–Ei Jorge, para de espiar e me ajuda a levar o corpo.

Jorge desencostou de uma das paredes do corredor, e parou de olhar Jake e Annie. Correu para ajudar John com o corpo da mãe de Jake. No mesmo dia, eles a enterraram, ele derramou suas ultimas lágrimas, e sussurrou várias coisas com o retrato colocado em cima de sua mãe.

–Vamos. – Ele disse sorrindo ao grupo, todos fizeram esforço para não notar o rosto de Jake, devido há tanto tempo que o jovem passou chorando.

Annie pegou o arco no chão, e eles foram em direção as bicicletas, já estava quase anoitecendo, mas eles decidiram não passar a noite na casa de Jake, procurariam os amigos.

No momento em que Annie subiu nas bicicletas, houve um estalo forte vindo de alguns fios elétricos, e logo, não havia mais energia em lugar algum.

Jake voltou a casa e pegou duas lanternas.

–Eu não me importo de vocês dormirem aqui, vou ir procurar Kátia. – Murmurou John. É claro que o loiro se importava, sem os amigos, sem uma mão, ele estava praticamente desamparado se ficasse sozinho.

–Vou com você, minha irmã está lá. – Disse Annie sorrindo.

Jake e Jorge olharam a rua escura, alguns murmúrios vindos da escuridão enquanto uma brisa fria passava.

–Vamos com vocês! – Disseram os dois juntos.

Annie riu da cara de medo dos dois, John os imitou por alguns segundos, logo os quatro foram sem rumo em direção à escuridão da cidade.

Apenas duas lanternas complicaram a visão de qualquer um, era muito mais fácil ser visto do que ver. Logo eles decidiram passar a noite no primeiro local com comida, água, camas e segurança, até notarem que isso era impossível. Então decidiram ficar com o hotel que encontraram fechando a rua de comércios da cidade. O local tinha muitas janelas e porta de vidro, mas o vidro era resistente, contanto que não forçasse muito, iria segurar uns 7 zumbis desesperados por carne humana.

Quando chegaram lá, Annie tremia como se estivesse no Alaska de biquíni, Jorge parecia assustado e atento a qualquer coisa que fizesse barulho, John parecia animado e conversava com Jake sobre como matar um zumbi de diversos jeitos rápidos.

O hotel era pequeno, estava mais para uma pousada, mas quanto menor, melhor pra ver se tinham companhia. Annie escreveu com a canetinha que havia encontrado ‘’Emily, Caio, Karine e Kátia nós estamos aqui!‘’ com o objetivo de quando ficasse mais claro no dia seguinte, caso os amigos passassem por perto, notariam a escrita na porta.

Depois disso Jorge cobriu com lençóis as janelas e a porta por dentro, enquanto Jake e Jonathan exterminavam os canibais daquele lugar.

Logo todos dormiram em quartos diferentes, Annie foi a primeira a ficar de guarda no saguão, uma sala de um tamanho grande, com uma lareira, dois sofás, alguns enfeites, e duas escadas, as duas davam a vários quartos do local. Ao lado havia um balcão de atendimento, onde havia várias chaves, e uma porta onde dava para a cozinha.

Annie sentou em um dos sofás e ficou fazendo força para não tremer, ela ficou abraçada com seu arco e uma das flechas em sua mão, eles não puderam acender a lareira para não atrair a atenção dos errantes, então a única fonte de calor era seu coberto que havia pegado no primeiro quarto que estava vazio no hotel. Depois de um tempo a jovem loira se acostumou com o local e fechava os olhos aos poucos, se esforçando para continuar acordada.

–Annie, acabou seu turno. – Disse Jake por trás de sua amiga.

A jovem loira deu um salto e se virou rapidamente quase quebrando a flecha de nervosismo.

–Calma! Sou eu.

Annie suspirou.

–Posso ficar aqui? – Disse a jovem baixinho.

–O que?

–Posso ficar aqui com você? – Ela repetiu nervosa.

–Ah, claro. – Falou Jake sorrindo.

Ele sentou no sofá e Annie deitou em seu ombro, logo os dois cochilaram. Jake pareceu ter notado que dormiu, abriu os olhos rapidamente, ele não era do tipo que acordava por qualquer coisa, Jake se levantou e quando se aproximava da porta ouviu passos.

Por um momento ele pensou que seus amigos corriam em direção ao hotel, mas percebeu que não havia vozes, apenas passos, rápidos. Não eram errantes, eles não andariam tão normalmente. Logo Jake correu em direção a Annie e a fechadura do hotel se moveu.

As pessoas abriram a porta e o local estava vazio.

–Vamos lá, vamos lá, tem que ter alguém aqui para nos divertir. – Falou um deles lambendo os lábios.

–Apareçam seus desgraçados! - Outro gritou enquanto chutava um dos móveis próximos à porta.

Eram cinco homens, todos eles estavam de roupa formal, pareciam ter fugido do trabalho, estavam suados.

Annie e Jake andavam abaixados em direção à cozinha, em baixo do balcão.

–Vou ir à cozinha, fala sério tem que ter comida nessa droga de lugar! – O líder deles gritou.

Annie e Jake se entreolharam e se esconderam dentro de um dos armários do balcão que estavam vazios. Quando o homem passou Annie conseguiu ver ele através de uma abertura do armário. Sua aparência estava horrível e sua roupa estava manchada de sangue.

Annie engoliu o seco e olhou para o amigo, até lembrar que ela havia deixado o arco no sofá.

