Anjos De Redenção escrita por Arthur Almeida Souza


Capítulo 21
O confronto final, ordem, destruição e luz




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Miguel e Lúcifer estavam no topo do monte Tsafon, o cordeiro havia cumprido sua parte no apocalipse, tinha detido Tehom, agora cabia as duas partes mais distintas de Deus se entenderem. A ordem e o caos já pendiam na balança, a luz e as trevas já se reogarnizavam.

O resultado dessa batalha já parecia se apresentar. Miguel hesitava em enfrentar seu irmão mais velho, quanto á Lúcifer, esse crápula não se importava com atos de bravura como esses.

Lúcifer estava de costas para a escadaria enfrentando seu irmão, o olhar de ambos se chocavam no centro, nenhum deles se movia, suas brancas penas eram levemente balançadas pelo vento. Um empunhava a espada da perdição, Lúcifer apertava forte o cabo de sua espada, Miguel nem parecia se importar, empunhava Destruidora, mas não fazia questão de demonstrar que ela estava ali.

__Acho que você deixara as coisas mais fáceis pra mim Miguel... Mais fáceis e sem graça.

Lúcifer se moveu de forma rápida, ser ergueu no céu, como uma estrela se elevou ao mais alto dos céus, com a espada em mãos desferiu um gole procurando o pescoço de seu irmão. A densidade atmosférica mudou levemente, a atmosfera da terra tinha ampliado seu tamanho milhares de vezes agora com a presença total do primeiro céu, além do segundo e terceiro céu na mesma dimensão.

A espada se aproximava do seu alvo, Miguel, o príncipe da milícia celeste não se movia um centímetro que fosse, não existia medo em sua face, era calma e lúcida. Quanto á Lúcifer, bem era visível o prazer em seu olhar, ao se aproximar do alvo fechou os olhos como se não pudesse acreditar que finalmente tinha ocorrido.

Um estalo.

Lúcifer desceu e tocou o chão, abriu os olhos e se espantou ao não ver a cabeça do irmão rolando pelo chão, quando ergueu seus olhos não pode crer no que viu!

Um serafim de asas tão rubras quanto o sangue o tinha detido. Suas asas o cobriam completamente, as asas superiores cobriam-lhe a face, a medianas pendiam sobre seus ombros, e suas asas inferiores cobriam seus pés, mas algo interessante o diferenciava de outro qualquer serafim, a presença de dois corvos em seus ombros.

__Quem é você seu bastardo?!

__Não me reconhece antiga estrela da manhã? Você me deixou para morrer.

__Seja mais claro, deixo tantos para morrer.—Por um instante o antigo portador da luz pensou que aquele era o reminiscente do genocídio que ele mesmo tinha feito há muito tempo.

__Não se recorda mesmo? Deixemos sua memória mais fresca.

As asas superiores se abriram e se dobraram as costas do serafim.

Ele deixou sua face á mostra, um rosto jovem, pele branca, cabelos rubros como sangue, queixo fino e olhos cinzas como nenhum outro jamais foi em todo o mundo.

__Alex Allen...

__Alexiel Lúcifer, Alexiel. Olá mestre.

__Não me chame assim Alexiel, agora estamos no mesmo nível.—Pela primeira vez Miguel se pronunciava quanto a isso.

__Não quis crer que você não fosse se mover, isso já aconteceu uma vez, se recorda? Mas daquela vez você sabia que eu te protegeria, mas e agora?

__Não posso lutar contra ele, não tenho mais o mesmo poder de antes.

Alexiel pendia empunhando a espada com suas duas mãos, forço para cima tentando lançar seu adversário para longe, não conseguiu, talvez ele tivesse subestimado Lúcifer.

__Hugin, Munin, bem acho que esse é um adeus definitivo.

__Mas mestre...—Munin não queria acreditar.

__Já sabemos o que fazer meu senhor, será um prazer lhe servir pela última vez.—Hugin também se sentia triste, mas aquela era a sua missão.

