Lipa... escrita por Duda, kiks


Capítulo 4
Capítulo 3 - Um infinito do nosso jeito


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente! Daqui é a Kika! :)
Mais um capítulo para vocês, espero que gostem!
Boa leitura (:
E queremos comentários, tá bom?
Vos vejo nas notas finais! :)



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POV IVÁN

Sorri, essa era a paga pelo que ela fez, mas meu riso foi cortado por um grito aflito. Olhei para trás, não vi ninguém e depois para a piscina. Vi Felipa completamente atrapalhada, lutando com os pés e braços para vir o mais rapidamente à tona. Mas ela não estava conseguindo. Retirei meu casaco e me joguei na água mergulhando e agarrando ela pela cintura, a puxando para cima.

Estava aflita, e quando viu que não mais estava rodeada por uma muralha de água por todos os lados, se agarrou forte a meu pescoço, respirando aflita contra minha pele, como se quisesse devorar todo o ar que nos rodeava. Começou tossindo e afundou a cabeça na curva de meu pescoço como se ali a tosse acalmasse. Pude sentir seu bafo quente, e isso me arrepiou.

Fiquei com a leve sensação que quando se apercebesse a quem estava agarrada me jogaria no fundo do piscina e criava a Terceira Guerra Mundial! Mas mesmo assim, achei por bem arriscar e tentar falar com ela.

_Lipa, você tá bem?

Ela continuou tossindo e ao fim de longos segundos, que mais pareceram horas, ouvindo-a tossir, respondeu.

_Você me joga no fundo da piscina, onde eu nem tenho pé, não sei nadar, quase me afogo e você ainda me pergunta se eu estou bem? Você só pode estar brincando comigo! Você acha que eu estou bem? Eu pareço bem, Iván?- ela falou tudo de uma forma tão fria que até me fez congelar, mas sentia também um pouquinho de tristeza na sua voz.

Estava pronto a falar palavrinha “desculpa!” , mas… Eu não daria parte fraca pedindo desculpa para essa coisa irritante.

_Eu não sabia que você não sabia nadar, tá bom? E quem começou tudo isso foi você garota, por isso não reclama porque ficou barato. Minha intensão não era pular na água pra te salvar!

Ela me largou e quase foi ao fundo outra vez. A agarrei mais uma vez e levei-a até à borda da piscina enquanto ela gritava:

_Me larga Iván! Eu não preciso de você para nada! Eu te odeio! Me solta!

Soltei-a quando chegamos à borda. Estávamos lá sozinhos, sem proferir uma única palavra. Estávamos ambos encharcados, e pingando água por tudo o quanto era lugar.

Dava para ouvir o som da música vinda da parte de dentro da casa. Mas não a ouvíamos num volume muito alto. Ouvíamos como se viesse de longe, como se fosse um som de fundo.

Estava um silêncio constrangedor, e acho que foi essa razão que fez ela virar costas, de caminho para a saída.

_Onde vai? - corri até ela, tentando acompanhar suas passadas.

_Pra casa.

_Desse jeito??

_Tem outro? - como eu detestava a ironia dessa coisa que me envergonhou perante a gostosa da loira.

_Não mas... - eu não sabia o que falar depois do "mas" por isso fechei o bico.

Quando me localizei estava a uns metros de casa. Felipa caminhou até à entrada de sua casa, chegou bem junto da porta, abriu sua bolsa e procurou por algo que acho não ter encontrado.

_Droga. - falou entre dentes.

_ Problemas? - perguntei e ela me olhou com desdém.

_ Triste, sua casa fica para lá por isso se vira. - Ela continuou remexendo na bolsa, como se fosse obrigatoriamente necessário ela encontrar o que não estava achando.

Mas suas buscam foram em vão.

_Esqueci as chaves. - ela falou irritada.

Fiquei sem saber se sua irritação era por minha culpa ou se por culpa das chaves. Talvez pelos dois motivos.

_Toca na campainha!

_ Para quê? Para meu pai descobrir que afinal a elevação que viu na cama não era eu, mas sim uns travesseiros amontados.

Comecei rindo. Ela não tinha mudado muito desde que deixamos de nos falar. Continuava a mesma ninja. Sempre triunfando e divando com seus planinhos.

_Siga mas é para casa, oh mané.

