Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 70
A Revelação


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários.
Sei que esse capítulo demorou um pouco mais, mas eu tive algumas dúvidas, menos tempo e outros compromissos.
Espero que gostem e que comentem muito para me animar a escrever o próximo. Vou parar de falar e deixar vocês com Edgar após a revelação do capítulo 68...



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“Eu sou o pai da Melissa. Eu atravessei o oceano pra buscar a minha filha.”

Edgar em Lado a Lado


Por Edgar



Eu olhei bem pra aquele homem. Cabelos e olhos castanhos escuros. Não era alto. Era branco com um tom de pele um pouco mais escuro que o meu. E os traços eram semelhantes aos da Melissa. Por isso, ele devia me parecer familiar. Ele realmente era parecido com a Melissa. Mas não podia estar falando a verdade. A Melissa era a minha filha. A minha filha por quem atravessei o oceano há mais de 7 anos pra buscar!


– Não... Eu sou o pai da Melissa... Melissa é a minha filha! – falei alterado

– Dr. Edgar... Acho melhor conversarmos em outro lugar... Aqui é lugar de silêncio – ele disse relativamente calmo

– Eu ... Tá bom – não conseguia falar direito, tentava me conter, aquilo parecia um absurdo.

– A Senhora poderia ficar um pouco com a Melissa? – ele se virou pra Laura, e percebi que ela estava assustada com tudo- Não quero deixa-la sozinha e a Catarina não deve se aproximar dela!

– É claro! – ela respondeu firme

Filipe e eu fomos pra entrada do hospital. Eu ainda tentei abordar o assunto pelo caminho, mas ele parecia esperar um lugar mais apropriado pra isso. De certa forma, foi melhor, pois eu precisava organizar o turbilhão de sentimentos que me assaltavam por dentro:

– Dr. Edgar... Eu quero agradecer ao senhor por ter cuidado da Melissa. Talvez, se o senhor não tivesse presente, minha filha não estaria viva!

– É a minha filha! – falei irritado

– Não, é minha! E tenho certeza disso... Eu vivi com a Catarina durante um tempo em Portugal, vi a Melissa nascer, ela se parece comigo, e mesmo não podendo confiar muito na Catarina, tenho bons motivos pra acreditar que no período em que ficou grávida, ela era fiel a mim. Sinto muito... Ela te enganou... Aliás, me enganou também e fugiu com a minha filha... Sei que o senhor a criou e amou durante esses anos... Agradeço por isso. Mas eu a procuro desde a sua partida, e não ... – ele disse firme e parecia sincero

– O senhor deve estar equivocado. A Catarina não mentiria sobre uma coisa assim – as memória vinham a minha mente- Não sabe o que aconteceu esses anos, eu cuidei da dela, dei remédios, contei histórias... A Melissa foi a única constante em minha vida. Eu lutei e perdi muitas coisas por ela... Ela é a minha filha... A Catarina também foi minha amante em Portugal! –não sabia o que falar

– A busca por Melissa também foi a única constante em minha vida durante esses anos... Dr. Edgar, eu entendo o seu lado. Mas também há o meu. Não vou abrir mão da minha filha. Ela é a única pessoa que me resta... O senhor deve estar confuso... Mas vou te esclarecer alguns pontos. Eu tenho a certidão de nascimento verdadeira da Melissa... Eu mesmo a registrei. E ela nasceu 3 meses após a data que Catarina te informou. Quando você a registrou, ela não tinha 10 meses, e sim 7. Mesmo assim o meu registro é anterior ao seu. Talvez essa diferença de tempo esclareça que o senhor não pode ser o pai dela.

– Se você está falando a verdade, eu realmente já não estava mais com a Catarina quando ela ficou grávida! – constatei ao fazer as contas

– É verdade... Catarina estava comigo na minha chácara! Só mais uma coisa. Eu entrei com um processo pra obter a guarda de Melissa. Pela reputação da Catarina e pela fragilidade da Melissa, o meu advogado já conseguiu a guarda provisória. Ainda mais depois que eu a socorri no seu último ataque.

