Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 32
A vida de casados.


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o capítulo que descreve exatamente o que Daniel e Maria Luiza vêm passando depois do casamento. Uma vida de casados, não é tão fácil como muitos esperam que seja. Mas o nosso casal, se amam o suficiente, para fazer de tudo possível, com paciência, carinho e amor, para fazer as coisas darem certo a sua maneira. A chegada de um filho, apesar de muitas pessoas encontrarem um desafio, para Daniel e Malu, foi bem mais fácil do que o esperado. Já que Gabriel é um bebê calmo e tranquilo.

Vejam só. Boa leitura.



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De volta ao Brasil, fui presenteado com a casa completamente mobiliada. Presente dos meus pais, claro. E no próximo final semana já iríamos nos mudar para viver o nosso casamento e cuidar do nosso filho.


Foi uma mudança complicada, pois Malu tinha muitas coisas não só no apartamento com as amigas, mas também na casa dos pais.

Uma das primeiras coisas que fizemos após nos instalarmos foi contratar uma boa faxineira. Teresa.


Malu já estava com sete meses de gestação.


Pedro, meu irmão, agora já uma adolescente inquieto e agitado, nos presentou com um cachorro, que é sua maior paixão. O filhotinho escolhido foi nomeado de Benny da raça pug. Nosso cachorrinho chorou muito nas primeiras noites desde que chegou. Mas conforme foi se adaptando a nova casa, assim como nós, Benny era uma das melhores companhias que Malu poderia ter. Ele corria pela cara derrubando os objetos, cavava buracos no gramado do jardim e também tinha mania de pular na piscina, dá uma rápida nadada e depois entrar em casa mesmo molhado e pular em cima das visitas. Teresa enlouquecia.

Todas as manhãs, antes de ir trabalhar, eu passava no quarto do bebê só para dar uma conferida e ver se tudo estava em seu devido lugar. Era bom poder sentir o cheirinho de talco, ver a mobília branca com detalhes em azul. Era como já poder sentir a presença dele conosco.

— Bom dia, meu amor – Malu caminhava lentamente pela cozinha sempre segurando a barriga volumosa.

— Bom dia, querida – dei um beijo e a ajudei sentar à mesa do café da manhã.

Às vezes, desejava não trabalhar para ficar de olho nela e no nosso pequeno, só para ter a certeza que tudo ficaria bem. Assim, antes de sair todas as tardes para trabalhar, eu deixava claro para Teresa ficar de olho em cada passo de Malu.

— Daniel, eu estou bem. Vai ficar tudo bem. Não estou inválida. Não precisa de tanta preocupação.

— Você acha mesmo que eu consigo? – perguntei. — Não consigo parar de pensar em vocês dois. Fico aflito só de pensar que você está perambulando por essa escada, subindo e descendo o dia todo, sozinha com esse barrigão.

Teresa, que nos servia, ria ao me ouvir falar.

— Estranho seria se ele não se preocupasse.


Os dias seguiam com minha esperança que Gabriel chegasse logo, pois pensava que assim minha preocupação seria menor. Ou será que aumentaria?


Acordava pela madrugada, satisfeito com a presença de Malu ao meu lado. Ficava olhando para ela por horas, admirando sua perfeição.

Chegava do trabalho às oito da noite e a encontrava na sala escura de frente para a televisão. Para o meu alivio ela havia dado um tempo no trabalho no hospital e nos estudos. Estava muito focada na própria gravidez. Ela lia muitos livros sobre gestação, pois vivia alegando que queria ser a melhor mãe do mundo. Disso eu não duvidava, já que ela é a mulher mais incrível que já conheci.

Uma vez me assuntei ao entrar em casa e me deparar com a minha esposa chorando. Aproximei-me depressa e perguntei se tinha algo de errado com o nosso bebê. Ela rindo, disse que estava tudo bem. O choro, a sensibilidade, a emoção eram o reflexo do romance que assistia na tevê.

Suas emoções e seu sentimentos estavam muito aflorados.

Alguns dias ela acordava sorridente, feliz consigo mesmo, contente pela sua "barriguinha", cheia de expectativas para a chegada do nosso bebê. Outros dias ela acordava e mal queria se olhar no espelho, dizendo que estava gorda, feia, inchada. Muitas vezes ela se estressava com facilidade, mesmo que eu não tivesse feito nada para atordoa-la. Ou ela implicava comigo, por tudo que eu fazia, como se nada do que eu fizesse fosse o correto ou da maneira que ela gostaria que fosse.

