Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 15
O reencontro.


Notas iniciais do capítulo

Estive muito tumultuada com um seminário no qual apresentei hoje. Não conseguia pensar em mais nada. Estava tão atormentada, pensei que teria um ataque cardíaco aos dezessete anos de tão apavorada e ansiosa que eu estava. Mas enfim, por sorte já passou. Aqui está um novo capítulo para vocês. Espero que gostem, Boa leitura.



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Estava em meu quarto revendo a matéria da última aula. Para minha tranquilidade tudo parecia mais fácil quando a casa estava vazia, exatamente como hoje. Lucas foi ao cinema com Camila, Guilherme sumiu com as amigas da faculdade e Bruno estava no trabalho. Assim, só podia se ouvir o barulho que vinha da rua.

Ouvi um barulho na porta trancada e imaginei se seria o vento ou alguma garota que me procurava, como aquela noite com a Ana. Assim, coloquei minha camiseta e fui me certificar. Quando abri dei de cara com o inesperado, o inexplicável. Alguém que eu jamais imaginaria reencontrar depois de longos anos.

Ela estava bem a minha frente e eu fiquei imóvel. Será que eu estava sonhando acordado? Ou era só algo da minha cabeça? Por tantas noites eu me peguei imaginando aquele momento e agora estava bem na minha frente.

— Posso entrar? – ela perguntou interrompendo meus pensamentos.

— Entre – disse rápido, fechando a porta logo atrás dela. — Como você entrou aqui?

— A porta estava aberta – ela disse, virando-se para mim ainda sorrindo levemente. Ah Deus! Quanta perfeição!

Maria Luíza parecia ainda mais perfeita do que da última vez que a vira. Vestia uma calça justa ao corpo volumoso, um suéter de linho branco e uma sapatilha escura. Os cabelos soltos ainda mais longos e o rosto maquiado. Ainda mais jovial e ao mesmo tempo deixando transparecer o quanto ela havia amadurecido, pelo menos, aparentemente.

— Ah – disse travado. — Sente-se. Está tudo uma bagunça. Eu estava só revendo uma matéria.

— Olha – ela pegava algumas folhas nas mãos. — Quantos projetos! Tão magníficos! – ela sorria, admirada. Sem tirar os olhos dos meus desenhos. — Vejo que você realmente conseguiu atingir seus objetivos.

— Pois é – desviei o olhar. — Consegui.

— Fico feliz. - ela sorriu docemente.

— Então, o que você veio fazer aqui? – apressei-me sentindo um arrepio.

— Na verdade – ela disse lentamente olhando pra mim. — Eu precisava te ver, precisava conversar com você. Preciso tirar esse buraco no meu peito. Precisava mudar a situação. Pensei tanto em você nos últimos dias e todas às vezes chorei de saudade.

— Não me venha com essa, Maria – levantei-me angustiado, incrédulo. Mal podendo acreditar que ela estava ali de volta para me iludir, me enganar. — Esse buraco no seu peito, não chega nem a um décimo do que eu sofri por sua causa. Foi você mesma quem causou essa situação. Por que depois de tanto tempo vem tentar consertar a situação?

Por um instante foi como se ela realmente tivesse sentido o impacto de minhas palavras grosseiras e cruéis. Porém, verdadeiras e sinceras. Malu abaixou os olhos, suspirou baixinho e parecia pensar em algo.

Só que antes que ela voltasse a tentar converter essa situação, eu resolvi me adiantar para evitar mais problemas. Não tinha porque ela estar ali, o tempo se foi e eu acabei me acostumando com a sua ausência. E não tinha porque ela vir se desculpar logo agora.

— Vai embora, por favor – não queria ver seus olhos cheios de lágrimas, como os meus nesse momento. Se ela chorasse, eu teria piedade dela. A piedade que ela não teve de mim quando mandou que eu fosse embora de qualquer jeito de sua vida. — Não me faça sofrer ainda mais depois de tudo pelo que passei.

— Não vim aqui para te fazer sofrer – ela se alterou, elevando o tom. — Vim para conversar.

— Não há nada para conversar depois de tanto tempo – disse tranquilamente, virando-me para ela.

— Não é verdade, você sabe – ela se levantou.

Virei de costas mais uma vez. Não. Não podia encará-la. Eu mal conseguia olhar para ela. Era sempre tão linda, tão delicada, tão perfeita aos meus olhos. Eu tinha vontade de abraçá-la forte e dizer o quanto senti sua falta. Mas não seria certo. Não para mim que tanto sofri quando ela acabou com a nossa história.

Senti meu corpo se arrepiar quando uma de suas mãos tocou meu ombro. Afastei-me friamente. Esbarrei em uns papéis que caíram ao chão. Abaixei-me apressado com o coração na mão para recolher tudo.

— Deixe me ajudar – ela disse abaixando. Quando olhei para ela, já estava ao meu lado recolhendo os papéis.

— Não precisa – disse eu logo depois, sentindo um vento gelado entrar pelas janelas naquela tarde vazia.

