O Trauma De Ron escrita por Katerina_


Capítulo 2
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Quando chegou lá, Hermione deparou com um amontoado de repórteres e funcionários do jornal na recepção. Ela já vira muitas vezes situações semelhantes – estavam comentando algum acontecimento interessante. Quando ela se aproximou, ouviu cochichos pressurosos de “É ela, é ela!” e Wilfred foi o primeiro a se destacar do grupo, antes que esse rodeasse Hermione. O poeta começou a protestar:

— Deixem ela, deixem! Depois eu conto pra vocês – ele pegou Hermione pelo braço e tirou-a do meio do grupo, levando-a para um canto. – Então, resolveu aparecer? – perguntou, enquanto eles entravam na sala de Hermione.

— É, pensei em voltar à ativa. Parece que há um caso mais sério, agora... – ela jogou verde para colher maduro.

— Sim; sabe alguma coisa do caso do menino trouxa? – Will perguntou.

— Ron contou-me um pouquinho – ela retrucou, cautelosa.

— Então você é provavelmente a única pessoa no mundo bruxo que sabe algo do que aconteceu lá – Wilfred disse, soturno. Hermione ficou gelada, compreendendo o que queria dizer aquilo. Botou a bolsa de lado.

— Onde foi? – ela perguntou, em voz baixa.

— Perto de Gloucester, numa fazenda trouxa. O primeiro chamado chegou cerca de duas da tarde. Depois, uma hora e pouco depois, aproximadamente, pediram reforços. Quando a equipe do Ministério chegou, encontrou dois dos aurores patetas, obliviados, e o terceiro, Ronald, olhando para o menino trouxa morto, com o casaco cheio de sangue. A sala estava toda destruída, no resto da casa havia bagunça também. Os pais do menino estavam em um canto, loucos, foi difícil tirá-los de lá. Ainda não sabem o que os deixou assim. O Ministério não deixou vazar ainda o que aconteceu realmente. Eles estão bastante furiosos. Havia mais gente na casa, gente que morava lá mas não estava no momento. Foram obliviados, mas houve morte e loucura, a casa vai ficar sendo considerada assombrada pra sempre. Muitos problemas diplomáticos. E para explicar isso, só o confuso depoimento do Ronald – Wilfred contou tudo que conseguira descobrir. Hermione estava cada vez mais preocupada. Sentiu um aperto no coração lembrando da suspensão de Ron.

— Havia outros bruxos lá! Não os encontraram?

— Nem sinal deles. Parece que a descrição de Ron não ajudou – Wilfred falou. A cada palavra dele, a situação ficava mais clara (ou mais negra).

— Não podem pensar seriamente nisso! – Hermione protestou.

— É para isso que tudo aponta – Wilfred falou, encolhendo os ombros. Porém concordava com Hermione. Era impossível pensar que tudo aquilo fosse obra de Ronald. Ele era um cara turrão e ciumento, mas bondoso até a raiz da alma.

— Ron nunca faria essas coisas contra trouxas – Hermione riu, nervosa. – Ele é casado comigo, eu nasci trouxa! – ela falou, triunfante.

— É, isso é um ponto em favor dele – Wilfred analisou o argumento, acariciando o próprio queixo. – Ou... não.

— Por quê? – Hermione assombrou-se, mas entendeu em seguida.

— Ele ser casado com você não significa que ele te ama. Podia ser bem o contrário, ele te odiar por qualquer motivo e por consequência, aos trouxas – antes que Hermione protestasse de novo, Wilfred deu a entender por um olhar que estava apenas expondo argumentos, não necessariamente concordava com eles. Hermione então só suspirou. Pressionou as têmporas.

— Preciso saber mais sobre isso. Foi pra isso que vim. Vou pegar esse caso.

— Não vão dá-lo pra você. Você é pessoalmente envolvida. Sabe disso, Hermione.

— Argh – de novo, ele tinha razão. – Então você vai. Tem que fazer isso por mim, Will, arranje pra fotografar o lugar, por favor.

— Vou tentar, Hermione. Já estou tentando. Mas você sabe que meu trabalho é insignificante. Conhece o nosso meio, conhece o poder de uma pena. E você sabe que há uma dúzia de colegas que daria tudo pra poder destruir tua vida com uma. Não vão perder uma oportunidade. E também conhece nosso jornal: não recusarão o trabalho para um venenoso, adoram uma boa intriga – Wilfred disse, sério.

Hermione olhou para ele com ar desesperado. Reed quis abraçá-la e consolá-la, mas respeitava muito a amiga, especialmente desde que ela tivera Rose. Então apenas apertou o ombro dela.