Nos momentos mais difíceis, eu me sentava com ela na varanda, segurava firme sua mãe enquanto ela chorava tristonha por algo mesmo que insignificante. Acima de tudo eu compreendia minha mulher e a apoiava no que fosse preciso, mesmo que ela estivesse nervosa comigo, sabia que esse momento iria passar. Pegava um copo de água para ela e a escutava por horas. Tudo que ela tinha para dizer, suas duvidas, suas curiosidades, suas vontades e os sonhos.

— É, claro que é - ela limpava as lágrimas impossível. — Mas eu me sinto feia Daniel! Hoje não é um dos meus melhores dias. Tenho medo de não ser uma boa mãe para o nosso filho. Eu não estou sendo nem uma boa esposa para você.

Com poucas palavras, o que ela exatamente precisava ouvir, ela sorria em meio as lágrimas. E eu me sentia o homem mais sortudo do mundo por tê-la por perto.

Outras vezes, eu encontrava em casa em um silêncio completo, as luzes apagadas e nenhum sinal dela ou de Teresa. Perguntava-me se elas já haviam dado entrada no hospital em trabalho de parto e que não deu tempo de me ligar para avisar. Mas meu coração aliviava quando encontrava Malu sentada no quarto do bebê conversando como se ele fosse capaz de ouvi-la.

— Daniel? – ela sorria assustada. — Há quanto tempo está ai? Por que não veio até aqui querido?

— Queria ficar olhando para ti só mais um pouquinho – confessei. — Acho que você fica linda a cada dia.

Eu repetiria quantas vezes fosse preciso. Eu não mentia.

Ela sorria intimidada enquanto eu erguia seu queixo e beijava seus lábios. Envolvíamo-nos em um abraço forte, com o nosso bebê no meio. A verdade é que eu estava me apaixonando por Malu a cada dia mais. A gravidez só vez bem para nós dois.


Nos finais de semana recebíamos visitas que sempre traziam presentes e nos enchiam de carinho. Outras vezes, aproveitávamos a partida dos visitantes e saíamos para um passeio em casal. Caminhávamos juntos recebendo todos os olhares de quem passava a nossa volta. Malu era a gravida mais bonita que poderia existir.


Pegava-me pensando no rostinho do nosso bebê. Será que pareceria mais comigo ou com ela? Qual seria a cor de sua pele? De seus cabelos? E dos olhos? Que seja bonito como a mamãe, concluía por fim.

Em casa, aproveitávamos as últimas horas de um longo final de semana para assistirmos algo na televisão ou ficar sob o céu estrelado no jardim, conversando sobre os planos para o futuro com Benny deitado nossa volta.


Era uma manhã chuvosa, o céu lá fora estava carregado de nuvens negras. Malu estava deitada ao meu lado, parecia dormir tranquilamente enquanto eu alisava seus cabelos com os dedos.


Ela se remexeu duas vezes na cama fazendo meu coração bater a mil. A cada movimento seu só aumentava minha preocupação.

— Ai! – ela gritou. - Ai! Ai! Estou sentindo umas pontadas, amor. Acho que está na hora.

Saltei da cama colocando um casaco e ajustando a calça jeans no meu corpo.

— Tenha paciência, querida. Já iremos para o hospital – garanti. — Teresa! É agora! Venha ajudá-la, por favor.

Teresa chegou em questão de segundos e ajudou Malu a levantar e a se trocar.

Liguei para minha mãe e lhe contei que o bebê estava por vir. Ela ligaria para a família de Malu e avisaria a eles.

Desci para tirar o carro da garagem, com o suor de nervosismo escorrendo pela testa. Na porta, surgiu Malu que sorria. Parecia ainda muito forte e pronta. Como ela consegue ser tão forte em um momento como aquele? Eu estava apavorado!

Ajudei-a entrar no carro.

Enquanto dirigia apressadamente e com a atenção total na direção, pedi para Teresa ligar para o médico e dizer que estávamos a caminho do hospital.

Entramos no hospital com as enfermeiras já a nossa espera. Maria Luíza foi conduzida a uma sala comigo. Teresa, na sala de espera, aguardava nossos familiares.

Na sala de parto, vi o procedimento de perto. Malu fez muita força até nosso pequeno começar a chorar. Em minutos, estava em meus braços. Meu filho, pensei. É o meu filho!

Olhando para ele vi seu rostinho enrugado, os olhos alertas e esverdeados, os cabelos escuros, a pele pálida, a mãozinha pequenina agarrada ao meu dedão.

— Onde está o meu bebê? – Malu perguntou meia hora depois, já em seu quarto de hospital. — Posso segurá-lo?

Entreguei o bebê em seus braços. Ela sorriu para o pequeno e beijou sua testinha com delicadeza.

