Anjos De Redenção escrita por Arthur Almeida Souza


Capítulo 18
Anjos da Redenção




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/359862/chapter/18

            Zael já se encontrava no segundo céu, se espantava pela forma com que o lugar tinha se expandido, com os novos ares, novos horizontes, mas agora vazios sem alegria, tudo graças a revelação.

            Sua mente experimentava a ligação divina que a muito tinha perdido, o prazer por simplesmente existir, sua chaga já estava curada há tempos e sua alma purificada e renovada como prata que passa pelo fogo para sua purificação.

            Antes o demônio Zael, o de asas negras, um dos mais poderosos lacaios dos grandes no inferno, agora Zael, um dos anjos da redenção, não, ele não tinha o mesmo dom redentor de Alexiel, mas sentia que podia se entitular assim, da mesma forma que Alex veio do mundo do pecado para o reino da graça Zael se converteu mais uma vez ao senhor de amor.

            Sentia orgulho, não um orgulho humano, arrogante, mas um orgulho agradável aos olhos de Deus.

            Pensava apenas no que aconteceria agora, como seria afinal de contas sua vida, agora ele era um anjo? Ou não pasava de apenas uma entitulação?

            Viu ao longe uma tenda de dimensões gigantescas, se assemelhava em alguns pontos a contruções gregas, em outros trazia traços astecas, era feita de pedra polida e recoberta por um pano, tinha uma abertura que por dentro trazia um local rico e imobiliado com peças de ouro e prata, no centro uma mesa de mármore coberta por mapas e gráficos, aos lados degraus que levavam a aposentos, não que humanos ou anjos precisassem dormir, mas era interessante para manter a organização do lugar. Logo acima deles estava o espaço, o longíquo e profundo espaço.

            Apoiado a essa mesa estava Rafael, acompanhado de dois anjos de cura, ele consultava um gráfico observando as últimas quedas  do batalhão celeste, tentava achar um padrão e contra-atacar a estratégia dos condes com isso. Mas não conseguia encontrar nada significativo além de desordem e altos indíces de mortes no batalhão de anjos de cura, cada anjo tinha um valor, não poderia ser deixado a morte, quanto maior o número de anjos salvos melhor seria, o problema é que  o arcanjo das águas não achava que esse seria o maior foco de ataque dos demônios.

            “Talvez fosse apenas uma coincidência”, pensava ele. Era um equívoco pensar daquela forma.

            Uma forte ventania empurrou as portas da tenda, levaram o pano que a cobria, na porta alguém se pôs, asas abertas, uma chaga em seu abdômen, asas de cor verde. Estava com uma armadura levemente aberta, trazia consigo uma espada longa, sutilmente suja de sangue, sangue dourado.

            Reza a lenda que quando um anjo é morto por um demônio, qualquer que seja o anjo ou o demônio, a lâmina pertecente ao dêmonio se mancha de dourado como um sinal de honra divina. Quando ocorre ao contrário a lâmina se suja de prateado em honra aquele que seguiu as ordens divinas.

            __Quem está ai?—Rafael parou de olhar para os seus papéis e olhou a silhueta que estava contra a luz.

            __O demônio de asas verdes, detentor da espada Morte insana.

            __Astaroth...

            __Sim.

            Os dois anjos da cura que acompanhavam Rafael logo se armarão contra o demônio.

            Um vento varreu alguns papéis ao chão, não foi causado por nenhum dos presentes ali, uma sombra os sobrevoou entrando pela porta oposta a onde Astaroth se encontrava parado. Tudo ocorreu em questão de segundos, esse convidado inesperado pousou em frente a mesa armado com uma espada mediana, leve, com um tom escuro. Na sua guarda tinha detalhes que lembrava raios de luz provindo de uma explosão no centro da espada, isso tornava a espada inconfundível, era Estrela negra.

            __Quem é você?

            Rafael só podia ver as asas negras e uma armadura já velha e amassada em algumas partes.

            __Anjo da redenção Zael.

            A mente de Rafael em questões de milesimos de segundo entendeu a situação, como se um vento soprasse em sua mente o que realmente estava ocorrendo.