__Assim que fizerem o que foi combinado estão livres, podem fazer o que quiserem.

__Mas senhor, fomos criados para servir.—E mais uma vez disseram uníssonos.

__Não mais, eu os liberto disso meus caros. Façam o que quiserem.

O silêncio durou por alguns rápidos intantes

__Como podemos lhe agradecer?—Hugin se emocionava pela primeira vez em anos.

__Apenas entreguem a mensagem á ela.

__Faremos mais que isso! Ajudaremos á ela, seremos seus olhos!—Munin dizia por ambos.

__Por mim tudo bem, mas lembre-se, sejam livres como o vento. Vocês não são oniscientes, por isso procurem sempre mais a sabedoria.

__Adeus.

Os dois corvos saíram voando em direção ao portão que levava ao segundo e primeiro céu, e consecutivamente a terra. Os dois pássaros rumavam até a escadaria, Lúcifer se preparava para intercepta-los, empurrou levemente Justiceira suprema, e com um mortal para trás foi capaz de estar frente a frente com os corvos.

Com um rugido cortou horizontalmente.

Alexiel por milésimos de segundo se moveu e salvou os corvos, após a evasiva de Lúcifer ele percebeu que seu alvo era Hugin e Munin, só não entendia o porque. Ele segurava a espada paralela ao corpo detendo o golpe vertical do seu adversário.

__Você é realmente rápido.—Lúcifer não podia acreditar que estava realmente adimitindo a habilidade de Alex, agora Alexiel, mas a estrela da manhã não deixaria isso barato.—Forte, rápido, portador de uma das três espadas mais poderosas existentes, será que você escolheu o lado certo garoto?

__Do que está falando?

__Olhe para você, não acha que merece mais... Digo, imagine vc, em um mundo em que possa viver em paz com aquela... Como ela se chama mesmo? É Roberta?

__Rayssa...

__Essa mesmo! Rayssa Calazans, acredite ela não te merece, você é bom demais pra ela, mas é o amor não é mesmo, é um tipo de mágica! Imagine você, próximo dela, próximo de seus pais, sem dor, sem sofrimento, sem escolhas...

Alexiel parecia não responder de forma nenhuma á isso, parecia estar pensativo, distante. Lúcifer de animava diante da serenidade no rosto do serafim.

__Mas isso é apenas um fútil detalhe! Imagine só, os anjos que são fieis á mim vivendo unidos, uma nova ordem.

Alexiel ainda não se pronunciava sobre a ideia, olhava fixamente para os olhos de Lúcifer.

__Esses humanos não são dignos de viver, se recorda de Amanda? Aquela que você salvou usando, desperdiçando, a sua breve onipotência, bem agora, nesse exato momento ela está pecando, está roubando.

Ainda silêncio.

__Por que? Por que está passando fome, ou seja, todos os pecados se resumem á carne, Alexiel se você me permitir matar meu irmão eu prometo que ao me tornar Deus as necessidades cessaram, ninguém mais morrerá.

De certa forma Lúcifer se enfurecia pela calma na face do serafim.

__Por que você não se pronuncia?! Você está fazendo piada de mim?! Se arrependerá caso seja isso, vamos se ajoelhe diante de mim, seja submisso e pouparei sua alma!

__Faça o que quiser com minha alma, apenas não toque no meu espírito.—Alexiel era calmo e lúcido, não se sentia intimidado pela presença.

__Como se um espírito humano valesse mais que uma alma angelical! Nem todos vocês juntos são iguais ao pequeno pedaço de uma alma angelical!

__Por que você precisa tanto dos humanos então? Se não somos nada por que você sempre nos leva para longe do senhor?

__Já disse para que você se ajoelhar diante de mim! Você pode até ser um dos favoritos de Deus, mas aqui, bem você é como nós, na verdade um pouco pior por ser imperfeito, ter apenas esse espírito de barro!

As asas superiores ocultaram seu rosto, Lúcifer imagiva que era um sinal de vergonha, Alexiel dobrou seus músculos permitindo que a espada da perdição avançasse um pouco mais contra sua armadura. O anjo parecia estar em uma profunda reflexão, se contraiu um pouco.

