POV LIPA

Cócórócócó! Cócórócócó! Cócórócócó!

Acordei irritada devido ao som do despertador.

Eu tenho de trocar esse toque de meu despertador! Quer dizer, como é que eu ainda não troquei? Ninguém na sua perfeita saúde põe um galo cantando como toque de despertador, né? Bom, então eu não devo estar na minha perfeita saúde...

Olhei para a hora e...

Aaaaahh! Como eu estou atrasada! Se eu chegar outra vez tarde o diretor vai com certeza surtar e ainda me põe fazendo trabalhos horríveis como limpar aquela "sala" onde eu e aquele projeto de aberração, mais conhecido como Iván, ficamos presos ontem!

Gritei isso para os quatro cantos do quarto que nem doida e acabei com meu pai batendo na porta do quarto, me brindando com o maior sorriso do mundo.

_ Bom dia também pra você filha! - uma passagem rápida, mas suficiente para uma pessoa como ele dar conta de minha situação.

Rezei mentalmente pra ele não voltar pra trás e não lembrar sequer que nessa hora eu já devia estar alapada numa cadeira de escola tirando apontamentos e ouvindo a professora de química falando em reações e formulas.

E felizmente ele não voltou. pela hora ele também já devia estar bastante atrasado. Ouvi ele retorquir alguma coisa no fundo das escadas e por suas palavras com certeza estava falando pra Adam. Meu pai detestava o gato pelo simples fato dele roubar suas meias e esconde-las na cesta ou debaixo de minha cama.

Não dava tempo nem de tomar um duche, por isso apenas corri para o banheiro, lavei meu rosto e passei a escova pelos dentes, tratei de meu cabelo que ficou uma merda graças á correria, e vesti a primeira roupa que encontrei perdida no roupeiro. Peguei minha mochila e corri para o andar de baixo, acabando por tropeçar no Adam que dormia numa das escadas. Eu preciso de ensinar esse gato que as escadas não são lugar para dormir! Talvez ele fosse a razão pra meu pai resmungar.

Quando cheguei na sala a vista foi magnifica, um bando de alunos ( que por acaso eram meus colegas de turma) sentados no máximo silencio possível atentando numa folha de papel A4 com muitas letras.

Droga, como eu pude esquecer a prova! Lindo, mais valia nem ter me levantado da cama nem vir correndo esse tempo todo. Do jeito que eu tava a nível de conhecimento sobre Química, fazer prova ou não fazer era igual. Eu não sabia puto do que as perguntas apontavam, mas mesmo assim arrisquei em entrar. Bati na porta e depois de ouvir um discurso sobre a importância da existência de relógios a vaca da professora me deixou sentar.

Procurei pela sala um acento livre e... Só podem estar de brincadeira, hein!

Iván me olhou e fez aquele sorrisinho perverso digno de um Badboy.

_Oi Lipa! - ele sussurrou piscando o olho.

Não respondi e apenas sentei na mesma mesa que ele ( contra minha vontade), tirei minha caneta e comecei fazendo a prova, ou melhor comecei olhando pra ela, inicialmente.

E fiquei olhando pra ela, fixamente durante... Bem durante bastante tempo. Eu não sabia nada e a folha estava praticamente em branco, devia ter pouco menos de meia hora e tinha que me despachar com o raciocínio! O que ia fazer?

O diretor com certeza depois de ver minha desgraça de prova ligará para meu pai que não vai ficar nada feliz em saber que a sua filha tirou um zero redondo a química.

Olhei para a professora e ela estava concentrada na tela do computador. Abri a mochila tentando fazer o mínimo barulho possível, sempre acompanhada pelo olhar de Iván, que eu respondi com uma careta feia. Extremamente feia!

Comecei procurando as respostas no livro, e esse foi o jeito que eu arranjei de escapar a essa prova idiota que eu esqueci o dia. Faltavam poucos minutos e apenas faltava a solução para a ultima pergunta, virei umas quantas folhas e achei a resposta. Estava pronta para escreve-la quando olhei para a mesa e não vi rasto da prova.

Como assim minha prova desapareceu? Olhei para Iván e vi ele com duas provas, copiando todas as minhas respostas.

_Iván! Me dá a prova já!- eu disse baixo e arrogante. Quem esse garoto se achava?

_Me obriga! - ele desafiou, com o mesmo tom.

_Se você não me dá essa prova imediatamente eu castro você!

_Ah sim? Falou isso antes de ontem e não vi atitudes nenhumas. - ele disse sorrindo perverso, baixando um pouco a sua calça, mostrando a borda de sua boxer branca.

_Iván! Se você não me dá essa prova imediatamente eu vou acusar você à velha rabugenta que ...- a minha frase foi cortada.