Ela sorriu. Na verdade, ela sempre sorria quando via o meu orgulho falar mais alto ou quando percebia que eu não estava sendo sincero. Ela me conhecia como ninguém.

Juntos, recolhemos tudo. Eu agradeci com um sorriso bobo. Ela me entregou o que tinha nas mãos e nos levantamos depressa. E não tive como não reparar na aliança de compromisso quando as pontas de seus dedos tocaram os meus. Não era a nossa aliança, isso eu logo percebi. Mas isso significa uma coisa: ela estava namorando. Com quem?

— Vejo que está namorado – olhei friamente para o anel.

— É, eu estou. Há três anos – ela concluiu quase num sussurro. Virou-se de costas e voltou a se sentar sobre a minha cama. Esperava que ela pudesse dizer mais a respeito, sem que eu tivesse que perguntar. — Você o conhece bem: Fernando, meu primo.

— Que surpresa – disse em um tom de sarcasmo. — Exatamente como eu suspeitava.

— Não é bem assim, Daniel – ela suspirou outra vez. — Naquele tempo eu realmente não sentia absolutamente nada por ele, você sabe. Mas com o tempo ele foi me fazendo sentir especial. Eu me dei conta da burrada que tinha feito com o nosso relacionamento e de repente me apaixonei por outro.

— Ah, claro. E se apaixonou por outro. Tão fácil, não foi? Tão fácil quanto ter superado o nosso fim – soltei um riso incrédulo. - Você realmente me surpreende, Maria. Vamos, me diga! O que mais tem para me contar que eu já não suspeitava?

— Você não devia me tratar assim – ela me encarou de longe.

— Eu devia te tratar como então? Ah, já sei! Talvez eu devesse começar dizendo o quanto senti sua falta todos os dias de minha vida desde que pediu que eu sumisse da sua. Ou talvez eu devesse te beijar e dizer que esperei por isso há anos. Ou melhor, eu deveria te abraçar e não te soltar nunca mais com medo de te perder outra vez. E dizer que você é a garota mais linda que já vi na vida.

— Não...

— Por favor, Maria. Você já sabe de tudo isso, sempre soube. Sempre soube que fui e sou louco por você. Nunca entendi ao certo o porquê do término. E sim, você é a garota mais linda que já vi em toda a vida. E eu esperei por você, por dias, semanas, anos. Eu gostaria de poder te beijar, te abraçar e não soltar nunca mais. Mas não tem motivo para ser assim.

— Daniel – ela sussurrou levantando-se. Ela suspirava o tempo todo sabendo o quanto eu estava certo e o quanto ela foi errada aquele tempo. Sim, ela sabia. Eu nunca a culpei completamente, mas só chegamos ao fim porque ela decidiu assim. Tudo que eu queria era uma vida toda ao seu lado. — Me perdoe, por favor. Eu nunca quis...

— Vai embora, Maria! – eu afastei-me de novo. Quanto mais longe, menos perigoso. — Por favor.

— Daniel, eu também sofri. Ainda sofro. Não sei que tipo de merda eu tinha na cabeça naquele dia – ela falava ainda baixinho, vindo em minha direção. — Mas, por favor, vamos conversar como dois adultos. Eu fui infantil, mas eu mudei e posso te provar isso. Não vim aqui para te fazer sofrer ainda mais, eu só queria ajeitar as coisas da forma melhor forma possível.

— Por favor, hoje não dá. Quem sabe outro dia a gente conversa – ignorei-a e abri a porta para que ela pudesse finalmente ir embora e me deixar livre daquele tormento.

— Tudo bem, eu vou – ela saiu devagar, deixando-me para trás. Eu quis puxá-la de volta para perto de mim, mas me segurei. — Mas não vou desistir.

E, por fim, ela me abraçou. Abraçou-me tão forte e encaixou-se perfeitamente na magreza de meus braços. Como um quebra-cabeça. Éramos perfeitos por pro outro. Com ela pôde pensar o contrário?

Senti minha camiseta se molhar porque ela chorava. Fiquei completamente sem reação, sentindo meu coração se endurecer. No entanto, senti remorso e aquele antigo amor pulou no meu peito. Abracei-a forte. Envolvendo-a com meus braços, mostrando o quanto eu ainda me importava mesmo quando parecia que não.

— Tchau – ela suspirou. Limpou os olhos marejados e me deu um último sorriso. Como um tiro no meu coração. Ah, que saudade!

Fechei a porta do quarto e me joguei na cama. Chorei até o peito doer por conta dos soluços e me perguntei se ela chorava também. Perguntei-me se tinha mesmo sido uma boa ideia adiar aquele diálogo.

Por fim, adormeci. A melhor solução por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é o menorzinho até então. Não sei se correspondeu as expectativas de vocês, mas foi o melhor que pude escrever no momento.
Antes que eu esqueça, estou muito feliz que o numero de leitores aumentou, estive vendo hoje. E fico muito feliz, muito mesmo. Espero de todo meu coração que continuem acompanhando e não se esqueçam: é muito importante que vocês deixem um comentário para que eu possa saber a opinião de vocês.



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