KENDALL ON:

Era hoje! Eu e a Liz combinamos de ir no shopping ver um filme de comédia, porque ela disse que adora. Combinei de passar na casa dela as 2 da tarde. Quando eu já estava pronto, passei pelo quarto da Kim para dizer tchau.

– Oi maninha! – disse dando uma batidinha na porta que estava aberta

– Ahh, oi mano! – ela disse sem olhar para mim.

– Tem muita coisa pra copiar ainda?

– Muita! Eu só passei a limpo três matérias até agora... não vou dar conta de copiar tudo até amanhã.

– Deixa pro fim de semana que vem. A sua amiga não vai se importar de te emprestar o caderno de novo.

– Eu sei. Mas é que eu queria acabar com isso de uma vez – ela soltou a caneta da mão e olhou para mim – aonde você pensa que vai assim tão lindo?

– No cinema com a Liz, eu te falei... lembra?

– Claro que lembro. E aí vai beijar ela? – ela disse com um sorrisinho no rosto

– Você não acha que tá se intrometendo demais na vida amorosa não? Se eu vou beijar ela ou não, o problema é meu né – falei dando de ombros.

– Não precisa ficar nervosinho também... só falei de brincadeira.

– Tá desculpa, é que eu to um pouco nervoso. Faz tempo que eu não saio com uma garota

– Você vai se dar bem, fica tranquilo.

– Espero. Bom, eu preciso ir... tenho que pegar a Liz em casa – andei na direção dela que se levantou da cadeira.

– Boa sorte maninho! – disse ela me abraçando.

– Obrigado. Boa sorte também – falei em relação as matérias que ela estava copiando. Ela assentiu e voltou para a cadeira.

Peguei o carro e fui buscar a Liz. Ela disse que quando eu estivesse quase chegando era para mandar uma mensagem para que ela já fosse descendo, e foi o que fiz. Sai do carro e subi as escadas, quando cheguei na portaria ela estava saindo do elevador. Uau, ela estava linda. Estava usando um short jeans, uma blusa florida, uma sapatilha vermelha no pé bom e seus cabelos castanhos estavam soltos.

– Oi, você é pontual – ela disse assim que me viu.

–Oi. Não gosto de deixar as pessoas me esperando. Então, vamos? – ela assentiu e descemos.

Abri a porta do carro e ela entrou, colocando as muletas no banco de trás. Depois de alguns minutos chegamos no shopping. Ajudei ela a descer do carro e fomos em direção as salas de cinema, que por sorte não tinham muita fila. Escolhemos um lugar mais na frente, e a Liz sentou em uma das pontas, para que pudesse botar as muletas no chão.

– Eu adoro os filmes do Adam Sandler, ele é tão engraçado – ela disse quando começou o trailer.

– Eu também! Não tem um filme dele que eu vi que eu não tenha gostado – Ela concordou. Então o filme se iniciou e nós começamos a assistir. Quer dizer ela assistiu, porque eu fiquei mais olhando para a Liz do que prestando atenção no filme. Ela tinha uma risada contagiante, e eu ficava olhando para ela com um sorriso bobo no rosto.

– Que foi? – ela perguntou quando viu que eu estava olhando para ela.

– Nada não – disse olhando para frente e tentando prestar atenção no filme. Acho que ela acreditou, porque voltou a olhar de novo para tela.

Assim que o filme terminou, fomos fazer uma lanchonete na praça de alimentação. Perguntei o que ela queria e fiz os pedidos, assim que ficaram prontos fui lá buscar as bandejas.

– Obrigada! – ela disse assim que dei a bandeja para ela – Quanto que foi o lanche? – ela perguntou enquanto pegava a bolsa.

– Não foi nada. Hoje é por minha conta.

– Ahh, Kendall eu não vou deixar você pagar o meu lanche, eu...

– Claro que vai – disse interropendo ela. – Eu te convidei, eu pago – Ela sorriu assentindo.

– Como vai a sua irmã? – ela perguntou

– Ahh, do jeito dela – respondi. Eu já tinha contado a ela com a Kim estava se comportando nessa última semana, e ela disse que já tinha passado por isso.

O pai da Liz era jornalista, e foi cobrir uma reportagem em uma favela, e nesse tempo começou um tiroteio. Ele foi vitima de uma bala perdida, que atingiu o peito dele. Ela contou que ele ficou internado por uma semana, fez cirurgia e tudo, mas não conseguiram tirar a bala e ele acabou falecendo. Isso foi a 5 anos atrás. Desde então, ela sofre muito com isso, ela era bem apegada ao pai e sente muita falta dele. Assim que ele morreu, ela disse que teve tanto ódio da vida que mudou completamente. Começou a andar com um pessoal meio barra pesada que praticava vândalos, como pichar muros e arrombar casas abandonadas.

– Ela vai melhorar, isso é só uma fase – Disse ela – já passei por isso e sei o que ela tá sentindo. Sua irmã só quer parecer forte para os outros, mostrar que não está sofrendo, quando é completamente o contrário que está acontecendo.

