Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 5
Com você é diferente.


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo, Daniel e Maria Luiza voltam para suas respectivas casas. Vamos ver se esse amor de verão será capaz de suportas os autos desafios do dia-a-dia. Acompanhem. E boa leitura.



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Passamos o resto dos dias da viagem juntinhos. Aproveitando cada detalhe, momentos, horas, minutos, até os segundos. Eu já podia sentir sua falta antes da despedida. Malu tentava me confortar com suas palavras, mas nada adiantava. Tudo o que eu mais queria era tê-la para sempre ao meu lado. Com ela, sim, as coisas seriam mais fáceis.

Era nosso último dia juntos. A festa da noite de despedida acontecia no salão do hotel. Todos os alunos das escolas aproveitavam o pouco tempo antes de retornarmos para casa.  

Encontrei Malu em frente à porta do seu quarto e lhe entreguei as flores que havia comprado. Um buquê de orquídeas. Ela sorriu agradecida e segurou minha mão forte enquanto caminhávamos pelo gramado do hotel.

Nada de festa. Nenhum de nós queria aquilo. O que importava mesmo era poder aproveitar o tempo que nos restava juntos.

Ficamos abraçados enquanto caminhávamos pela praia vazia. Eu usava o boné que havia ganhado dela, uma camiseta cinza de botões e a velha calça jeans preta com meu All Star. Malu usava um vestidinho lilás simples, um cintinho preto e também um All Star. Os cabelos estavam soltos e ondulados, o perfume exalando, os olhos bem contornados e os lábios pintados de rosa. Ela segurava as flores que acabara de lhe dar.

Conversávamos, fazendo planos que pareciam impossíveis, mas que eu torcia para que se concretizassem, independentemente do tempo que levassem.

Demos algumas voltas na praia e acabamos parando no hotel. Olhávamos para ele tentando de, alguma forma, fixá-lo em nossas mentes com a esperança que um dia lembrássemos que a nossa história havia começado bem ali.

— Vem, vamos para outro lugar – chamei-a tendo uma ideia brilhante.

Subiríamos ao topo do hotel. Sim, eu daria um jeito. Iríamos ver a noite da cobertura do hotel, onde poderíamos aproveitar cada instante distante de tudo.

— Daniel, esse lugar é lindo – disse ela soltando as minhas mãos e caminhando na cobertura vazia.

Aproximei-me contente em poder ver um sorriso em sua expressão e a levantei em meus braços enquanto ela soltava risadas.

Um segundo depois estávamos um de frente para o outro, de mãos dadas, olhos penetrados um no outro, as testas coladas, o sorriso estampado no rosto, respirações ofegantes e a emoção pulsando nas veias. O coração acelerado.

— Eu te amo tanto – ela finalmente disse. Fiquei contente em finalmente ouvi-la confessar. E como se tivesse adivinhado meus pensamentos, ela repetiu sorrindo. — Eu amo você.

Sem conseguir dizer nada, beijei-a intensamente. Pressionando seu corpo ao meu, sentindo nossos corações saltarem juntos como se todas as nossas emoções estivessem se correspondendo.

— Namora comigo? – sussurrei entre beijos, surpreendendo-a. Maria Luíza pulou em meus braços e eu a agarrei. Tudo parecia conspirar ao nosso favor.

— Pedido aceito – ela gritou para os céus. Em seguida me encheu de beijos por toda face, me fazendo achar graça naquilo.

Sentamo-nos ali perto da beirada da cobertura, observando os carros passarem na avenida. Lembrei-me da primeira noite em que ficamos juntos. Estávamos na sacada de uns dos corredores enquanto ela me perguntava sobre meus alargadores, tatuagem e um pouco mais sobre mim.

Poxa, quase me esqueci do que tinha comprado para ela.

— Hoje mais cedo comprei algo pra você – comecei retirando a caixinha preta do bolso. — Não é nada que esteja a sua altura, mas eu lhe prometo que assim que puder vou comprar um melhor – finalizei entregando a ela o anel dentro da caixinha onde eu havia gravado nossos nomes e o dia em que nos conhecemos. — Agora que é minha namorada oficialmente, merece que o nosso relacionamento seja consagrado. 

Gentilmente, ela também colocou o anel em meu dedo. Beijou-a e sorrimos um para o outro voltando a nos abraçar. Aquele momento ficou marcado em nossas vidas.

