O Trauma De Ron escrita por Katerina_


Capítulo 1
Perturbação




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Desde o nascimento de Alvo Severo que não se ouvia falar de guerra no mundo bruxo. Dementadores foram derrotados, junto a todos os seus aliados, e dezenas de neocomensais tinham sido presos, embora alguns tivessem posteriormente sido soltos por falta de provas. Mesmo assim o trabalho de auror não estava sendo perigoso; era mais segurança, trabalho de rotina, trapalhadas de crianças, obliviações, etc.

Consequentemente, as reportagens no Profeta não eram interessantes. Usava-se mais criatividade que investigação nelas no momento, o que era melhor para Hermione, porque desde o nascimento de Rose ela trabalhava em casa para poder cuidar da filha. Só muito raramente saía, se a matéria exigia investigação. Além disso ela começara a trabalhar com tradução de livros das Runas, e de outras línguas. Traduzira “Os Contos de Beedle, o Bardo”, entre outras obras, e também escrevia suas próprias.

Certa tarde ela estava, como de costume, na sala com a filhinha, por volta da hora que Ron costumava chegar. Mas ele não chegou.

— Seu pai está demorando, Rose – comentou Hermione, preocupada, olhando o relógio pela décima vez às 21:30h.

— Papai – enfatizou a menina, olhando a mãe com ar sério. Um pouco depois, Hermione colocou a criança para dormir, e voltou para a sala para esperar o marido. Era quase meia-noite quando o ponteiro dele no relógio indicou “casa” e ela ouviu a porta da frente abrir-se. Quando chegou no corredor, as costas de Ron desapareciam na escada, o que era estranho porque ele devia ter notado a luz da sala acesa e imaginado que ela estaria esperando por ele. Normalmente teria ido falar com ela; mesmo que estivessem brigados, para pedir o jantar.

Ela foi atrás dele. Ron estava no quarto, jogado na cama, com os olhos firmemente pregados no teto e a expressão dura. Sua pasta de trabalho estava jogada de lado, de um modo desleixado que não combinava com sua postura tensa.

— Ron? Está tudo bem? – Hermione perguntou, timidamente.

— Vá dormir, Hermione – ele disse, com a voz dura.

— Aconteceu alguma coisa? – ela insistiu, sentando-se ao lado dele e tirando os sapatos. Tentou estudar o rosto dele mas ele se levantou e foi olhar pela janela.

— Me deixa! Eu vou ficar bem.

— Ron, o que aconteceu? – ela perguntou, humildemente, levantando e indo atrás dele. – Por favor, me conta. Eu quero te ajudar.

— Argh, Hermione, que saco! Será que não posso ter paz em minha própria casa? – ele andou de volta para a cama em passos largos e começou a despir-se para dormir. Estava tirando o suéter quando um tremor percorreu todo o corpo dele e ele caiu de joelhos na cama, sacudido por soluços silenciosos. Hermione correu a ajudá-lo. Terminou de tirar o blusão e abraçou-o, acariciando seus cabelos. Ron escondeu a cabeça no peito dela e apertou-a contra si com força, e a garota sentiu sua blusa ficar toda molhada com as lágrimas dele.

Eles ficaram assim por um bom tempo, Ron chorando dolorosamente e Hermione quieta, consolando-o. Um tempo depois ela deitou-se e conseguiu fazê-lo deitar-se também, sem parar de afagar-lhe. Ficou quieta, mesmo estando a cada minuto mais aflita para saber o que ocorrera. Sabia que passado o primeiro choque ele começaria a falar. E foi o que ocorreu. Com a voz entrecortada e abafada (ainda tinha o rosto escondido), além de cava, o rapaz foi contando uma coisa aqui outra ali, a princípio com muito pouco nexo, mas Hermione acabou entendendo tudo.