– Espero que seja só uma fase mesmo, e que isso não demore para terminar – disse desabafando, eu sabia que podia contar com ela – Mas, como foi que você conseguiu sair disso? – perguntei

– Ah, foram vários fatores. Minha mãe que não aguentava mais ser chamada na escola por eu ter me metido em brigas. Meu irmão que vivia chorando e dizia que tinha medo de mim. Mas acho que o ponto crucial mesmo foi eu ter me tocado que não importasse o que fizesse, eu nunca mais teria meu pai de volta. Então eu simplesmente, me tranquei no meu quarto por uma semana inteirinha, e percebi que tudo o que tinha feito, tinha sido totalmente errado. Me senti culpada por ter feito minha mãe e meu irmão sofrerem tanto. Eu deveria ter ficado no lado deles... e não arranjado ainda mais problemas – ela confessou – Mas se sua irmã, não anda com mais influências.. isso já é um lado bom.

– Sim. – respondi - Quem conheceu a Kim antes do acidente, nunca ia imaginar que ela ficaria assim.

– Mas ela tem os seus motivos para se fechar do mundo. Você mesmo disse que o namorado dela deixou de vê-la no hospital e vivia brigando com você e seus amigos. Ela deveria gostar muito dele.

– E gostava mesmo – respondi encarando chão. Ficamos algum tempo em silêncio – Mas vamos mudar de assunto né? Não viemos aqui para falar de coisas tristes.

– Claro – ela disse sorrindo. Terminamos de comer o lanche e ficamos jogando conversa fora. Depois demos uma passeada pelo shopping. Ela andava toda desajeitada com aquela muletas, disse que ainda não tinha se acostumado.

Quando começou a ficar tarde, resolvemos ir embora. Estávamos saindo do shopping e indo em direção ao estacionamento quando eu vi que ela estava estranha.

– Tá tudo bem Liz? – perguntei

– Tá sim. Só estou um pouco cansada. Não estou acostumada a andar tanto com essas muletas. E pior que vou ficar 2 meses com esse gesso – disse ela suspirando – Aonde tá o seu carro mesmo?

– No outro lado – respondi – Saímos pela porta errada – isso era realmente a minha cara, eu nunca acertava a porta certa.

– Ahh droga – ela reclamou baixinho – Será que não tem como eu esperar aqui e você pegar o carro enquanto isso?

– Não dá... não posso passar com o carro aqui, tenho que ir para fora do estacionamento

– Verdade – ela disse desanimada

– Já sei! – disse – Deixa que eu te levo.

– O que? – Não respondi nada, apenas peguei ela no colo. Ela ficou assustada e quase deixou as muletas cair – Ahhh! Me solta Kendall, eu vou cair!

– Não vai não. Eu não vou deixar você cair. Prometo – disse sorrindo. Ela assentiu e eu levei ela. Assim que avistei meu carro, comecei a correr não muito rápido com ela no colo

– Ahhhh! – ela gritou – Para de correr seu maluco, eu vou cair!

– Já disse que você não vai cair, e para de gritar. – disse. Chegamos na frente do carro e eu tentei abrir a porta com ela no colo ainda.

– Que tal me botar no chão primeiro?

– Boa ideia – disse colocando-na no chão e abrindo a porta do carro. Como eu sou burro. – E aí, gostou da carona?

–É foi legal... tirando a parte que perdi minha sapatilha.

– O que? – olhei para o pé dela bom, e ela estava descalço. Comecei a olhar em volta, mas não vi nenhum sapato no chão. – Deve ter caído na hora que eu comecei a correr.

– Você acha? – disse ela sarcasticamente.

– Espera, eu vou achar - Fui caminhando pelo estacionamento, refazendo o caminho que eu tinha feito antes... até que avistei um sapato vermelho no chão. Achei! Voltei correndo e ela já tinha entrado no carro, mas a porta estava aberta.

– Achei o sapatinho da Cinderela – disse balançando a sapatilha que estava na minha mão. Ela apenas sorriu, me abaixei e coloquei a sapatilha no pé dela. – Pronto.

– Obrigada, nobre e gentil cavaleiro – ela disse fingindo ser uma princesa. Passei na frete do carro, e sentei no banco do motorista. Então levei a Liz até em casa, e a acompanhei pela rampa do prédio.

– Obrigada pelo passeio, eu me diverti muito – ela disse parando na frente da portaria sorrindo. Ela tinha um sorriso tão lindo.

– Eu que agradeço por você ter aceitado meu convite. E desculpa por ter quase perdido seu sapato.

– Tudo bem – ela disse rindo – pelo mesmo você achou e ... foi divertido até. – sorri em agradecimento

– Podíamos marcar outro dia. Sei lá. Você, eu e a Kim... seria divertido né. – disse.

– Claro, eu iria adorar conhecer a sua irmã. Posso te fazer uma pergunta? – Assenti – Isso foi um... .encontro? – ela perguntou meia sem jeito. E acabei sendo pego de surpresa. Eu gostava dela, e para mim aquilo era um encontro, mas será que ela não me via só como um amigo?

– Não sei... me diz você.

– Por que eu? – ela perguntou confusa.

– Sei lá...você é garota. E garotas que sabem melhor dessas coisas – falei sem olhar para ela, encarando o chão.

– Então foi um encontro sim – ela disse. Olhei para ela e ela deu um grande sorriso – Eu preciso entrar. Até amanhã Kendall – ela se aproximou de mim, e veio para me dar um beijo na bochecha, mas virei o rosto (sem querer) e acabou pegando no cantinho da boca. Eu devo ter ficado vermelho/amarelo/verde/azul... todas as cores do arco-íris de vergonha.

– É... tchau Liz – abri a porta da portaria para ela. Ela entrou e foi em direção ao elevador, olhou para trás e deu um último sorriso, sorri de volta. Então desci pela rampa mesmo e voltei para o meu carro voltando para casa.