Lúcifer imaginava ter conseguido convencer o serafim até que Alexiel abriu todas as suas asas, retirou suas asas inferiores dos pés e demonstrou estar descalço, retirou a suas asas medianas e demostrou sua armadura, feita de prata, retirou as asas da face e demonstrou o rosto lúcido e iluminado. Lúcifer alçou voo, não podia ficar perto de tamanha luz, tão clara como o mais forte raio de sol, não! Ainda mais brilhante e luminoso que o próprio sol, se assemelhava a estrela mais poderosa de todo o universo!

__Quem, ou o que é você?

__Sou a ordem! Lúcifer você nunca irá me corromper. Você é a indiferença, o desprezo, o seu oposto é o amor, não a ordem.

__Você é muito audacioso para dizer tais palavras seu muleque! Quem te deu permissão para isso?!

__Todos, o cordeiro, a cura de Deus, o mensageiro divino, e claro o próprio Deus!

__Quanta audácia á sua! Vamos mostre-me o poder da ordem!

Alexiel diminuiu seu brilho, dobrou seu joelho como se fosse avançar, o chão da clareira tremia, ele empunhou Justiceira suprema com ambas as mãos e abriu todos os três pares de asas ao máximo que pode, elevou os calcanhares e voou. Era rápido como a luz, a única coisa que se conseguia ver era um rastro vermelho como um meteoro ascendente.

Mas esse meteoro foi detido pela estrela da manhã, quando se chocaram a vibração se ecoou por todo o terceiro céu, não apenas ele, mas sim todo o universo. Logo após o impacto faíscas começaram a cair, as espadas se chocavam instantaneamente, tão rápidas que fogiam aos olhares até mesmo de Miguel.

Se moviam de forma rápida aparecendo apenas vultos de seus membros, Justiceira suprema passou pela defesa de Lúcifer e cortou parte do tórax, um corte superficial horizontal que transpassou a armadura, logo em seguida Lúcifer utilizou da distração para cortar o rosto de Alexiel, que com um reflexo rápido pode evitar que sua cabeça rolasse pelo chão.

A lâmina da espada cortou levemente a maçã da face de Alexiel, quanto á ferida no tórax de Lúcifer, bem, essa já sangrava um pouco mais.

Em seguida houve um impacto, um grande estalo, as espadas se encontraram e se prendiam, de um lado, fria e escura a lâmina da espada da perdição, do outro a brilhante e enigmática Justiceira suprema. A pressão atmosférica aumentava ainda mais, nenhum deles cedia, era possível ver o calor nos olhos de ambos, um deles alimentado pela força de vontade, outro por ódio e indiferença.

Lúcifer se moveu para trás, era esguio e consegui fugir de Alexiel, o serafim perdeu o equilíbrio com o corpo impulsionado para frente, em um instante Lúcifer estava ali, á sua frente, no outro não. Alexiel sentiu um golpe em suas costas, um chute, com o peso do ódio, Alexiel rolou no ar e foi montanha abaixo batendo em construções antigas que circundavam as escadarias do monte Tsafon.

Boa parte das antigas pilastras foram levadas com o anjo de asas rubras. E no fim, Alexiel caiu ao chão, na base da escadaria, ele permanecia deitado até conseguir ficar de joelhos, ainda apoiado com as mãos no chão. Em outras palavras, em uma posição de subordinação.

__É que dizem serafim, se não é por amor, é pela dor. Eu até derrotaria meu irmão agora, mas eu não resisto a visão da dissipação de uma áurea angelical tão bela quanto a de um serafim, principalmente a sua.

Alexiel não dizia nada.

__Vamos lá, quero te mostrar o meu verdadeiro poder, o quão eu sou poderoso. Te humilharei com meu verdadeiro poder!

Alexiel estava sangrando pela boca, com a cabeça abaixada, o chão de mármore tinha se tingido de vermelho, mas ao fim das palavras de Lúcifer pode-se ouvir uma risada de escárnio. Alexiel soltava verdadeiras gargalhadas como se acabasse de ouvir uma piada, uma ótima piada.

