Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 69
Nos Bastidores da Notícia


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram bastante a escrever esse capítulo.
Esse capítulo é um pouco diferente do habitual, mas espero que gostem e que comentem muito pra me animar.



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“Eu sou jornalista ... Não posso ficar com a notícia pela metade.”

Guerra em Lado a Lado

Por Pascoal

Como ainda me apresentava como jornalista, acabei conseguindo um convite pro baile do Senador Tavares de Melo. Na verdade, o que pretendia mesmo era obter mais algumas informações para o próximo número do Pasquim.

Só que a entrada de Edgar Vieira na festa, acabou tomando a minha atenção. De certa forma, vê-lo acordava a minha consciência. Eu me sentia culpado... O Pasquim anterior sobre a D. Laura Vieira tinha afetado a vida dele e acabado com a reputação da sua esposa. E eu sabia o quanto de mentiras tinha escrito.

Acabara com diversas reputações antes... Mas com Laura era um pouco diferente, era a primeira mulher a quem tinha dedicado uma edição, e tanto ela quanto o marido, me pareciam boas pessoas... Sendo que da patrocinadora, Catarina Ribeiro, eu tinha uma opinião contrária.

Catarina quis colocar tantas mentiras vulgares... Eu sabia que ela não prestava, não tinha ido com o santo dela. E às vezes, quando via que os outros acreditaram no Pasquim, nas mentiras sobre Laura (por causa das poucas verdades), e que aquela cantora tinha conseguido o que queria, sentia uma indignação. Isso não era certo. Não era justo.

E ver o Dr. Edgar andando pelo baile sozinho e distraído. Ouvir os bochichos em volta dele... Perceber que o escândalo iniciado pelo Pasquim ficaria maior, me trazia a constatação da injustiça que tinha nesse mundo, e mais ainda, que eu estava ajudando a propagar essa injustiça.

Essa sensação aumentou com a entrada de D. Laura, Isabel Nascimento e um homem que não conhecia. Com Edgar e Laura distantes do outro, os bochichos e as fofocas se ampliaram... As mentiras que havia escrito pareciam mais verdadeiras... E eu sentia cada vez mais a culpa em meu peito.

O que estava acontecendo comigo? Eu não devia sentir isso... Devia olhar pra frente, e pensar que fora só um instrumento da Catarina... Eu tinha ganhado muito dinheiro e isso devia me aliviar...

Mas não estava funcionando pra mim. D. Laura Vieira seria massacrada, o marido não a apoiava, e eu sabia que tinha responsabilidade nisso... E o que ela tinha feito não era motivo pra tanto, ela fugira com o filho, mas parecia ter alguns motivos pra isso.

A verdade é que eu estava admirado. Ela era corajosa, estava enfrentando a sociedade, as convenções. Mulheres assim não deveriam sofrer tantas coisas... Mereciam vencer.

Então, Edgar Vieira foi até ela. Eles dançaram... Era um casal lindo... Vê-los juntos naquele baile foi como participar de uma história romântica em pleno momento da superação, do clímax... Os olhares, os gestos, os toques. Eles transpiravam amor.

E eu me sentia um crápula por contribuir nessa tentativa de separá-los, aquele dinheiro estava saindo mais “caro” que pensava, não devia ter aceitado a proposta da Catarina... Mas pelo menos, parecia que eu não tinha conseguido. Sentia um prazer ao pensar que eu e Catarina não tínhamos conseguido.

Laura e Edgar foram pro quintal e eu não consegui conter a minha curiosidade... Discretamente fui atrás... E acabei sendo testemunha de palavras apaixonadas, conciliadoras e momentos quentes.

Aliás, bota quente nisso... Se fosse hipócrita ou retrógrado, teria achado uma indecência e até mesmo fundamentado uma opinião de que eles eram vulgares... Um casal inconveniente que não respeitava a moral.

Mas eu não era, e pelo contrário... fiquei satisfeito. Aquele era um momento de reconciliação, da vitória de Laura e Edgar, da vitória do amor deles. Era júbilo e um pouco de excitação que sentia, admito. Eu era um cínico romântico. E tinha certeza que aquela coquete da Catarina tinha perdido. Laura e Edgar Vieira estavam apaixonados e eram apaixonantes.

Ao sair do baile naquela noite, eu tinha uma vontade... Um intuito de descobrir mais sobre Catarina Ribeiro. Imaginava que aquela mulher tinha deixado muita sujeira pelo mundo... E se descobrisse essas sujeiras, talvez conseguisse me reconciliar com minha consciência, dá uma lição em Catarina sem comprometer o Pasquim e até me redimir um pouco em relação ao que tinha feito a Laura Vieira.

Estava ocupado finalizando próxima edição do Pasquim. Mas escrevi uma carta a um conhecido em Portugal e pedi que ele colhesse informações sobre a cantora.