– Mesmo se for verdade, isso não muda nada! Não muda o que eu sinto pela Melissa, eu a amo... Ela continua sendo a minha filha! – disse nervoso ao perceber que ele realmente queria tomá-la

– Eu amo a Melissa também. A procurei durante todos esses anos. Nunca deixei a minha esperança morrer. Sou o pai dela. E quero que ela entenda isso, queria criá-la como tal. Você me parece um bom homem, e sinto muito por essa situação. Mas não posso desistir dela.

– Eu também não vou desistir – falei resoluto

– O senhor está no seu direito, e eu no meu. Vamos ver o que acontece- ele comentou decidido, quase firmando um desafio, voltou pra maca da Melissa e eu o segui.

Melissa estava acordada e Laura tentava distraí-la:

– Bom dia, minha Florzinha- falei carinhoso ao vê-la e a abracei. Não queria deixar transparecer o que acontecia

– Bom dia, papai – ela respondeu sorridente, e percebi um olhar de insatisfação de Filipe.

– Você melhorou? – perguntei

– Sim... O Filipe me ajudou.

– Que bom, querida! Eu tenho que ir agora... Resolver umas coisas... - realmente tinha que pensar bastante e tomar algumas ações depois daquela conversa

– Eu vou ficar com você, Melissa – Filipe afirmou.

– Vai ser ótimo então... O Filipe é supimpa - dessa vez, eu é que olhei descontente pra aquele homem, ela parecia gostar dele.

Laura e eu nos despedimos de Melissa e partimos. O turbilhão de emoções voltava a me atingir, e acabei contando a ela o que se passava. Após um tempo, decidi que ainda tinha que ter mais uma conversa antes de tomar qualquer providência. Assim nós fomos à casa da Catarina. Ao chegar lá, eu tentava me conter, mas era difícil:

– Catarina, como pode fazer isso? Como foi mentir assim? Tem ideia de como a sua mentira virou minha vida de ponta cabeça? Eu fiquei anos longe da minha família .E agora...– falei furioso

– Edgar... se acalme. Não sei do que você está falando... – ela respondeu surpresa

– Claro que sabe. Ou vai me dizer que aquele homem, aquele tal de Filipe de Queiroz Pessoa está mentindo? Que ele é apenas um louco que se diz pai da Melissa?– ela estava prestes a responder, mas eu resolvi alertá-la – Cuidado, Catarina. Lembre-se que dessa vez eu não engolirei uma mentira facilmente, já que ele se diz disposto a provar tudo.

– Edgar ... Eu não sabia que você tinha falado com ele. Entenda que ele queria tomar a minha filha... Que homem tira a filha de uma mãe? Eu não podia deixa-lo fazer isso. E acabei mentindo, mas por amor a Melissa! Ela precisava de mim!

– Isso não justifica nada. E será que Melissa precisava mesmo de uma mãe mentirosa? Uma mãe que mentiu sobre sua origem e a usou pra obter seu sustento? Uma mãe que se atrapalhava a qualquer crise dela? Uma mãe capaz de enganar e prejudicar tantas pessoas até mesmo sua filha?

– Não fale assim comigo, Edgar. Ainda mais na frente da Laura – ela olhou pra Laura que até então permanecia calada – Isso é um assunto nosso.

– É aí que você se engana, Catarina. Esse assunto não é só seu e do Edgar. Depois do que você fez, o modo que infernizou a minha vida, a nossa vida, isso se tornou assunto meu também. Eu preciso estar aqui pra ver o que vai falar depois de tudo que você aprontou!- Laura falou intensa

– E Catarina, me diga do que adiantou? Você vai perder a Melissa. Ela ficando comigo ou com o Filipe. Você não a terá mais - decretei

– Vocês não podem tirar a minha filha!