__Pelo que você ri?!

__Como se você realmente fosse mais poderoso do que eu.

Lúcifer se espantava pela coragem do serafim, sua face demonstrava serenidade, não medo, não vergonha, muito menos fraqueza, isso não era habitualmente contemplado pelo antigo portador da luz, todos, com exceção de seus irmãos e Deus, tanto como o Pai divino quanto como cordeiro, os outros temiam ele.

__Vejamos se consigo retirar esse sorriso do seu rosto!

__Venha!

Alexiel se ergueu, olhou para o seu inimigo. Os olhares se transpassaram, pareciam ser rivais há anos, mas tinha se conhecido há um tempo relativamente pequeno.

__Eu não tenho medo de você.

__Farei você ter!

Lúcifer estava pela primeira vez realmente interessado pela luta, como aquele serafim podia ser tão interessante e instigante?

O antigo líder dos querubins desceu rasgando o céu, em instantes tinha atravessado todo o monte Tsafon, segurava a espada da perdição como uma agulha e rumava para furar e destroçar o ombro direito de Alexiel.

Ele aguardou. Não se moveu até que Lúcifer estivesse próximo o bastante.

No último instante possível Alexiel desviou evadindo o seu corpo e permitindo que Lúcifer passasse e fosse de encontro ao chão, o impacto gerou um grande barulho e o chão estava destroçado, as placas de mármore de desprenderam. Lúcifer pendia estirado ao chão, não conseguia se mover, como se uma força maior o manipulasse.

__O que você fez seu bastardo?!

__Como você deve saber sou um serafim, e tenho total controle sobre a gravidade, apenas precisava de uma posição confortável para você para poder lhe infringir de seus movimentos.

__Me tire daqui!

__Posso até tirar, mas antes preciso fazer algo.

__Agora! É uma ordem!

__Você não está em condições de ordenar.

Ali estava a antiga estrela da manhã, orgulhosa como sempre mas, caída e humilhada.

Alexiel pôs-se á andar e subir o divino monte Tsafon, passo por passo, degrau por degrau. Isso auxíliou seus pensamentos, o que ele diria para Miguel afinal de contas?

Quando chegou ao topo viu Miguel em frente ao portal do santuário, Destruidora estava tombada próximo á pedra onde Miguel meditava antes da chegada de Lúcifer, continuou em silêncio e se aproximou de seu antigo mestre. Nenhuma palavra precisava ser dita para demonstrar o espanto e o alívio no rosto do príncipe da milícia celeste.

__Eu não entendo, por que você não luta?

__Eu não posso, existem mais coisas nessa batalha do que o simples fim do mal.

__Como o que?

__A definição de arcanjo é, uma parte de Deus. Lúcifer nada mais é que uma parte distinta, totalmente expurgada de Deus, uma parte que não gosta dos homens.

__Ainda não entendo.

__Alexiel, eu não posso simplesmente matá-lo.

__Eu nunca disse matá-lo, mas sim detê-lo. Quantos mais teram qua sofrer? Quantos mais teram que se afastar de Deus? Quantos mais seram manipulados por esse monstro?

__Mas ele ainda é uma parte de Deus, se eu pudesse, acredite, eu já o teria derrotado.

__Mas você pode.

As palavras de compreensão feriram mais do que palavras de julgamento.

Então era isso? Miguel realmente estaria se enganando quanto ao irmão, ele também era um arcanjo, uma parte direta de Deus, seu irmão tinha saído da graça, agora ele deveria ser fraco, mas então, por que Miguel não o detinha? Essa era se sempre foi sua principal missão, será que ele envergonharia seu pai?

Diante de tais distrações nenhum deles percebeu a presença de outro ser.

Miguel e Alexiel olhavam olhos nos olhos, o antigo mestre e o novo serafim, bons amigos e agora batalhavam juntos. Alexiel sentiu um choque em seu corpo, em seguida uma dor inimaginável tomou conta de sua alma divina e de seu espírito humano.

Alexiel no primeiro instante cambaleou para trás. Em seguida olhou para o chão, viu que algo o atravessava, era uma lâmina fria e escura, não ressoava como uma espada angelical, parecia estar podre por dentro.

__Você me libertou de minha limitação. Pensei que nunca faria isso.

Lúcifer estava atrás do serafim, segurando sua espada e uma distância segura.