_Filipa, se importa de me explicar de quem você está falando? - Agora fodeu. A professora me encarava com os olhos mais assustadores do mundo! Se ela conseguisse matar com o olhar, por essa altura eu já era uma pessoa morta!

_E Iván, será que me pode explicar porque você está nessa posição, de todo incorreta para uma sala de aula e com duas provas na mão? - Ela perguntou desta vez encarando Iván. E se eu estava fodida ele estava muito fodido e eu ficava feliz por ele ainda estar em pior situação que eu.

_Professora, foi a Felipa que me deu a prova pra mão para eu confirmar se o que ela escreveu estava certo! Eu disse que não o faria, mas ela ameaçou me castrar!

_O QUE? VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO! - Eu gritei fuzilando Iván com o olhar - Não acredito que você vai acreditar nessa história! Eu sempre soube que professores nem eram tão inteligentes assim, mas sinceramente também nunca pensei que fossem tão burros! Se você tivesse o mínimo de inteligência já teria percebido que Iván está mentindo. Ele roubou minha prova pra copiar, não tá de caras? Ele...- a minha frase foi cortada

_O que você está tentando insinuar, quando comenta a inteligência dos professores, Felipa? - A professora grunhiu, sim porque monstros como ela não falam.

Apenas movimentei a boca em todas as posições sem saber que são dar pra minha voz.

_Têm os dois a prova anulada e estão os dois expulsos de minha aula.

Permaneci imóvel. O pensamento de ver o diretor pela terceira vez numa semana me assustava. Só pedia pra ela não falar " os dois para a sala do diretor!" O que eu falaria para ele dessa vez? Nem era bom pensar.

_ Rua! JÁ! - Ela gritou mais uma vez.

Saímos os dois rapidamente da sala. Hoje era meu dia de sorte! E apesar de ainda ter que bater um papo com certas almas penadas que nem sabem ao certo o que estão fazendo nesse mundo, eu me livrei da sala do diretor e esse era o motivo que no meio de tanta desgraça fazia eu festejar.

...

Em poucos minutos o sinal bateu, finalmente. As aulas da semana tinham terminado.

_ Então quer almoçar comigo?

_ Não. Tenho que preparar as coisas pra logo! - Pra logo? Que vai rolar logo? Onde Charlie estava querendo chegar?

_ Logo? - estávamos caminhando em direção ao portão de saída.

_ Sim! Já esqueceu que meu irmão está organizando a festa lá em casa. E pediu minha ajuda. Eu topei, mas tou com medo de meus pais, eles estão gozando férias e nem sequer podem sonhar que eu e ele estamos fazendo essa loucura.

_ Já nem lembrava!

_ Então não esquece. Pois vou estar esperando você ás nove, em minha casa!

Vi ela desaparecer ao fundo da rua e segui até casa.

Charlie era minha amiga desde sempre, a conheci nem sei á quanto tempo, sempre nos demos bem. Ela tem um irmão gêmeo, Rubén, que é um gato diga-se de passagem. Tem corpo de atleta, todo definido e é dos garotos mais bem vestidos dessa escola. Digamos que ele é tudo de bem, e rapaz de sonho de qualquer menina. Mas que enjoativamente é o melhor amigo da anta, que nos últimos tempos eu tenho ameaçado castrar e que tenho certeza que logo marcará sua presença lá na festa.

E pensando em marcar presença eu tenho que arranjar uma roupa, rapidamente...

Cheguei rápido a casa, tomei um banho demorado e alisei o meu cabelo. Passei uma maquilhagem forte e quando gostei do que vi no espelho decidi tratar da roupa.

Abri o roupeiro e comecei procurando uma roupa que me agradasse.

Vesti e tirei roupa inúmeras vezes até encontrar uma que me assentou perfeitamente.

Era um vestido preto, colado ao corpo, revelando assim as minhas curvas perfeitas. Era todo aberto nas costas e o colar que decidi usar com o vestido cortava aquele ar clássico dando um estilo bastante moderno.

Calcei uns saltos pretos e peguei minha mala.

Dei uma última olhada ao espelho e sorri com a imagem que vi. Olhei para a hora e percebi que já estava atrasada. De fato, pontualidade não é de todo o meu forte.

Quando cheguei a casa da Charlie, o pessoal já havia todo chegado. Charlie veio logo ter comigo e ela também estava linda!

_ Finalmente você chegou, hein!- Charlie disse, um pouco alto, devido à música e me mostrou as horas.

_ Ah Charlie, relaxa, tá bom? Já estou aqui! Agora vamos curtir e aproveitar essa festa ao máximo!

