Minha mãe vacilou. Ela não queria que as outras pessoas soubessem? Não que isso fosse de todo ruim, mas até uma das minhas melhores amigas, que dispunha de inteira confiança de meus pais?

Sthephanye tinha que saber. Eu conhecia a opinião dela sobre Christopher, e esperava que ela tomasse meu partido.

-Bem, Sthephy... - comecei vacilante, ainda encarando meus pais em busca de um sinal pra parar, mas o sinal não veio, então a encarei e continuei – estávamos discutindo sobre o baile.

Sthephanye se animou na mesma hora.

-Ah, o baile? Você resolveu ir, Ag?

Suspirei.

-Resolvi, mas... você sabe, eu estava desanimada por que ninguém me convidava, mas aí, sabe... o Christopher me convidou.

Eu pude ver o brilho de alegria insana nos olhos dela crescerem vertiginosamente, mas eu não podia me arriscar. Se ela desembuchasse uma coisas erradas bem ali...

-Sabe? Aquele lá da escola, que sempre fala comigo na hora do intervalo, sabe?

Sthephy pegou minha mentira no ar.

-Ah, claro – ela fez uma cara teatral de surpresa e começou a encenar – aquele meio japonês, né?

-É ele mesmo. Ele é muito legal, não é?

-Lógico!  - Sthephy continuou e eu tive que conter o riso crescente em mim. Ela era uma ótima atriz – ele é muito legal sabe? Sempre cumprimentando todo mundo, nem se envolve com uma turminha do mal, né Ag?

-Claro, claro. Nunca.

-Então, sobre o que vocês falavam que poderia ser?

-Minha mãe e meu pai acham que ele não é boa gente.

Sthephanye deixou o queixo cair e, assim, eu percebi que ela acabara de entender a gravidade da situação.

Mas, como eu disse, ela era uma ótima atriz: fez o queixo caído parecer uma descrença em vez de susto, e se virou para os meus pais.

-Nããão! Imaginem! Eu ate sei do que vocês pensam. Sei dos boatos. Mas eu o conheço. Sei bem que isso não é verdade.

-Como conhece se só se vêem no intervalo? – perguntou meu pai.

Esse era o problema em casa. As pessoas percebiam as coisas rápido demais. Até o presente momento eu achava que tinha o mesmo dom, mas pela situação ali eu entendi que não. Eu nunca tinha ouvido falar nada sobre Christopher.

-Pai, não conheço ninguém que saiba mais dos outros do que Sthephy.

Meus pais não puderam combater aquele argumento. Era claro que Sthephanye sabia mais do que qualquer das inúmeras velhinhas fofoqueiras da cidade. Era o hobbie dela, segundo ela mesma dizia.

Eles pareceram pensar, e pensaram por um bom bocado de tempo. Sthephy ate se sentou no sofá, esperando por uma resposta.

Por fim, eles pareceram concordar. Disseram-me que eu podia ir com ele, mas que tivesse cuidado.

Sthephy rapidamente mudou o assunto para como ela estava animada com a festa, e como era o novo vestido feito pela própria mãe. Ela parecia confortável conduzindo a conversa para longe das desconfianças dos meus pais, e eles ate pareciam entretidos, mas Michael desceu as escadas fazendo barulho.

-Ah, me desculpe – ele falou, mentindo obviamente – eu fiquei preocupado por que você não me chamava de volta, Tia Katy. – ele olhou o chão em volta, teatralmente – você já terminou a faxina?

-Claro, Michael, claro. – mentiu minha mãe.

Em seguida, ele pousou os olhos em Sthephanye, sentada no sofá, já entediada de ouvir a voz dele. Eles já se conheciam, de outras visitas de Michael lá em casa.

-Ah, Sthephanye? – Michael perguntou.

-É. Oi, Michael. – respondeu ela.

Pedi a minha mãe que pudéssemos sair na rua um pouco, já que em casa não daria pra ficar.

Como sempre, minha mãe deixou.

Assim que saímos de casa, em conjunto eu e Sthephy demos um longo suspiro de alívio. Ficamos andando pelas ruas, até que estivéssemos suficientemente longe de casa para que eu pudesse perguntar:

-Sthephy, mas que malditos boatos são esses que você nunca me disse?

-Caramba, Ag. Agradece primeiro, né? Livrei tua pele, poxa. – ela respondeu com ar divertido.

Respirei fundo.

-Obrigada, Sthephy. De verdade. Mas eu fiquei mesmo curiosa com essas historias. Por que nunca me disse nada disso?

-Aff, Ag. Fala sério. Essas histórias são boatos. Do mesmo tipo que correm com você. Acha que eu ia cortar o seu barato assim? Só por causa de invenções das fofoqueiras da cidade? Meu Deus, eu sou uma boa amiga, não sou a Beth. Isso é bem típico dela.

-Beth também é uma boa amiga.

-Claro, mas adora jogar água na fogueira dos outros. Por isso tive que chantageá-la pra não te contar nada.

-O QUÊ?

-Claro – ela respondeu, balançando os ombros, naturalmente – eu disse que iria paquerar um primo dela. Ah, fala MUITO sério, Ag. Você sabe que aqueles primos dela são um pecado, e eu tenho que me conter. CARA, EU NÃO ENTENDO COMO ELES PODEM SER TÃO BONITOS!!!- Falou ela, colocando as mãos na cabeça, fingindo desespero.

Eu não pude deixar de rir.

-E ela?

-Deu o mesmo surto de sempre, me implorando pra não fazê-la passar vexame em casa. Foi divertido. – e começou a rir também.

-Tudo bem Sthephy, mas então, eu não preciso me preocupar mesmo?

-Lógico que não.

-Ta. Então me responde uma coisa? De onde você tirou aquela da turminha do mal?

Sthephy gargalhou.

-Nada disso. Primeiro você vai me contar como foi que ele te convidou, Ag. Sua divida é maior!!