Após um tempo recebi uma resposta... Tinha um homem naquele país que buscava informações do paradeiro de Catarina... Havia até uma recompensa por isso.

Era bom demais... Mesmo sem essa intenção, eu acabaria tendo lucro com essa empreitada. Eu e meu conhecido acabamos dividindo o valor da recompensa, e ele passou a informação ao homem.

Pouco tempo depois, recebi um telegrama desse homem. Ele se chamava Filipe Pessoa, e pediu que eu fizesse um relatório completo sobre Catarina, sua filha e pessoas envolvidas com elas.

Ele estava vindo pro Brasil e também queria que lhe passasse o contato do melhor advogado do Rio de Janeiro, o melhor em relação a causas de família. Sendo que me garantiu que todo o meu serviço seria pago, aliás, bem pago.

Mais uma vez, eu estava feliz com isso, unia o útil ao agradável, e ia ganhar mais do que pensava com essa investigação, que já estava parcialmente pronta.

Preparei um relatório completo. Abordando a história da Catarina (sua carreira, amantes, armações, desafetos), e da filha no Brasil. Inclui Edgar, Laura e seus filhos. Até mesmo a fuga dela, o tempo de afastamento, e os últimos acontecimentos referentes ao Pasquim e seu cotidiano. Pontuei o que era verdade e mentira na matéria do panfleto. Só deixei de fora que eu era o responsável por ele e o fato de que Catarina tinha encomendado a notícia.

Mas coloquei algumas suspeitas de que ela poderia ter patrocinado, e que também podia ser responsável por alguns eventos estranhos que tinha acontecido com a família Vieira ultimamente como uma tentativa de sequestro da filha caçula e um incêndio num prédio onde Laura estava montando uma escola.

Eu não sabia direito o que Filipe faria com isso tudo, mas considerando o que o que já tinha executado com o Pasquim, esse era o serviço mais legítimo que fazia nos últimos anos. E de certa forma, fiquei satisfeito em fazê-lo.

Eu mesmo fui buscar Filipe no porto. Ele pareceu adorar o meu relatório e como prometido, fui bem recompensado. Enquanto ele olhava os papeis, acabou parando em um que tinha uma foto da filha de Catarina:

– Então essa é a Melissa ...– ele parecia admirado – Como minha filha cresceu!

Eu cheguei a engasgar com essa revelação. Então era isso! Ele era o pai da menina. Por essa causa, ele procurava Catarina e veio correndo pro Brasil. Também o olhei bem e vi que Melissa realmente era parecida com ele. Já até imaginava porque ele queria o advogado.

Ahhh...Tinha acabado de me meter num caso de família, algo bem sério. Então, Melissa não era filha de Edgar Vieira. Eu nem sabia direito o que essa revelação ia ocasionar. Mas adquiria a certeza de que ainda rolariam muitos problemas.

Entretanto era melhor prosseguir, em relação a esse caso, eu não tinha feito nada de errado ou ilegal. Só descobri a verdade. E as pessoas envolvidas teriam que lidar com ela. Esperava que fossem fortes pra aguentar as consequências.

Filipe me parecia um homem bom, firme, de palavra. O jeito que se portava, demonstrava o quanto ansiava em encontrar e provavelmente recuperar a filha. Catarina o tinha enganado e fugira com a menina. Aquela mulher era capaz de manipular muitos. E nessa lista de manipulados, eu acrescentei Filipe Pessoa.

Enquanto ele partia em direção ao escritório do advogado. Eu ainda pensava em tudo. Mas não adiantava fazer mais nada.

Peguei um bilhete que tinha no bolso. Ele fora colocado na caixa postal do Pasquim há algum tempo, mas não dei tanta atenção, pois estava envolto na investigação sobre Catarina... Era de Lauro Camargo, o homem que fora ao baile com Isabel e Laura. Ele queria encomendar uma edição.

Ele era noivo de Isabel, e amigo de Laura. Inclusive estava hospedado na casa de ambas. Essa proximidade me deixava um pouco receoso. Mas tinha verificado a sua proposta pra edição e ela era condizente. Eu iria pesquisar mais um pouco, mas estava pensando em aceitar a nova pauta.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Já dá pra ganhar um pouco de simpatia pelo Pascoal? E em relação as coisas que foram apresentadas sobre o Filipe? Alguma espera do que vai acontecer?
Sei que que talvez não é o esperavam, mas achei interessante colocar a explicação sobre a entrada do Filipe de Queiroz Pessoa. Um personagem que pensei desde o início. E talvez já dê pra entender melhor o personagem e a intenção dele.
Espero que tenham gostado e que comentem muito pra me animar a escrever o próximo... O próximo deve começar da onde parou o capítulo 68.