Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 63
O incêndio


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram bastante.
O capítulo de hoje demorou um pouco mais. Mas espero que gostem e comentem muito. Fiquem então com o incêndio...



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“Eu devia ter ido junto com você. Se te acontece alguma coisa... Eu preciso proteger você. E não só porque você é a minha esposa. Mas também porque eu não sei viver sem você.”

Edgar em Lado a Lado

Por Edgar

Eu estava indo pra casa de Laura. Às vezes, ficava confuso. Já tinha passado tantas noites lá, minha mulher morava lá, meus filhos moravam lá. Até mesmo parecia que era a minha casa.

Eu já entrava na casa sem bater, às vezes, as domesticas me perguntavam coisas relativas à residência e sozinho pegava alimentos pra comer na cozinha. Mas a verdade é que essa familiaridade não me agrava. Aquela não era a minha casa, e queria que dentro de pouco tempo também não fosse de Laura e dos nossos filhos.

Laura e eu adiávamos uma conversa definitiva... Mas eu não queria ficar indefinidamente naquele estado. Só que era difícil começar a conversa.

Pensando nisso entrei e encontrei Lauro na sala com Pedrinho e Cecília. Isabel tinha saído com seu Afonso e Neto. Laura também não estava. E ele distraia os meus filhos, entrei na brincadeira deles, mas após um tempo, Lauro falou preocupado ao olhar no relógio:

– Nossa já é tarde! A xará vai ficar brava comigo. Tenho que busca-la.

– Laura tá onde? – perguntei

– Na escola ... Eu tenho que ir! – ele pegava seu chapéu

– Laura realmente fica zangada com atrasos – estava tendo uma ideia – Mas que tal irmos com você? Crianças, o que acham de ir à escola da mamãe? – me virei pra Cecília e Pedrinho

– Eu quero! – respondeu Cecília animada

– Eu também, Edgar – Pedrinho era mais contido, mas gostou da ideia.

– Então se apressem, não quero zangar a mãe de vocês – Lauro falou

– As crianças vão amaciar a Laura, você vai ver - comentei

Meu carro estava na entrada da casa, e para poupar tempo, resolvemos que todos iriam nele. Mas ao chegarmos à escola nos deparamos com uma cena aterradora. O prédio estava em chamas, e havia umas poucas pessoas em volta, observando tudo.

Eu tentei me conter pelas crianças, mas desci do carro assustado. Fui em direção à aglomeração, sendo seguido por Lauro que carregava Cecília, e Pedrinho. Meus filhos também estavam apavorados. Na verdade, da gente, só Lauro conseguia se segurar um pouco.

O lugar parecia um inferno, e dentre aquelas pessoas não consegui identificar Laura. Um pavor começava a tomar conta de mim com a ideia que ela estava dentro do prédio. Comecei a gritar por ela, na esperança de obter uma resposta. Assim, Lauro colocou Cecília no chão. E se aproximou, falando discretamente:

– Calma, Edgar. Você está assustando as crianças.

– Mas a Laura pode estar lá dentro – disse baixo tentando me conter

– Se acalme que veremos isso. Desse jeito, você nem pode ajudar.

Mais pessoas apareciam pra observar o incêndio e Lauro se voltou pra um homem que tinha acabado de chegar:

– Ei, você trabalha aqui. Não é?

– Sim. Tinha ido embora, mas voltei quando me falaram de um incêndio. Esperava o bonde. Não pode ser... Esse prédio não podia estar assim- ele estava sentido

– E a D. Laura?

– A D. Laura ficou. Ela ficou olhando as salas. Ela não apareceu aqui?

Com aquela declaração, eu tive certeza. Laura estava dentro do prédio. E corri em direção à porta. Lauro falou alguma coisa com as crianças e veio atrás de mim:

– Ela está lá dentro, Lauro!- me sentia desesperado

– Nós vamos ver. Vamos entrar – ele disse mais baixo, mas depois aumentou o tom - Chamem os bombeiros. Nós vamos entrar. Pode ter alguém dentro.

Nós tentamos abrir a porta, mas ela estava travada. Lauro e eu nos forçamos contra ela, e a porta cedeu. Uma grande quantidade de fumaça saia, eu tirei meu casaco, o coloquei contra o meu rosto, ao mesmo tempo, chamava por Laura. Mesmo sem respostas, entrei no prédio e Lauro me seguia, quando escutei:

– Pedrinho! Pedrinho! – era Cecília que corria atrás de Pedrinho, meu filho também estava entrando no prédio. Ambos pareciam bem assustados.

Lauro voltou e segurou as crianças. Ele as levava pra longe do incêndio enquanto eu ainda observava:

– A mamãe! A mamãe! – Pedrinho se debatia

– Ela vai ficar bem. Seu pai está lá dentro. – Lauro tentava os acalmar

Com esse comentário, eu entrei definitivamente. A dificuldade de respirar era enorme, dava pra ver labaredas ao fundo, o que me dava alguma visão, mas a fumaça densa a diminuía.