            __Sim, o demônio que Alexiel salvou. Zael não é?

            __Sim. Rafael afaste-se dele, eu cuidarei disso.

            __Zael eu creio ser poderoso o bastante pra cuidar dele, sou um serafim no fim das contas.

            __Eu creio que você possa derrotá-lo, sem ao menos se esforçar realmente, mas não desejo que você suje suas mãos com este ser. E além do mais existe algo que precisa ser debatido entre você e os outros arcanjos.

            __Do que está falando Zael?

            __A estratégia dos demônios é quebrar a formação atual, matando os anjos da cura.

            __Não pode ser, eles não podem ser tão engenhosos.

            __Eles não, mas a estrela da manhã sim.

            __Eu os subestimei. Obrigado por sua preciosa informação, agora se me permite derrotarei esse dêmonio e irei de encontro aos meus irmãos.

            __Você não pode, ele tem algo tramado, eu cuidarei dele, enquanto isso você será escoltado por esses anjos de alto nível até o primeiro céu. Creio eu já ter demônios infiltrados aqui.

            __Já? Pensei que demoraria mais. Mas você pode estar certo, se Alexiel confia em você, só me resta confiar também.

            __Obrigado arcanjo.

            __Vamos anjos, ele tem algo a fazer.

            O arcanjo das águas acompanhado por seus dois anjos saiu pela porta oposta a Astaroth a mesma que Zael tinha entrado.

            O conde ao perceber que tinha perdido sua presa saiu da formação de ataque e permitiu que a ponta da sua espada tocasse o chão.

            __É realmente sério?...

            __Antes de qualquer coisa.—Zael o interrompeu.—Preciso saber de algo, quem você matou antes de vir pra cá?

            __Liel, o mesmo que te expulsou do céu e lhe lançou aos demônios.

            __Liel?!—Zael realmente não deseja mal algum ao general angelical, principalmente agora que era um anjo novamente, aquilo o enfurecia, como um anjo, decretado por Deus poderia morrer?

            __Sim, já respondi sua pergunta, agora sacie a minha. Por que? Por que lutar ao lado deles de novo?

            __Por que alguém me ensinou que sempre há tempo para redenção, não importa quem você seja ou o que tenha feito.

            Astaroth riu de escárnio, não podia acreditar no que Zael dizia, um dos melhores demônios de tentação que já tinha estado entre as hordas de demônios, agora parecia um cãozinho de Deus. Quando percebeu o tom sério no rosto do adversário se recompôs.

            __Você fala sério? É realmente possível um dêmonio voltar a se tornar um anjo?

            __Sim, você precisa ter apenas o primeiro passo.

            __Eu não posso crer nisso, ele não me receberia.

            __Receberia sim.

            Astaroth olhou para o chão, encarou sua lâmina.

            __Ele não cuida dos dele...

            __Parece que não, mas ele cuida.

            __Não cuida!—A expressão de Astaroth mudou bruscamente, agora era perceptível o ódio em seu olhar.

            __Eu sei como se sente...

            __Não sabe! Você não sabe, não precisa fingir saber, isso me deixa com mais ódio ainda.

            __Astaroth...—Zael sabia da dor que ele sentia, ele sentia algo semelhante, e agora estava bem ali, do outro lado do tabuleiro.—Eu sei como você se sente, sei mesmo, mas farei o que for sua escolha.

            __Minha escolha?! Você acatará minha escolha?! Mesmo que não acatasse ambos sabemos que você não é forte o bastante contra mim.

            __Podemos batalhar se você quiser, ou podemos conversar.

            __Você quer conversar não é? Então vamos conversar Zael, se lembra da sua protegida? Se recorda dela.

            __Não.

            __Então eu farei que você se recorde, ela era linda, uma verdadeira seguidora de Deus.

            __Você não tem o direito de menciona-la ou de utilizar sua memória.

            __Ficou com raiva foi?

            __Eu não tenho culpa pela morte dela, talvez tenha sido o melhor a acontecer.

            __O que você está falando Zael? Eu não disse nada sobre sua morte, e você deseja me convencer ou convencer a você mesmo?

            __Eu não sei...

            __Não adianta mesmo, uma vez perdedor, sempre perdedor. Uma vez demônio, sempre demônio.

            __Não... Eu não sou como você.

            __Não é? Olhe pra você mesmo, esta estático, paralisado, não pode fazer nada contra mim, toda a fé depositada em você pelo tal anjo e pelo arcanjo das águas não lhe mudaram em nada. Continua sendo um qualquer.

