O garotinho não questionou a ordem, apenas correu o mais rápido que pôde para longe dali. Tony correu o quanto conseguiu, até que a mulher o alcançou e o jogou contra a porta de um restaurante fechado. A força foi tanta que a porta se quebrou e ele caiu no chão, mas se levantou tão rápido quanto conseguiu. Com toda certeza aquela mulher tinha uma força sobrecomum, então tudo o que ele poderia fazer até pensar em um plano era manter distância. Deslizou por cima de uma mesa, passando para o outro lado dela e mantendo a ruiva longe, mas esta quebrou a mesa de madeira grossa e sólida como se fosse de papel. Ele chegou para trás, mas logo encontrou uma parede. Ela o segurou pela gola da blusa e o tirou do chão, os olhos não mais vermelhos.

– Me dê o envelope - ela ordenou.

Mas o envelope não estava mais com ele. Tinha saído de suas mãos quando ele caiu ao quebrar a porta. Ele exibiu as mãos vazias e a mulher emitiu um som semelhante a um rosnado.

– Ta procurando isso aqui? - uma voz atrás dela disse.

Tanto a mulher quanto Tony olharam na direção de onde veio a voz. Uma garota estava parada, encostada à parede e com o envelope na mão, balançando-o para lá e para cá. Uma garota que Tony reconheceu como a cantora do pub onde ele estava, porém usando um casaco de couro branco que lhe cobria até a metade da coxa. Ela sorriu e arremessou o envelope para fora do restaurante, murmurando um Ops. A ruiva soltou Tony e foi andando na direção da morena, os olhos ficando vermelhos outra vez. Tentou acertar-lhe um soco no rosto, mas a mais baixa foi mais rápida e desviou, fazendo com que sua mão acertasse a parede. A menor aproveitou a oportunidade e acertou o rosto da outra com o cotovelo, fazendo-a cambalear para trás, e em seguida acertou um chute certeiro na parte de cima de seu abdômen. Finalmente esse salto serviu para alguma coisa, ela pensou quando sentiu os ossos quebrando no lugar em que acertou.

Mas então uma coisa inesperada aconteceu: o lugar em que os ossos se quebraram brilhou por alguns segundos, e pareceu estar curado. A morena deu um passo para trás, e a ruiva acertou-lhe o soco no rosto que havia errado, o que a fez cambalear e cair no chão. Tony aproveitou a distração da mulher para acertar-lhe um chute nas costas, fazendo-a virar-se para ele novamente, segurar seu pescoço com uma mão e levantá-lo.

– SAI DAQUI! - a morena gritou, puxando os pés da maior e fazendo-a cair no chão.

– Quem é você? - Tony perguntou, enquanto pressionava os joelhos nas costas da mulher, tentando segurá-la.

– Não importa, você tem que sair daqui - a garota o empurrou e virou a mulher para cima, ajoelhando-se em cima dela e acertando uma sequência de socos em seu rosto. - Agora.

A ruiva a jogou contra a parede, na qual a garota bateu com força antes de cair no chão. Por sorte, ela já estava acostumada a isso, então se levantou em um segundo e voltou para perto da outra, acertando-lhe um chute no abdômen e uma cotovelada no nariz em sequência. A mulher cambaleou para trás, se apoiando no balcão para não cair. Viu uma faca em cima deste e a pegou, escondendo-a atrás das costas. Assim que a morena se aproximou, enfiou a faca em sua barriga, fazendo-a dobrar-se ao meio e gritar de dor. Mas quando levantou o rosto novamente, não se via nenhuma lágrima sequer em seus olhos, mas sim puro ódio. Um filete de sangue escorria do canto de sua boca. Ela cuspiu o líquido vermelho-vivo no chão, removeu a faca da própria barriga e a arremessou com precisão, o cabo acertando em cheio a cabeça da ruiva, o que a fez cair para trás. A garota se apoiou na parede e pressionou o ferimento com o intuito de estancar o sangue que jorrava e escorria por suas pernas, manchando o casaco. Tony correu até ela para tentar ajudá-la, mas a garota apenas segurou seu rosto com a mão ensanguentada e o fez olhar em seus olhos de um azul tempestuoso.

