Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 14
Parte III - Tudo que mudou.


Notas iniciais do capítulo

Como eu mesma disse no capítulo anterior: o tempo passou, algumas coisas mudaram, outras nem tanto. Obs.: a narração volta a ser do nosso protagonista, Daniel. Espero que gostem. Boa leitura.



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“Eu, do fundo do meu coração, tenho um orgulho absurdo de ser quem eu sou. Não vou dizer que é fácil, e que nunca deu vontade de desistir, mas vale muito mais a pena continuar." Tati Bernardi


Finalmente estou no último ano da faculdade. Ainda trabalho perto de casa, na construtora do pai de Maria Luíza. Senhor Mateus entendeu que acima de tudo eu sou um bom profissional e deixou de lado nossas questões pessoais.

Confiou tanto em mim que me passou para um cargo mais elevado na empresa. Hoje, já tenho minha própria sala na empresa e estou prestes a me tornar o profissional por quem desejei durante cinco anos. Estou orgulhoso de mim e sinto que minha família sente o mesmo.

Praticamente em todos os finais de semana ainda vou visitar mamãe e Pedrinho. Hoje, mamãe está casada novamente. Para sua sorte e para o meu alívio, o Marcos Fontenele é um dos melhores, um verdadeiro merecedor daquela grande mulher. Ele é um dos meus colegas na empresa e grande amigo do senhor Mateus.

Meu irmão, Pedro, hoje tem 12 anos. É estudioso e continua sendo o mesmo garoto adorável de antes. Cheio de piadas, risos e companheirismo. Um garoto de talento. Diz que quer ser como eu um dia, o que me deixa contente. Eu fiz muito por merecer e sei que ele fará o mesmo.

Ainda moro na república com os amigos da faculdade, mas minha estadia lá está com os dias contados, já que em breve desejo comprar meu próprio cantinho.

O Bruno, o colega que está se formando em Direito e é dono do imóvel, continua sendo o mesmo cara autoritário, sério e mandão. Guilherme ainda é o meu fiel amigo, também está prestes a se formar. Ainda é o bagunceiro da turma, vive na farra e desaparecesse por todo final de semana.

Tem também o Lucas, o descolado entre nós. O único que namora na turma. Também cursa Direito. Sua namorada é a Camila, uma jovem mais velha que nós. Está sempre presente, para nos ajudar nas faxinas e alimentação da casa.

Enfim, hoje tenho meu carro, meu trabalho garantido e os meus estudos firmes. Atualmente, estou estudando no período da noite e trabalhando de manhã.

Ainda sou magrelo e alto, mas meu corpo agora está mais forte por causa do esforço no trabalho. Os braços tatuados, os alargadores de 12 milímetros, os cabelos repicados, as roupas neutras, outro tênis velho e rasgado.

É, muita coisa mudou em meu comportamento desde o fim do meu namoro com Maria. Eu nunca mais resolvi me relacionar com outra pessoa, talvez por trauma ou até receio. Ah, mas teve a Marina. Tive um relacionamento sério, que durou um pouco mais de um mês. Depois ela viajou, sumiu. Foi melhor assim.

Conheci outras mulheres e tive alguns casos. Nada sério, coisa de apenas uma noite. Meu objetivo é pensar em minha carreira profissional e aproveitar o resto da vida. Quem sabe, posso encontrar uma pessoa que me dê amor verdadeiro.

De um cara caseiro, passei a sair bastante nas sextas-feiras à noite depois da faculdade e virar finais de semanas em barzinhos, baladas e festas. Nesse tempo, conheci muitas pessoas novas e fiz boas amizades.

Bom, confesso que pensava muito em Malu. Era como vê-la em todo lugar. Como uma miragem. Em músicas, filmes, pessoas desconhecidas nas ruas e até mesmo nos mínimos detalhes. Como uma perseguição.

Lembro-me de ter sofrido bastante, de chorar por noites, perder dias de aula, provas, trabalhos. Por um tempo, resolvi ficar longe de tudo e todos. Pensei em desistir de tudo que havia conquistado por nada parecer dar certo para mim. Parecia o fim dos tempos. Costumava me isolar pensando em minha vida trágica e infeliz.

Tudo era motivo de choradeira quando eu me encontrava sozinho e perdido. Fotos, músicas, telefonemas rejeitados. Pensei que fosse morrer de tanta falta que sentia daquela menina, mas sobrevivi. Hoje, estou bem e me sinto "curado".

Só depois de um bom tempo, percebi que havia muitas maneiras de melhorar aquela situação. Foi quando eu comecei a sair desesperadamente para todo tipo de lugar. Foi bom para mim, já que vivi novas experiências e pude aprender com a vida, mesmo que da maneira mais difícil e dolorosa.

Eu não sei o que ela faz, onde vive, com quem se relaciona e não me interesso em saber. Chega de sofrer. Mas confesso que me pego pensando se ela ainda deve ser a mesma. A mesma Malu que odeia o nome, que sente falta do amor dos pais, que chama a atenção de todos por onde quer que passe. Enfim, a garota por quem me apaixonei naquela viagem.

