Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 31
O casamento.


Notas iniciais do capítulo

Eu poderia ter detalhado mais esse momento tão importante na história de Maria Luiza e Daniel. Mas vou deixar por conta da imaginação de vocês. Nada melhor do que vocês por si sós, imaginarem da forma como querem que as coisas aconteçam nesses momentos finais. Boa leitura!



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Conseguimos nos safar, mas o último pedido de Malu me afetou. Lembro-me de ter me sentindo um tanto tonto, mas no fundo eu soube que tudo que eu precisava fazer era segurá-la para que ela conseguisse atravessar aquele portão.

Naquela mesma noite, mesmo sendo tão tarde, paramos para conversar. Eu precisava saber se aquilo tudo era mesmo real. E sim, ela me garantiu que estava esperando um filho meu. Era esse o motivo de sua distância nos dias passados, já que não sabia como me dizer e tinha medo de minha reação.

Também soube que Júlia já estava por dentro de tudo muito antes do que eu. Malu havia contato para ela no dia em que suspeitou da menstruação atrasada e foram comprar testes na farmácia.

Um filho? Sim, um filho. Ou dois. Ou três. Ou até mais. Ainda não tínhamos como saber, mas eu já estava amando a ideia de ser pai. Eu seria papai. Teria um pequeno para chamar de meu, fazer dele um homem ou uma mulher de verdade, dar-lhe das melhores coisas desse mundo e dizer a ele o quanto o amava desde que soube da sua existência.

— Meu bebê - acariciava a barriguinha dela ainda lisa. — Eu já o amo tanto. Porque não me contou antes?

— Desculpe, meu amor. Não faz muito tempo que descobri. Só tive a certeza antes de ontem, por isso te evitei, não te liguei e fiquei afastada. Só queria ter certeza que estava mesmo acontecendo e pensava na melhor forma de poder contar. Eu não sabia que – de repente seu tom de voz começou a se alterar e lágrimas nos olhos começaram a escorrer.

— Shhhhhh! – calei-a carinhosamente com meu indicador. — Está tudo bem agora. Não havia momento melhor em saber que eu vou ser papai de um filho seu.

Ainda não anunciaríamos as notícias. Queríamos deixar todos surpresos não só com o noivado, mas com o bebê também.

Uns cinco dias depois, em um almoço que planejei na mansão de meu pai, contamos para nossas famílias e amigos as novidades. Ficaram todos encantados. Fomos presenteados com beijos e abraços.

Com quatro meses de gestação, a barriga de minha noiva já estava crescida. Durante esse período, ficamos planejando o dia do casamento para que fosse mesmo perfeito, como em nossos sonhos.

Também já podíamos saber o sexo do bebê para nos organizamos em relação a ele. No hospital, no dia do ultrassom, fiquei ao lado de Malu agarrado a sua mão enquanto o doutor estava prestes a nos contar.

— É um forte e saudável menininho – o suficiente para Malu chorar e meu coração desejar sair pela boca.

Antes do casamento e do nascimento de nosso filho, fizemos um chá de panela e um chá de bebê. Com isso, em nossa casa só faltava à mobília, já que eletrodomésticos, enfeites, pacotes de fraldas e roupinhas de bebê podiam ser vistos por toda parte.

Durante a noite em meu quarto, conversando sobre nossos planos, sentimos um movimento dentro da barriga de Malu. Olhávamos um para o outro, intrigados. Mas o que era aquilo? Outro movimento e depois mais outro. Não entendia, mas Malu começou a sorrir encantadíssima.

— Nosso garotinho já esta chutando – ela falou. — Doido para sair daqui e jogar bola com o pai.

Foi uma das sensações mais incríveis na minha vida. E sei que viriam tantas outras pelas frente ao decorrer do crescimento do nosso bebê tanto dentro de Malu, assim como, quando já estivesse fora.

Na república, os garotos resolveram elaborar a minha despedida de solteiro. O que não era preciso, em minha opinião. Não queria desgrudar de Maria Luíza e nosso pequeno anjo Gabriel. Sim, esse seria seu nome: Gabriel. Pois tinha um significado especial não só para mim, como também para Malu: Deus enviou. 

A cada momento ao lado deles era uma surpresa incrível.

Enfim, não tive escolhas e lá foram eles junto a mim para uma boate com mulheres que dançavam loucamente. Se Malu e as outras meninas, namoradas dos meus amigos, soubessem dessa história, nos matariam. Mas nada de terrível aconteceu a nenhum de nós.

