Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 61
Suspeitas


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior.
Ontem, eu não coloquei nenhum capítulo, mas é que não houve muito tempo de escrever e esse capítulo foi mais chato de escrever por assim dizer.
Olha, espero que não tenha ficado tão chato, e que vocês gostem e comentem muito pra me animar a escrever o próximo (que planejo ser melhor), até porque o resto da semana vou estar de feriado e é mais difícil escrever em feriados.



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“- E você, Edgar. Qual é a sua paixão? - Laura

–Minha paixão é você. E a cada dia que passo, eu fico mais apaixonado ainda - Edgar

Lado a Lado

Por Edgar

Embora não tivesse admitido, as palavras de Laura sobre Catarina me afetaram de verdade. Ela acreditava que Catarina era capaz de fazer e tinha feito coisas horríveis contra a gente.

E por mais que a sua certeza inabalável, às vezes, pudesse soar irracional. Eu conhecia Laura, ela era uma mulher que tinha um temperamento sanguíneo, mas ao mesmo também conseguia ser racional, pois muitas vezes tentava e podia conter seus impulsos com a sensatez e suas ideias... Assim ela não se agarraria a uma noção sem fundamento.

Talvez ela tivesse razão, talvez eu fechasse os olhos por ser conveniente, relevasse atitudes, agisse com muita ingenuidade... Por precisar da Catarina, pois minha filha Melissa precisava de uma mãe.

Mas se Catarina realmente fosse a responsável pela reportagem sobre Laura no Pasquim e a tentativa de sequestro de Cecília... Eu não podia fechar os olhos, pois embora fosse uma boa mãe pra Melissa, seria uma influência daninha a minha florzinha e não poderia deixá-la a mercê de tal influência com o risco dela crescer e se tornar uma mau-caráter. Sem contar que eu também tinha que defender Laura e nossos filhos... Não podia deixar Catarina feri-los e essa ideia de que ela podia estar agindo contra eles me remoía.

Laura não tinha provas pra acusar Catarina com tanta certeza, mas realmente ela teria motivos fortes pra agir contra Laura e os nossos filhos. Eu torcia pra que não tivesse agido, que não passasse de suspeitas... Mas era melhor averiguar.

Resolvi conversar com Melissa pra ver se não tinha me enganado quanto ao fato de Catarina amar a filha. Fiz perguntas, comentei discretamente sobre ela não ver mais a mãe, o que sentia por ela. E em suas respostas, percebi que apesar de atrapalhada, Melissa sentia que a mãe a amava, amava a mãe e sentiria muita falta dela se houvesse uma separação.

Por ser doente, não podendo participar de algumas brincadeiras, e por não ser filha legítima, Melissa já sofria com a desigualdade e dificuldades em relação às outras crianças. Seria extremamente cruel tirá-la do convívio com a mãe, privá-la do amor maternal apenas por suspeitas. Até por que não sei até que ponto poderia lhe dar uma situação estável. Eu não podia afastá-la de Catarina a menos que tivesse certeza do seu mau-caráter.

Assim, decidi ficar de olho, mas Melissa continuaria com a mãe... Eu continuaria a investigação sobre o Pasquim, e se conseguisse provar o envolvimento de Catarina, ou constatar com certeza outra falha de caráter dela, tomaria providências. Mesmo que ainda não soubesse direito como seriam essas providências e como isso afetaria Melissa, a mim, Laura e as crianças. A verdade é que teria que pensar em todos os envolvidos dessa vez.

Me empenhei na investigação sobre o Pasquim . Eu já tinha eliminado alguns inimigos da última vítima do panfleto, e meu cliente Álvaro de Mello continuava na lista.

Sendo que enquanto o atendia num dia, acabei tendo as minhas suspeitas renovadas ao ele se vangloriar discretamente sobre formas de acabar com desafetos e até se referir ao Pasquim. Nesse momento, pensei que ele era o responsável pela última edição.

Álvaro de Mello era um cliente antigo, um empresário bem sucedido, e também um político de renome. Diziam as más línguas que ele aumentou bastante a sua fortuna depois que entrou na política e que por vezes se envolvia em tramoias.