— Você é maravilhoso! – ela disse me beijando novamente. Retribui emocionado.

Não tive como não perceber que sua face se molhava aos poucos com suas lágrimas. Com uma dor no peito, sequei cada uma delas e garanti que aquilo seria eterno custasse o que fosse preciso. Mais tarde, após me despedir de Malu, chorava no meu quarto.

Pensava em Maria Luíza e a forma como ela havia mudado minha vida completamente durante uma única semana. Já pensava na saudade que sentiria dela e na dor no peito parecia aumentar. No fundo, algo me dizia para não me preocupar, pois tudo daria certo quando voltássemos e poderíamos ficar juntos como o prometido. Nossas vidas já eram laçadas uma a outra.

Um grande impulso me fez saltar da cama. Coloquei uma camiseta e estava disposto em ir ao quarto dela para aproveitar mais um bocado até o dia amanhecer. Mas, surpreendentemente, eu a encontrei no corredor vindo em minha direção. Só tive a certeza que era ela quando saltou em meus braços e chorou sussurrando em meu ouvido coisas que eu jamais poderia me esquecer:

— Senti tanto a sua falta, eu tinha que te ver – sussurrei.

— Daniel – ela segurou meu rosto. — Você me faz tão feliz por ser meu namorado.

— E você Malu – também pressionei seu rosto de encontro ao meu e o selei com alguns beijos. — Me faz ainda mais feliz por ter concedido ao meu pedido.

Rimos daquilo e voltamos a nos abraçar. Segurei-a em meu colo e a beijei com vontade. Um beijo diferente de todos os outros. Talvez um pouco mais feroz, de movimentos rápidos.

O sol já surgia. O céu era de poucas nuvens. Encontrei-me sozinho, ainda sentindo aquele aperto no peito em ter que deixar aquele lugar e todas as lembranças do que eu tinha vivido ali para trás.

Tomei um banho e me troquei. Recolhi minhas coisas e as guardei dentro das bolsas e mochilas. Guilherme ainda dormia. Carlos, o monitor, viria buscar todos para ir para os ônibus.

— Guilherme – cutuquei-o. — Levante-se! Já são oito horas, temos que ir.

— Ah, só mais um pouquinho, Amandinha – ele disse ainda de olhos fechados. — Cinco minutos.

Rindo, dei lhe um tapa e, instantaneamente, saltou da cama assustado. Sem conseguir explicar a graça daquilo, sai para comer algo.

— Que lindo – sorria Amanda sentada ao lado de Malu e Beatriz.

Comiam algo quando já me aproximei com uma bandeja farta. Beijei minha namorada e sentei-me ao lado dela.

Sorrimos juntos, apertando nossas mãos e trocamos um olhar de cumplicidade. Comi quieto, ouvindo Amanda falar todo o tempo. Logo mais, Guilherme já estava conosco, atordoado e sentindo fortes dores de cabeça.

Andamos de mãos entrelaçadas pelo jardim do hotel. Trocávamos nossas últimas palavras antes de partir, mas parecia um adeus.

— Prometa que vai me ligar assim que chegar em casa – pediu ela.

— Não me olhe assim – estremeci. — Ligarei todos os dias se for preciso.

— Bobo – ela riu desviando o olhar. — Já estou ansiosa para nosso primeiro encontro depois da viagem.

— Eu também. Mal posso esperar – sorri olhando as nuvens se movimentando suavemente no céu. — O mundo precisa saber o quanto me sinto feliz – puxei-a pela cintura junto a mim assim que paramos ao meio as flores. — Te amo, Malu.

Beijei-a intensamente. De novo e de novo. Faria tudo outra vez se fosse preciso, mas o tempo era curto. Só lhe dei um último abraço e parti. Cada um para o seu lado, por pouco tempo.

— Cara, você e a Malu estão mesmo namorando? – perguntou Guilherme durante a viagem. - Nem dá pra acreditar. Logo você.

— Não fale tanta besteira – soltei um riso. — Uma hora ou outra, as pessoas que menos esperamos podem nos surpreender.

— Pode até ser. Ela me parece uma boa companhia. É linda, inteligente, meiga e delicada. Mas é patricinha, dá para ver de longe.

— E tem algum problema nisso? – lancei um olhar a ele certo de que não era obrigado a ouvir certas coisas. — Eu a amo e isso é tudo. Vamos fazer dar certo, eu sei que vamos. Pode apostar.

