Voltei pra casa ainda cambaleante. Meus pensamentos ainda me levavam à lugares distintos. Ora eu me via em frente a casa, ora conversando com Christopher.

Você precisa sair desse transe, Agatha. Precisa sair!

Entrei em casa. Meu pai ainda não havia saído para a consulta que iria definir como estava o estado do tornozelo torcido no jogo de boliche do sábado à noite; a única diversão dos tempos de solteiro que ele ainda mantinha viva.

-Ei, Agatha! Demorou no mercado, hein?

-Ah...é que... como ainda é cedo eles estavam ainda abrindo o sistema e demorou muito para pagar no caixa. E o pão...o pão também não estava pronto.

Me olhou com cara de quem desconfia até que Deus existe.

-Que estranho?! Eles geralmente abrem com quase tudo pronto! Preciso conversar com o Phill,...a qualidade do mercado não pode cair! É o único lugar decente para se fazer compras em Two Rocks. Não quero ter que começar a sair daqui para Long Vill só para comprar um pacote de arroz.

Long Vill era o bairro mais perto de Two Rocks. Realmente não seria agradável ir até lá fazer compras. Mas mais desagradável ainda seria se meu pai fosse mesmo falar com Phill, ele era o gerente super-amigo do meu pai. Inclusive, eram parceiros de boliche.

-Ah, pai,...acho que não precisa, né? Às vezes as coisas dão errado, nem sempre significam que são sempre erradas.

Ah, como eu queria que essa frase se aplicasse à minha vida!

Ele ficou pensativo. De repente, pareceu que iria retrucar.

-Ah, pai tomou seu anti-inflamatório? Hem? Você sabe que não pode esquecer não é?

-Oh! É mesmo filha! Obrigada por me lembrar. - E foi pra cozinha atraz do remedio.

-Imagina, pai! Nem foi nada! - Oh, que alívio, vou poder subir! Finalmente!

Subi correndo as escadas para ir ao quarto, enquanto isso olhei para o relogio de parede na sala.

Ai, que droga! Já são sete e meia!

                                        *-*-*-*-*

Tomei um banho rápido e me arrumei em tempo récorde. Desci as escadas em direção a porta como se fosse uma linha de chegada para um corredor em uma maratona. Gritei um tchau pro meu pai e me mandei.

Eu poderia ter ido direto pela Avenida Central e virado lá embaixo, na Rua Baker, daí só seriam mais quatro quadras até o colégio. Não era tão longe. O bairro de Two Rocks era quase totalmente plano. Na verdade, Mylan City  era realmente quase toda plana.

Em geral, a cidade era composta por sobrados e mansões. No caso de Two Rocks, realmente só haviam casas e sobrados grandes, e na maioria das vezes, antigos. As quadras eram largas e toda a cidade era muito arborizada. Respirar ali era extremamente saudável. Esse era um dos motivos pelos quais meus pais diziam que amavam aquela cidade; e pelo resto que eu mesma via, quase todo o resto dos adultos dali também.

Pensando nessas coisas me lembrei que havia outro caminho. Eu realmente tinha outra opção não tinha? Eu iria pela Rua Hicktory. A rua daquela casa.

                                          *-*-*-*-*

Passei tranquilamente em frante a casa, embora estivesse atrazada. Observei as janelas fechadas com cortinas creme, com os ramos das folhas em volta. A paisagem era incrivelmentre alucinante pra mim. Não que eu sentisse a mesma sensação de novo, mas a casa me fazia lembrar dessas coisas estranhas que vinham acontecendo nas últimos dias: aquela visão fantastica e sensação que tive, conhecer Christopher. Era tudo tão..tão mágico...sim,..parecia tudo uma coisa só.

De novo não houve nada a não ser contemplar a casa. Resolvi seguir meu caminho para a escola.

Chegando lá, a primeira coisa que fiz, difentemente do que vinha fazendo há longos cinco anos, não foi procurar Beth ou Sthephy, e sim Christopher. Não o avistei. Então fui atraz de minhas amigas. Não tardei a encontrá-las já dentro da escola, na porta de nossa sala.

-Ah, então aí está você hein Agatha? - Sthephanye veio como um raio. - parecia que tinha esquecido que existia escola!

Então me lembrei...

*-Então, como vai pra escola?

Ele riu.