__Sim, tive que libertar não é mesmo Lúcifer. Outra pessoa tem que te derrotar.

Miguel não estava mais na frente de Alexiel.

__Quem?

Miguel desferiu um soco na face de seu irmão, se moveu de forma rápida, ele assistia tudo acima deles até que percebeu que deveria interferir. O punho do príncipe lançou a antiga estrela da manhã para fora da clareira novamente, caiu passando pelas pedras, boa parte de sua armadura foi sendo destruída e permanecia onde batia.

__Eu cuido dele.

Falando isso Miguel se dobrou em gesto de avanço, com as asas abertas saiu atrás da estrela da manhã confiante que Alexiel ficaria bem. Mas ele não ficaria.

Um dos joelhos de Alexiel tocou o chão, a dor o corroía, mas mesmo assim sentia que sua missão tinha se cumprido.

Outro choque passou pelo corpo do serafim, mas este era de certa forma diferente, distinto, era como se sua atenção fosse chamada para algo, para a espada. Ergueu suas mãos e tocou na lâmina, o aço era frio, escuro, estava trincado e velho, diferente de qualquer espada divina.

Mas mesmo fria, destruída e triste por fora, dentro da espada ainda existia algo distinto da dor e do pecado, algo que se assemelhava á luz, calma, verdadeira e amorosa.

__Eu entendo... A culpa não é sua...

A espada parecia responder ao toque do serafim, brilhar e retroceder ao seu estado santo, o brilho dela ainda era tímido mas voltava a ser puro. Alexiel retirou a lâmina do peito, o corte tinha se aproximado demais do coração, a armadura de prata agora estava suja de sangue.

A espada da perdição caiu ao chão suja de sangue, diziam que o sangue de um serafim era dourado, mas o de Alexiel não, era como seus cabelos, de um vermelho vivo, mas pálido, Alexiel pegou a lâmina do chão, Justiceira suprema estava embainhada, o serafim em alguns passos, lentos e dolorosos alcançou Destruidora, pegou a espada em outra mão. Imperius surgiu em suas costas, estava dobrada.

O serafim caminhou em silêncio até a escadaria, parou e observou em silêncio o campo dos querubins, repetindo algo que já tinha feito há muito tempo, se sentia livre, a dor ainda existia mas não era tanta, a hemorragia não parava, Alexiel fechou os olhos e abriu suas asas rumando o céu aberto e livre do monte Tsafon. No início ela difícil de se voar, mas como se uma força maior o auxiliasse.

Lúcifer foi mandado até o solo da clareira atravessando parte do santuário deixando exposto a caixa da criação. Uma cratera se criou diante do choque do impacto a poeira se ergueu e formou uma forte barreira no ar, Miguel se colocou acima dela e com um movimento de sãs conseguiu levar os destroços para longe, estava de braços cruzados e pernas juntas, alguns hematomas pelo corpo que não eram visíveis graças a armadura que em algumas partes tinha trincado.

__Vejamos se você me vence com minha lâmina.

Lúcifer tateava o chão em busca de sua espada, até que se ergueu e teve a visão que mais repudiou em toda a sua vida, Alexiel empunhava sua preciosa espada em uma forma que o antigo portador da luz repudiara, a lâmina estava bela e emanava luz como nunca. Miguel teve a mesma visão, e viu que Alexiel também levava sua espada, mas o que mais o espantava era a beleza de Luminosa.

__Luminosa... Como está bela.

Lúcifer se enfureceu e gritou ao seu irmão.

__Esse não é o nome dela! Ela é a lâmina da perdição!

Lúcifer em um súbito ato de desesperou alçou voo em direção ao serafim, mas foi logo imobilizado no ar pelo seu irmão.

__Assista isso Lúcifer, veja do que esse humano é capaz.—Miguel falava ao ouvido do irmão.

Quando alcançou a parte mais alta que conseguiu Alexiel deixou as duas espadas no ar, Luminosa e Destruidora, desembainhou Justiceira, aproximou as três. Elas voavam no ar verticalmente paralelas umas as outras.

