Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 33
Momentos finais.


Notas iniciais do capítulo

Ultimo capítulo antes do Epílogo.



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Hoje, estamos comemorando cinco anos de vida do nosso pequeno Gabriel.

De longe, eu observo todos perto do lago, o mesmo lago do parque municipal, onde eu pedi minha adorável Maria Luiza em casamento e soube que estávamos esperando nosso primeiro filho.

É um dia especial. Estão todos reunidos em um grande piquenique em uma tarde calorosa. O céu está limpo, o sol se esconde atrás das copas das grandes árvores.

Lá esta a minha família. Meus irmãos mais novos jogando bola, Rafael com a namorada, mamãe conversando com a mãe de Malu, meu pai, o pai de Malu, e Marcelo, o marido de minha mãe, tentam acompanhar os dribles da criançada no futebol.

Alguns de meus amigos também se casaram e construíram suas próprias famílias. Outros separaram, pois de alguma forma não deu certo o que pensaram ser para sempre. Normal. Afinal, tinham longas vidas pela frente para poderem descobrir o verdadeiro significado do amor. Já outros, fogem de casamento até hoje, como Guilherme e Amanda.

Já a minha grande amiga Júlia e Miguel, estão sentados ao lado de uma árvore. Júlia está entre as pernas de Miguel que acaricia seu rosto. Em seu colo está a pequena Laura, com dois anos. Miguel e Júlia estão casados há uns três anos. Moram perto de casa.

Malu está na beira do lago com Gabriel. Ela está ensinando a ele como jogar os pedaços de pães para os patos e gansos. Ambos sorriem com cumplicidade enquanto Benny late para as aves.

Gabriel me vê de longe e acena. Aceno de volta e sussurro que o amo. Nesse exato momento, lembro-me de quando ele era apenas um bebê.

E aqui estou eu com meus trinta e poucos anos. Já dono da minha própria construtora e pai de família. Uma família que vai crescer em alguns meses, já que Maria Luiza está esperando nosso segundo filho. Filha, na verdade. Ela só está de três meses. A pequena se chamará Alice.

— Papai! Papai! – grita Gabriel ao seu aproximar com os bracinhos abertos. Pronto para me abraçar.

Seu corpo ainda é pequeno e magro, da mesma forma como um dia foi o meu, diz minha mãe. Sua pele é branca, seus cabelos lisos e negros e os olhos esverdeados. É um lindo menino, realmente. Onde passa, chama a atenção e é admirado.

Gabriel gosta de livros, doces, andar de bicicleta e, vez ou outra, tenta o skate. É um dos melhores na turma da escola. Quase não chora, não faz birra e não é nem um pouco mimado ou desagradável.

Ainda é o único neto da família. Por pouco tempo, aliás, já que sua irmãzinha está por vir.

— Pai, me conta como você conheceu a mamãe? – ele pediu com os olhos verdes brilhando. — A mamãe disse que você é ótimo em contar essa história.

Por cima de seus ombros, avistei Malu de olho em nós. Maria Luiza ainda é a mulher mais linda que já vi em toda a vida. O amor da minha vida. Mesmo mais velha, ainda é linda como um anjo. Os cabelos louros cortados acima do ombro, o corpo cheio de belas curvas, os olhos cristalinos, a feição angelical, as bochechas e lábios rosados.

— Está bem – sorri para ele. — Sente-se aqui. Vou lhe contar desde o começo.



— Pai? – perguntou quando já voltávamos para casa. — Quando é que vou poder fazer uma tatuagem igual a sua?



Sorria pela pergunta atrevida. Olhei para Malu no banco ao lado que me olhou com um ar de cumplicidade.

— Quando você for mais velho, se ainda quiser, poderá fazer. Se sua mãe permitir, claro.

— Mamãe? – ele perguntou dez minutos depois. — Eu vou poder fazer uma tatuagem igual a do papai no braço?

— Claro, meu filho. Se ainda quiser, poderá sim fazer uma igualzinha a do papai.

— Obrigado, mãe – ele finalizou.

Em casa, esperei que ele fosse se lavar, para colocá-lo para dormir. Ele gostava de carinho na cabeça como a mãe. Seus olhos claros estavam ainda bem abertos e curiosos sem qualquer sinal de sono. Em silêncio, parecia pensar em algo distante, quando resolveu perguntar mais uma vez.

— Pai? – falou baixinho. — Pode me contar a história de como surgiu suas tatuagens? E seus alargadores?