Eu estava apavorado. Imaginar Laura naquele lugar, perturbava a minha mente. Mas tinha que me manter forte, agir com cuidado e sensatez para encontra-la.

Andava no corredor de entrada com cautela, pois naquelas condições, não conseguia ver muita coisa. Mal acreditei quando meus pés se esbarraram em algo no chão. Com cuidado, me ajoelhei e vi Laura. Meu coração parecia sair pela boca. Eu a havia encontrado!

Enquanto a carregava pra fora. Outro temor tomava conta de mim. Ela não tinha queimaduras, pelo menos, não em lugares evidentes. Mas não se mexia. Eu queria ver se estava bem, só que não conseguia fazer isso naquele lugar, precisava tirá-la daquele inferno antes.

Consegui ver a porta e saí por ela. Pessoas vieram até a mim, mas não prestei muita atenção nelas. Meu foco era outro. Meu foco era Laura.

A coloquei no chão. Seu rosto e roupas estavam sujos pela fuligem... E realmente não tinha nenhuma queimadura grave, só notei que a palma de uma das mãos estava um pouco mais vermelha.

Mas ela não se mexia, nem parecia respirar. E a ideia que não estava viva me assombrava, a abracei e sussurrei em seu ouvido:

– Laura, meu amor! Acorda!- ela não podia ir assim, não podia nos deixar, nós tínhamos tantos sonhos pra realizar juntos, os nossos filhos ...

Não consegui me conter, eu estava desesperado, lágrimas escorriam dos meus olhos, ela não se mexia:

– Edgar, você sabe fazer primeiro- socorro? – escutei uma voz, não sei de onde, mas me parecia de Lauro.

Me acalmei um pouco. Deitei sua cabeça novamente no chão, pressionei minhas mãos contra o peito de Laura, eu tentava ser cuidadoso pra não machuca-la. Levei os meus lábios aos dela ... Ela tossiu, e começou a se mexer, abriu os olhos. Ela estava viva. Laura estava viva. Meu coração explodia em meu peito:

– Laura ... – toquei em seu rosto enquanto sorria, estava tão aliviado!

– Edgar? – ela disse confusa e se sentou

Eu ia abraça-la. Mas antes de fazer isso, Pedrinho e Cecília quase pularam nela. Eu via lágrimas nos olhos dos meus filhos, eles pareciam bem preocupados:

– Mamãe! Mamãe – eles falaram enquanto a abraçavam

– Você tá bem? - perguntou Pedrinho

– É... Você tá? – completou Cecília

– Tô, meus amores. Tô ! A mamãe não ia deixar vocês!- ela estava emocionada

Nesse momento, eu percebi Lauro de pé ao meu lado. Ele sorria. Parecia bem aliviado com aquilo tudo.

Após um tempo, os bombeiros chegaram e começaram a apagar o fogo. Eu e Lauro queríamos levar Laura a um hospital. Mas ela insistia que estava bem e queria ir pra casa. Assim nós voltamos pra casa dela.

As crianças pareciam muito assustadas e não queriam se desgrudar da mãe. Ela os convenceu a tomarem um banho, pois estavam sujos depois de receberem parte da fuligem dela.

Laura e eu ficamos sozinhos no quarto. Eu queria lhe falar tantas coisas. O que tinha sentido ao pensar que a perderia, como estava feliz por ela estar viva. Mas as palavras não vinham, apenas a beijei com carinho. E depois a abracei bem apertado.

Nós ficamos assim por um tempo, ela em meus braços. Numa sensação de calma, de paz. E o silêncio era ocasionalmente interrompido por sons de soluços, meus e dela. Pois em certos momentos, não contínhamos o choro. Um choro de medo e alívio.

Assim escutamos o barulho de passos. E nos sentamos na cama. Em pouco tempo, as crianças estavam no quarto. Queriam ficar com Laura. Mas eu consegui convencê-los a dar mais uma folguinha pra mãe. Uma folguinha pro banho.

Fiz com que eles comessem alguma coisa. Mas ambos não tiraram o pé do quarto. E estavam nele quando Laura voltou já limpa e preparada pra dormir. Eles se agarraram a ela. E ela começou a lhes contar histórias, a cantar. Não demorou muito pra Pedrinho e Cecília dormirem.

– Quer que eu leve as crianças? – perguntei

– Não, deixa aqui – ela os agarrou bem.

– Quer que eu vá embora? – tinha muito medo de uma resposta afirmativa, não queria passar a noite longe dela.

– Não... Você tá proibido de ir, senhor Edgar Vieira – ela sorriu, era tão forte e admirável

– Ainda bem. Não quero ficar longe de você, meu amor.

Fui à sala de banho pra me limpar um pouco e voltei ao quarto. Laura continuava aconchegada as crianças, mas ainda estava acordada:

– Será que tem um pedacinho de você pra mim, meu amor? – perguntei

– É claro – ela falou mantendo o contato com as crianças e se deitando de lado

– Hoje, você está sendo tão disputada – disse me aconchegando a ela.