— Chamaram a gente pra uma missão... pensamos que era coisa boba... mais um bule maluco... nem lembro onde que era... uma fazenda... De fora já ouvimos os gritos... morreu... nos meus braços, eu não pude fazer nada, não cheguei a tempo – nesse momento Ron ficou muito aflito; os soluços redobraram de intensidade, os ombros dele estremeciam horrivelmente, e o resto foi ainda mais difícil de entender. – Havia bruxos nas outras dependências também, e um feitiço na porta. Demoramos muito tempo pra desfazê-lo. Acabaram estuporando Dawson e Travis, e quase que eu vou junto também. Uma família de trouxas acuada, um maldito torturando o menino... Crucio em cima de Crucio, e outros feitiços do tipo... não devia ter mais que nove anos, todo ensangüentado... Eu não sei porque aquele maldito fazia isso, mas eu fui como louco pra cima dele, por pouco não o matei, teria matado todos eles se pudesse chegar ali um minuto antes, mas ele tinha acabado de dar um golpe final... Fugiu correndo, porque eu tentei me ocupar com o menino. Não havia mais o que fazer, mas eu não queria acreditar. Depois o persegui, mas já tinha ido embora... Deve ter reanimado os outros, não sobrou nenhum lá. Eu teria arrebentado a parede! E a mãe dele olhando ele morrer com uma cara vazia, eu não sei o que ele tinha feito com ela e o pai... Só fiquei com aquele menino na cabeça, ficava olhando pra ele, e até agora é só ele que vejo. Estava com ele no colo quando Dawson e Travis entraram no quarto... se arrastando, estavam bem idiotas, logo percebi que tinham obliviado eles. Eu fiquei muito nervoso, nem sei como consegui comunicar o Ministério, não faço idéia do que disse a eles. Não conseguia parar de olhar o menino. Imaginei que ele era Teddy, Tiago, Alvo, e até a Victoire e a Rose, e no fim não era, mas também não era menos ruim por isso. Não posso, não posso entender porque fizeram isso, eu odeio quem fez!

— Que hora foi isso? – perguntou Hermione, quando ele estava mais calmo, enxugando as lágrimas dele com a ponta da manga, e as suas também.

—  Não sei. Sou um incompetente todo dia o dia todo – ele murmurou, abatido. – Cedo – disse então. – No começo da tarde, acho. Parece que faz um ano.

— E até quando você ficou lá? – Hermione murmurou. Apesar de ter se abatido muito com o acontecimento, ainda estava mais lúcida que Ron e podia enxergar as complicações a que ele estava sujeito e não percebia.

— Muito. Mas também fui no Ministério, fiquei andando de um lado pro outro, repetindo o que tinha acontecido. Não sei quanto tempo.

Hermione quis beijar o rosto dele para consolá-lo, mas ele desviou-se. Sentia-se nojento. Ela apagou as luzes, trocou-se e deitou ao lado dele, puxando a coberta por cima deles. Hermione perguntou, baixinho:

— Precisa que eu lave seu sobretudo?

— Ficou no Ministério – ele respondeu, virando-se para o outro lado na cama. Hermione pensou durante muito tempo, e adormeceu preocupada. No dia seguinte, Ron recebeu bem cedo uma comunicação do trabalho dispensando-o do serviço naquele dia.

— Nada mais natural – resmungou, com um suspiro triste.

— Então você pode ficar com a Rose? Que eu gostaria de ir ao escritório hoje – Hermione pediu, gentilmente. Ele olhou-a dolorosamente.

— Farei o que puder. Mas é mais seguro deixar ela com a dona Ann.

Hermione, condoída com o profundo abatimento do marido, aproximou-se dele e beijou sua testa. Ron tentou desviar-se de novo, mas ela segurou-o firmemente, acariciando seus cabelos.

—  Não fique assim, amor... – ela disse, doce. Nunca o chamara assim antes.

Logo ela foi arrumar-se e, despedindo-se de Ron e da filhinha, com recomendações a respeito de mamadeira e hora de dormir, ela rumou para o Profeta Diário.


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