Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 64
A Vida


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram tanto.
Esse capítulo era pra abordar mais coisas, mas decidi repartir os acontecimentos.Hoje o tempo foi menor e tive que fazer um esforço pra conseguir escrever e revisar. Espero que gostem e que comentem muito.



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"-Matilde, essa comida está uma delícia- Laura

– Muito boa mesmo - Edgar

– Obrigada, é o tempero de sempre- Matilde

– Não, hoje tá diferente. Hoje tá especial - Laura"

Lado a Lado


Por Laura

Eu tinha visto a morte. E isso me fizera pensar na vida. Nas coisas que queria e não queria. Nas pessoas que eu mais amava. No que era importante. O que tinha que fazer, e como o tempo era precioso. Eu queria me sentir viva. Feliz. Realizar os meus sonhos o quanto antes. Ajeitar a minha vida.

Em alguns aspectos, o destino me parecia atroz. Eu estava enfrentando tantas coisas ultimamente. Tantos problemas e riscos. Mas ao mesmo tempo, ele também era tão generoso. Pois com essas dificuldades, eu me sentia cada vez mais unida a Edgar, e aos nossos filhos. As pessoas que mais amava no mundo. Eles eram magníficos comigo e por isso até sentia que no fundo eu tinha sorte.

Edgar tinha sido extraordinário no incêndio. Ele me tirara daquele inferno. E depois agira como um verdadeiro companheiro. Foi horrível encarar a morte. Mas era maravilhoso tê-lo ao meu lado nesse momento. Ter o carinho dele e dos nossos filhos. Pois o que realmente importava eram as pessoas, as pessoas que me amavam e que eu amava. Edgar. Pedrinho. Cecília. Meus amigos. E familiares.

Quase como um impulso, eu pensava em voltar com Edgar definitivamente. Jogar pro ar a sensatez, a calma. Fazer o que mais desejava. E voltar pra nossa casa com nossos filhos. Eu estava perdendo momentos preciosos.

Mas ainda havia o perigo, pois à medida que eu e Edgar ficávamos mais próximos. As coisas que eu enfrentava se tornavam mais graves. Aquela mulher devia estar envolvida no incêndio. Não tinha outra explicação. Só que meu herói se mostrava imperfeito nesse aspecto, nesse ponto ele não acreditava em mim, não me apoiava.

Eu mal tinha passado por uma tempestade, não podia agir no calor do momento. Tinha que pensar. Esperar esse medo da morte e essa sensação de urgência de viver se acalmar um pouco. Pra decidir o meu passo a seguir. Mas uma coisa era certa, eu não podia enrolar mais essa situação com Edgar.

Eu me revirava na cama com esses pensamentos. Cecília ainda continuava dormindo. Não via Edgar e Pedrinho. Eles já deviam ter acordado. Mas enquanto curtia a preguiça com a minha menininha. Os meus garotos apareceram com uma surpresa.

– Café da manhã pra você, meu ... Laura – Edgar sorria segurando uma bandeja, e vi Pedrinho ao seu lado, ele também sorria.

Uma imagem surpreendente. Os dois juntos, alegres, pareciam amigos. Era a primeira vez que os via com tanta familiaridade. Eu adorava ter um café da manhã na cama. Mas esse conseguia ser melhor ainda, pois Edgar e Pedrinho o haviam preparados juntos, unidos numa tarefa como pai e filho de verdade. E isso me encheu de felicidade.

– Que bom, pois eu estou faminta. A quem devo agradecer por tal gentileza?

– Ao Pedrinho... Ele que montou a bandeja– Edgar respondeu

Pedrinho se aproximou de mim:

– O Edgar ajudou – ele disse mais sério, não gostava de levar o crédito sozinho.

– Vem cá, meu amor – eu puxei Pedrinho pra mim e lhe dei um beijo, ele se contorceu rindo – Obrigada, filho – enquanto o abraçava, movi os meus lábios olhando pra Edgar, não deixei sair som algum, mas ele percebeu o que eu falava – Obrigada, meu amor!

Edgar sorriu, colocou a bandeja em cima cama e se sentou. Eu olhei admirada pra ela, estava tão linda. Tudo parecia tão apetitoso e tinha ...

– Não vai comer, mãe? – perguntou Pedrinho

– Vou... Está tão bonito... E tem flores de Alecrim.- sorria

– O Edgar disse que você ia gostar... Que era a flor de vocês – Pedrinho falou olhando pra nós dois, e esse comentário até me encabulou um pouco

– Eu adorei – o abracei novamente e troquei olhares e sorrisos calorosos com Edgar, até pensei que se nossos filhos não estivessem lá, demoraríamos um bom tempo pra começar a comer aquele café da manhã, pois nos empenharíamos em outra tarefa.