Eu nunca tive a ilusão de que ele era um santo. Mas não tinha provas e preferia acreditar que uma pessoa é inocente se não houver provas. Apesar de achá-lo um pouco dúbio, com comentários estranhos, ele era meu cliente, nunca me pediu pra fazer nada ilegal ou moralmente duvidoso e eu tratava das suas pendências judiciais. Como advogado, tinha que lidar com alguns clientes assim.

Só que depois da sua mancada, acabei conseguindo algumas informações, conversei com seu secretário, descobri transações financeiras estranhas. Eu estava quase certo que ele era o “patrocinador ” do último Pasquim... Isso era asqueroso, realmente alguém capaz de acabar com a vida de alguém de maneira tão mesquinha, mesmo que esse alguém não fosse boa pessoa, não valia nada. Assim resolvi confrontá-lo.

Fui até seu escritório, falei das minhas suspeitas, mostrei as minhas provas, mas ele tentava fugir da responsabilidade:

– Você não pode pensar que eu tenho alguma coisa a ver com isso... Não nego que o Pasquim me beneficiou, acabou com a reputação daquele crápula ... Mas...- ele falou nervoso

– Penso sim... Na verdade, eu tenho certeza – disse firme

– Edgar, eu sou amigo do seu pai...

– Senhor Mello, ser amigo do meu pai conta contra o senhor, ele pode ser o meu pai, mas é um corrupto reconhecido...- ele parecia preocupado – Eu podia denunciá-lo, pegar as provas que tenho contra o senhor e apresenta-las a polícia, ao seu desafeto, até agir da mesma forma que o senhor e enviá-las a um jornal. Eu posso fazer isso... Mas não pretendo se eu conseguir algumas informações. Veja bem, minha mulher foi vítima do Pasquim... Falaram um monte de mentiras sobre ela... Eu só quero saber como funciona exatamente o esquema para encomendar uma edição... Fique tranquilo, se você me contar isso, não irei denunciá-lo, pense como algo que ficará no sigilo de advogado.

E ele começou a me falar do esquema, o modo de contato na caixa postal, os moleques de recado, os poucos encontros presenciais que tivera com um homem que sempre aparecia disfarçado, a revisão e autorização do texto a ser publicado, o fato do responsável pelo Pasquim fazer as suas próprias investigações para a matéria ter alguma verdade, de modo que as pessoas pudessem acreditar nas mentiras, as suspeitas de que ele também investigava o próprio patrocinador.

À medida que ele falava eu ficava enojado com os detalhes do esquema, mas ao mesmo tempo, admitia que fosse algo bem esperto. E sendo assim, teria que armar um bom plano para pegar o vigarista.

Pensei em entrar em contato pedindo uma edição falsa. O problema é que como marido de Laura, e com meu nome em uma edição do Pasquim, era capaz dele não engolir a isca. Eu estava próximo demais de um escândalo proporcionado por ele.

Assim precisava de uma pessoa de confiança, que pudesse se passar por patrocinador do Pasquim. Imaginei Guerra, mas ele era conhecido por sua integridade, era um jornalista, além de saberem da sua falta de dinheiro. Ia parecer uma enrascada. Não seria nada coerente ele encomendar uma edição daquele folheto vil.

Pensei em quem mais podia confiar... alguém que não estivesse tão evidente. E Lauro veio a minha mente. Ele tinha certa proximidade com Laura... Isso poderia trazer alguma desconfiança. Mas como ele nunca estivera em evidência e não era parente dela, podia colar.

Conversei com ele sobre as coisas que tinha descoberto. E lhe contei o meu plano... Tínhamos que bolar uma estória sobre um inimigo que soasse verdadeira. Ele sugeriu usarmos um desafeto do pai dele. Parecia estar animado e disposto a me ajudar:

– E quanto a xará, Edgar, você vai falar sobre esse plano a ela?

– Lauro... Não ... pode ser muito perigoso. Não vou contar e gostaria que você também não contasse nada a Laura – falei firme

–Mas, Edgar? Isso a envolve diretamente, ela vai gostar de saber que você está indo atrás do Pasquim... Talvez até nos ajude.

– Não quero a ajuda dela. Não sei do que esse dono do Pasquim é capaz... Não quero que ela corra riscos – eu também sabia das suspeitas de Laura sobre Catarina e queria uma investigação livre, sem opiniões formadas, não acreditava que Laura manipularia a investigação, mas preferia manter a imparcialidade.