            __O que você acha não me importa.

            Astaroth já estava se irritando diante daquilo tudo, mesmo diante de todas as provocações Zael parecia estar calmo e ciente do que estava fazendo. Astaroth abriu suas asas verdes, dobrou o joelho e com um impulso percorreu até o centro da sala em segundos, os papéis a sua volta voavam todos ao chão.

            Seus pés não tocavam o chão, se aproximava de Zael em uma velocidade muito grande, em um instante ele estava ali, ao seu lado.

            Algo impediu sua passagem, Estrela negra veio de encontro a sua garganta. Por poucos centímetros a lâmina negra não decepou o demônio que agora parava com difculdade para não ter sua cabeça  cortada.

            Zael tinha impedido que Astaroth saísse em fuga atrás de Rafael.

            __Você não passará por mim.

            Com os pés de volta ao chão Astaroth balbuciava maldicões.

            __Vamos ver?

            __Senhor meu Deus, vos peço perdão pelo que farei, pelas dores que causarei, pelo amado que ferirei, mas é tudo pela ordem e equilíbrio.

            __Que lindinho.—Astaroth utilizou de Morte insana para retirar Estrela do pescoço.—Essas serão as suas últimas palavras.

            As espadas raspavam uma á outra, nenhum cedia. Astaroth gritou e girou sua espada erguendo-a contra o ar, e provocando a movimentação de uma massa de ar que jogou Zael para trás.

            O anjo redentor saltou para trás, cobriu o toráx com suas asas negras já que o corte tinha movido alguns destroços ao ar, existia um ângulo que permitia que Zael se desse conta da situação. Astaroth se moveu de forma rápida e se locomoveu até estar frente a frente de Zael e lhe olhar nos olhos.

            Com um soco jogou Zael para fora da tenda, ele foi lançado contra a porta que se quebrou com o impacto, o anjo abriu suas asas, percebeu o rival ao longe e olhou para o horizonte, viu três figuras que á essa distância se assemelhavam a passáros, estavam longe, tão altos... Inalcançaveis, o que deixava Zael feliz.

            Ele rolou pelo chão até conseguir se erguer e recompor, Estrela negra ainda estava em sua cintura, sua asa direita tinha uma leve lesão devido ao golpe de Astaroth.

            __Você me fez perdê-los! Isso é algo imperdoável!

            Astaroth gritava feito um louco.

            __Você será mais um prêmio para mim! Mais uma cabeça para minha sala!

            Ele tinha perdido o controle. Se moveu e aproximou de Zael, estava mais rápido, não houve tempo de reação, desferiu um golpe com o joelho no toráx de Zael que foi lançado contra uma parede de pedra ralativamente próxima a tenda.

            Zael agora temia Astaroth e o fim que lhe esperava, era isso? Ele perderia e morreria pra um dêmonio qualquer?

            Uma luz tentou se acender em sua alma, como se na escuridão de sua mente uma vela fosse acesa, ele não entendia o que aquilo representava, estava com muito medo para enteder.

            Astaroth se aproximava lentamente do dito “anjo da redenção”, Zael não conseguia se mover, parte pelo impacto parte  pelo medo. Ele se sentia envergonhado, como um guerreiro consagrado á Deus poderia perder essa batalha.

            __Eu vou te dar uma morte rápida mas dolorosa em respeito ao demônio que você já foi um dia.

            Astaroth se aproximou, ergueu Morte insana, olhou dentro dos negros olhos de Zael, a luta era concerteza injusta. Enquanto Astaroth utilizava de uma armadura Zael vestia apenas velhos trapos, presente de seu antigo “dono” Mefistoféles.

            A chaga de Astaroth agora pulsava, era possível ver o ódio em seus olhos, mas acima de tudo tinha dor nele também, além de medo.

            __Astaroth, você tem medo?

            __Medo?! Medo de que?! Não me faça rir Zael.

            __Medo de estar errado.

            O ódio dentro dos olhos de Astaroth parou e se acalmou.