Ela mudou minha vida para melhor e para pior. Eu sofri e me desmoronei em lágrimas, em pensamentos pessimistas. Cheguei a desejá-la de novo mesmo que tivéssemos que continuar com o clima pesado, cheguei a pensar em roubar ela para mim para sermos felizes em outro lugar.

Com sua ausência, aprendi que para amar alguém, eu deveria me amar em primeiro lugar, valorizar quem gostasse de mim de verdade e, acima de tudo, cuidar de mim mesmo.

Ok. Eu nunca amei ninguém tanto quanto amei Malu. Eu era jovem, eu sei. Talvez fosse um tanto irresponsável e inconsequente, mas meus que sentimentos eram reais.

Quantas vezes eu olhei para a lua e desejei estar diante dela? Depois de tanto tempo, olhar no fundo dos seus olhos e dizer o quanto eu a amava? Eu só queria uma nova chance para nós. Mas simplesmente desisti. É triste dizer. Mas eu simplesmente desisti no momento em que ela pediu para que eu saísse da sua vida. Passei aquele período tentando ser o melhor para alguém, mas fui desvalorizado. Certamente, sei que ela ficou a me esperar como todas as vezes que brigávamos. Que eu corresse atrás e implorasse por um perdão, mas certamente ela se enganou. Estava disposto a mudar.

Fiz tanta coisa idiota por Maria. Metade delas, ela nem reconheceu, mesmo assim não me arrependo por tudo que fiz. Estava o tempo todo disposto a fazer por ela o que ninguém nunca fez por mim.

No fundo, eu esperava que ela tomasse a iniciativa e, em um dia qualquer, aparecesse em minha casa perguntando de mim. Mas isso não aconteceu.

Por isso, deixei de procurar, de me importar, não iria mais correr atrás e nem dar notícias. Troquei o número celular, pedi a mamãe que dissesse que eu não estava presente, pedi também que meus amigos mentissem a ela todas as poucas vezes que ela veio me procurar, dissessem que eu não estava ou que não queria vê-la nunca mais. E sei que ela acreditou, acreditou que eu já não a amava e nunca mais me procurou.

Por um lado, por muitas vezes tentei esquecer. E por outro lado, lá no fundo, eu sei que ela é a única capaz em todo o mundo em me fazer verdadeiramente feliz.

— Cabeçudo, o jantar está na mesa – avisou Camila entrando gentilmente no meu quarto para me dar o recado.

— Já estou indo – disse e me sentei procurando por meus chinelos.

Caminhei vagarosamente até onde todos jantavam. Era sexta-feira à noite e costumava sempre ter o que fazer depois da faculdade, mas aquele dia não. Estava tudo tão parado.

Depois do jantar me juntei com Lucas e Camila na sala de estar para ver um filme de comédia romântica. Para o meu azar, eles não paravam com as trocas de beijinhos pelo rosto, abraços apertados e risadas. Tudo o que costumava acontecer comigo quando eu ainda namorava e me fazia tão bem. Mas olhando assim de fora, era tudo tão enjoativo, tão constrangedor.

Era por isso que a companhia de Malu me fazia tão bem. Como deve fazer para Lucas quando Camila vem dormir em casa. Nós podíamos fazer coisas simples, como fazer cócegas um no outro, como fritar batatas e apenas conversar. Tendo ela como a melhor companhia, eu já sabia o quanto eu era um garoto de sorte. Ela foi a primeira garota que roubou meu coração da maneira mais simples possível, a única a quem não tentava uma aproximação forçada, cansativa. Então, não importava o que as pessoas pensavam a nosso respeito, bastávamos nós dois para tudo estar completo.

Eu sinto a sua falta – eu disse alto enquanto pensava. Camila e Lucas estranharam o que acabaram de ouvir e olharam para mim assustados.

— O que foi que você disse, Daniel? Eu não entendi – perguntou Camila surpresa.

— Não foi nada. Só estava pensando alto – levantei-me pronto para sair cheio de constrangimento. — Vou deixar vocês à vontade. Boa noite.

Tranquei-me no quarto novamente, disposto a continuar pensar em minha vida e todas as mudanças que haviam nela desde que eu era apenas um garoto.

Muita coisa de fato. Coisas que eu desejei para mim e outras nem se quer passaram pela minha cabeça. Mas quantas vezes eu fui avisado que a vida era uma caixinha de surpresas? Tudo poderia mudar em questão de segundos e ir por água abaixo.

No silêncio do quarto escuro, em meio a pensamentos tão altos, pude ouvir uma batida na porta. Por um instante pensei ter sido coisa da minha cabeça.

— Entre! - pedi.

E, inesperadamente, eu recebia uma visita não planejada. Uma jovem loira tingida entrava no meu quarto vestindo uma roupa justa no corpo deixando a mostra suas curvas.