– É ... As crianças ficaram muito assustadas, Edgar.

– Eu fiquei muito assustado... Imaginei que sofria. Pensei que você ia ... Pensei que te perderia novamente. O que seria da minha vida ... da nossa vida sem você, meu amor... Não ia conseguir – disse intenso

– Foi horrível, meu amor. O fogo, tanta fumaça... Eu também pensei que ... Também fiquei assustada. Achei que não veria mais vocês... que não envelheceríamos juntos, não veria os nossos filhos crescerem... – ela estava prestes a chorar, mas notei que se recuperou e falou esperançosa – Mas agora tá tudo bem, nós estamos aqui.

– Sim, tá tudo bem. Nós estamos juntos. Tudo vai dar certo – me levantei um pouco, beijei seus lábios, suas bochechas, seu nariz com carinho e me aconcheguei novamente nela- Eu te amo, Laura!

– Eu te amo, Edgar ... Vamos dormir um pouco?- ela sugeriu

– Claro.

E dormi embalado naquele aconchego.

Senti que raios solares batiam em meus olhos e os abri. Eu estava abraçado a Laura, desfiz o abraço e me levantei. O clima de tranquilidade pairava no quarto. Mas depois notei que Pedrinho se mexia e me olhava. Procurei agir com naturalidade, falei baixo pra não acordar Laura ou Cecília:

– Bom dia, filho.

– Bom dia! Você dormiu aqui? – ele parecia desconfiado

– Dormi- disse tentando não me aprofundar nisso – Já amanheceu, não é? – não esperei a resposta dele, olhei no relógio e voltei a falar – Mas ainda não é tão tarde. O que acha de trazermos o café da manhã pra sua mãe e irmã?

Ele parecia indeciso e eu arrisquei algo mais íntimo:

– Vamos? – o puxei da cama, ele não se mostrou chateado, e me acompanhou até a cozinha.

Eu peguei uma bandeja e coloquei em cima da mesa:

– O que você acha que elas irão gostar?

Ele deu um sorriso leve e começou a colocar alimentos, eu também colocava alguns. Mas de repente, percebi que sua expressão se anuviou um pouco, ele parecia preocupado:

– Edgar... – Pedrinho fez uma pausa – Brigado por salvar a minha mãe – ele parecia fazer força pra não chorar

– Pedrinho, não precisa agradecer – disse carinhoso e depois olhei intenso em seus olhos – Eu amo a sua mãe, e não sei o que seria da minha vida sem ela. Não precisa agradecer. Se eu ... – ele me interrompeu

– É ... Você parecia tão triste quando a mamãe ... –ele parou de falar e voltou colocar coisas na bandeja

Pela primeira vez, eu estava tendo uma conversa franca e emotiva com meu filho e queria continuar. Mas já começava a entender e admirar o seu jeito. Não podia atropelá-lo e voltei a selecionar a comida. Só que após um tempo ele disse:

– Edgar... Se a mamãe morresse, o que aconteceria comigo e a Cecília?- sua voz era firme, mas dessa vez ele acabou deixando escapulir umas lágrimas.

Eu dobrei os meus joelhos, ficando mais ou menos da altura dele, peguei em suas mãos e disse emocionado olhando bem em seus olhos:

– Filho... Ia ser muito difícil... Porque eu, você e sua irmã amamos muito a sua mãe... Mas vocês não ficariam sozinhos. Vocês ainda me teriam. Acredite, Pedrinho, eu amo vocês. Eu te amo, filho! Vocês podem e sempre poderão contar comigo. Você pode contar comigo!- quando terminei de falar, também estava quase chorando, mas consegui me conter.

Ele olhou pra baixo, e depois me abraçou, era um abraço completamente espontâneo:

– Brigado, Edgar – pra mim soou como um “ acredito”.

Pela primeira vez, depois dos 5 anos, eu me sentia realmente próximo de Pedrinho. Era incrível, um sonho. Não consegui me segurar, estava muito feliz, e algumas lágrimas escapuliram dos meus olhos.

Depois que desfizemos o abraço, notei que ele também chorara, tentava esconder isso:

– Tá tudo bem, filho. Vamos terminar de arrumar essa bandeja? – falei sorrindo

Nós voltamos a arrumar o café da manhã. E já tínhamos uma bandeja bem bonita e variada quando perguntei:

– Você acha que tá pronto?

– Sim – ele sorriu satisfeito

– Falta só uma coisinha.

– Falta?

– Falta... Flores de alecrim.

– Alecrim?

– É... Tem no quintal. Vamos lá pegar. Sua mãe vai gostar. Essa é a nossa flor, minha e da sua mãe, Pedrinho! Nosso símbolo de coragem, sinceridade e felicidade!- esclareci ao meu filho


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Edgar salvou a Laura... Pedrinho e Edgar tiver uma conversa sincera... Se emocionaram? Gostaram? Espero que tenham gostado e que comentem muito... Seus comentários sempre me animam a escrever.