— Você promete que depois vai dormir? Amanhã cedo você tem aula.

— Prometo, pai. Agora pode me contar? – ele pediu todo infantil. — Estou curioso.

Benny estava deitado ao pé da cama de Gabriel, eles não se desgrudavam um instante.

Eu não parava de pensar no dia em que nos uniríamos no quarto de casal. Os quatro na cama. Eu, Malu, Gabriel e a pequena Alice.




DOZE ANOS DEPOIS





Hoje é o dia do décimo segundo aniversário de Alice, minha filha mais nova. Ela está numa fase complicada e é muito diferente do irmão mais velho, completamente o oposto. Alice é mais atrevida, complicada, rebelde, autoritária e vive questionando. Para mim, ela sempre vai ser minha menininha, mesmo que dê muito mais trabalho que um dia Gabriel nos deu.


Estão todos em minha casa reunidos para comemorar o aniversário da minha menina. A casa está movimentada e barulhenta.

Estou no meu quarto me vestindo em frente ao espelho o mais rápido possível, já que estou atrasado. Cheguei tarde, tive que passar a manhã inteira na construtora resolvendo alguns problemas enquanto Malu e sua mãe organizavam a festa.

— Está pronto, querido? – Malu entrou no quarto. Estava ainda mais linda que o normal, com um vestido de renda na cor creme. — Só falta você!

O tempo passou rápido demais, como um piscar de olhos. Os primeiros sinais da velhice já estavam nítidos em nós. No rosto, na pele, nos ossos, nos dentes. Mas para mim, ela sempre será a Malu por quem me apaixonei naquele viagem de formatura. A única capaz de me fazer o homem mais feliz do mundo.

— Estou quase – confessei com um meio sorriso, me aproximando da minha mulher.

Ao me ver aproximar ela sorriu graciosamente, já sabendo das minhas intenções.

Coloco minhas mãos em sua cintura, massageando sua pele através do tecido do vestido. Sorrimos um para o outro como dois adolescentes no colegial. Deposito beijos suaves em seu pescoço, fazendo-a suspirar.

— Desculpe interromper – Alice entra como uma bala no quarto, sem ao menos bater na porta. — Papai e mamãe – diz com uma expressão séria e as mãos na cintura.

Alice é uma garotinha magrinha e de pele branca levemente maquiada, afinal é uma garotinha bem vaidosa, como sua mãe.

Ela tem cabelos claros, longos, finos e lisos como de um bebê. Os olhos são negros como os meus. Está usando um vestidinho azul que Malu lhe comprou um dia antes e sandálias brancas.

— Só faltam vocês! – ela revirou os olhos me fazendo rir. — Parem já de namorar e desçam! Estão todos esperando.

Ela se vai tão rápido quanto apareceu.

— Sua filha – Malu se afasta zombando. — É tão parecida com você.

De mãos dadas descemos até a sala de estar de nossa casa, onde estão todos a nossa espera.

Mamãe está sentada próxima aos pais de Malu. Ela está conversando com seu marido, Marcelo, um homem que a redescobriu e a faz feliz até hoje. Mesmo com a idade é uma mulher linda.

Luciana e Mateus, os pais de Malu, também envelheceram. Mas ainda são um casal elegante. Os dois, apesar de sempre terem amado a filha, nunca conseguiram lhe dar o carinho que ela sempre precisou. Mas não os culpo, nem todos sabem demostrar os sentimentos. Malu ama muito os dois e aprendeu a conviver com isso. Ela sempre soube que os pais a amavam e isso bastou para aprender a conviver com a ausência deles.

Mateus vendeu sua empresa para mim há pouco tempo, pois com a velhice estava cada vez mais difícil ele administrar tudo.

Como eu já havia conseguido a minha própria construtora, resolvi dar parte de tudo ao meu irmão, Rafael, que acabou seguindo os mesmo passos que eu na Engenharia Civil.

Hoje, Rafael não está conosco, pois foi comemorar o noivado na Grécia. Mas desde que nos conhecemos, nos tornamos inseparáveis. Meu meio irmão é o meu braço direito nos negócios.

Meu pai e Eliza, sua mulher, também estão presentes. Papai nunca deixou de ser o homem adorável que eu conheci depois de tanto tempo distante. Ele está velho, porém ainda se sente em condições de trabalhar. No entanto, já está preparando os filhos mais novos, Pedro e Vitor, para cuidarem de sua empresa quando ele não tiver mais condições de continuar.