– Na realidade não é só um poder, é um dever. A Melissa não deve conviver com uma mãe mau-caráter assim, que mente, manipula, faz intrigas. E não pensa em como isso vai afetar os outros. Ela merece mais. Você me enganou... e mesmo que eu não tenha te engravidado, isso não muda o meu amor por minha filha. Sendo que agora, pelo o que você fez, ela pode ser afastada de mim. E você já imaginou o que vai se passar na cabeça dela quando descobrir tudo? Como ela vai se sentir? Não, Catarina, você não pensou na sua filha. Como sempre, pensou exclusivamente em você!

– Mas Edgar ... – ela ainda tentava falar

– Só mais uma coisa. Como a Melissa não vai ficar mais nessa casa, eu não tenho mais obrigação de sustentá-la. Sendo assim, aproveite que o aluguel desse mês, as empregadas e outras contas estão pagas... Mas te aviso, essa é a última vez que coloco dinheiro aqui!

– Eu também preciso falar... – Laura tomou a palavra - Essa é a primeira tramoia que descobrimos de você. Seu verdadeiro caráter já começa a aparecer, um pouco tarde, mas antes tarde do que nunca. E o relógio continua andando. Tenho certeza que não será a única intriga que descobriremos. Aguarde! – ela parecia convicta

Laura e eu voltamos pra casa. E mesmo após despejar aquelas palavras em Catarina, eu me sentia mal, cansado. Fiz o que queria, mas não senti nenhum alento. Parecia que tinha sido derrotado depois de uma longa batalha. Pensava em tudo que havia acontecido naqueles anos e me sentia um palhaço, um imbecil, um perdedor. E além de tudo eu podia perder a minha filha Melissa. A aparição daquele Filipe de Queiroz Pessoa tinha tirado o meu chão.

Fiquei algum tempo com Laura. Ela tentava me consolar. Era carinhosa e conversava comigo. Em certo momento, falei:

– Laura, mesmo sabendo que a Catarina me enganou, que a Melissa não pode ser ... - ela me interrompeu

– Eu sei, meu amor. Ela continua sendo sua filha, pois você a criou e a ama como se fosse. Isso não muda o seu sentimento.

– Eu sinto muito por tudo o que aconteceu... Se eu tivesse investigado melhor, se eu fosse mais esperto, muita coisa ruim não teria acontecido ... Eu teria visto os nossos filhos nascer, teria acompanhado o crescimento deles, não haveria separação, e não sofreríamos tanto. Mas agora já tá feito, e eu amo a Melissa. Não posso deixa-la ir embora ou deixar de amá-la assim. Eu vou continuar lutando por ela! –disse firme

– Eu entendo, Edgar. Não imaginava outra atitude sua... E ficarei ao seu lado- Laura finalizou compreensiva.

Eu não podia ficar parado enquanto aquele português tentava tomar a minha filha. Precisava buscar informações sobre o processo que ele abrira. Precisava estuda-lo pra tomar uma atitude, pra lutar. Precisava pesquisar processos de família... Já tinha perdido muito tempo.

Filipe tinha pedido a guarda de Melissa pouco após a minha ida pra fazenda. E a cada folha que lia, eu percebia o quanto seu caso era sólido. E isso me causava um temor colossal. Eu não podia ficar sem a Melissa!

Ele tinha várias provas do que tinha falado comigo. E além disso, alegava, até trouxera testemunhos transcritos e a cópia de um processo que há anos corria em Portugal, onde dizia que Catarina havia fugido com Melissa sem sua permissão, apesar de ambas serem bem tratadas por ele.

Do meu lado, eu só tinha o fato de que a havia criado com dedicação nos últimos anos. Ela me reconhecia como pai, mas com as provas de Filipe, o meu registro seria invalidado. E também não podia provar a minha paternidade já que pela data real do seu nascimento, não era o seu pai biológico.

O caso dele era forte, mas eu não ia desistir assim. Tinha que manter as minhas esperanças, mesmo sabendo que seria difícil. Um juiz iria tomar a decisão e talvez ficasse do meu lado.