Senti minhas veias saltarem, mas tentei ignorar aquele diálogo. Deitei e fechei os olhos na tentativa de me conectar a ela de alguma forma. Tentava imaginar o que ela estava fazendo nesse exato momento. Será que conversava com alguém? Com quem? Estaria pensando em mim ou revivendo nossos momentos?

Era fim da tarde de um domingo quando cheguei em casa. Após tocar a campainha, mamãe veio me receber na porta. Encheu-me de beijos e me deu um forte abraço.

— Venha contar como foi a viagem, filho – sentou-se apressada no sofá com Pedro agarrado ao seu colo.

— Não, mãe – disse simpático, já subindo com as coisas. — Estou tão exausto. Preciso descansar um pouco, ajeitar minhas coisas, tomar um bom banho. Assim que puder contarei a você detalhe por detalhe.

Sem mais palavras, joguei as bolsas no piso de madeira do quarto e bati a porta logo atrás. Joguei-me sobre a cama. Ah, finalmente a minha cama. Retirei do bolso do jeans apertado o meu celular e disquei o número dela.

— Oi – falei sentindo o coração saindo pela boca. Foram cinco horas de viagem do hotel até minha casa, mas eu já sentia muito sua falta. Estava louco para ver Malu. — Acabei de chegar.

— Oi, meu amor – pela primeira vez ela disse meu amor e eu me senti tão contente em ouvir aquilo. Pediria até para ela repetir, mas sei que ela acharia loucura da minha parte. — Eu também acabei de chegar. Mas antes, eu, Bia, Amanda e Murilo resolvemos passar na lanchonete perto de casa para celebrarmos o momento.

— Gostaria de pode estar com você – confessei. — Mas sei que esse momento é só de vocês.

— Ah, não é isso. Eu também gostaria que estivesse aqui conosco. Todos eles já gostam muito de você. – menos Beatriz, pensei comigo.

— Eu sei que gostaria. Bom, vou deixar você aproveitar. Amanhã, depois da escola, te ligo, tudo bem?

— Sim. E marcaremos de nos encontrar – depois se despediu e desligou.

Larguei o celular ali mesmo. Olhei para ele por um instante, depois levantei caminhando até uma das janelas de meu quarto. Era ali onde, desde então, eu observaria o céu escuro todas as noites. Sabia que ela também o olharia.

— Filho – ouvi minha mãe me chamar enquanto batia em minha porta. — Posso entrar?

Abri a porta para que ela pudesse entrar. Voltei para minha cama para retirar o tênis. Ela sentou-se ao meu lado e me olhou de um jeito especial.

— Estava tão ansiosa para saber o que aconteceu com você nessa viagem. Você mal me ligou. Fiquei preocupada – ela explicava cuidadosamente. — Mas sei que está cansado e tem que descansar para acordar cedo amanhã. Mas, o que você tem?

— Nada, mãe – tentei parecer sincero, desejando não ter aquele diálogo com ela. 

— Filho, você está mudado. Eu sei. Mãe sabe dessas coisas. Gostaria que você pudesse compartilhar isso comigo.

— Sabe o que é mãe?! Eu me apaixonei por uma garota nessa viagem. A Maria Luíza. Ela me mudou por inteiro, se é que você entende. Sinto-me estranho e diferente, mas ao mesmo tempo a sensação é ótima. Veja! Estamos namorando. Comprei isso com todas as minhas economias – mostrei a aliança a ela.

— Filho! Que lindo! Você namorando? É difícil acreditar, mas quando o amor chega, pega até aqueles mais despreparados. Quando é que vou conhecê-la?

— Em breve, mãe – segui para o banheiro pronto para uma ducha morna. — Assim que ela se sentir preparada.

Enquanto a água escorria por meu corpo, eu me perguntava o motivo das pessoas se surpreenderem tanto com a novidade de eu estar apaixonando por alguém. Talvez por conta do meu passado. Sempre fui muito individualista. Interessei-me por muitas garotas e elas se tornaram especiais de maneiras diferentes, mas nunca passou de um caso a mais.

Conhecer Malu me fez perceber que amar ou se apaixonar não era algo tão simples. Amar é bem mais profundo. É não pensar apenas em si mesmo, mas também no bem-estar da outra pessoa. Ou seja, no melhor para os dois. Mesmo que custe caro. No final, valerá muito a pena arriscar.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? O que vocês acham que vai acontecer daqui pra frente?



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