— Veja, querido – primeiro olhou para mim, depois para o bebê em seus braços. — O cabelo negro é como o seu.

— E os olhos como os seus! – comentei. — Ele será um garoto muito bonito.

Minutos depois, os familiares traziam flores para Malu. Quando pediam para segurar o pequeno, via o medo nos olhos de Malu. Aos poucos ela foi se adaptando ao novo ritmo. Nosso bebê era a novidade e a sensação do momento, tínhamos que compreender.

— Ele é esperto – falou minha mãe. — Assim como você, meu filho. Será um menino forte e saudável, graças a Deus.


Após dois dias, voltamos para casa com o auxílio de Teresa e nossas mães.


Ao contrário do que todos disseram, as primeiras noites não foram tão difíceis, já que Gabriel dormia a maior parte do tempo e só chorava quando estava com fome. Ao completar duas semanas, Gabriel abria os olhos com maior frequência.

Em uma tarde de sábado, vi o desespero nos olhos de Malu devido o choro do filho.

— Eu não sei o que há de errado. Eu já dei mamar para ele, o fiz arrotar, mas ele não para de chorar – ela reclamou com os olhos cheios de água.

Calmamente, peguei Gabriel em meus braços e o levei para outro cômodo para que Malu não perdesse a paciência. No céu as estrelas dançavam com a companhia da lua cheia. Balancei-o devagar no colo e ainda assim ele chorava.

— Se ele já está de barriguinha cheia, já foi trocado – Teresa falou, perto da porta. — deve estar sentindo alguma dorzinha, talvez seja cólica.

— Certo – disse olhando para o meu pequeno que já estava vermelho. — Faça um chá para ele, por favor, Teresa.

Ela saiu depressa.

— Filho – falei baixinho. — Pare de chorar, pequeno. Mamãe já está nervosa com esse seu escândalo.

— Aqui está o chá – ela estendeu apreensiva minutos depois. Parecia muito preocupada com a inquietação do bebê.

Teresa ficou ali me vendo dar o chá para o bebê devagar. Aos poucos, fechava os olhinhos embalados pelo sono.

Muitas coisas que um pai precisa aprender fazer para ajudar a mulher com o bebê, eu aprendi em poucos dias. Já sabia segura-lo com mais firmeza, dar-lhe água, ou algo pequeno e mole que ele pudesse comer. E também trocava seu fralda quando necessário ou dar-lhe bainho com cuidado.

Eu estava me saindo melhor do que o esperado.

— Se ele não parar de chorar, vamos levá-lo ao médico e pedir alguma explicação – disse Malu quase fazendo o pequeno acordar.

Ao ver a cena de longe, ela sorriu aliviada. Ela não disse nada, muito menos eu. Coloquei o pequeno príncipe em seu berço e encostei a porta de seu quarto.

Teresa foi fazer seus afazeres e eu voltei para o nosso quarto com Malu mais tranquila. Ela me abraçou como quem agradecia. Depois me beijou e namoramos.

Depois daquele dia, Malu nunca mais deixou se levar pela inquietação do nosso filho. Milagrosamente, eu sempre o acalmava com uma de minhas músicas preferidas, cantarolando para ele baixinho, para que ele pudesse ouvir o som da minha voz e compreender que eu estava ali, ao lado dele, sempre que ele precisasse de mim. Meu filho e eu tínhamos uma ligação mais que especial. A presença de Benny também o acalmava bastante. Mesmo ainda pequeno, Gabriel já mostrava seu afeto pelos animais.

— Você é o melhor marido desse mundo! - ela disse sorrindo jogando-se em meus braços. — E o melhor pai também.

O que me fez crer que certamente eu era sim, o melhor marido e o melhor pai do mundo. Assim, eu já podia sentir um orgulho enorme crescendo dentro de mim, satisfeito com a própria vida que construía com cuidado dia após dia.

Apesar de todas as dificuldades em ser pai e em ser marido, eu me sentia muito feliz. Mesmo após um dia de cansaço, chegar em casa e receber um longo beijo do amor da minha vida e um sorriso gracioso do meu único filho era exatamente o que eu precisava para me sentir idealizado.

Como dizia Carlos Drummond de Andrade: “Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam.”


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Notas finais do capítulo

Vamos lá! Eu gostaria muito que todos comentassem! Eu sempre peço, e apesar do pouco números de leitores, um ou dois comentam apenas. Para mim já é o suficiente, ou quase, mas eu sempre fico na expectativas de encontrar um ou outro comentário novo. Não me deixem aguardado sem respostas, já estamos tão perto do fim.



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