Foi do mesmo modo a semana inteira, para a minha surpresa. Christopher não deixou de ir à sorveteria nem sequer um dia. Claro, naquela primeira segunda-feira, Jeff quis explicações e tudo o mais, embora Christopher não dissesse nada mais do que óbvio: qual é o problema em um cliente vir à sorveteria?

Christopher me divertia.

Nos dias seguintes, Jeff acabou por entender que ele vinha mesmo conversar comigo, e por Christopher ser muito consciente e não falar comigo enquanto eu atendia alguém, e também por eu vir treinando noite após noite não me concentrar demais nele, Jeff acabou não tendo do que reclamar, já que Christopher também consumia enquanto estava ali.

Óbvio que Alice, a mãe de Jeff, já sabia daquilo, mas estranhamente, pareceu não se importar, desde que o atendimento não fosse comprometido.

Christopher era consciente demais daquilo. Jamais me atrapalhou e até me ajudava a contar o dinheiro, quando escondido de Jeff, eu me concentrava mais nele do que no caixa.

Fiquei feliz.

Beth e Sthephy não precisavam de mais explicações além de que ele estava me visitando. Pra elas, era óbvio demais. Pra mim, aparentava tudo na mesma: eu era a melhor amiga de Christopher, e só.

Não podia querer nada mais do que aquilo, porque me iludiria.

Tudo bem, eu estava feliz.

Meus pais, obviamente perceberam minha mudança. Claro, para os outros era sempre evidente e divertido, mas eu não achei totalmente legal quando descobri que eles tinham percebido minha nova felicidade. Eu tinha medo que eles vissem algo demais caso descobrissem aquilo.

Eu passei a dividir meu intervalo em dois: uma primeira parte eu ficava com minhas amigas, e uma segunda parte, com Christopher. A cada dia que passava eu descobria mais sobre ele. Ele tinha uma irmãzinha de seis anos, que eu sempre pedia pra conhecer, mas ele nunca a levava até a sorveteria. Morava com os pais e, como ele mesmo dizia, ultimamente não tinha do que reclamar.

Eu também não.

Mas meu cotidiano não tinha sido o único a mudar.

Sthephanye, digamos, era a mais popular de nós. Se ela quisesse até mesmo fazer parte do horrível grupinho de patricinhas de Ashley e Mirian, conseguiria.

Eu diria que Sthephanye era solta, mas Beth preferia perdida.

A história de Sthephanye resumia-se em estudos e namoro. Aparentemente normal, não? É, mas o problema é que o quesito número 2 definitivamente NÃO podia faltar.

 Eu me perguntava o que era tão bom naqueles relacionamentos dela, sem nunca achar uma resposta. Beth jamais tentou entendê-la e me pedia pra que fizesse o mesmo, ou enlouqueceria.

Em resumo, Sthephanye estava muito animada na última semana. Ela havia convencido o pai a pagar um curso de informática pra ela, e de quebra, disse que havia um rapaz LINDO no curso, e na mesma turma que ela.

Era contagiante a forma como ela se sentia. Em pouco tempo, Beth também arrumou – à sua própria maneira – um jeito de se distrair e ficar mais feliz: assinou o canal da Discovery Channel na TV à cabo que tinha, e agora passava o resto do tempo em que não estudava, assistindo sobre animais e Aquecimento Global.

Estava perfeito.

As semanas passaram voando e eu só me toquei do tempo quando Sthephy falou comigo sobre a formatura:

-Ei, Ag! Você já comprou seu vestido, ou fantasia? Ou sua mãe vai encomendar?

Eu nem havia pensado naquilo.

O tal Baile de boas-vindas aos ingressantes do 1° Ano era na semana que vem. Sinceramente, eu não estava animada. De alguma forma estranha, eu queria Christopher fosse comigo. Mas queria que ele me convidasse, e que de algum jeito, não quisesse ser apenas um amigo convidando uma amiga.

Eu sabia que era errado, por isso amuei.

Ele não me convidaria daquela forma e, afinal, por que eu esperava aquilo? Por que era tão difícil pensar nele como só um amigo? Aquilo não era normal.

Sthephanye quase teve um surto quando eu disse que não iria e passou o resto da tarde tentando me convencer a ir. Claro, Beth iria arrumar um daqueles primos gatos dela e iria, eu já sabia. Mas, eu não tinha ninguém e não iria. Problemas?

A última semana antes do baile voou e minha mãe me perguntou se eu iria. Eu tinha esperanças de que alguma alma boa me convidasse, embora não dissesse a ninguém, então, deixei em suspenso:

-Não sei, mãe. Talvez sim, talvez não. 

-Você precisa se apressar caso queira ir. Precisa comprar um vestido.

-Eu sei. Até o fim de semana te respondo, promessa.

Se até o fim de semana não houvesse uma resposta, ainda que mesmo ele me chamasse, eu não iria. Ponto final.