Charlie me arrastou até à sala onde todos estavam dançando. Vi Iván que estava agarrado a uma garota, com um grau de beleza extremamente negativo, (Aquilo era mais cabelo que outra coisa) direcionando seu olhar pra mim, percorrendo meu corpo com os olhos. Um sorrisinho apareceu em seu rosto e eu me virei fazendo que ignorei e que nem vi aquele ex melhor amigo prestando atenção em mim.

Foi quando uma ideia surgiu e eu decidi que era altura perfeita pra me vingar do que aconteceu mais cedo! Aquele idiota aprenderia pro resto de sua triste e desinteressante vida que comigo ninguém se mete!

Cheguei perto de Iván e da garota. Eles estavam colados um no outro, se beijando como se o mundo fosse acabar! Fiz cara de nojo e quando eles deram por minha presença mudei minha expressão para chocada e de desilusão.

_Iván! Eu não acredito que você tá fazendo isso comigo! Como é capaz? - Eu comecei falando e ele ficou confuso, erguendo o cenho, não se enquadrando no papo - Como você teve a coragem de me trair assim? A mim? Que sempre te fui fiel, sempre te dei todo o meu amor! É assim que você me agradece? - Eu continuei.

_O que? Garota se trata, tá? Eu não tenho e nunca tive nada com você!- Ele respondeu frio.

_Ainda por cima afirma que nunca teve nada comigo? Pelo menos tenha coragem e admita seus erros! - Eu disse fingindo choro.

A garota que estava comendo Iván ficou espantada e eu não fiquei sabendo ao certo se foi com pena de mim ou pensando o tipo de babaca que Iván era. Até achei que foi das duas, mas não me manifestei.

_Sério que você esse tipo de garoto? - Ela disse, parecendo muito desapontada - Você realmente não presta! Eu não acredito que ia transar com você! - Dito isso, foi embora pisando no duro, mais um pouco e abria buraco no chão.

Comecei a gargalhar logo que a garota saiu! Eu não conseguia parar de rir! Levei a mão na barriga, pois já me estava doendo meu estômago de tanto rir, enquanto a outra limpava meu olho que já estava ficando molhado devido às minhas gargalhadas incontroláveis vendo a cara de tacho com que Iván ficou quando viu a garota saindo. Pobre Iván perdeu a companhia para a noite. Que pena né?

_Porque fez isso garota? Tá maluca? - Iván gritou, limpando o canto da boca, pois eu já tinha feito sinal da marca de batom que lá continha, em tom de xingamento.

Eu não conseguia responder. Na realidade eu não conseguia fazer nada para além de rir!

_Ah claro que tá maluca! Você tá maluca por mim! Admita que estava cheia de ciúmes e que só fez aquilo por não conseguir controlar as suas emoções e os seus sentimentos. - Iván se irritou. Nossa, como esse menino tem imaginação tão fértil!

Ri mais ainda com o que Iván estava falando. E quando percebi que ele estava falando sério, parei de rir.

_Eu não acredito que você acha mesmo isso! Garoto se trata, tá?! Acha que eu ia ficar com ciúmes de você? Hahahah, você só pode estar brincando! Isso foi só uma pequena vingança por me ter feito ficar com a prova anulada!

Saí deixando ele ardendo de raiva.

_Você me paga, garota! - Eu ouvi ele gritando para mim, do fundo da sala.

...

Estava sentada perto da piscina, tentando esfriar a cabeça. Não estava com vontade de dançar nem de entupir as minhas veias com mais álcool! Vá que aquilo ainda me entope mesmo e eu tenho um enfarto do miocárdio. Tirei meu sapato e pousei num canto, eu adiava andar de salto e por umas horas que tenham sido meus pés já davam sinal de dor.

Alguns minutos depois, senti umas mãos pegarem em mim ao colo e uma voz inconfundível dirigir-se a mim.

_Eu disse que aquilo ia ter vingança! - o dono dessa voz sussurrou em meu ouvido, me deixando levemente arrepiada. E me fazendo voltar no passado. Já nem lembrava quando foi a ultima vez que ele sussurrou em meu ouvido.

Meu cérebro entrou em conflito quando percebi que estava prestes a ser jogada para dentro de uma piscina onde eu não tinha pé!

Mais valia ter entupido as minhas veias com álcool e morrer com um enfarto do miocárdio do que morrer afogada ou com ataque de pânico!

_Iván, para, não faz isso, por favor! - ele ignorou totalmente o que eu falei, continuando e se aproximando cada vez mais da piscina.

_IVÁN, EU NÃO SEI NADAR! SOCOR...- foi tudo o que consegui dizer antes de sentir um grande impacto de meu corpo com a água e um friozinho nada bom percorrendo minha espinha, será que era de minhas costas estarem destapadas e de o impacto da água ter sido maior mais rápido? Será?