— Pode contar comigo no que precisar. É melhor você ir para casa, vão te cercar como urubus a um... Deixa – ele calou-se.

E Hermione foi. Seu cérebro funcionava com extrema rapidez, e ela não prestou atenção a nada que acontecia do lado de fora durante o trajeto. Analisava todas as complicações possíveis e não gostava do que lhe surgia em mente. As formas de escapar e as possíveis consequências, ela tentava prever tudo, como numa partida de xadrez. Ron é que era bom de xadrez. Pobre Ron...

A moça chegou em casa chamando já pelo marido, mas não o encontrou. Sobre a mesa da cozinha havia um bilhete: “Me chamaram no Ministério em caráter de urgência. Levei a Rose”. Hermione nem vestiu novamente o sobretudo – aparatou com toda a pressa no ministério.

Lá ela correu para todo lado, até descobrir onde o rapaz estava. Fora de uma das salas de audiência, viu uma mulher de meia-idade com um bebê. Havia outras secretárias paparicando a criança, e nela Hermione reconheceu sua filha.

Pegando a menina, descobriu que Ron estava sendo interrogando novamente. Quando saiu da sala, uns 30 minutos depois, parecia ter envelhecido 5 anos. Hermione levou-o para casa, serviu-lhe um café, e com muito tato, tentou sondar o que tinham lhe perguntado, e o que ele respondera. Não queria alarmá-lo.

Era duro pra ele relembrar todas aquelas coisas, e apesar de passivo por causa da tristeza, ele começou a incomodar-se.

— Mas que droga, Hermione, pra quê tanto interesse assim? Era só um interrogatório de praxe, sempre passo por um desses, e afinal você já sabe de tudo!

— Acontece que não era, Ron – ela respondeu, séria. Hermione levantou-se, indo colocar Rose para dormir, querendo dar a ele tempo para concluir sozinho. Quando voltou, porém, ele continuava sentado com cara confusa na ponta da mesa, e ela pôs-se a arrumar a cozinha, calada. Pouco depois, Ron falou:

— Hermione, o que você quis dizer com...?

Ela hesitou um momento, de costas pra ele, entre ser direta e tentar amenizar as coisas para não chocá-lo. Então se virou e sentou em frente a ele.

— Ron... pense assim, olha... Dawson e Travis foram obliviados, o menino morreu e seus pais ficaram loucos... – Ron fez uma careta. Hermione ignorou. – Você é a única pessoa que pode contar o que aconteceu lá, além dos assassinos... há um assassino com certeza, porque havia o menino assassinado, mas ninguém sabe quem são eles... e a única coisa que garante a existência deles e dá uma pista de quem eles podem ser é a tua palavra... Ron, você já pensou que ela pode não suficiente para a Justiça?

Não, ele não tinha pensado, pela cara espantada que fez. Levantou, indignado.

— Mas, por quê? Eu sempre fui um auror fiel; nunca menti nem pra proteger ninguém... E depois, se não acreditarem em mim, como encontrarão aqueles canalhas?

Ele ainda não tinha entendido. Hermione suspirou. Teria que ser direta.

— Ron, eles estão trabalhando com a hipótese de não haver “canalha” nenhum. De eles serem invenção sua, pra encobrir o que você fez.

Doeu muito a Hermione dizer isso. Ron parecia ter levado uma rajada de metralhadora. Cambaleou e caiu sentado na cadeira.

— Meu Deus! – foi tudo o que conseguiu murmurar.

Hermione estava com muita pena dele, sentia um nó na garganta ao ver sua aflição. Levantou-se para tentar consolá-lo. Quando Ron ergueu os olhos pra ela, era como se eles pedissem socorro. Ele se sentia perdido em um mundo em que era tudo ao contrário, nada fazia sentido, não podia ser real – mas era. De repente era o mesmo menino de onze anos que encarava aquele cachorro de três cabeças, que não poderia existir – e no entanto estava na frente dele, ameaçando-o.

— Por isso que você tem que tomar cuidado com o que fala – ela murmurou, acariciando timidamente os cabelos dele. – Estão doidos para te pegar em uma discrepância. Eu creio que é mais porque não tem outro pra culpar do que por acreditar que foi você. Mas... tenha cuidado, Ron.

Ele levantou-se quieto, e foi deitar. Mais tarde, quando entrou no quarto, Hermione ouviu os roncos dele. Mas sabia que ele estava só fingindo. Ela também demorou a adormecer.


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