Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 60
Reação


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram bastante...Sei que hoje demorou um pouco mais pra sair, mas fiz um esforço pra colocar hoje. Espero que gostem e que comentem muito pra me animar a escrever o próximo.



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“Precisava ver o jeito da Laura. A postura dela, a coragem, sabe? O ímpeto de descobrir a verdade a qualquer preço.”

Edgar em Lado a Lado

Por Laura

Era a manhã seguinte após o sumiço de Cecília. Eu olhava Edgar e nossos filhos dormirem tranquilos na nossa cama. Eram as pessoas que eu mais amava no mundo, todos juntos num clima de paz e segurança.

Mas embora o quarto fosse um ambiente pacífico, o mundo lá fora estava cheio de ameaças. E eu não consegui mais dormir ao pensar nisso. Pensava em tudo que acontecera no dia anterior. Os perigos que minha filha tinha passado com uma mulher estranha e depois sozinha.

Alguém tentou sequestrar Cecília. E por mais que ela tivesse dito que uma mulher negra a levara, não saia da minha cabeça que Catarina estava envolvida nisso. Eu podia estar sendo paranoica, mas pra mim a matéria do Pasquim, o sequestro de Cecília não podiam ser obra de outra pessoa.

O fato de Catarina estar em nossas vidas era um risco constante. Edgar estava fazendo o que achava estar ao seu alcance para mantê-la afastada da gente, e fora maravilhoso no dia anterior nas suas reações e na busca por nossa filha.

Mas aquela mulher era escorregadia, desleal, perigosa, e ele ainda era ingênuo demais para colocar um freio definitivo nela. Até por que ele não acreditava que ela fosse capaz de atos criminosos.

Eu tinha dito a Catarina que se ela mexesse com meus filhos, ia se ver comigo. E não podia ficar parada depois do que acontecera. Não podia. Ela não podia achar que sairia impune. E decidi lhe fazer uma “visita”.

Eu, Edgar e as crianças tomamos café da manhã juntos. Para manter o clima de paz, não falei sobre as minhas desconfianças ou o que pretendia fazer. Não queria estragar o que estávamos construindo, a família entrando nos eixos, ainda mais que Edgar estava deslumbrado com Cecília o chamando de pai. E eu também estava muito feliz em vê-los daquele jeito.

Após o café, levei Cecília e Pedrinho pra casa. Talvez estivesse com um pouco de medo de ficar longe deles, ou até mesmo deixá-los na casa de Edgar sem mim. Mas eu precisava sair pra ir a casa daquela mulher e para isso não poderia levar os meus filhos comigo.

Pedi que Lauro e Isabel ficassem de olhos bem aberto neles, e me preparava pra ir, quando Isabel me encurralou na sala:

– Você vai falar com aquela cobra, não é?

– Eu preciso falar... Tenho certeza que ela está envolvida no que aconteceu- respondi

– Eu também – Isabel pegou sua bola e chapéu se preparando pra sair.

– Você está indo a algum lugar? – perguntei o óbvio

– Eu com você!

– Isabel, não precisa, fique com as crianças!

– Também quero colocar aquela cobra contra a parede, amiga. Lauro cuida das crianças.

Eu sabia que não adiantava dissuadir Isabel. Assim nós fomos a casa daquela mulher. Uma moça atendeu a porta e nos levou até Catarina que ensaiava ao piano. Ela desviou os olhos momentaneamente pra gente, mas dissimulada, voltou a olhar o instrumento:

– A que devo a honra de receber visitas tão ilustres? – ela disse em tom de chacota

– Vim te dizer que sua última manobra não deu certo. Que minha filha está bem, conosco e que a nossa família nunca esteve tão unida. Sua tentativa de sequestro não serviu pra nada!

– Manobra? Sequestro? Do que você está falando? Enlouqueceu? - ela se levantou cínica

– Não enlouqueci, Catarina. Eu sei que você é a responsável pela matéria no Pasquim, pela tentativa de sequestro de Cecília, mas saiba que isso só serviu pra me aproximar de Edgar.

– Aonde chega seus ciúmes, hein? Achar que eu poderia fazer tais coisas... Laura, veja bem, você disse que não queria nada com Edgar, mas parece que mudou de ideia. Estou feliz que estejam juntos... que você está aceitando a segunda família dele.

–O que tem entre eu e o meu marido não é do seu interesse! E não precisa fazer esse joguinho! Eu não tenho ciúmes de você... Há muito que sei que não significa nada pra Edgar... Que ele só te atura pela Melissa. Não vim aqui pra isso... Vim pra te avisar... o que você fez não vai ficar impune... você vai pagar.