__Eu, serafim Alexiel, do nono coro da primeira ordem angelical, reúno Deus aqui. Suas três contrapartes se tornaram apenas uma, a justiça, a destruição e a luz.

As três se uniram em uma explosão que cegou brevemente os arcanjos, era inacreditável tal fato, se nem mesmo a espada mais brilhante do universo, que viria a ser Luminosa, em seu estado puro foi capaz de tal ato, o que quer que seja isso merece louvor.

Após um leve instante de distração Miguel e Lúcifer tiveram, mesmo que visto de costas, uma das visões mais agraciadas de toda a sua existência, Alexiel tinha mudado, suas asas rubras tinham se tornado brancas, triplicado de tamanho, até certo ponto ainda tinham o aspecto de asas, mas em algum ponto se tornavam luz pura, algo belo e magistral. A armadura, não mais suja de sangue, brilhava e ressoava com uma luz prateada.

O serafim estava sentado no ar, com as pernas cruzadas, á sua frente flutuava uma espada, paralela ao horizonte, o cabo era grande o bastante para duas mãos, a guarda parecia ter uma proteção grande demais para qualquer modelo de espadas, mas ao centro a lâmina não era grande, tinha alguns furos ao seu longo formando uma linha, logo abaixo do cabo existia uma imagem, dois pares de asas formavam um “x” acima do cabo, Alexiel ainda não tinha tocado na espada.

__Que artefato é esse?!

Alexiel percebeu a presença de Lúcifer.

__Essa é a espada da criação, a espada empunhada por Deus quando derrotou Tehom e se tornou o senhor do universo, dominando as duas províncias, a da escuridão e a de luz.

__Por que você tem ela?! Eu é que a deveria empunhar, eu é que sou Heliel!

__Cale-se! Você perdeu qualquer direito sobre este nome.

Alexiel era frio, não se virava, Miguel o admirava perplexo. O serafim fechou seus olhos.

__Se você ouve minha voz quer dizer que esta sofrendo, que erra, que não é digno do amor de Deus, mas eu, Alexiel, Alex Allen, anjo da redenção ofereço a vocês a chance de estar com Deus. Não há distinção nesse novo mundo que será criado, qualquer um, anjo, demônio, deus pagão, qualquer um, se você se entregar a Deus estará á salvo no momento certo.

Ao fim das doces palavras o serafim se calou.

__Ele realmente está entregando a rendenção á todos, sem restrinção?!

__Sim está.

__Ele é louco.

__Não. Ele é abençoado.

Após alguns segundos de silêncio o serafim se ergueu e tocou na espada. Ao seu toque a lâmina soltou uma grande quantidade de energia que se moldou ao seu redor, no centro existia a lâmina e no seu exterior uma quantidade de energia prjetava uma “áurea” maciça.

__Bem, entendo que vocês se arrependeram. É chegado o momento da paz.

E cortando o ar com a espada Alexiel selou o futuro do universo, a onda se propagou por toda a existência da criação, e todos os tocados por ela, arrependidos, foram levados ao paraíso que se expandiu em milhões.

__Para vocês que não se arrependeram, não há castigo maior que viver longe do amor...

Lúcifer tinha perdido seu poder.

Estava agora desajeito, o ar de superioridade da estrela da manhã tinha se ido, suas loiras madeixas loiras estavam desorganizadas, a sua armadura, ao qual ele tanto de gabava estava destruída, nenhuma espada pendia em sua bainha, seus olhos estavam contemplando uma visão ameaçadora, agora todo o pecado do mundo tinha sido expurgado da existência, agora ele não tinha poder algum.

__Está acabado.

Alexiel dizendo isso soltou a espada da criação, suas aas diminuíram e se tingiram de vermelho novamente, ele caiu, sua velocidade aumentava a cada instante, a espada da criação tinha se divido em três, Destruidora, Luminosa e Justiceira, elas caiam junto do serafim como se o escoltassem. Novamente o sangue começou a jorrar do peito do serafim.