-Bem, somos todos obrigados... *

É, Christopher tinha razão. Naquele momento queria que a escola sumisse para poder contar àquelas duas tudo o que eu queria.

Tive que esperar mesmo as aulas passarem, pra pelo menos no intervalo dizer que tinha algo importante para falar. Achei que seria uma novidade para elas mas Elisabeth não se surpreendeu.

-Ah, eu já tinha percebido alguma coisa de diferente com você.

Será que tava tão notável assim?

-Percebeu, é?

-Claro. Além do mais você  está, desde que chegou, olhando e olhando, procurando alguem.

-Isso é verdade Agatha, eu também percebi. - Disse Sthephanye querendo fazer um ar de seriedade, Impossível para ela fazer isso. Stephanye era a alegria em pessoa.

 - Viu? - Disse Beth, com ar de ironia. - Até a louca da Sthephy percebeu. Logo ela, que não vê nem a ponta do nariz. - E não escondeu o riso.

- Beth! É assim, é? -Sthephy bradou com raiva.

Riram. Eu também ri, mas não tão concentrada assim. Na verdade, não consegui me concentrar no resto das aulas. O tempo até a última aula pareceu se arrastar lentamente. Quando finalmente me vi livre do dia letivo, saí as pressas arrastando Sthephy e Beth comigo para a saída. Procurei e não o vi de novo. Será que ele faltou? Eu não sabia o que pensar. Para isso eu precisava de ajuda. Então, sabia o que dizer.

-As duas: vamos hoje pra minha casa.

                                        *-*-*-*-*

Fomos direto pra cozinha preparar uns lanchinhos. Estávamos famintas! Depois subimos para o quarto. Assim que entramos, fiz questão denerrar os acontecimentos da manhã para as duas que mais me entendiam. Pareceram querer me entender de novo, mas Beth parecia não conseguir.

-Ah, cara. Sei lá? O que você quer que eu ache? Vcoê sabe que eu sou um pouco desconfiada. Pra começar, eu acho que nem ia dar trela pra uma conversa com um menino estranho, e ainda mais que sabia meu nome sem eu conhecer!

-Beth, não seja ridícula! Mylan City têm no máximo uns quatro bairros! Quem é que não conhece outra pessoa aqui?

-Eu não conheço o nome de todo mundo nessa maldita cidade! - disse Elisabeth.

-Ah, isso é porque você se tranca naquele quarto e passa horas estudando e lendo seus livros de filsofia.

-Já falei que não leio livros de filosofia! São todos de ficção científica!  

Tá bom, tá bom! Estão me deixando ainda mais confusa! - Falei com um pouco de raiva até. Eu queria soluções na minhamente confusa, não mais confusões!

-Olha Agatha, não dê ouvidos à Elisabeth. Se o garoto sabe seu nome é porque se interessou por você! É óbvio!

-Ah, isso é ridículo Sthephanye! Você sabe muito bem que muita gente sabe o nome da Agatha, mas dá pra contar nos dedos quantos o pronunciam pra dizer algo bom! - Beth parecia ansiosa por me defender.

-Agatha! Vai deixar Beth dizer isso assim? Calmamente?

Baixei a cabeça. Relembrei. Minha própia memória trouxe de volta o pensamento que tive quando ele foi gentil comigo. Eu já esperava um insulto. Beth tinha razão.

-Na verdade, Sthephy,....eu pensei o mesmo que Beth...

-Sthephanye, temos que ser realistas, voce sabe tanto quanto eu que Agatha não é bem quista!

- Eu sei! Eu sei! Mas Agatha...! - Sthephanye olhou pra mim, agora realmente seria - Eu só quero que você acredite que as coisas não serão assim pra sempre! As coisas vão mudar Agatha, vãso mudar! Você tem que ter esperanças! Você é legal as coisas não podem ser sempre tão ruins assim!

Sthephanye tinha sua razão. Eu tinha que acreditar. Mas me faltava alguma coisa que comprovasse isso. Algo que comprovasse que minha vida mudaria!

O telefone tocou. Minha mãe me chamou. Atendi.

-***

-Oh,...isso é...é isso mesmo?

Voltei para o quarto. As garotas esperavam por uma noticia. Falei, pensando que talvez seria esse o momento, a tal chance que eu espero.

-Está explicado o motivo de entrarmos mais tarde hoje. Acho bem curioso. Há uma novidade para nós.