Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 77
Outra Suspeita


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários, eles me animaram bastante...
Me desculpe pela demora, é que só consegui terminar de escrever hoje, espero que gostem e comentem muito.



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“- Experimenta confiar em mim – Edgar

– Como não confiar em você, Edgar? –Laura”

Lado a Lado

Por Laura

A notícia do assassinato de Catarina trouxe uma gama de emoções contraditórias pra mim... Cheguei a pensar que eu, Edgar e nossos filhos não sofreríamos mais seus ataques e ameaças. Aquela mulher era perigosa, escorregadia e mesmo estando em seu pior momento, sabia que ainda correríamos riscos. E nesse aspecto, não podia mentir, sua morte trazia uma sensação de segurança.

Mas ao mesmo tempo, Catarina era uma pessoa e tinha o direito de viver. Ela havia feito muitas coisas ruins, mas devia pagar por tudo em vida. Devia ter sido punida com a prisão... não com a morte. Isso não era a verdadeira justiça.

E também tinha o fato do delegado Praxedes chamar Edgar pra um depoimento... Eu percebi pelo jeito do delegado e comportamento de Edgar após voltar da delegacia que ele devia ser o principal suspeito.

Depois de tudo que Catarina tinha feito pra Edgar, ele realmente tinha muitos motivos, mas eu o conhecia e sabia que não seria capaz de mata-la. Edgar era bom demais pra isso, e se o delegado o conhecesse como eu, não pensaria nele como um suspeito.

Procurei dar o meu apoio, estímulo e consolo. Há pouco tempo, Edgar tinha passado e ainda passava por um sofrimento terrível com a partida de Melissa.

E o fato de ser suspeito do homicídio de Catarina aumentava sua perturbação, o deixava inseguro com o futuro, com medo de não ver mais um filho nascer e crescer. Ainda mais que ele queria tanto acompanhar os momentos desse filho que eu esperava, era tão cuidadoso e carinhoso comigo. Eu percebia o quanto ele desejava viver em paz e ser feliz com a nossa família.

Depois de tudo que aconteceu, as nossas brigas e reconciliações a tentativa de sequestro de Cecília, a minha quase morte no incêndio, a perda de Melissa, a morte de Catarina, eu notava o quanto o tempo era precioso. O futuro não esperava ninguém.

Percebi que não podia perder mais momentos, esperar pra ser feliz... ter uma família unida. Edgar precisava da gente, a gente precisava dele, e decidi voltar pra casa imediatamente, falei com as crianças e elas foram bem receptivas. Nós éramos uma família e enfrentaríamos aquele momento juntos. No fundo do meu coração, eu acreditava que sairíamos vitoriosos... Tudo daria certo.

E meu amor até chegou a me dar mais mostras de que eu tinha que ficar realmente ao lado dele. Certa manhã, pouco após as crianças terem saído pra um passeio com D. Margarida (provavelmente percebendo certa tensão no ar por causa da morte de Catarina, ela propôs um programa divertido com os netos), eu acabei ficando na sala de jantar, e animada, saboreava as delícias que Matilde fizera, ainda mais com minha fome aumentada pela gravidez.

Edgar apareceu sorridente segurando um papel. Parecia tão satisfeito e eu fiquei me perguntando qual era o motivo daquela empolgação:

– Viu um passarinho verde, meu amor? – perguntei com um sorriso nos lábios, estava sendo tomada pela curiosidade, talvez tivesse acontecido alguma evolução boa na investigação sobre a morte de Catarina.

– Vi... Vejo todos os dias quando me levanto e noto que você está comigo. E mais ainda quando te vejo assim gulosinha esperando o nosso bebê. – ele acariciou a minha barriga, me beijou levemente e sentou numa cadeira ao meu lado.

– Achei que tinha um motivo especial pra isso... - insisti

– Você é sempre especial pra mim, meu amor – ele me olhou de cima abaixo, trocamos um beijo, nos ajeitamos nas cadeiras, ele começou a tomar um café...e enquanto o tomava, me lançou um olhar e sorriso admirados, que eu correspondi, desse modo voltou a falar- Viu que entregaram um Pasquim hoje? – ele continuava sorrindo

– Um Pasquim? Mas Edgar, isso não é uma boa notícia, não é motivo pra sorrir. Aquele panfleto sensacionalista ...

– Esse é diferente, lê, você vai gostar ... – ele continuava de bom humor, e colocou o papel que ainda segurava em cima da mesa.

Aquilo me deixou intrigada e eu comecei a ler:

“ Erramos sobre Laura Vieira

Numa edição passada, foram feitas denúncias chocantes sobre a Sra. Laura Vieira. Acontece que as informações estavam erradas...

