se para dar comida a Rose, tarefa que interrompera para ir atender Reed.

— Quê, essa aí já não tem mais crédito faz séculos. Foi para a Nelly – Helen Hotshard-Boff era uma colega de Hermione, que entrara no Profeta Diário um pouco depois dela. Era competente e inteligente, mas de família puro-sangue e idéias de acordo. Como Hermione defendia idéias diametralmente opostas às dela, seus artigos tinham pontos de vista conflitantes e elas não se davam nada bem. Ela detestava Hermione ainda mais por ela ser nascida trouxa e uma bruxa competente, o que contradizia radicalmente suas teorias. Não perderia uma chance de prejudicá-la, ainda mais estando num posto abaixo de Hermione, e tendo sido da ambiciosa Sonserina.

— Como é que alguém entrega pra ela um caso sobre trouxas? – Hermione questionou, estupefata. – Será que ninguém lembra da conduta dela no caso dos neocomensais?

— Pois entregaram. Não sei se foi imperius ou poção do amor no chefe, mas o fato é que ela conseguiu – Wilfred disse. Também se surpreendera ao saber. – Bem, Hermione, eu só passei aqui para avisar pra você se cuidar. Tenho que ir para casa.

— Obrigada, Will. E há mais alguma coisa? Acharam algum vestígio dos caras que fizeram isso? – ela perguntou, esperançosa. Will balançou a cabeça.

— As coisas tendem a ficar pretas, Hermione – ele disse, antes de sair.

E os dias se passaram, com o pudor das pessoas em comentar o caso diminuindo a cada artigo de Nelly Boff. Até um dia em que um grupo pró-trouxa fez piquete em frente às Gemialidades, jogando ovos na loja e pregando boicote aos Weasley.

George ficou furioso.

— A situação já está ficando fora de controle – disse Ammy, por trás de George.

— É irracional! – disse George, fechando uma das portas para evitar os ovos. – Quem em sã razão poderia acreditar nisso?

— É tudo culpa daquela Nelly, deturpando as coisas. Ela quer ferrar a Hermione – sibilou ela, cruzando os braços.

— A Hermione, o Ron e todos os Weasley! Se isso continuar, vão acabar nos queimando em fogueiras – George rosnou, limpando a sujeira.

— Eu queria arranjar uma maneira de ajudar o Ron... – suspirou Ammy. George suspirou.

— Eu também. Ele está bem mal. Mas não sei como poderíamos!

— É... Eu me sinto inútil no momento – Ammya andava de um lado para o outro. – Tem que ter um jeito...

— Bah, eu faria qualquer coisa. Mesmo lutar. Mas você não pode, por causa do bebê – George falou. Ammy estava de quatro para cinco meses, apesar de quase não se notar por não ter quase barriga. – Acho que o que podemos fazer de melhor é ir vê-los no fim do expediente. Seria bom se Gina e Harry fossem também. Ron está precisando do apoio da família.

— Poder, eu posso. Sou uma ótima auror. Só preciso de mais cautela pra não repetir... o erro – disse Ammy, séria. – Mas vamos visitá-los sim. Eu posso falar com o Harry no QG – acrescentou.

— Tchau, então. Vai com Deus – ele deu um beijo no rosto dela, em despedida. Porém, antes que ela se aproximasse da porta, deteve-a. – Vai por trás – disse.

— Tem mesmo necessidade disso? – questionou a moça, em tom baixo.

— A turba furiosa ali na frente me faz pensar que tem – ele replicou.

— Certo, se isso for fazer você ficar menos preocupado... – cedeu Ammy.

— Se cuida. Por você e por ele – George acariciou os cabelos dela.

— Pode deixar. Eu sei me cuidar – sorriu. Beijou-o no rosto e saiu pelos fundos.

De noite estavam em Watton-at-Stone, com Ron, Hermione, Harry e Gina; e George contou o que tinha acontecido.

— Perdi dois bons funcionários – disse, aborrecido. – Não suportaram a pressão.

— Eu não aguento mais isso – falou Ron, rouco.

— Calma – Hermione acariciou a mão dele, olhando-o, penalizada.

— Devíamos estar acostumados a sermos odiados – comentou Harry, querendo consolar o amigo. – Lembram no tempo de Voldemort? E estamos aqui.

— É. Somos uma família. Não precisa mais ninguém – disse Gina, firmemente.

— Tem razão. Já superamos tanta coisa juntos, né? – concordou Ron, com um pequeno sorriso melancólico.

— E vamos superar isso também. E juntos. Como sempre foi – concluiu Ammy.

— Uma partida de snap explosivo então, em nome dos velhos tempos? – George convocou, tirando um barulho do bolso, para animar o irmão. Esse deu um sorriso forçado, e só topou mesmo para não quebrar o esforço de George.

Quando Gina “explodiu”, juntou-se a Hermione, que cuidava das crianças na sala.

