Sótão casa de Annie.

Estava amanhecendo, era possível ouvir passos e barulhos vindos de todos os locais da casa. Depois que fecharam a única entrada do sótão, estava escuro, os rapazes examinavam o lugar, enquanto Annie observava pela única janela, sua querida irmã se afastar aos poucos, até desaparecer de vista.

–Não sabia que você atirava. – Comentou Jorge entregando o arco a Annie, ela o segurou, pegou a aljava e observou as flechas que estavam dentro sorrindo de um jeito triste, depois colocou a aljava nas costas.

–Minha tia me ensinou. Nós vamos para casa do Jake? – A loira comentou séria.

–Vocês não querem se juntar ao resto do grupo novamente? – Disse Jorge preocupado.

–Já o perdemos de vista, por enquanto seremos apenas nós. – Comentou Jake.

O grupo assentiu, Jake procurou John no pequeno cômodo escuro, depois de um tempo, viu cabelos amarelos empoeirados e o localizou.

–O que você disse que seus pais faziam mesmo? – Dizia John agachado revirando algumas malas empoeiradas.

–Eu não faço ideia, minha tia nunca contou.

Jonathan levantou sorrindo, enquanto segurava um objeto dificilmente identificado no escuro.

–O que é isso? – Perguntou Jake confuso.

–É um gancho pra mão. - Respondeu ele sério enquanto levantava o objeto no alto e o analisava. O gancho possuía um local para regular e apertar no braço, feito com algum tipo de couro, marrom, e possuía uma lâmina curva prateada e um pouco enferrujada.

–Isso não vai servir, a lâmina é extremamente velha. – Dizia Annie louca pelo objeto antigo.

John olhou para a jovem loira, apertou os lábios e olhou para o gancho.

–Mas, ele é tão legal. – Falou o loiro com os olhos brilhando.

–Vamos ver se achamos uma lâmina melhor ai no meio dessa tralha, as vezes tem uma melhor.

O grupo todo começou a vasculhar a bagunça, acharam coisas bem mais velhas do que um gancho, após alguns minutos encontraram uma caixa velha, abriram e lá estavam dois tipos de lâmina que se encaixavam perfeitamente no gancho. Uma delas era reta com 15 centímetros. A segunda lâmina da caixa era idêntica á que estava no gancho, curva e prateada, mas como estava lacrada na caixa estava muito mais conservada.

–Esses monstros estão fudidos com meus novos brinquedinhos. – Disse John escancarando um sorriso.

–Agora que terminamos de festejar nesse lindo quarto, por onde vamos sair da casa? – Falou Jake enquanto observava a janela.

–Se formos por onde chegamos vai ser muito mais difícil sair. – Annie disse confirmando o pensamento de todos. A jovem arqueira pegou uma corda longa que estava no chão e sorriu.

–Medo de altura. – Disse Jorge baixinho.

–O que? – Annie falou se aproximando para ouvir melhor.

–Tenho medo de altura. – O jovem disse corado.

–Não vai ser difícil, é só não olhar pra baixo ok? – Jake falou tentando animar o amigo.

–E-eu vou tentar. – Jorge afirmou determinado.

John inaugurou a nova arma dando um soco com a lâmina arredondada na janela. Nenhum deles teve dificuldade de passar por ela. Logo todos estavam no telhado, andando devagar até a ponta. Jake havia amarrado bem firme a corda em uma pilastra dentro do sótão.

Os errantes que estavam na entrada da casa de Annie já haviam notado a presença deles, alguns já levantavam suas mãos agitando seus dedos em direção aos jovens no telhado.

Jake limpou o suor da testa, ele estava sendo o primeiro a descer, Annie se posicionou de um modo seguro no telhado e começou a atirar nos zumbis mais próximos. Era incrível o modo como á loira atirava, acertando apenas os olhos ou a testa dos errantes. No momento em que Jake se aproximou do chão ele saltou da corda e caiu em pé na grama. Jake estava com apenas uma faca longa de caça que havia achado no sótão, mas Annie ensinou jeitos de manuseá-la. Uma errante que usava um vestido branco se aproximou correndo do jovem, ele desviou das mãos sujas dela e a empurrou na parede próxima enfiando a faca de caça no olho da criatura. Logo John havia descido e se juntou ao amigo.

–Jorge, sua vez. – Disse Annie o lembrando do óbvio.

O ruivo tremia, segurou com suas mãos soadas na corda e se aproximou da ponta do telhado analisando a altura, três andares e meio, não era simples.