            __Por que Zael? Por que você fez isso com você mesmo?

            __Porque era o melhor pra mim.

            __Então no final das contas você fez isso apenas por você.

            Talvez tivesse sido isso mesmo, talvez Zael realmente so esperava algo apenas pessoal, uma salvação em meio a esse pesadelo que tinha se tornado sua vida. Mas algo mudou em sua mente, antes realmente achava que tinha feito aquilo apenas por si mesmo, mas se recordou de Rayssa, de todo o sacrifício que tinha feito até ali, se recordou da sua volta ao inferno, do que tinha ouvido, ao que tinha passado.

            __Não...

            Os olhos de Astaroth voltaram a enfrentar o anjo.

            __Eu não fiz isso por mim apenas...

            Ele abraçava o cabo de Morte insana de forma desesperada a procura de algo que o acalmasse, não podia acreditar no que Zael dizia.

            __Eu fiz por alguém...—A mente de Zael foi invadida por duas imagens, uma era de sua antiga protegida outra de Rayssa, “então é assim que ela era.” Zael se recordava do rosto que há muito tempo tinha perdido em sua eternidade.—Fiz por todos. Essa é a função de um anjo da guarda.

            Com o punho fechado Astaroth desferiu um golpe e fez com que Zael voasse para trás quebrando o muro de pedra em que antes estava preso.

            Após alguns giros na grama ele se ergueu e foi novamente surpreendido por Astaroth que dessa vez o ergueu acima do chão segurando sua garganta.

            __Cale a boca!—Astaroth gritava furiosamente, não conseguia se conter.

            Asfixiava Zael, ele o lançou ao chão e pressinou sua julgular contra a grama. Ainda gritava pedindo o silêncio de Zael mesmo ele estando calado.

            Desferia golpes com o outro punho no tórax de Zael, quando parou pisou em uma das asas de Zael que estava aberta na grama, Zael soltou um grito de dor.

            Astaroth o pegou novamente e se ergueu no ar. Subiu o mais alto que pode carregando Zael pela garganta, ao alcançar um ponto alto o bastante ele olhou nos olhos de Zael, não poderia conviver com isso, com as palavras de Zaek, teria que matar aquilo, não Zael, mas algo dentro dele que não era aceitável.

            O lançou ao ar, ergueu Morte insana e atravessou o ombro esquerdo o anjo, que agora deixava sangue escapar por entre seus lábios devido á hemorragia interna. E como se não pasasse de um animal Astaroth lançou Zael ao chão.

            Enquanto caia o anjo se perguntava, “por que não posso vencer?”.

            Caiu, ferido, mas ainda tinha algo dentro dele que queria viver, que queria derrotar a Astaroth, que queria trazer a paz de volta ao seu ser e ao conde infernal que agora queria o matar, e se aproximava desse objetivo.

            Astaroth desceu de forma lenta ao chão, se aproximou e flutuou sobre o corpo já a ponto da morte de Zael.

            __E assim você vai morrer, agora minha espada terá o sangue de dois anjos, um deles um general angelicar, outro um “anjo da redenção”. Imagine que clichê seria se você se erguesse e me derrota-se, até se pareceria com uma história humana em que o bem sempre vence o mal, mas eu e você sabemos que não é assim não é?

            A ponta de Morte insana de aproximou da garganta de Zael.

            Astaroth queria muito a cabeça daquela anjo então decidiu mudar sua posição, antes acima do anjo agora estava em seu lado, paralelo á ele.

                __Até mais “anjo da redenção”.

            __Por que não posso vencer? Me erguer e derrotar ele?

            __Você pode, sempre pôde.

            __Deus?

            __Quem mais estaria com você em um momento como esse? Até parece que você se esqueceu como eu sou Zael.

            __Senhor... Eu não sei o que fazer, ele é poderoso demais para mim.

            __E o que você quer que eu faça? Seja sincero.

            __Eu quero seu auxílio.

            __Quer mesmo? Ou será que você deseja que eu tome suas dores, e que traga um mundo perfeito á você.

            __Sabemos que isso não existe, nada é perfeito além de você, se é que algo é perfeito ou não.

            __Sim, verdade... Nada é perfeito, estamos diante de uma pura expressão humana, eles erram e por isso dizem que são imperfeitos, mas eu não sou perfeito, estou além disso.

            __Sim, senhor Astaroth já deve ter me matado.

            __Não se preocupe com isso, ele ainda não fez isso. Não ligue para o tempo, não aqui.

            __”Aqui”? onde estamos?

            __Dentro de você.

            Agora Zael percebia, ele via apenas uma longa escuridão, e na frente ao centro uma tocha. Não era Deus, ele estava em toda a sua volta, a luz era algo diferente, mais agradável.