Depois que Pedrinho desfez o nosso abraço. Eu comecei a comer, e incentivei Edgar e ele a fazerem o mesmo. Tudo estava extremamente delicioso. Talvez por que estávamos juntos. Assim tinha um gosto especial.

Cecília acordou no meio de tudo e ainda coçando os olhos perguntou um pouco ofendida:

– Vocês tão comendo sem mim?

Eu e Edgar rimos, e depois a peguei no colo:

– Calma, gulosa. Ainda tem muita coisa pra você – falei com carinho e beijei a sua cabeça

Ela começou a pegar as coisas que mais gostava. E nós continuamos a comer aquele café da manhã magistral, que conseguira ficar ainda mais apetitoso com a participação da nossa menina.

Após ficarmos todos saciados, Edgar perguntou:

– E agora, o que vamos fazer?

– Brincar? Pai, vamos brincar de cavalinho?– sugeriu Cecília

– Ou de explorador? – disse Pedrinho

– Crianças, seu pai tem que trabalhar, ele tem uma audiência pela manhã. Não tem?

– Tenho... Mas... eu...

– É o seu trabalho, Edgar. A gente vai continuar aqui- falei firme

– Verdade. Eu tinha até me esquecido dessa audiência- ele parecia agir um pouco a contra gosto, mas abraçou as crianças e partiu.

Após a saída de Edgar, Pedrinho e Cecília continuaram comigo. Eu tentei fazer com que brincassem um pouco. Mas eles não queriam se afastar de mim. Eu percebia o quanto estavam abalados. Em alguns momentos, até comentaram sobre o nosso tempo no interior e D. Amália. A impressão que me passavam é que se sentiam inseguros. Era como que se eles ficassem longe de mim, alguma coisa ruim aconteceria comigo.

Assim, eu e Isabel resolvemos levar as crianças à praça. Desse modo, eles conseguiam me ver enquanto brincavam, e não escutariam a minha conversa com ela.

Eu precisava desabafar com minha amiga. Contar o que tinha passado, meus medos, minhas vontades, minhas dúvidas. Falar das minhas suspeitas sobre aquela mulher. Contra ela, Isabel era a minha maior aliada, e ela até podia conseguir mais informações com o pessoal do teatro.

Depois do passeio, eu devia dar aulas aos garotos, mas não tinha cabeça pra isso. Pedrinho também não parecia estar bem pra aula. E eu armei outros planos.

Foi uma batalha pra convencer meus filhos que eu tinha que sair sem eles. Tive que ser doce ... e dura ao mesmo tempo. Prometer coisas. Confortá-los. E mesmo assim, estavam inquietos quando fui. Me doía deixá-los daquele jeito. Mas eu tinha que resolver uns assuntos e seria melhor se eles não estivessem comigo.

Fui até a casa de Edgar. E ele atendeu a porta. Vê-lo atiçou a minha vontade de aproveitar o momento, e me fez agir no impulso:

– Laura? – ele disse surpreso

– Edgar... – o beijei com ânsia

– Aconteceu mais alguma coisa? – ele perguntou em meio ao beijo

– Não – respondi

– Eu estava indo pra sua casa. – ele disse enquanto descolou seus lábios por um momento, mas depois me beijou novamente.

– Eu queria falar... com você a sós – falei roçando meus lábios ao dele

– Falar o que?

– Depois... Agora eu preciso me sentir viva. Sempre me sinto viva nos seus braços.

Ele entendeu e nós subimos pro quarto. Edgar começou a tirar minhas roupas com cuidado. Até parecia que eu era de louça e que quebraria com um movimento mais brusco.

Eu não era tão frágil, mas isso me fazia tão bem. Assim percebia melhor o seu olhar encantado, os seus olhos verdes fascinantes, seu toque que parecia mais intenso, profundo. Ele beijava o meu corpo com desvelo. Parecia querer inspecioná-lo, parava em alguns pontos. Parou em minha mão que estava um pouco queimada e a beijou com especial cuidado.

E eu me arrepiava, me contraia. Era como que sentisse cada célula do meu corpo... cada célula minha ...viva. A sensação era intensa, maravilhosa, inebriante, como eu precisava daquilo.

Depois eu o ajudei a tirar a sua roupa com todo cuidado, com toda atenção. Edgar era tão lindo. Tão carinhoso. Tão tórrido. E ali eu era só dele e ele só meu.