–Chefe, achamos um arco, o que podemos fazer com ele?

Annie arregalou os olhos e engoliu o seco, Jake segurou o pulso da amiga e sussurrou ‘’não’’.

–Arco e flecha, ninguém aqui sabe usar, joga ai na lareira e acende um fogo!

Isso foi à gota da água para Annie, a jovem loira se chutou a porta do armário e todos no saguão olharam para ela.

–C-CHEFE! – Um deles gritou, Annie sorriu pelo espanto deles. – Uma garota! – Logo todos sorriram e analisaram de cima a baixo o belo corpo de Annie.

Ela hesitou, mas se lembrou do arco, o arco, única lembrança que tinha de sua tia, o arco tem um verdadeiro valor simbólico para Annie e ele estava lá, nas mãos sujas de um homem que só olhava os bustos dela.

O chefe abriu a porta da cozinha com o mesmo sorriso no rosto. Jake também saiu e apontou a faca firmemente em direção a ele.

–Isso não é brinquedo de criança, cuidado se não vai se machucar.

Jake sorriu e pulou em cima dele, o chefe caiu no chão e Jake tentava enfiar a faca em seu pescoço, mas ele o segurava e falava coisas como ‘’vamos ficar com sua garota’’. Annie ficou paralisada, nunca havia visto Jake daquele jeito, ele estava diferente. Jake estava rindo como um louco, até que deu um soco no homem em que tentava esfaquear, e fincou a faca em seu olho.

Annie gritou, o jovem se levantou, havia um pouco de sangue em seu rosto. Os outros homens empurraram Annie para o chão e socaram a cara de Jake, o fazendo perder a consciência, quando notaram que Jake avia desmaiado foram em direção a Annie.

Logo Jorge e John apareceram, eles correram para ajudar os amigos, John atirou em um deles, mas errou, logo prendeu a arma no braço e a recarregou atirando e acertando o coração de um deles.

Agora só sobrava três, até que um deles retirou a arma das calças e atirou em Jorge, o ruivo caiu no chão e John pigarreou até ser acertado por um extintor de incêndio que estava na parede.

–Ei, mate-o de uma vez. – Falou um deles, fazendo Jake abrir os olhos.

Ele estava preso em uma cadeira, estava totalmente amarrado.

–Annie! - Ele gritou rouco, sua cabeça doía e ele olhou para o lado e viu John amarrado também.

O loiro estava bem pior do que Jake, seu rosto estava inchado e roxo. John sorriu de um jeito triste para o amigo.

–O que você fez com ela, seu bastardo! – Gritou Jake mais uma vez.

Havia apenas dois homens na sala, eles riram dos dois garotos amarrados.

–Daqui a pouco será a minha vez com ela. – Um deles falou rindo.

Jake o xingou até a quinta geração dele naquele momento, se balançou na cadeira, até que caiu no chão ainda amarrado.

–Opa, cuidado aí. – O outro homem disse, rindo mais uma vez.

John mordeu os lábios.

–Cadê a família de vocês, seus merdas. – O loiro disse fazendo os dois homens pararem de sorrir. – Sua esposa está morta e você está ai contando os segundos pra transar com a primeira garota que encontraram.

Os dois homens se levantaram do sofá juntos e começaram a socar John até ele cair também.

–Vamos matá-lo! Desgraçado! Morra!

John sorria enquanto era chutado, saía sangue de sua boca e seu nariz, o loiro já não aguentava mais, só não queria mostrar seu limite a aquele tipo de adversário.

Quarto do hotel.

Annie sempre carregava uma flecha por dentro da blusa, para casos de emergência como esses. No momento, essa flecha estava fincada no olho do homem que tentou abusar dela. Annie havia interpretado uma ‘’rendição’’ ao inimigo, concordando em fazer qualquer coisa que eles quisessem contanto que fosse um de cada vez. Os homens foram facilmente influenciados pela beleza de Annie e concordaram animados.

Annie pegou a faca que o homem morto carregava e andou com cuidado até a escada. Avistou John sendo espancado mais uma vez, tentou pensar em algum plano, mas não havia tempo pra pensar, ela foi discretamente até o saguão, quando pisou no ultimo degrau da escada pensou ter sido vista, mas eles estavam ocupados demais com as ofensas de Jonathan. Annie andou lentamente até seu arco, o pegou e colocou sua aljava, onde guardava as flechas.

A loira segurou a faca com força e a lançou nas costas de um dos homens, ele caiu e ficou sem movimento no chão. O outro se virou. Ela armou a flecha e esticou o arco, respirou enquanto ele corria em direção a ela e soltou a flecha. O outro homem caiu com a flecha fincada no coração.

Quando percebeu que os três amigos estavam sozinhos novamente, Annie correu e desamarrou os dois amigos, buscou gelo, bacia com aguá, e alguns panos. E cuidou deles pelo resto da noite.

Pela manhã Jake abriu os olhos.

Annie estava cuidando de Jorge, mas não do jeito que cuidou de John e Jake, ela estava cobrindo ele com um lençol dos pés a cabeça. A amiga chorava com a cabeça encostada na barriga do ruivo até que se virou para Jake, e o olhou de um jeito triste.

Jake se levantou cambaleando mais não aguentou e caiu de novo, se arrastou até o ruivo, o olhou de um jeito triste, logo segurou as mãos de Annie. Annie o abraçou. Dessa vez, quem sentia as lágrimas caindo no ombro era Jake.