            Não que Deus já não fosse agradável o bastante, mas a luz trazia algo que Zael tinha perdido a muito tempo.

            __O que é isso?

            __Por que você não me responde Zael? É alguém que você conhece bem.

            __Quem?

            O fogo de tom azulado mudou levemente, vibrou, se transfigurou tomando formas em meio ao vazio escuro da mente de Zael. A chama crescia, se expandia levemente, tomava uma forma humana, seus cabelos cresciam, tomavam volume, ela vestia uma túnica leve que lhe cobria todo o cropo.

            Tinha cabelos negros e olhos castanhos, a chama foi variando sua cor o que deixou perceptível a pele negra da mulher, a túnica alva como a neve recém-caída.

            __Ana... É você Ana?

            __Claro que sim Zael.

            __Ana.

            __Por que você está aqui me protetor?

            __Bem após sua morte eu...

            __Me referia ao motivo por você está aqui, não lá fora enfrentando Astaroth. O que houve com o forte anjo que me protegia?

            __Ele é poderoso demais pra mim.

            __Isso nunca o preocupou antes. Me recordo das vezes em que fui agraciada ao vê-lo em batalha contra os demônios que me cercavam e desejavam minha queda.

            __Mas os tempos mudam...

            __Não mudam, são as pessoas que mudam, os anjos que mudam, os demônios que mudam. Se fosse dito ontem mesmo que um demônio como Zael, o grande tentador hoje é um anjo da redenção ninguém acreditaria, não são os tempos que mudam, mas sim as atitudes.

            __Onde você estava todo esse tempo para saber tanto do que se passa hoje a minha volta?

            __Eu estava aqui o tempo todo só você não viu.

            __Ela estava bem aqui Zael, no seu interior.

            __Mas por que somente agora você se manifesta?!—Zael tinha se enfurecido com tal fato.—Como você pôde ter ficado tanto tempo sem me falar nada?

            Zael estava triste, segurava as lágrimas em seu rosto, quando ameaçou cair foi amparado por Ana. Ela o segurou e o manteve de pé, mesmo sendo levemente menor e fraca conseguia tal fato, a física na mente é algo realmente enigmático.

            Seus olhos estavam transbordando de lágrimas, um sentimento há muito perdido transbordava por seus olhos.

            __Imagine como eu me sentia querido anjo. Imagine como era estar reclusa ao mundo vendo pelos seus olhos o mesmo, vendo os seus erros, e pela primeira vez em anos seus acertos.

            __Tu estas me julgando?

            __Não! Estou apenas te mostrando minha realidade, o que era de mim.

            __Mas eu ainda não entendo, Deus! Ela não deveria estar no paraíso ou em qualquer outro lugar? O que ela faz aqui?

            __Ela te ama tanto que eu permiti que uma parte da consciência dela estivesse sempre com você.

            __Não! Isso é injusto!—Zael se exaltou.—Como você permitiu que parte dela não fosse ao paraíso?! Se existia alguém que merecia ir ao céu esse alguém é ela.

            __Eu sei disso Zael.

            __O que você quer que eu faça minha pequenina?

            __Eu? Bem, queria que você servisse á Deus, você já o esta fazendo. Isso já me deixa feliz.

            __Apenas isso?

            __Apenas isso.

            Eles se mantiveram abraçados por um bom tempo, era como o amor de pai para com filha, ele não queria ir embora, não queria perder o que acabou de achar.

            __Eu poderia os manter aqui para toda a eternidade, mas não é o certo a se fazer. Zael, creio que você saiba o que deve fazer não é?

            __Sim, eu sei o que deve ser feito.

            __Do que vocês estão falando?

            __Nada minha pequenina. Promete não ir?

            __Eu prometo nunca ir, se você não me esquecer, nunca me esquecer.

            Os olhos de ambos se encontraram.

            __Zael, eu lhe darei meu poder. Derrotarás Astaroth sem dificuldades.

            __Mas e depois?

            __O depois? Bem ele não cabe a mim, cabe a você. O que vai ser o seu depois?

            __Onde estará Ana após isso?

            __Onde ela sempre esteve por todos esses anos.

            __Entendo... Mas ainda estou com medo de enfrentar Astaroth, ele me parece tão poderoso.

            __Ainda não entendeu que você luta com a minha benção? Não importa o inimigo você o vencerá, se acrefitar em você, e acima de tudo em mim.