_E você para onde vai? - não iria sem pelo menos ficar sabendo para onde ela iria.

_Para a praia! - ela era completamente doida. Eram quase 3 da manhã e ela iria visitar o mar e a areia?

_Você tá louca? Eu não vou deixar você ir para a praia a essa hora!

_Que tem a hora? Desde quando a praia é um lugar restrito a horas? Não me pode impedir!- ela disse caminhando rua fora, pois no infinito da rua já se avistava o mar.

_Mas posso te impedir de ir sozinha!

_E porque você viria comigo? Não acha que já fez merda suficiente hoje! Vai da volta ainda me tenta matar de novo!- ela me encarou, abrindo os olhos e fazendo o maior ar de cinismo.

_Tem razão! Vá sozinha! E vê se não se afoga dessa vez!

Ela revirou os olhos, pouco ou nada ligando para o que falei, retomando seu caminho.

Eu ia pelo lado contrário, em direção a minha casa, mas por algum motivo, Lipa não me saía da cabeça! Eu estava preocupado com ela e…

Pera, desde quando eu me preocupo com ela? Pois desde nunca! E foi essa forma de pensar que me fez desligar da complicadinha, mas quando estava já bem perto do portão de minha mansão me virei e já não a vi e um arrepio estranho 8 mais um que essa menina provocava hoje) cortou minhas costas em dois. Eu precisava saber se ela estava bem! Afinal ir para a praia às 3 da manhã quando nem nadar sabemos, não é propriamente a coisa mais segura do mundo, né.

Mas o que tá passando comigo? Porque é que a única coisa na qual eu consigo pensar nesse momento é ela? Eu podia estar em casa, disfrutando de um belo sono ou olhando pela janela e vendo como a noite está linda hoje, mas em vez disso, estou desperdiçando meu tempo, pensando numa pessoa, que se limita a me humilhar e a me encher o saco e a me enfiar todo o dia na ala da diretoria! Mas isso é o que mais me atrai nela! O jeito como ela não se importa, a maneira como ela me enfrenta sem medo!

Nessa altura já não aguentava mais e comecei correndo em direção à praia, onde a encontrei sentada na areia, olhando para as estrelas e para o rebentar das ondas, enquanto seu cabelo dançava ao sabor do vento. Com as mãos em volta dos joelhos toda encolhida.

Não tinha mudado muita coisa nela. Felipa continuava aquela garota que não dispensava uma boa noite admirando as estrelas e o céu! Pensando na vida, ou apenas tentando esquecer os problemas da mesma vida. Ela nunca falava pra mim o porquê de tanto admirar o céu noturno.

Me sentei de seu lado sem dizer uma única palavra, admirando o que se entendia em minha frente.

Ao fim de alguns minutos de silêncio ela decidiu falar, virando ligeiramente seu rosto pra mim.

_O que nos aconteceu Iván?

_O que nos aconteceu? Eu explico! Você me humilhou lá na festa, eu quase afoguei você na piscina, você esqueceu suas chaves e agora nós estamos na praia para seu pai não perceber que a elevação que está debaixo dos seus cobertores não é você, mas sim um monte de travesseiros! - eu tinha até percebido sua pergunta, mas eu não sabia o que responder naquele momento.

_Não é isso babaca! O que aconteceu hoje eu sei, minha memória não é assim tão má! - que simpática que ela é! - O que aconteceu à nossa amizade? O que aconteceu aqueles melhores amigos inseparáveis? - ela perguntou num tom triste, talvez até saudoso e melancólico.

Não respondi logo, esperei um tempo pensando na resposta. Mas não sabia qual ela era. Eu também não sabia o que nos aconteceu. E foi mesmo isso que eu falei.

_ Eu não sei! Não sei. - ela voltou a concentrar o olhar no mar e nas ondas, que se enroscaram na areia e depois rebentavam, sendo sugadas de novo e mais uma vez arrastadas. - O que aconteceu á Felipa que eu conheci?

E ao contrário de mim ela respondeu na hora.

_ Cresceu!

E mais uns minutos calados, ouvindo o silêncio da noite.

_ Tenho saudades! - E mais uma vez foi ela que falou.

_ De quê?

_ De todos os momentos que a gente passou junto. Desde quando eramos meio quilo de gente ambulante com 70 centímetros de comprimento. - Não pude deixar de rir com o que ela falou. - E te garanto que repetiria todos, um por um.