Miguel precisava salvá-lo e sabia que seu irmão não iria longe naquele estado, soltou Lúcifer e voo em direção ao seu antigo pupilo, abriu suas asas o máximo que pode, sabia que pegá-lo no ar não era uma opçõa, poderia feri-lo ainda mais. Então passou por ele e o pegou pela perna, abriu suas asas desesperadamente em tentativa de parar a queda, foi frustado em sua tentativa.

Pelo contrário, o serafim ganhava mais e mais velocidade, parecia que tudo realmente estava perdido, mas isso não era verdade, uma outra figura apareceu, com cabelos esvoaçantes cor de fogo, com suas asas brilhantes segurou Alexiel pelo braço, era Sieme.

Ambos, o serafim e o arcanjo, conseguiram deter a queda de Alexiel. Ao se aprximarem do chão o deitaram levemente até ambos caírem, as espadas e Imperius tombaram e ficaram no chão.

__O que fazemos agora príncipe?

__Eu tenho que pegar meu irmão, preciso que você o atinja e o imobilize com seu arco.

__Tudo bem.—Sieme já protegia seua face com suas asas novamente.

__Esperem... Ainda preciso fazer algo, Sieme, traga minha irmã até aqui, Alexia Allen.

__Mas por que?

__Creio que a guerra tenha acabado...

__Sim você está certo.

__Mas, eu quero falar com minha irmã, sinto que existe algo á se feito. E não posso partir sem ao menos falar com ela, preciso que você me faça esse favor.

__Claro, será um prazer.

Sieme e Miguel se ergueram, ao longe viram Lúcifer correndo, não voava, sua asa estava suja de sangue e lama, a armadura destruída, cabelos desorganizados e rosto sujo, parte de sua panturrilha estava á mostra, asa de prata mirou justamente nessa abertura na armadura, Sieme respirou fundo e atirou. Logo após pode se ouvir o grito de dor solto por Lúcifer, a serafim abriu suas asas e rumou ao portal do terceiro céu em busca da sua última missão.

Miguel abriu suas asas e rumou até o irmão que agonizava junto ao chão, gritando maldições ao céu e tentando se mover.

__Parece que chegamos ao fim não é?

__Fim?! Que fim?! Esse garoto apenas retardou o inevitável.

__Será mesmo? Eu diria que ele apenas trouxe o inevitável.

Miguel sobrevoava acima de Lúcifer.

__Agora você parece tão fraco.

__Não tenho mais poder, tudo o que sempre busquei agora desapareceu, o que acumulei, pelo que lutei, tudo não passa de areia por entre meus dedos, escapando.

__Talvez tudo não fosse uma passageira ilusão.

__Não era! O poder estava em minhas mãos, eu teria sido Deus!

__Não, você nunca teria sido Deus, você não pode nem mesmo utilizar essa nomenclaruta para o tirano que você se tornaria.

__Bem, vamos logo com isso Miguel, acabe comigo, mate-me! Espalhe minha áurea ao universo, será breve, não quero sofrer.

__Você não esta em posição de fazer exigências.

__Nem preciso, sei que será piedoso comigo.

Miguel tocou o chão levemente, caminhou até seu irmão, o ergueu pecando pelo colarinho da armadura, aproximou seu corpo dele, o abraçou, com uma dasmãos manteve o corpo próximo, com a outra desembainhou Destruidora. Lúcifer em seguida sentiu algo transpassar seu corpo, a lâmina era quente, diferente do que era Luminosa enquanto estava nas mãos da antiga estrela da manhã.

__Adeus meu irmão. Volte á Deus, e permaneça com ele.

__Adeus...

A áurea, o corpo, a alma, todos se dispersaram ao mesmo tempo rumando a criação, aos confins do Pai, agora o filho pródigo retornava á casa, retornava ao pai.

Miguel voltou para perto de seu amigo, apoiou a cabeça em seu colo, os olhos de Alexiel estavam fechados, sua armadura não brilhava mais, e do furo pouco sangue emanava, entre longas fechadas de pálpebras Alexiel procurava sua irmã em momentos de lucidez.

Houve alguns segundos de silêncio, até que Alexiel abriu os olhos.