D. Laura Vieira é uma mulher admirável, onde ela passa sua força e doçura são reconhecidas.... E como uma mulher admirável, possui grandes amigos como Isabel Nascimento, a dona do teatro Alheira. Uma amiga genuína para todas as horas. Inclusive, as duas comoveram e ajudaram uma senhora idosa que deixou uma boa herança para ambas.

Laura, a filha do Senador Alberto Assunção, e esposa do advogado Edgar Vieira, é uma senhora distinta e generosa. Uma mãe maravilhosa de duas crianças lindas. E junto do seu marido e filhos, que são a cara do pai, constituem uma família de causar inveja a muitos. Uma família cheia de amor.

D. Laura e o Dr. Edgar, mesmo após anos de casamento, formam um casal apaixonado e por que não ....apaixonante, um casal digno dos romances mais belos. Vê-los juntos causa encantamento ás pessoas de bem, aos românticos de plantão, aos que tem coração... Mas inveja aos corações duros... Duros e invejosos, pois não são capazes de amar como os dois.

E com essa inveja dos corações de pedra, um momento fugaz de desentendimento entre ambos foi aproveitado, mentiras foram plantadas e espalhadas... Mentiras que nos enganaram... Mas esse engano tem que ser desfeito... Vai ser desfeito... Já que a verdade tem que prevalecer sempre...

O que resta como lição, é que as mentiras não conseguiram acabar com um grande amor... Um amor real, verdadeiro... Laura e Edgar estão juntos, apaixonados, com suas lindas crianças, vivendo sua cumplicidade, mostrando aos corações invejosos que eles não conseguiram... Que a inveja não vence o amor. Que o bem vence o mal.

Por isso caros cidadãos ... Embora haja muita sujeira, ainda há beleza e dignidade na sociedade... Laura Vieira é um exemplo disso... E eu com responsabilidade de retratar mentiras, admito o meu erro. Propaguei calúnias numa edição passada, mas nessa revelo a verdade: D. Laura é uma mulher corajosa, amorosa, digna, um exemplo a ser seguido! Digo isso com toda a propriedade!”

Eu não podia acreditar enquanto lia. Era maravilhoso. Pelo que sabia, o Pasquim nunca tinha feito uma edição de retratação, ou uma que na verdade elogiasse uma pessoa. Aquilo era uma surpresa extraordinária, algo que de certa forma, serviria como a maneira definitiva de limpar a minha reputação.

Não consegui conter o meu sorriso e olhei pra Edgar, ele também sorria satisfeito, maroto, sedutor por assim dizer. E o beijei com vontade, após o beijo, revelei o que intuia:

– Me explica, Edgar... Essa matéria...Você tem alguma coisa a ver com isso?

– É ... – ele passou a mão no cabelo rindo, parecia acanhado – Tenho- confessou firme.

– Obrigada, meu amor! – o beijei novamente

Depois ele me explicou como tudo tinha acontecido, e apesar de ter sido deixada de fora, fiquei impressionada com sua investigação. Edgar tinha se empenhado e acabara descobrindo o responsável pelo Pasquim, e que a Catarina, como pensávamos, tinha encomendado a edição.

Mas a confirmação da participação da cobra, nem era o mais importante. O que importava é que Edgar tinha limpado o meu nome, e se importou comigo até nos momentos mais difíceis, onde ele ainda estava tão perturbado pela perda da Melissa.

Lauro também tinha ajudado... Pensei que de certa forma, isso explicava os seus estranhos sumiços. E mesmo não gostando dele ter mantido esse segredo de mim, tinha que agradecê-lo. Achava que ambos deveriam ter me envolvido na investigação, já que era um assunto referente a mim... Mas era bom ver que eu tinha homens tão dedicados, e cheios de atitude a minha volta. Era bom notar também que Edgar confiava tanto em Lauro.

Após a nossa conversa, eu e Edgar começamos a trocar carinhos... Fomos pro quarto para ter mais privacidade, tiramos um intervalo pra almoçar e voltamos pra ele, era provável que ficássemos lá até o fim da tarde quando as crianças deveriam chegar, se Matilde não batesse na porta pra nos avisar que um homem me procurava.

Edgar se arrumou mais rápido do eu e desceu. Quando estava composta, fui até a sala, e percebi que ele estava nervoso, agindo de maneira agitada com um policial que não conhecia:

– Vocês não podem fazer isso! A minha mulher não vai ...

– Boa tarde! – disse e os dois desviraram o olhar pra mim, Edgar tentava se acalmar.