–Vá primeiro. – Disse ele nervoso.

Annie assentiu e se aproximou, ela segurou na corda e desceu aos poucos com os pés presos na corda. Logo que chegou ao chão ela gritou para Jorge descer, enquanto chutava pegava as flechas que havia atirado na cabeça dos errantes caídos no chão.

Jorge criou coragem e se desceu pouco a pouco, se aproximando do segundo andar, o ruivo olhou para os amigos lutando contra os zumbis, até que ficou enjoado e soltou a corda.

O ruivo caia sentindo o vento nas costas, até que se deu conta de que ia morrer e agarrou com uma mão na corda, sua mão ardeu, seu corpo bateu na parede e ele gemeu de dor. Annie olhou para o ruivo gritou de pavor.

–Não caia! Aguente firme! - Dizia a loira começando a lacrimejar.

Jake e John notaram o ocorrido e correram para tentar motivar o jovem também. Jorge rezou silenciosamente, e foi descendo aos poucos. Quando notou que chegou finalmente nos amigos, ele soltou a corda e Annie o abraçou, Jake sorriu aliviado.

Os quatro correram até as duas bicicletas na garagem, ouve uma breve discussão para ver quem andaria junto a Annie, mas acabou que a loira foi com Jake, e Jorge foi forçado a subir na bicicleta de John.

Quando todos conseguiram sair da casa, pedalaram sentindo o vento no corpo, Annie ficou em pé na bicicleta e estendeu os braços.

Rua da casa de Jake.

A Rua de Jake estava deserta, havia apenas três errantes no asfalto quente, o grupo chegou na casa e ela estava com a porta quebrada e seu portão estava aberto e escancarado.

Jake pediu para o grupo esperar na varanda, eles entenderam e se sentaram Annie colocou uma flecha no arco e ficou de guarda.

O jovem estava pálido de medo, suas mãos tremiam. Jake vivia apenas com a mãe, não havia parentes na cidade. Ele andou devagar, a cada momento seu coração acelerava, estava suado. O estado da casa não era muito animador, ele procurou pelo primeiro andar e não encontrou nada além de objetos quebrados, o sofá estava fora do lugar e almofadas no chão. Jake correu até as escadas, apertou a faca de caça com as mãos e começou a subir, devagar, no escuro.

No momento em que Jake chegou ao segundo andar, soltou a faca, e abaixou o rosto. Seu rosto ficou sem expressão e Jake começou a lacrimejar, depois de um tempo, ele não aguentou, e começou a chorar alto enquanto soluçava, seu coração doía, sentia sua cabeça como se estivesse sendo martelada.

Sua mãe gemia, e se movia em direção ao jovem, ela estava suja de sangue no pescoço, e havia muito sangue no vestido. No momento em que ela chegou ao jovem ele caiu no chão encarando novamente a criatura, ela se aproximou dele abrindo a boca devagar.

–Mãe? – Disse o jovem rouco. – Eu devia ter faltado á aula, pra, pra te proteger. – Ele disse fazendo força para omitir um sorriso, o jovem pegou a faca, e perfurou o olho dela. Logo a criatura não se mexia, não havia mais nenhum tipo de vida nela. Jake se ajoelhou perto dela soltando a faca, suas mãos tremiam como nunca, sujas de sangue. E apenas passou as mãos nos cabelos de sua mãe. Deitou-se ao lado dela e fechou seus olhos, adormecendo por um bom tempo.

–Jake. Você precisa se levantar. – Disse uma voz calma e carinhosa. Era Annie, passando a toalha seca no rosto do rapaz. – Jake, por favor, fala comigo. – Disse ela em um tom diferente, um tom triste. Só pela voz, dava para ver que a arqueira estava chorando. John e Jorge haviam retirado o corpo de sua mãe de perto do jovem.

–Mãe. – Comentou o jovem ainda rouco.

–Jake, é a Annie.

–Mãe. – Ele repetiu novamente tocando o rosto da amiga.

Ele se levantou, e ela o abraçou. Annie sentiu as lágrimas do rapaz escorrendo em seu ombro.

–Vai ficar tudo bem. – Disse ela em um tom que apenas ele ouviu.

–Não vou deixar que mais ninguém morra. – Ele sussurrou de volta.

Jake desencostou do ombro de Annie, os dois se olharam com apenas alguns centímetros de distância, e eles ficaram ali, juntos por alguns minutos.