__Vou morrer sem ver minha irmã?

__Não pense nisso

__Miguel? Você ainda está ai?

__Não posso sair daqui meu caro amigo, não sem um adeus.

__Miguel, entregue Justiceira á Gabriel e Luminosa á Rafael, eles é que devem empunhar essas espadas. Quanto á Imperius, bem gostaria de fazer um pedido, de aluno para mestre.

__Claro, qualquer coisa por você.

__Cuide de Alexia, entegue Imperius á ela.

__Eu cuidarei dela, entregarei a arma em seu nome.

__Não é uma arma, é um instrumento de paz.

__Você realmente foi digno de empunhá-la.

__Eu quero que ela se torne um anjo de redenção, uma boa pessoa, amável, guerreira e cheia de fé, quero que ela ainda seja ela amanhã. Uma humana.

__Ela terá o mesmo dom que você, oferecer redenção.

__Sim, o trabalho ainda não acabou, lá fora ainda existem pessoas, seres que precisam de redenção.

Alexiel sentia muita dor.

__Por que isso dói tanto?

__Sua alma divina quer se expandir pelo universo, quanto ao seu espírito quer ficar, a dúvida é, quem prevalecerá?

__Eu sempre me perguntei como seria minha morte, como um celeste ou como um mortal? Agora percebo que tal curiosidade não cabia á mim, me preocupei átoa no final das contas.

Após, o que pareceu para Alexiel 5 minutos, algumas horas Sieme emergiu pelo portal trazendo consigo alguém. Ela alcançou a clareira e próximo as escadarias deixou a garota que trazia nos braços, a pousou levemente e apontou para Alexiel.

A garota correu desesperadamente até ele, tinha cabelos e olhos negros, era linda, tinha um rosto magro, o cílios eram levementes maiores do que o normal, um rosto magro e uma pele um pouco castigada pelo sol. Ela se ajoelhou ao lado de Alexiel, ela não seria capaz se segurar o corpo do irmão então apenas admirava sua face, mesmo que castigada, linda, nos colos do príncipe celeste.

__Alexia...

__Alex, não se importe comigo, apenas descanse. Ainda temos muito tempo juntos.

__Não temos Alexia.

A garota ergueu seu olhar e confrontou Miguel.

__Temos não é?

__Não.

Alexia ainda procurou consolo na face de Sieme. A serafim não teve coragem de olhar em seus olhos. Alexia fitou o chão e voltou a se dirigir á Alexiel.

__Eu não posso deixar você ir...

__Mas, eu tenho que ir...—Alexia olhava o chão em prantos.—Olhe para mim, deixe eu ver estes olhos.

Alexia olhou pela primeira vez dentro dos olhos cinzas do serafim.

__Você tem os olhos de Eduardo.

__Do nosso pai... Que Deus o tenha.

A dor latejou e gritou mais uma vez.

Alexiel também rugiu com a dor, pressionou a ferida esperando conseguir mais tempo com a amada irmã.

__Eu procurei por tanto tempo quem era minha família. Procurei quem fui, e agora, quando acho estou fadado á morrer.

Alexiel olhou para as estrelas.

__O céu aqui é como o de Assis. Belíssimo.

Alexia não poderia dizer mais nada, a dor á consumia. Miguel estava vendo seu discípulo sofrer no seu colo, Sieme via um amigo morrer, todos com o mesmo sentimento de impotência pertubadora.

__Estão ouvindo isso?

__O que?—Alexia estava desesperada por qualquer sinal do irmão.

__O canto.

O silêncio era absoluto.

__Que canto?

Ela olhou para Miguel procurando uma resposta.

__O canto dos querubins, quando um deles morre eles cantam apenas para ele, dizem que o canto é tão agradável que ameniza a dor.

__Eles estão lá... Nas estrelas.

Alexiel ergueu suas mãos ao céu, buscava conforto, queria que as imagens confusas das estrelas viessem e o abrassacem, pedia pra que a dor acabasse, ela não acabava.

Cuspiu algumas rajadas de sangue, manchou seu queixo e a couraça da armadura, se recontorceu por uma ultima vez e sorriu ao fim disso. Faria tudo de novo sem exitar, isso era o que ele era, um anjo.


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