Enquanto isso, me empenhei como nunca em estudar esse caso e outros de família, queria descobrir alguma brecha, até mesmo telegrafei pra Portugal e pedi a um conhecido que começasse uma investigação sobre esse Filipe. Talvez houvesse alguma coisa errada na história dele, ou até mesmo ele tivesse feito algo que fizesse o juiz decidir que ele não poderia criar Melissa.

Eu cheguei a visitar Melissa no hotel dele, pois ele não queria arriscar outra fuga, e não deixava ninguém se aproximar da filha sem sua supervisão. Ela parecia bem cuidada, estava um tanto confusa, mas se mostrava contente. E eu percebi a contra gosto que ela gostava de Filipe, que ele era bem atencioso com ela.

Aparentemente ele já se preparava pra contar o que ocorria a ela, possivelmente até que era o seu pai. Mas na verdade, era doloroso falar sobre isso e eu preferi não conversar muito com ele.

Eu dedicava grande parte do meu tempo a esse caso, ao mesmo tempo, que não sentia muita vontade de fazer outra coisa. Me sentia muito triste, inerte. E não visitava mais Laura e as crianças na casa que ainda moravam.

Mas eles passaram a dormir a maior parte dos dias em minha casa. Laura fazia questão que eu, ela as crianças mantivéssemos alguma rotina.

Eu tinha receio de perder o contato com meus filhos ... A proximidade que tinha conseguido a tanto custo. Só que precisava me empenhar no processo, era uma questão urgente, e não me satisfaria se não me entregasse completamente.

E também andava pensando em tudo ... Nas situações e sentimentos que me remoíam. Felizmente Laura compreendia, e continuava ao meu lado, me apoiando e me ajudando com as crianças. Eu devia me abrir, conversar com ela, agradecer por sua ajuda, desabafar... Mas não conseguia e fazia o contrário... Me afastei... Me fechei.

Talvez isso acontecesse por causa dos sentimentos e pensamentos que me perturbavam. Era como se houvesse um bicho picando o meu cérebro, ou um diabinho me fazendo pensar no pior.

Eu tinha muita raiva da Catarina e não queria vê-la pela frente. A culpa era dela... E só de pensar no que ela havia feito, ficava possesso...

Mas também pensava em Laura, nas brigas e problemas que tivemos desde que Melissa entrara na nossa vida. E de certa forma, cheguei a imaginar que ver Melissa longe seria um desejo dela... Um obstáculo fora do seu caminho. E que talvez ela gostasse desses acontecimentos.

Além do mais, me lembrava da viagem que fizemos. Ela tinha sido muito importante pra nossa família. Eu havia me aproximado de verdade deles. Só que em compensação, enquanto estava longe, Filipe entrou com o processo. E até conseguiu a guarda provisória da Melissa.

Pensava se eu não tivesse ido, se Laura não tivesse me convidado. Talvez eu teria tomado providências mais cedo e o juiz não daria a guarda pra ele, talvez Melissa estivesse comigo e o processo não estaria tão ruim pro meu lado.

Esses pensamentos podiam parecer loucura, coisas irracionais. Mas estavam na minha cabeça. Continuavam me perturbando, e dessa forma, eu não me abria com Laura. Eram coisas muito duras que não conseguia ignorar totalmente, e sabia que não podia colocar em palavras.. Pois teria sérios riscos de afastá-la definitivamente.

Eu amava Pedrinho e Cecília.. Eu amava Laura... Queria ficar perto deles... Queria me abrir com ela. Ficar em comunhão com minha esposa... Com minha família. Mas isso não podia acontecer, eu não podia ser feliz enquanto a possibilidade de Melissa partir era tão presente. Enquanto tantos pensamentos, dúvidas, culpas e acusações povoavam a minha mente. Assim, ia me afastando de Laura.



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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Situação complicada né? Algum opinião sobre o está acontecendo e o que acham que deve acontecer?
Espero que tenham gostado e que comentem muito. Essa é uma fase mais tensa da história, onde estou com menos tempo, assim é mais difícil escrever, e como sempre vocês me podem me animar, me ajudar a escrever.