Nos amamos com calma e intensidade. Como eu queria aquilo. Como queria sentir na pele o nosso amor. Como eu precisava de Edgar.

Já estávamos satisfeitos e aconchegados no braço do outro quando ele disse:

– Se sente viva?

– Bem viva – ri

– Eu também, meu amor... Mas estou curioso sobre o assunto da conversa.

– Será que sua curiosidade aguarda mais um pouquinho? O exercício me deixou com fome.

Nos vestimos , descemos e enquanto fazíamos um lanche, começamos a conversar:

– Será que podemos acabar com o mistério da conversa? – ele sorriu

– Claro- sorri de volta e depois continuei séria – Edgar, as crianças ficaram tão abaladas. Elas se sentem tão inseguras depois do que viram ontem. Não queriam desgrudar de mim. Foi difícil vir aqui.

– Eu imagino, meu amor. Eu também não queria me afastar de você- Edgar pegou em minha mão

– Edgar... Pedrinho e Cecília são tão corajosos. Mas agora me parecem tão debilitados. Nunca os vi assim... Eles passaram por tantas coisas nesse ano. Tantos riscos e dificuldades. Eu queria lhes dar um pouco de paz. Eles precisam disso.

– Nós vamos ter isso, meu amor – ele disse com um pouco de medo em sua voz.

– Meu amor, não estou te cobrando. É só que eu ... gostaria de fazer uma viagem com as crianças. Uma viagem pra alguma fazenda do meu pai. Um lugar onde eles pudessem se sentir seguros, nadar no rio, andar a cavalo, um lugar que parecesse mais com o ambiente em que eles cresceram. E onde eu pudesse me dedicar bem a eles.

– Você tá falando em ir embora? Partir de novo? – ele se levantou assustado

– Não, Edgar. Tô falando de uma viagem curta. Não é definitivo- me levantei também

– Laura...

– Eles precisam disso. Eu preciso. A verdade é que aqui tá difícil sentir segurança mesmo. Eu não queria falar nisso. Mas ou o Universo me escolheu como vítima ou tem alguém agindo contra mim e as crianças. E você sabe quem eu penso ... – ele me interrompeu

– Você acha que a Catarina tá envolvida no incêndio?

– Acho, mas esse não é o ponto. E não estou pedindo o seu apoio nisso. Só quero um tempo longe daqui. Uns dias, Edgar.

– Laura... entende que isso me lembra demais o passado ... quando você partiu.

– Eu entendo, mas a situação agora é diferente. A gente vivia brigando naquela época. Hoje estamos bem... Acredite, nós acabamos de nos amar, eu me sinto tão plena com você, não quero viver sem você, eu não vou fugir!

– Laura... Naquela época... Nós nos amamos na noite anterior a sua partida.

– Eu nunca pensei que você jogaria aquela noite na minha cara assim – suas palavras tinham me irritado – Fala a verdade... Você acha que fui pra cama com você naquele dia pra te manipular?

– Não... eu não disse isso... – ele tentava se justificar

– Você percebeu que tinha algo diferente... Não percebeu? Tinha que perceber... Eu chorei, estava tão frágil. Eu te amava, eu te amo. Era uma despedida, Edgar. Hoje não foi assim.

– Laura, eu percebi que foi diferente. Sabia que tinha algo estranho .... não queria ter ido embora naquele dia...

– Mas foi, Edgar. Você foi embora e eu fugi – nos olhamos nervosos – Não quero entrar nesse mérito... – procurei me acalmar, mas continuei falando emocionada – Estou falando do agora. Presta atenção, eu não vou fugir novamente, eu não quero fugir. Te prometo que nunca mais fugirei de você, haja o que houver. Eu nunca mais partirei daquele jeito.

– Meu amor ... não quero ficar longe de vocês – ele parecia mais calmo, mas ainda estava alterado.

– Vem conosco então. Vai ser até melhor.

– Laura ... eu tenho as minhas responsabilidades.

– Eu sei e compreendo isso. Mas eu e as crianças precisamos desse tempo e vai ser melhor com você. Faz um esforço. Vai ser bom pra gente. Pense nessa viagem – eu o beijei de leve, ele ainda estava confuso, mas foi receptivo –Eu tenho que ir agora, pois não vai demorar pra anoitecer e tenho que passar em um lugar antes de voltar pra casa. Só pensa no que te disse, meu amor.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? O que acharam dessa ideia de Laura? Uma viagem? Tá rolando alguma expectativa,será que o Edgar vai deixar? Será que vai? Não coloquei tudo que imaginava, mas espero que tenham gostado e que comentem muito.