– Você vai sair daqui agora. Eu dou conta dela.

Algo na calma com que a menina disse essas palavras o fez pensar nessa possibilidade, mas a ruiva logo levantou do chão e veio na direção dos dois. Tentou acertar outro soco na morena, mas esta seguros seu punho e torceu o braço, fazendo a maior virar. A baixinha puxou o outro braço da ruiva, prendendo-a e a deixando imobilizada para Tony, que não perdeu tempo e acertou socos no maxilar e nas costelas da mulher. Mas seus braços esquentaram, o que assustou a mais baixa, fazendo-a largar a mulher, que acertou um soco certeiro na barriga de Tony, deixando-o sem ar. Mas a garota ainda estava longe de desistir de lutar. Ela acertou as costelas da maior com o joelho, socou seu rosto e chutou a barriga da mulher com toda sua força, deixando essa igualmente sem ar. Por sorte, Tony já tinha se recuperado, e acertou um último soco na mulher, fazendo-a cair no chão. Os dois não hesitaram em sair dali, mas a garota fez questão de pisar com força na barriga da mulher para se certificar de que ela não os seguiria. Tony pegou o envelope e foi até o beco onde Harley se encontrava. A garota o acompanhou, e encostou-se à parede assim que chegaram ao local, respirando fundo.

– É a moça do pub! - Harley disse, apontando para ela, que logo retirou o casaco para avaliar a gravidade do ferimento.

Tinha sido um corte fundo, sem dúvidas, mas não muito largo. Ela perdera muito sangue. Este estava por toda sua barriga, pernas, mãos e casaco. Ela xingou em uma língua que Tony não reconheceu ao lembrar desse último. O sangue não parara de sair por inteiro, mas o fluxo estava bem menor. Ela se sentia fraca e prestes a desmaiar, mas nunca admitiria isso.

– Ta tudo bem? - o garoto perguntou, se aproximando.

– Um corte na barriga, queimaduras nas mãos, boca machucada e uma costela trincada. Vou sobreviver - ela riu, mas isso lhe causou uma dor intensa no ferimento da barriga.

– Eu conheço você - Tony disse, avaliando-a.

– Eu sei que conhece. Achei que você iria me reconhecer mesmo com a máscara, mas acho que me enganei.

Ela se sentou no chão, ainda com as costas apoiadas na parede.

– Quem é você?

– Francamente, Stark - ela fechou os olhos e cuspiu um pouco mais de sangue no chão. - Nós nos vimos há o quê? Uma hora e meia? Duas, talvez?

– Christine... AH, MEU DEUS, CHRISTINE - ele correu até ela. - VOCÊ ENLOUQUECEU?

– Você ser meu chefe... - ela tossiu antes de continuar. - ...não te dá o direito de gritar comigo.

– Como você sabe lutar daquele jeito? Mas que porra você pensa que tava fazendo, sua idiota?

– Salvando o Homem de Ferro - ela voltou a olhar para o ferimento, constatando que o sangramento cessara. - Eu já disse que vou ficar bem.

– Você precisa ir pra casa... venha, nós vamos te ajudar. Pega o casaco dela, Harley.

O garotinho pegou o casaco branco, agora manchado de vermelho, e Tony a ajudou a levantar. Ela se apoiou nele para se manter de pé e cuspiu novamente no chão, dessa vez com menos sangue que nas outras. Ela se apoiando em Tony e Harley segurando seu casaco do lado, foram para casa, ignorando os olhares de curiosidade, preocupação e até repugnância de quem passava. Afinal, uma garota de lingerie e ensanguentada, um homem sujo e machucado e um garoto levando um casaco encharcado de sangue não é uma cena que se vê todos os dias por aí, é?