— Ana? – Ana Caroline, a primeira garota a quem beijei no primeiro ano do colégio, a famosa Aninha, que surpreendentemente tornou-se Ana, uma mulher extremamente sensual e deslumbrante.

— Olá Daniel, vim lhe fazer uma visitinha, que tal? – ela permaneceu imóvel.

— Nossa! Que bom – disse tentando transparecer simpatia. — Entra. Sente-se.

— Obrigada – ela se acomodou sem tirar os olhos de mim. — O que faz de bom?

— Nada até você chegar, só pensava na vida, nada demais – confessei forçando um sorriso.

Depois do fim do meu namoro, algumas vezes encontrei Ana em algumas das festas que fui e todas às vezes ficamos juntos pelo resto da noite, sem qualquer tipo de compromisso, só para curtir.

Ela me surpreendeu todas às vezes com o seu encanto de mulher fatal. Apesar de sonhar em encontrar um príncipe para sua vida, ela nunca me cobrou compromisso. Acima de tudo, éramos sempre bons amigos. Ela entendia o meu sofrimento e eu o ela.

— Foi o que imaginei – ela soltou um riso e se aproximou me deixando ofegante. — Vim te fazer uma surpresa.

— Veio é? – ironizei com sarcasmo, entendendo realmente onde ela queria chegar. — Ah bom, eu não esperava. Mas certamente irei gostar do que você tem em mente.

Depois de alguns risos, ela começou a me beijar suavemente. Um beijo bom, doce. Mas nada de tão extraordinário. Começamos a nos atacar depois de alguns minutos.

Passei a mão por suas coxas, ela tirou minha camiseta e me olhava com um sorriso. Beijei sua boca como se estivesse faminto e, lentamente, deitei a em minha cama.

Acariciava seu corpo e ela mordiscava o meu entre risos sensuais, deixando-me alterado, quase que sem fôlego. Que mulher! Sentia o toque dos seus lábios quentes em minha pele e senti um imenso prazer em tê-la ali para mudar aquela noite tão solitária.

Depois de tantas brincadeiras, deitamos e rolamos diversas vezes. Até cairmos no sono tarde da noite. Quando acordei no outro dia, ela já não estava mais lá, mas havia um bilhete no criado o mudo que dizia:


Desculpe não ter esperado você acordar para me despedir, mas eu precisava sair mais cedo para ir ao trabalho. Obrigada pela noite de ontem. Você foi incrível, como todas as outras vezes.


Um beijo carinhoso de sua amiga, Ana Caroline.


Sorri ao ler, dobrei o bilhete e enfiei dentro da gaveta. Vesti as roupas espalhadas pelo chão do quarto escuro e levantei-me para me lavar. Estava faminto e sentia o corpo cansado por conta da noite. Aquela mulher me deixava exausto.

Após um demorado banho quente e uma troca de roupa, desci e encontrei a casa vazia. Porém, para a minha sorte, a mesa estava farta. Tinha pães frescos e café quente. Certamente, alguém aqui ainda se preocupava comigo, Camila. Tão querida.

Saciei a minha fome e me joguei no sofá da sala aproveitando a tranquilidade para assistir a um bom filme. Era começo de tarde quando me dei conta que era dia de ir para casa de mamãe, havia prometido a Pedro que iríamos sair só eu, ele e Ben no meu carro novo.

Ajeitei as coisas na mochila velha, enfiei no carro e sai. Enquanto tocava alguma música na rádio, eu me lembrava de quando tinha que tomar um trem e mais um ônibus para chegar até em casa depois de um longo dia cansativo. Com a compra de um carro tudo ficara mais prático.

— Querido, como é bom te ver. Você está sumido – mamãe me abraçou forte.

Não expliquei a ela o verdadeiro motivo de ter sumido nos últimos finais de semana. Ela se preocuparia em saber o quanto eu estava ingerindo bebida alcoólica em todas aquelas festas e bares depois da faculdade.

Subi com as minhas coisas até o meu antigo quarto e me deparei com ele do mesmo jeitinho. Não se preocupe meu filho, sempre que precisar venha nos ver, esse lugar será sempre o seu lugar.

— Você veio! – Pedro sorria ao me ver, também me abraçou e logo atrás eu via Ben justando-se a nós no quarto.

Ben, o nosso cachorrão, já estava com oito anos, mas ainda muito forte e saudável. Corria de um lado para o outro batendo seu grande rabo nos móveis de casa.

— Vamos passear hoje? Você prometeu! – Pedro me lembrou.

— Prometi! Mas só depois do almoço – disse mamãe interrompendo-nos para avisar do almoço já na mesa.

Almoçávamos juntos como uma família linda e feliz dessas de comercial de margarina. E éramos. Sem exageros. Agora tudo estava no lugar certo. Menos a minha vida sentimental que continuava a me incomodar.

De fato, era muito bom estar em casa.



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Notas finais do capítulo

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