            __As suas palavras são tão doces, mas ao mesmo tempo tão duras, não poderia crer que Deus ainda falaria comigo dessa forma.

            __Eu sempre soube o que iria acontecer e sei o que vai acontecer, apenas tenho uma coisa á lhe dizer. Estou orgulhoso.

            Zael afastou a face de Ana do seu peito.

            __Tenho que ir.

            __Você não vai, sempre estará aqui.

                __Zael antes que você vá tenho algo a lhe mostrar.

            A ponta de Morte insana de aproximou da garganta de Zael.

            __Até mais “anjo da redenção”.

            Astaroth ergueu Morte insana ao céu, a esapda ficou com o sol. Ela foi como uma guilhotina em direção á julgular de Zael.

            Morte insana foi interrompida. Zael a segurou com sua mão.

            Em situações normais Morte insana teria cortado a palma de Zael ao meio, mas agora ele tinha algo de diferente, um semblante diferente. Astaroth forçava sua espada tentando cortar os dedos de Zael.

            Mas ele ainda resistiva, não cedia, tinha uma força maior do que a de antes, sua mão começava a sangrar, os tendões ficavam á mostra, a carne pulsava, sangrava. Zael dobrou o cotovelo e jogou a espada para trás.

            Astaroth deu um passo em falso, Zael se ergue no ar, uma de suas asas estava ferida, mas isso não foi um impedimento, Astaroth se recompôs, olhou para o céu e contra o sol estava Zael. Ele agora formava uma silhueta com asas, em uma das mãos segurava Estrela negra.

            Da espada saltou algo, como se dela fibras se esticassem e se pusessem afrente do corpo de Zael. E da silhueta de Zael brotaram dobraduras, como se algo protegesse seu corpo, uma armadura, pesada, densa, com grandes ombreiras e uma grande chapa modelada que protegia seu tórax, duas grevas acompanhada com dois antebraços, uma luva de malha, estava descalço e com um elmo que recordava muito aos gregos, ele permitia apenas a vislumbração dos olhos do dono dele, os olhos negros de Zael.

            A armadura era totalmente negra, de uma tipo de material especial que parecia emanar uma vibração mais densa e escura que o resto do paraíso, era como algo novo, como se os raios de sol batessem na couraça e saíssem em vibrações mais escuras que de costume.

            Sua mão parou de sangrar, ele abriu suas asas o máximo que pôde e a fratura se foi.

            Astaroth obsevava a cena ainda sem compreender nada, o que realmente estava ocorrendo com Zael? O anjo desceu lentamente, fazendo com que a sua sombra diminuísse gradativamente, quando se aproximou de Astaroth, ainda sem tocar no chão ele desferiu um chute sobre o rosto de Astaroth.

            O demônio foi impulsionado pelo golpe, atirado contra a tenda, atravessou ela destruindo duas paredes, a força do golpe só foi detida por uma das montanhas do segundo céu. Astaroth não tinha recobrado os sentidos ainda quando Zael já estava á sua frente com Estrela negra embainhada.

            Zael estava imponente, sua mão não tinha ferimento algum ou sequer cicatriz, sua asa brilhava á luz do sol, perfeita sem nenhuma ferida, seu olhar não transpassava medo ou raiva, apenas paz o que deixava Astaroth ainda mais furioso quando recobrou sua consciência.

            __O que houve com você?

            __Eu tive uma pequena noção do que sou agora, do que represento, do que é ser um guerreiro de Deus... Um anjo da redenção.

            __Você não pode ser mais forte que eu, não pode!

            __Sozinho não sou, mas com duas pessoas—Zael levou a mão ao peito.—eu posso mais.

            __Duas pessoas?! Não me venha com asneiras Zael! quem são essas pessoas afinal de contas?!

            __Ana... E Deus.

            Uma risada de escárnio tomou a face de Astaroth, por segundos ele riu com desdenha, chegando a ficar sem ar.

            __Ana? Aquela pequena bastarda? E Deus? Aquele que você abandonou?—Astaroth encarou os olhos de Zael.—Você está sozinho á muito, eles não zelam por você, ninguém zela.