– Boa tarde. A senhora é a D. Laura Vieira? –o policial perguntou

– Sim.

– Pedimos que compareça amanhã na delegacia pra depor sobre o assassinato de Catarina Ribeiro.

– Está bem Eu irei pela manhã- falei firme

Edgar continuava nervoso. E eu acompanhei o homem até a saída. Depois voltei pra sala, vi que ele andava de um lado pro outro, e o abracei:

– Eu não tenho nada a esconder, meu amor. Não precisa ficar assim...

– Eu sei – com meu abraço ele parecia se apaziguar um pouco – Mas eu não queria que você fosse submetida a isso, Laura.

– Edgar... bem ou mal sabíamos que isso aconteceria... Eu também teria motivos pra matar a Catarina.

– Não gosto que te vejam como suspeita... Laura, a delegacia não é ambiente pra você... Ainda mais gravida... Eu não quero ...

– Eu estou bem... O bebê está bem... Como te disse, não tenho nada a esconder... Só vou dar um depoimento... Não se preocupe tanto! – o beijei com calma.

Mas Edgar ainda se preocupava, e no dia seguinte, fez questão de me acompanhar até a delegacia.Só que eu entrei na sala pra depor sozinha. O depoimento correu de forma normal até certo ponto. O delegado me fazia perguntas que já esperava... Perguntas sobre Catarina, e o que ela tinha feito desde que aparecera há quase 8 anos na minha vida.

Embora minhas respostas demonstrassem nossos problemas, minha raiva em relação a ela, eu não podia mentir pra tornar tudo bonito... Não foram momentos bons ou agradáveis, pelo contrário, Catarina transformou minha vida num inferno.

Mas o clima mudou um pouco quando o delegado me arguiu acerca de ameaças que eu tinha feito a Catarina logo após a tentativa de sequestro de Cecília:

– Após a tentativa de sequestro da sua filha, a senhora foi à casa de Catarina e a ameaçou? Discutiu com ela?

– Eu falei pra ela parar de agir contra os meus filhos.

– A senhora a estapeou, e disse que faria dela o seu alvo direto e que ela não receberia somente mais um tapa na cara?

– Disse algo assim... Ela estava agindo contra os meus filhos... Os colocando em risco... Quis dizer que diferente dela eu agiria diretamente contra ela –respondi firme e decidida, não podia negar.

– E o que quis dizer com isso dela não levar só mais um tapa?

– Que eu tomaria providências contra ela.

– Que providências?

– As que tomei! – disse levemente alterada, não gostava das insinuações dele- Comecei a investigá-la e consegui arrumar provas do envolvimento dela nessas armações contra mim e a minha família.

– Não estava falando em matá-la?

– Não, claro que não. Catarina era uma criminosa, mas a morte não traria justiça. Ela deveria pagar por seus crimes na cadeia!

– Onde a senhora estava entre as 9 e meia-noite no dia que Catarina foi assassinada?

– Naquela noite ...Eu andei um pouco pelas ruas da cidade, precisava espairecer e depois fui pra casa.

– A casa que mora com o Dr. Edgar?

– Não... Eu ainda não tinha voltado pra lá. A casa que eu dividia com minha amiga Isabel.

– Entendo.

– E que horas a senhora chegou a casa naquela noite?

– Em volta das 10. Era um pouco tarde. Mas estava acontecendo muitas coisas, tinha muito que no que pensar. E acabei passando um pouco do horário distraída na rua.

– Alguém pode confirmar a hora que senhora chegou?

– Sim, Lauro e Isabel.

– E alguém pode confirmar que ficou apenas andando pelas ruas até aquele horário?

– Não. Eu estava sozinha.

– A senhora matou Catarina Ribeiro?

– Não. Sei que ela não prestava, e me prejudicou bastante durantes os últimos anos... Mas eu não a mataria. Não mataria ninguém. Catarina tinha que ser presa. Era isso que queria. – disse intensa, essa era a verdade.

Após o depoimento, voltei pra casa com Edgar. Ele quis saber o que tinha acontecido. E mesmo imaginando que o tom do interrogatório ia preocupá-lo, preferi não esconder certos detalhes, a verdade é que estava tentando dividir os meus problemas com ele. Assim não neguei que o delegado Praxedes me via como suspeita:

– Eu não tenho álibi pra uma parte da noite, Edgar... E convenhamos tenho motivos fortes - conclui

– Eles não podem pensar que você seria capaz disso, meu amor – ele estava preocupado.

– Eu penso a mesma coisa sobre você. E eles imaginam que é capaz.