Minha irmãzinha caçula, Luana, é uma jovem adorável com inúmeras qualidades e rodeada de pretendentes. Porém, ela vive dizendo que não está em condições de pensar em namoro, casamento ou filhos, pois vive viajando pelo mundo através da dança.

O balé. Seu sonho.

Júlia e Miguel são os padrinhos dos meus dois filhos. Eles continuam casados e mais felizes do que nunca. Júlia, apesar de mais velha, por dentro ainda é aquela garotinha atrevida, exótica e tagarela. Às vezes, eu acredito que minha filha Alice é uma versão de Júlia quando mais nova.

A casa parece pequena naquela tarde de domingo ensolarada.

Teresa, que é nossa empregada há mais de quinze anos, chama a todos para se sentarem a mesa de jantar, onde será servido o almoço.

Aos poucos vamos nos acomodando e conversando animadamente.

— Cadê o Gabriel? – Alice pergunta chamando a atenção de todos. Alice sempre gostou de ser o centro das atenções. — Eu vou procurá-lo agora mesmo! – diz, se levantando da mesa e sai batendo o pé.

Mas a verdade é que quando Alice nasceu, ela e Gabriel tornaram-se um só. Eles se amam muito e nunca estão separados, mesmo com a diferença de idade entre eles.

— É melhor você ir atrás da sua filha – Malu sussurra ao meu ouvido. Peço desculpa a todos pelo pequeno espetáculo e saio a sua procura.

Não foi muito difícil encontrá-los. Apesar da casa ser grande e estar cheia de amigos e familiares, eu conheço meus filhos. Tenho tanto amor por eles que nem eu mesmo sabia que era possível. É muito maior do que tudo que já senti em toda a minha vida.

— Veja só, papai – Alice está escondida atrás de um pilar nos fundos da nossa casa. Impaciente e intolerante.

Vejo que Gabriel está sentado em uma das espreguiçadeiras próximas a piscina, segurando a mão de Laura, filha de Júlia, com seus quinze anos. Os dois conversam como se o resto do mundo não existisse. Se olham apaixonadamente como se tivessem olhos apenas um para o outro.

A cena que presencio me faz lembrar de quando me apaixonei por Maria Luiza. Éramos apenas eu e ela. A paixão do meu filho por sua melhor amiga é algo que me deixa cheio de emoção, como se eu fosse chorar de satisfação a qualquer momento. É tão bonito ver que os dois se entendem tanto, se querem bem e se gostam acima de tudo.

Gabriel tem dezessete anos, a idade exata de quando me apaixonei pela primeira vez. Ele ainda é um garoto que chama a atenção de todos por sua beleza.

Laura, a única filha de Júlia e Miguel, é bem parecida com a mãe. Os cabelos longos e lisos de um tom preto azulado, o corpo magro e as roupas exóticas. Porém, é doce, tímida, meiga e delicada.

O lado que talvez tenha herdado do pai.

— Olha só, papai, agora ele só tem olhos para ela – Alice resmunga um tanto aborrecida.

O problema é que minha filha gosta tanto do irmão que é capaz de sentir ciúmes de tudo que se aproxima dele. Mas no fundo eu sei que compreende que seu irmão está apaixonado pela primeira vez e sei que só quer o bem dele, assim como ele deseja o mesmo para ela.

— Papai, eu não entendo! – ela finalmente me olha. — Laurinha não é tão mais velha do que eu e já namora. Quando é que eu vou poder namorar também?

Uma crise de tosse invade o meu peito. A pergunta ousada me pegou de surpresa. Minha pequena Alice, apesar de estar crescendo rapidamente e estar se tornando uma mulher invejável, ainda é um bebê que quero proteger em meus braços por toda a vida. Mesmo que saiba que isso não será possível por muito tempo.

A triste realidade.

— Querida, não é tão simples assim – beijo o alto da sua cabeça e seguro seu rostinho de pele macia entre meus dedos. — Você só vai poder namorar quando for mais crescida, uma mulher adulta.

— Ah – ela abaixou o olhar entristecida. — E isso vai demorar muito tempo, papai? – De repente ela se torna uma menininha frágil, doce, que só precisa de atenção e cuidados.

— O tempo suficiente para eu cuidar de você como tem que ser. - faço cosquinhas na ponta do seu nariz.

Ela sorri para mim satisfeita, sabe das minhas preocupações e do meu amor. Retribuo o sorriso carinhoso e a pego em meus braços apertando-a forte até ela se queixar.