Pela manhã, cheguei em casa irreconhecível. Lembrava de poucos detalhes da noite anterior. Só sabia que havia bebido o suficiente para cair duro no chão da sala, vomitando no carpete.

— Que diabos é isso? – berrou Júlia deixando todos assustados. — Onde é que vocês foram seus espertos? – ela se aproximou de mim. Mesmo com a vista embaçada, pude perceber que estava chocada com a minha aparência. — Daniel! Você sabia que hoje é o dia do seu casamento?

Casamento? Dia? Lembrei que Malu havia marcado para mim um “dia de beleza do noivo” em algum spa no centro.

— Você devia ter vergonha nessa cara! – ela gritava ajudando-me a tirar a roupa. — Não sei se quero bater mais em você, o noivo esquecido, ou em seus amiguinhos lá fora que te induziram a esse estado. Que horror!

Para o meu alívio ocorreu tudo bem. Afinal, eu ainda podia ter a colaboração dos meus pais e familiares que estavam dando conta da maioria das coisas.

E lá vinha ela de véu e grinalda ao meu encontro naquela imensa igreja com todos os familiares presentes com um buquê de rosas vermelhas em uma das mãos. Passos vagarosos ao lado de seu pai até chegar ao altar. Ela estava linda. Linda naquele vestido longo e branco com véu que acentuava suas curvas perfeitas. Exatamente como nos meus sonhos. E aquela barriguinha? Estava maior a cada dia. Aumentando ainda mais a minha alegria.

— Cuide bem da minha princesinha – pediu seu pai antes de me dar a mão de Malu.

Dali em diante, eu seria o responsável por ela e ela por mim. Seria dela o primeiro sorriso que eu veria ao acordar e o último ao me deitar ao seu lado.  Eu sei que nem tudo seria perfeito, como muitas pessoas acreditam que o casamento seja. Afinal, nunca fomos perfeitos. Sempre tivermos nossos momentos de atrito.

Mas eu ansiava pela vida de casados. Mesmo que já soubesse que os primeiros dias seriam difíceis até eu me adaptar a ela e ela a mim.  Teríamos que conciliar nossas escolhas, nossos gostos, nossos planos. E nada disso seria um problema. O que realmente importa é que poderíamos trocar carinhos de frente para a televisão, tomaríamos o café da manhã juntos, sentaríamos na varanda de frente para o luar e conversaríamos ou poderia namorar a vontade em qualquer cômodo na nossa própria casa.

Também teria a chegada do bebê. Não poderemos mais ter tanta privacidade. Pois teremos que pensar também no nosso filho. Também já não poderemos sair sem antes resolver se levaríamos o bebê ou deixaríamos por conta de alguém. E se  esse alguém seria a pessoa apropriada a cuidar do nosso filho. Teremos que avaliar também o que será mais saudável para o nosso filho, o que é melhor que ele coma, ou vista. E que planos serão melhor para ele no futuro.

Esses pensamentos, aumentam ainda mais as minhas expectativas. Eu estava ansioso para levar uma vida a dois. Ou melhor, agora a três. Desde menino, por menos eu pensasse, sempre imaginava uma vida perfeita, como a dos filmes. E faria de tudo que estivesse ao meu alcance para não só tornar as minhas expectativas em algo concreto, mas também, as de Malu. Pois ela como mulher, tende a pensar mais sobre essas questões. E tudo que eu mais quero é ver a minha mulher e mãe do meu filho, feliz. Sempre feliz.

Finalmente, nos pertencíamos e jamais no separaríamos. De jeito nenhum. Malu foi feita para mim e eu para ela. Cuidaria da minha rainha por toda a vida. 

Na festa, que acontecia em uma salão alugado com direito a buffet. Enquanto cumprimentávamos a todos, pude ouvir a música agitando os demais. Sentia falta de ouvir a voz de Malu, pois não tínhamos trocados uma palavra desde a cerimônia. Estávamos ocupados demais sendo parabenizados, cercados de flashes de máquinas fotográficas e presentes.

Olhei para ela e ela olhou para mim. Sorrimos como cumplicidade. Dançávamos a valsa principal no meio do salão rodeado por olhares, cochichos, choros e emoções. Mas o resto não parecia tão importante, além de tê-la ali em meus braços, agora, oficialmente, como minha mulher.