– Tá bom... Eu não entendo essa mania de vocês esconderam as coisas do outro... Acho que seria mais fácil pra ambos se conversassem sobre isso. Mas vou respeitar a sua decisão. Vou te ajudar no plano, e não falarei nada com a xará.

Lauro parecia ter razão em um ponto. Laura ainda escondia coisas de mim e eu dela. Nós devíamos dividir mais os nossos assuntos. Mas eu não achava que seria uma boa ideia falar da investigação com ela. Não com o perigo e a nossa situação.

Um dia, eu estava fazendo uma visita pra minha mãe, quando meu pai apareceu e D. Margarida nos deixou sozinhos, seu Bonifácio parecia querer uma conversa em particular:

– Eu gostei muito de ver Pedrinho e conhecer Cecília aquele dia. Eles são encantadores- ele comentou

– São mesmo. Uma pena que você demorou tanto pra procurá-los.

– Edgar, eu esperei a poeira baixar... E também tinha dúvidas em relação à menina... Achei que não era sua. Mas sua mãe falou comigo, me convenceu ... E quando a vi, não tive mais dúvidas. Gostaria muito de conviver com eles... São os meus netos... farei deles os meus herdeiros.

– Impressionante, agora que a situação está melhor você aparece. Quando estava ... – a declaração dele me deixou enraivecido – E, aliás, você nunca quis conhecer ou conviver com a Melissa.

– Aquela bastarda? Rapaz, eu estou falando de filhos legítimos, os bastardos não são motivo de orgulho e a gente esconde. E no caso dessa garota, considerando a mãe e até mesmo ela, tenho sérias dúvidas de que seja minha neta.

– O senhor não pode dizer isso – fiquei ofendido com a insinuação

– Posso dizer sim. Todos sabem como é aquela cantora, não precisa fazer nada para levá-la pra cama, um elogio, um presente, um rapaz mais belo... Um dia, também vi a menina com sua mãe... Ela não parece nada com você, diferente de Pedrinho e Cecília... Você não investigou quando a cantora disse que era sua, não é?

– Melissa é minha filha. A Catarina não mentiria sobre algo tão sério. Não são todos os filhos que se parecem com os pais... Eu mesmo não me pareço muito com o senhor. Ou vai me dizer que também duvida da minha mãe?

– Edgar, nem pense em insinuar algo assim da sua mãe. Estamos falando da sua mãe, uma mulher honrada! E não de uma vagabunda... Você não pode ser tão ingênuo, filho. Uma mulher como Catarina mentiria sobre qualquer coisa pra atingir seus objetivos. Em suma, você acabou com a vida com a sua esposa e família por uma bastardinha que provavelmente nem é sua – ele falou alterado.

– Pai, não dá pra conversar com o senhor. O senhor acha que conhece todos e que pode julgá-los nessa facilidade.

– Acho que, pelo menos, do submundo, eu tenho mais conhecimento do que você, que foi criado em berço de ouro!

– Eu vou embora, não tem jeito de conversar assim!- estava muito nervoso

– Edgar, não fique tão agitado por isso. Vá embora, mas pense. Eu quero manter o contato com Pedrinho e Cecília, você pode não concordar com as minhas opiniões, mas sabe que eu não faria nada pra prejudicá-los, pelo contrário. E nem falarei de coisas ruins com eles. Deixe um pouco de lado esse seu orgulho e pense neles... Vai ser benéfico conviver com o avô.

Eu saí daquela casa perturbado. Várias coisas se passavam em minha mente. Até mesmo dúvidas. Meu pai conseguia ser tão cruel em suas atitudes e palavras.

Tentei me acalmar um pouco. Tinha combinado de ir à casa de Laura, e com ela sempre era mais complicado faltar ou me atrasar.

Cheguei a casa, estava um pouco mais calmo, mas ainda assim, não estava plenamente recuperado. Brinquei com as crianças, jantei com todos, eu e Laura colocamos os nossos filhos pra dormir.