— Papai, eu sou uma mocinha, pare – diz ela se afastando e voltando a ficar nervosinha.

— Eu sei, filha, eu sei – solto um pequeno riso. — Agora venha – agarrei sua mãozinha. — Vamos deixar seu irmão namorar. Hoje é o dia do seu aniversário, vamos comemorar.

Voltamos a sentar a mesa junto aos convidados. Alice rapidamente esquece do irmão. Ela está toda sorridente, e rodeada de atenção, faz graça, faz charme, sorri todo o tempo, mexe nos cabelos de cinco em cinco minutos, parecendo satisfeita.

Ao meu lado, Malu chama a minha atenção. Apenas com um simples olhar sei o que está tentando dizer: é hora da surpresa.

Malu se levanta e some por alguns instantes. Reaparecendo com o bolo de aniversário nas mãos e as velas rosas acesas. Ao seu lado está Gabriel, seguido pela pequena Laura.

Todos cantarolam a canção dos parabéns para Alice enquanto eu fotografo esse momento. Minha filha está radiante, faz posses e acena para a máquina fotográfica.

Enquanto todos conversam e devoram os docinhos e salgados da festa, me retiro sem que percebam e vou até os fundos da minha casa sentindo os olhos prestes a transbordarem em lágrimas de emoção. Ao me ver, Lucky late empolgado. Ele é o nosso vira-lata que substituiu Benny há pouco mais de três anos, quando morreu por velhice. Ele se aproxima para ganhar carinho, mas logo volta a saltitar pelo gramado.

— Daniel – uma voz doce e familiar se aproxima. — O que faz aqui? Você está perdendo a festa! – Malu está ao meu lado. — Alice ligou o som, colocou uma música para tocar e faz questão que todos dancem com ela. Você precisa ver isso – Malu solta um riso.

O céu já está escuro, as estrelas ganham vida, a lua está especialmente bonita naquela noite.

— Nossa! – Malu observa. — Que linda!

— Não mais do que você – digo.

Malu abaixa a cabeça e sorri timidamente, parece que ela ainda não se acostumou com meus elogios. Aproximo-me e a abraço por trás, envolvendo-a com meus braços.

— Daniel, você está chorando, querido? – ela pergunta preocupada.

Se virando de frente para mim. Onde estamos há pouca iluminação, nem daria para perceber que eu estava mesmo chorando se Malu não me conhecesse melhor que eu mesmo.

— O que houve? – ela pergunta.

— Nada – dei de ombros e forcei um sorriso. — Só estou feliz, pois tenho você. Aqui. Comigo – beijo seus lábios docemente, da mesma forma como nos beijamos pela primeira vez, na praia, na viagem de formatura.

— Aí estão vocês! – Alice pigarreou. Ela se aproximava com Gabriel. — Eu sabia! Eu não disse, irmão? Eu disse que eles estavam namorando escondido.

— Alice – Malu a repreende de maneira passível. Nossos filhos se aproximam e se encaixam em meus braços.

Somos uma família feliz e estamos sempre unidos. Naquele momento ficamos juntos e abraçados, observando a lua.

Ninguém disse uma palavra. A verdade é que há tanto o que dizer, mas é como se nenhuma palavra fosse suficiente para expressar a alegria que compartilhávamos aquele dia.

— Mamãe, papai – Alice quebra o silêncio. — Eu queria agradecer por tudo. Eu amo muito vocês.

Apesar de atrevida, Alice sabe o que dizer nos momentos certos. Sinto um orgulho enorme da minha filhinha que está ficando mais velha. Sem palavras, aproveito para beijar o alto da sua cabeça, mentalmente agradecendo aos céus a linda família que construí.

— Eu não sei o que seria de mim sem vocês – digo por fim.

Mesmo que eu já tenha dito que os amo tantas outras vezes, para mim, nunca é suficiente para expressar tamanho amor. Por mim, eu repetiria a mesma frase, inúmeras vezes e não seria o suficiente.



"Motivos para desistir você vai encontrar vários, mas para amar só basta um. O suficiente para você amar loucamente, o suficiente que supera todos os motivos por piores que sejam pra desistir." Tati Bernardi.





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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar nessa reta final. O Epílogo eu provavelmente irei postar no final dessa semana. Não esquecendo que assim que AQST terminar, eu vou começar a postar a continuação de "Luz dos Olhos".



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