— Eu amo vocês – sussurrei ao pé do seu ouvido.

A festa deve ter durado umas cinco horas, estávamos exaustos,  saímos mais cedo para pegar o avião com destino a Londres, às 3h da madrugada.

— Cuide-se. E não se esqueçam do nosso príncipe – disse mamãe que não parou de chorar um instante.

— Quando chegarem terão mais um de seus presentes garantidos – afirmou meu pai.

— Não demore, Daniel. Por favor – pediu meu pirralho, Pedrinho. — Não deixe meu sobrinho nascer longe de mim. Estou louco para vê-lo me chamar de titio.

Hospedamo-nos no hotel e deixamos as malas ali mesmo. Não queríamos jogar fora nenhum segundo dos nossos três dias de lua de mel e fomos passear pela cidade para conhecer alguns dos principais pontos turísticos.

Como o bebê já pesava dentro de Maria Luiza, não a deixei fazer muito esforço. Jantamos no restaurante do hotel e subimos para o quarto. Tomamos um banho juntos e fomos deitar.

E, finalmente, conversávamos longe de tudo e todos. Ríamos horrores com cada detalhe das coisas que pudemos ver no dia do nosso casamento.

Pela manhã, quando os raios de sol começaram a se insinuar pela fresta entre as cortinas como prismas de luz, meus olhos piscaram e por fim se abriram. Malu estava deitada de costas para mim, ainda dormindo, com uma das mãos sobre o próprio ventre. Seus cabelos de fios dourados se espalhavam pelo travesseio. 

Toquei seus cabelos de leve, pensando como ela estava ainda mais linda, agora como minha mulher. Não consegui evitar um longo suspiro de contentamento. Depois de admira-la, levantei para tomar um banho, sem fazer barulho para não acorda-la. Queria que ela pudesse descansar. Troquei de roupa e liguei para a recepção do hotel pedindo que subissem com o café da manhã. Detalhe: eu não falava um inglês fluente, mas sabia me virar melhor do que imaginava.

Aguardei meu pedido, sentado em uma cadeira de frente para a cama, admirando cada detalhe do rosto angelical da minha esposa. Eu estou ainda mais apaixonado. Com isso é possível? Acordei-a com um belo café da manhã na cama, com flores e tudo mais. Depois, ficamos enrolando ali, agarradinhos, conversando com o nosso pequenino. Mesmo achando impossível, Malu fez amor comigo aquela manhã. Uma lua de mel não podia ser melhor do que essa.

Depois do almoço, fomos dar mais uma volta pela cidade no famoso ônibus vermelho de dois andares. Aqueles que eu sempre vi pela televisão. No final da tarde, Malu sentiu algumas cólicas e a levei para o hotel. Certo de que se ela piorasse levaria as pressas até o hospital mais próximo. Temia perder as coisas mais importantes da minha vida justamente na lua-de-mel: Malu e o pequeno Gabriel.

— Pequeno, não faça tanto esforço dentro da mamãe – pedi baixinho acariciando a barriga enquanto ela dormia no meu colo.  

Para o meu alivio, Malu sentia-se melhor no final do dia. Chegamos a receber alguns telefonemas da família e dos amigos que nos aguardavam ansiosos no Brasil. Uma das mais preocupadas era a madrinha, Júlia.

— Deixe-me falar com meu afilhado – ela pediu. Sempre me obrigava a colocar o telefone próximo a barriga. — Fale com a dinda, pequeno! Você está louco para sair da barriga da mamãe, não é? Mas, por favor, não faça a mamãe sofrer tanto com sua inquietação. Dinda se preocupa com vocês.

— Não se preocupe, Jú – pediu Malu de volta ao telefone. — Vai ficar tudo bem. Foram só umas cólicas. Logo ele estará em nossos braços, você vai ver.

— Espero. Bom, vou deixar você aproveitarem o último dia em Londres. Por favor, voltem logo. Amo muito vocês três. 

E nós amávamos a ela. Júlia já não era só a minha melhor amiga, mas também amiga da minha família. Madrinha do meu casamento e madrinha do nosso filho. Que dali alguns meses estaria em nossos braços. O anjo que ganhei dos céus.


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Notas finais do capítulo

Faltam só mais três etapas até o fim. Comentem! Não é pedir demais.



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