Eu estava no quarto com ela, e me mantinha deitado em suas pernas enquanto ela me acariciava:

– Hoje quando você chegou, parecia que precisava tanto de um colo. Na verdade, ainda parece que precisa – ela falou carinhosa.

– Precisava mesmo. Aliás, preciso – ela me olhou curiosa e eu continuei- Discuti com meu pai.

– Você e seu Bonifácio nunca se deram muito bem

– Ele consegue ser cruel e intolerante ... às vezes– disse não querendo entrar nos detalhes da discussão.

– Até parece que você está descrevendo a minha mãe.

– Realmente... Nossos pais são um problema... Mas espero que seja diferente com nossos filhos... O Pedrinho ...

– Somos diferentes sim, meu amor... Nós vamos acertar tudo com Pedrinho – ela sorriu, estava sendo tão compreensiva, me animando, eu me lembrei das palavras de Lauro e me senti um pouco culpado por esconder certas coisas dela.

– Meu amor...- tinha decidido compartilhar algo – Lembra que anos atrás você me falou dos seus planos profissionais e me perguntou qual era minha paixão?

– Você respondeu que era eu... Foi mentira?

– Não, era verdade e continua sendo verdade, você é a minha maior paixão – eu levantei a minha cabeça e a beijei.

– Como fomos sair dos nossos pais e ir parar nesse assunto? – ela falou depois que recoloquei a minha cabeça em seu colo

– Um assunto puxou o outro. Mas é que ... embora eu não tenha mentido. Não falei tudo. Eu tinha uma paixão profissional na época da faculdade. Eu era jornalista! E até hoje mantenho essa paixão!

– Jornalismo, Edgar? É tão interessante. Por que não me disse antes?

– É que... – eu comecei a gaguejar, essa era parte difícil- Foi assim que conheci a Catarina... eu fiz uma reportagem com ela. – finalizei com muito medo de chateá-la, mas ela me olhou com doçura.

– Você é mesmo um bobo.

– Bobo?

– É algo tão bonito, uma paixão pelo jornalismo, você era um jornalista! Devia ter me contado antes.

– Mas ... eu achei que ia te magoar... a Catarina... – estava confuso

– Não precisa ficar falando o nome dela... Mas me magoar? Isso me faz te admirar. Edgar, o que me aborreceu foi você ter conhecido e se envolvido com aquela mulher e as coisas que ocorreram depois... A maneira que a conheceu não era importante e sim a sua ação, a sua decisão, a sua traição ... Se tivesse a conhecido na padaria, você nunca me falaria sobre pães? Ainda mais que pelo o que me disse agora, você estava a trabalho e não a procura de aventuras.

– É ... Acho que fui mesmo um bobo. Pois eu queria muito dividir essa paixão com você.

– Você disse que essa paixão continua. Como?
– Nos últimos tempos, não tenho feito muitas reportagens... Mas já escrevi algumas pro Correio da República com o codinome de Antônio Ferreira.

– Já li algumas coisas sim, quando cheguei ao Rio se não me engano, li uma reportagem sua. E li outras depois também.

– O que achou?

– Humm... Ótimo, meu amor... Você escreve tão bem e trata de questões relevantes – aquela opinião me deixara muito feliz

– Obrigado, meu amor.

– E isso é excitante.

– Excitante? – perguntei interessado, tirei a minha cabeça do seu colo e me sentei na cama.

– Muito... Saber que tenho feito amor com o Antônio Ferreira.

– Nunca... Nem brinca... Você faz amor comigo, só comigo. Não te divido nem com o Ferreira- disse um pouco zangado, mas fui desarmado quando ela sorriu e me provocou.

– Ciumento, hein? Então vem aqui. Edgar Vieira... Meu amor... Meu único amor... Vem... – ela tinha se deitado na cama e sedutora me chamava com a mão

Eu não queria nem podia fugir, e a beijei com muita paixão.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Acham que Edgar vai descobrir alguma coisa sobre a Catarina? Gostaram da aliança com Lauro?
Espero que tenham gostado. E que comentem muito pra me empolgar a escrever, assim quem sabe eu consiga escrever nesse feriado prolongado em BH. Pode parecer estranho mais em feriados é mais difícil eu me aproximar do PC.
Ahhh, pra estimular, acho que o próximo capítulo terá uns eventos interessantes.