            Zael levou a mão ao cabo da Estrela negra, deu as costas ao oponente e após alguns passos se virou novamente e o encarou, desembainhou sua lâmina negra, agora estava mais bela do que antes. Ele a empunhou, a fez tocar o chão e com um movimento diagonal, indo da esquerda para a direta de baixo para cima moveu uma massa de ar que em seus primeiros metros tomaram uma coloração mais escura.

            Ela cortou a montanha em duas partes, a princípio nada ocorreu até que pedras começaram a cair e parte da montanha se desfez. Astaroth se ergueu e fugiu dando um razante com suas asas, se manteve no ar por milésimos de segundo quando foi surpreendido por Zael que se moveu com velocidade até suas costas e golpeou a área da chaga de Astaroth que ficava na parte lateral do toráx logo abaixo das costelas.

            Ele foi levado novamente ao chão. Zael se pôs á sua frente, embainhou novamente Estrela negra, seu poder agora estava em outro nível, muito acima de Astaroth.

            “Anjo da redenção...” Essas palavras rodeavam a conturbada mente do demônio em busca da solução dos seus problemas. Astaroth se levantou, com dificuldade, sua chaga agora sangrava, sua couraça estava abalada, um braço deslocado e da sua testa emanava sangue.

            __Eu desejo a redenção, quero ser um anjo como você.

            __Você mente Astaroth, você mente muito mal. Quem diria que você é um demônio.

            __Onde está sua benevolência? Não á demonstrará comigo?

            __Você foi benevolente com Liel?

            __Fui, além de ser misericordioso com ele dando uma morte rápida... Com ele rastejando aos meus pés...

            Zael se moveu em direção á Astaroth, este demonstrava um rosto cheio de medo e fúria. Zael se aproximou dele e disse ao seu ouvido.

            __Você não tem o direito de proferir mentiras sobre Liel, eu vi como foi... e não foi ele a se rastejar.—As pupílas de Astaroth se dilataram, ele estava em pânico.—Ele demonstraria piedade com você, coisa que eu pessoalmente não farei, mas você, você o enganou, se ajoelhou a sua frente e com um ataque covarde o apunhalou acertando diretamente seu coração.

            __O que você vai fazer comigo? Me matar? Mas isso não vai contra a vontade de Deus?

            __Vai, mas que seja, a escolha é minha.

            Zael se ergueu ao ar, se colocou contra o sol, a sombra causada cobria Astaroth por completo, a sombra era de uma beleza magnífica, seus braços estavam abertos, as pernas juntas e as asas em posição de descanso. Ele desembainhou Estrela negra, a ergueu empunhando-a de forma seu corte ficasse para os lados.

             A segurou com as duas mãos, Astaroth retirou Morte insana de um compartimento em sua armadura.

            __Acabe logo com isso anjo. Seja ao menos melhor que eu e mate-me de forma rápida.

            __Adeus meu inimigo, espero ainda te encontrar um dia melhor para você. Sinta-se honrado, morrerá pela parte negra de Deus, ele está em tudo, inclusive nas trevas.

            __Um dia melhor? Ainda terá algo além disso?

            __Nada se vai no reino de Deus, apenas é absolvido e mudado, aprendi isso hoje.

            Zael girou a espada em sua mão fazendo com que a lâmina se virasse contra Astaroth.

            __Escuridão divina!—E com um corte levou o movimento de uma grande massa de ar e emitiu uma onda de energia escura.

            __Escuridão divina... Vejo que você realmente entendeu a imensidão e a natureza de Deus.—Astaroth dizia para si mesmo. E já aceitava sua derrota diante de tamanho poder.—Sinto inveja de você.

            A onda se chocou contra o chão e dizimou Astaroth e seu corpo, não sobraram ao menos cinzas dele para que servisse de exemplo, ele realmente se foi por completo sem ao menos ir como os outros iam, se dividindo em brilho no ar, não, ele apenas se foi para outro lugar em que seria mais bem utilizado do que ali.

            Zael tocou o chão, não podia acreditar no que via, sua armadura, sua espada, estavam tão perfeitamente agradáveis aos seus olhos, como se algo o agradasse ao ver o que se tornou. Ele fechou os olhos, uma leve brisa o tocou, abriu seus olhos e viu o cenário de destruição, uma montanha partida ao meio, parte da tenda destruída, lembrava um cenário de filme.