E no momento em que ela falou aquilo, acho que também eu fiquei contagiado com a saudade que estava batendo nela. Eu também repetiria um por um. Mas acho que Felipa não podia afirmar o mesmo, pois um acontecimento passado vazou em minha cabeça.

_ Tem certeza que repetiria tudo? Até mesmo quando eu te matei o Boris! - Boris era o peixe de estimação dela e eu um dia o matei, pois joguei a lata de cola dentro do aquário e o peixito virou peixe balão, pois graças ao gás ficou gasificado.

Ela riu.

_ Mas até esse eu repetiria! Lembra quando montamos o balanço com os pneus? - eu não lembrava mas ela tratou de o fazer.

_ E quando roubamos os biscoitos á Vilma! - esse era também um dos acontecimentos que eu nunca esqueceria! Como eles me souberam bem naquela altura.

_ Ou de quando montamos a plantação de flores de papel! - essa eu lembrava bem. Foi um dia na escola em que trabalhamos com origami e depois trouxemos a ideia pra casa.

_ E quando viemos para o jardim espalhar rolos de papel higiênico, fazendo de conta que era neve, em pleno verão!

Acabamos rindo juntos, como os velhos amigos. Os olhos dela brilhavam, e podia quase que afirmar que faziam um esforço pra não chorar. Ela nunca gostava de dar parte fraca, perante os outros. Era uma menina forte demais, ao olhos do mundo, mas mais frágil ainda quando ninguém a via.

_ Afinal nossa amizade não foi infinita! - comentou.

_ Será que não foi, pirralha? - perguntei. Pois lá no fundo eu podia mesmo afirmar que ainda era amigo dela.

Felipa esboçou um sorriso meigo, genuíno, bom!

_ Quanto tempo você não me tratava assim! - é, eu acho que já não tratava ela de pirralha fazia anos. Eu sempre gostava de chama-la desse jeito.

_ Quer saber, depois de tanto tempo, de tantos dias que eu nem sei quantos foram ao certo, agora e depois desse sorriso, eu pude ver que a Lipa que eu conheci ainda está em algum lugar dentro de você.

_ Mas agora não há amizade! - ela falou como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

_ Se não houvesse ainda um fio, uma ponta de amizade, acha que a gente estava aqui conversando, acha que eu te tinha salvado no congelador, ou hoje na piscina? Acha que se não houvesse ainda um pouco de amizade eu estava aqui, faz três da manhã, conversando com uma coisa que hipoteticamente eu odeio! Acha que se não houvesse o mínimo de amizade possível eu estaria me preocupando com você!

_ E você está preocupado comigo?

Fiz uma pausa, depois de tudo o que já foi dito, depois de tudo o que já foi relembrado essa garotinha acha que não!

_ Vou ser sincero, até uma hora atrás e achava não me importar nem um pouco com você mas agora eu tenho certeza que me preocupo. - achei que ela gostou do que ouviu, mas não se manifestou, apenas jogou uma mecha de cabelo pra trás da orelha e me encarou.

_ Mas será que mesmo tudo isso sendo verdade, ainda existe amizade entre a gente?

_ Uma vez eu li um texto que falava assim: "Existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. Tem o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros…" E por isso a nossa amizade é infinita. Talvez seja um infinito menor do que o céu e as estrelas, ou talvez seja um infinito ainda maior que eles. é um infinito do nosso jeito. E apesar de todas as brigas e de tudo o que possa separar a gente, eu acho que ainda vejo em você uma amiga, muito chata e que só me põe em encrencas, a que em tempos eu chamei de melhor amiga e que até agora foi realmente a melhor de sempre.

_ Desde quando você lê? - ah, que raiva como ela conseguia! Mas não respondi para sua provocação idiota.

Ficamos de olhar fixo um no outro durante algum tempo e eu podia ver ela mordendo a carne por detrás de seus lábios, um pouco nervosa. Senti nossas mãos se encontrarem e de leve nossos dedos se cruzarem. A olhei e só veio uma coisa em minha cabeça.

_ O que acha se terminarmos essa conversa em minha casa?


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Gostaram? O que acham que vai acontecer agora?
Merecemos comentários? Sim? Então obrigada e vos vejo nos comentários! :p hehehe
Beijão da Kika :*



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