— As coisas estão ruins até para Teddy, em Hogwarts. Ninguém quer ser amigo dele porque sabe que ele é quase criado por nós – Gina comentou.

— Eu sei, Gina – Hermione suspirou. – Mas que jeito? Eu já me ocupo o suficiente tentando impedir essas coisas de chegarem aos ouvidos do Ron. Ele já está desse jeito e não sabe de nem metade do que está havendo.

— Ele não suportaria saber do resto. Conheço o meu irmão – Gina olhava as crianças brincarem. – Não aguento ver o Ron desse jeito. É muita crueldade com ele...

— Se você não agüenta imagine eu! Vai ficando pior a cada dia. Se pelo menos conseguíssemos descobrir quem foram os bandidos... – Hermione murmurou.

— Isso é praticamente impossível... Mas vamos continuar tentando – Hermione coçou a cabeça.

— Precisaríamos montar uma equipe para investigar isso. Como vocês fizeram quando os neocomensais me prenderam.

— Exatamente. É a única maneira de ajudar o Ron – Gina cruzou os braços.

— Vai ter que ser meio sem ele saber. Wilfred me mantém informada antes que as coisas saiam no jornal, por sorte.

— Ótimo. Também prefiro assim. Gera menos aborrecimento ao Ron – concordou a ruiva.

Hermione ia responder, mas viu Ron se aproximando.

— Tudo bem, querido? – perguntou, gentil. – Você perdeu?

— Sim, perdi – respondeu ele, baixinho. Tinha as mãos nos bolsos e a expressão melancólica no rosto.

— Vem aqui – chamou Hermione. Com um olhar deu a entender a Gina que ela devia ir para a cozinha para passar a idéia da investigação aos amigos. Ron aproximou-se de Hermione sem dizer nada. – Senta – ele obedeceu, mecanicamente. Hermione abraçou-o e apoiou a cabeça no ombro dele. – Como eu posso te ajudar, Ron? – perguntou, suavemente. – Como fazer você se sentir melhor? Confesso que as minhas idéias já se esgotaram.

—  Você já faz o suficiente, Hermione. O problema está comigo. Eu não consigo me animar com nada – ele suspirou, cansado.

—  É compreensível – Hermione comentou, afagando a mão dele.

— Mas é bom ter você por perto – Ron apertou-a contra si. – Você me conforta... – sussurrou. Hermione manteve o tom de voz.

— Vou estar sempre. Eu e a Rose. Vamos estar sempre do seu lado, meu amor, aconteça o que acontecer. E penso que nossos amigos também – ela respondeu.

— É reconfortante ouvir isso. Eu sei que sempre vou poder contar com vocês... – Ron não dizia isso da boca para fora, mas o fazia maquinalmente. Até mesmo sua tristeza não tinha causa na perseguição que estava sofrendo; isso era apenas um agravante. O que o marcara tanto fora a morte do garoto – Ron já vira mortes cruéis antes, mas de alguma forma aquela lhe parecera mais tenebrosa, porque era tão injusta! E agora acusavam a ele, que teria feito qualquer coisa para impedir aquele assassinato, de tê-lo cometido. Não havia qualquer sentido naquilo; Ron cansava-se de tentar entender – e se aborrecia.

Para tirá-lo daquela morbidez, Hermione acabou decidindo envolvê-lo nas investigações para descobrir o verdadeiro culpado. Ela contou a ele o que os amigos estavam fazendo – depois de ter perguntado mais de 20 vezes como eram os caras com quem ele tinha lutado, na esperança de que ele lembrasse mais algum detalhe, e tê-lo deixado quase louco com isso – e sugeriu que já que ele estava trabalhando em arquivar papéis no departamento de aurores, bem, que aproveitasse isso para procurar seus inimigos nas fotos de algumas fichas; se encontrasse, adiantaria muito o trabalho. Pesquisa não era a parte favorita de Ron em uma investigação, mas ele ficou bem melhor uma vez ocupado (antes de ser afastado do cargo) – a esperança de punir os culpados foi um doce lenitivo. Hermione já suspeitava que eles não eram criminosos comuns – e se confirmou, porque nada foi achado nos arquivos. Mas Ron pensou reconhecer alguma semelhança em certos rostos de antigos radicais antitrouxas, bem antigos mesmo, do início do século passado – e anotaram o nome das famílias para pesquisá-las. Enquanto a perseguição aos Weasley aumentava de intensidade com a falta de informações por parte do Ministério e a liberdade da imprensa para difamar, estes Weasley estavam empenhados em conseguir uma penseira para extrair as lembranças de Ron e poder saber exatamente a quem deviam perseguir. Se tivessem uma poderiam até talvez provar para o Ministério que ele não mentia. E depois de algumas semanas de dificuldade, Carlinhos deveria chegar na 5ª feira da Romênia contrabandeando uma.

Foi quando saiu a ordem de prisão para Ron.


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