            Um instante pode passar tão devagar durante o fim.

            Esse instante durou o bastante para Zael perceber o que faria dali pra frente. A energia do lugar vibrou, e mais uma vezes a pressão atmosférica mudou, não como se alguém poderoso estivesse ali, mas sim como se alguém quisesse estar.

            O ar se reuniu, a energia pulsava das folhas das árvores, o ar se dobrava junto com elas, as folhas caiam ainda verdes, algumas flores soltavam pétalas á princípio até que uma flor inteira caiu. Zael admirava o show que se fazia até perceber que Ana estava em sua frente, estava como uma pessoa qualquer, não mais uma sombra ou uma chama, mas sim uma pessoa de verdade, a flor que caia da árvore se moveu em direção á Ana até que caiu em sua mão, ela o levou a orelha o que aumentou ainda mais sua beleza.

            __Vamos Zael?

            __Para onde?

            __Para onde ninguém mais podera nos separar, para onde você não sentirá mais dor. Sua dívida foi paga.

            __Mas tal lugar, não sei se é realmente lugar para mim.

            As folhas ainda caiam em meio aos destroços.

            __Zael, você vem?

            __Eu não sei.

            __O que temes?

            __Eu não temo nada, mas desejo fazer mais. Não importa o que eu venha a fazer nunca será demais para o meu senhor.

            Ana parecia surpreendida, mas não assutada. Ela caminhou em direção á Zael, o abraçou de forma leve, não era dotada de grande força, e a armadura também não lhe auxiliava em tal ato.

            __Eu não me importo onde estejas, ou se seja eu ou não que lhe acompanhe, apenas desejo que você siga o caminho que você deixou.

            __Não posso pedir que você venha comigo, preciso fazer muitas coisas ainda querida, o mínimo que posso lhe pedir por tanto tempo é que você fique aqui. Em um lugar melhor que o mundo lá fora.

            __Qualquer lugar é o melhor do mundo com você.

            __Não torne as coisas mais defíceis minha querida.

            __Eu sei que você precisa ir, e meu lugar como filha de Deus é aqui. Então que seja feito o desejo do destino.

            __Adeus minha amada, te amei como uma filha que nunca tive.

            __Te amei como o homem que nunca desposei.

            Zael beijou sua testa, acariciou seus cabelos por uma última vez. Sentiu sua pele quente, sentiu sua respiração em seu peito e olhou para o horizonte por uma última vez com sua tão querida protegida. A única que ele teve.

            Segurou-a em seu braços, a afastou do seu corpo, ela estava em prantos. Zael se virou dobrou seus joelhos e alçou voo.

            Não olhando para trás.

            Ana rumou ao paraíso, viveu pela eternidade afim lá. Quanto á Zael, ele voou pelos céus da criação, reunindo qualquer ser que desejasse a paz de Deus, reuniu um batalhão de deuses pagãos, maus espirítos e demônios que queriam redenção, se tornando verdadeiros guerreiros aclamados. Alguns com vergonhosas dívidas em seu passado encontravam o amor divino sem limites.

            Nos milênios pela enternidade que se seguiram, após o apocalipse quando o reino de Deus era absoluto, infinito, Zael comandou e fundou uma ordem, uma das mais honradas entre os celestes, os anjos da redenção, tão memorável quanto os serafins. A ordem era composta pelos mesmos que um dia foram negados nos céus ou em qualquer outro lugar, eles eram mais que um batalhão, representavam uma ideologia, a idéia de que qualquer um podia ser recebido novamente, não importando quem seja, como seja ou o que seja e tenha feito, você sempre pode ser um filho de Deus.

            E quando Estrela negra entrou em seu colapso máximo, em uma tarde de novembro Zael se retirou do segundo céu que após o Apocalipse tinha se expandido a toda a criação. Viajou até os limites da criação, longe o bastante para que não ferisse mais ninguém, e ali fez explodir sua tão amada espada, causando uma das mais massiva super-novas.

                Zael também morreu, mas como ele nasceu algo novo, um novo buraco negro no universo, um dos mais massivos, quanto a ele, bem ele foi levado a uma nova função dentro do universo gigantesco de Deus. É dito que ele se encontrou com seu único amor, Ana.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anjos De Redenção" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.