– Você chegou tarde naquela noite?

– Sim... Eu andei um tempo pelas ruas depois que fui ao porto... – falei sem perceber que revelara uma informação que ele não sabia

– Você foi ao porto? – ele perguntou surpreso

– Fui... Eu precisava ver como você estava, ver a sua despedida da Melissa – confessei emocionada

– Ahh, meu amor. A culpa é minha... Eu te coloquei nessa situação. Se você não tivesse ido ao porto... Se não ficasse andando pelas ruas... Teria um álibi.

– Não, Edgar... Aconteceu assim, não é culpa de ninguém – falei firme e ele me olhou tristonho.

– Não, a culpa de tudo o que está acontecendo é minha. Se eu não tivesse colocado a Catarina na nossa vida... Nada disso... – o interrompi

– Xiii, meu amor. Presta atenção... Não tinha como saber que tudo isso aconteceria... Esquece! – o abracei

– Laura, e se eles começarem a te olhar como principal suspeita? Não posso deixar, não vou deixar... Nem que seja preciso eu confessar o assassinato!

– Confessar? Mas você não fez nada! Fez?– estava assustada

– Não, não fiz, mas não posso deixar que você passe por essa situação. Não posso deixar que ...

– Edgar, eu não fiz nada. Nem você. Não precisa confessar... A verdade vai aparecer. E tire essa ideia da cabeça. Confessar? Eu te amo e não vou ficar longe de você. Quero envelhecer com você. Não quero e não posso criar nossos filhos ...sem você.

Eu ainda precisei conversar mais pra acalmar Edgar. Ele parecia tão preocupado com possibilidade da minha prisão. E tinha muito medo do que poderia acontecer comigo nesse processo. Sendo que tive que fazê-lo entender que eu não era frágil como ele pensava, já tinha passado por tantas coisas e aguentaria essa investigação.

A verdade também é que não tinha tantos motivos pra essa preocupação precoce. Havia outros suspeitos além de mim e Edgar. E o fato dar um depoimento, não era tão alarmante, muitas pessoas estavam sendo chamadas pra depor como o pessoal do teatro, Isabel e até Lauro.

Numa tarde, e eu e as crianças estávamos na sala, quando acabei escutando batidas na porta. Tomei um susto ao quem era, mas mesmo com receio, resolvi recebê-lo. Pedi as crianças pra irem atrás de Matilde e quando fiquei sozinha com Caniço, ele começou a falar:

– Gostaria de falar com o seu marido – ele estava sendo duro e direto

– Edgar não está – ele tinha saído pra resolver umas coisas na rua, mas após dizer isso, percebi que Caniço ficou chateado.

– A polícia está me procurando...

– Eu sei... Eles sabem do seu envolvimento com Catarina. Das suas tramoias.

– Não posso deixar que me peguem... Não posso ficar dando sopa por aí... Já que o seu marido não está, vou falar com a senhora mesmo! – proclamou impaciente

– Caniço, você não deveria ter vindo aqui. Eu vou chamar a polícia. Você não tem nada pra falar com meu marido...

– Não tenho? – ele deu um sorriso cínico – Não tenho... Fique sabendo que se a polícia me pegar, vou contar tudo! Tudo! Vou contar que seu marido matou a Catarina!

– O Edgar não matou ninguém! – protestei

– Não? Ele não matou? Por que foi à casa da Catarina naquela noite? O vi lá! E se ele não me pagar, vou contar... Ele tem até amanhã pra me arrumar dinheiro – ele me entregou um papel – As 7 da noite vou estar nesse lugar, e quero essa quantia.

Olhei o papel, nele estava escrito um endereço e um valor alto. Ele estava chantageando Edgar. E suas palavras me deixaram confusa, atônita. Caniço era um bandido, um vigarista. Não sabia se podia acredita nele. Mas parecia estar tão certo do que dizia.

Também não sabia o que pensar. Não acreditava que Edgar tinha matado Catarina. Só que ele estava realmente muito preocupado, eu sabia que me escondia algo. E as palavras de Caniço tinham me deixado desnorteada...Tinha dúvidas se deveria falar com Edgar, e o modo que aquele assunto deveria ser abordado. Tinha medo da sua reação e até das palavras que ele diria.

Pensei bastante e tomei a minha decisão. Eu tinha que descobrir o que estava acontecendo realmente, tinha que dividir isso com Edgar, só ele poderia me explicar... Dessa vez, não podia apenas esconder os problemas dentro de mim.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? E essa chantagem de Caniço? Espero que tenham gostado.. E que comentem muito pra me animar. Até o próximo.