– Se você tem tanta certeza da minha culpa já deve ter entregado suas provas à polícia, não? Mas você não tem provas... – ela disse desafiando

– Eu não tenho agora... Mas terei, e aí... Isso aqui é só mais um aviso. Fique longe dos meus filhos. Fique longe de mim. Você não me conhece direito... Diferente de você, não vou usar crianças nessa jogada ou fazer terrorismo, vou direto ao meu alvo- eu estava nervosa, mas decidida – Só mais uma coisa – dei um belo tapa em seu rosto e cheguei a sentir a palma da minha mão ardendo- Isso é por ter se metido com minha filha!- não era uma maneira nobre de confrontá-la, mas eu estava satisfeita.

Ela não tentou me atacar. Estava confusa, e tentava encontrar uma resposta quando Isabel se colocou a sua frente:

– Catarina... Por mim eu cancelaria o seu contrato... Mas penso que você não vale o prejuízo ou trabalho. Saiba que terá as suas apresentações até o fim dele... só que depois disso não haverá mais nenhuma. Sei que o ambiente vai ficar muito mais leve sem o seu veneno no Alheira... E isso é por Cecília, por Laura e por ter envolvido meu nome no Pasquim – Isabel falou e deu mais um belo tapa no rosto dela – Saiba que ao mexer com as crianças e com Laura. Você também mexe comigo.

Isabel e eu tomamos a direção da porta, enquanto víamos Catarina com a mão no rosto e a moça que nos atendera observando a tudo assustada. Quando estávamos na saída, Catarina já tinha se recuperado:

– Isabel, aquele teatro chinfrim não me fará falta... ele não é digno de mim! E Laura, com essa sua maré de má sorte, tome cuidado pra não acontecer mais nada com você e seus filhos! Estamos numa cidade perigosa ... qualquer coisa pode ocorrer e não é com violência e tapas que você impedirá isso, só não coloque a culpa em mim!- aquilo era uma ameaça

Eu ia voltar até aquela mulher, mas Isabel me segurou, e realmente foi o melhor, pois a minha vontade naquela hora era matá-la ou pelo menos machucá-la muito:

– Catarina, não mexa com meus filhos... se acontecer uma próxima vez, você não receberá só um tapa na cara! – ameacei

Ao chegar em casa, tomei um chá pra me acalmar. E resolvi brincar com as crianças, preferi não pensar em Catarina, ou se tinha feito o certo ao confrontá-la. Aquela mulher não podia afetar a minha vida assim.

No fim da tarde, eu conversei com Isabel. Na verdade, eu e ela começamos a bolar um plano contra aquela mulher. Como ela ainda teria algumas apresentações no teatro, e parecia ser amiga de Neusinha, achamos que conseguiríamos informações interessantes sobre ela.

Queríamos saber dos seus gastos, os lugares que frequentava, além das pessoas que ela convivia. Tínhamos esperanças de que dessa maneira descobriríamos quem era os seus comparsas e até poderíamos impedir alguma ação futura. Para isso pediríamos a ajuda de Quequé, Diva, Mário e até mesmo Frederico.

Eu sabia do perigo que Catarina representava, e queria que meus filhos estivessem mais preparados, mais desconfiados, para não cair de maneira tão fácil em suas armadilhas. Com Pedrinho, eu não me preocupava muito. Mas ainda tinha medo por Cecília, que era bem mais ingênua.

Assim por mais que me doesse, e por saber que minha garotinha tinha sido uma vítima. Eu e Edgar conversamos sobre um castigo, uma punição que a fizesse entender que não poderia sair com estranhos. Edgar chegou a propor que apenas conversássemos com ela. Mas com Catarina em volta, não achei suficiente.

Tivemos uma conversa com Cecília sobre os riscos que tinha passado, que ela não podia andar com estranhos, como já tinha lhe falado em outras ocasiões. E informamos que seu castigo seria ficar uns dias sem passear. Era triste deixa-la em casa, talvez fosse até mais difícil pra gente, inclusive Pedrinho e Neto por vezes queriam ficar com ela. Mas era melhor ser firme agora do que chorar depois que algo realmente ruim acontecesse.

Também pedi a todos que sempre prestassem atenção em Cecília, ainda mais quando eu não estivesse por perto. Não queria que a perdessem de vista em nenhum momento.

Um dia, ela me perguntou sobre o seu aniversário, se teria festa, e mais preocupada ainda falou:

– E o meu cachorro? Eu não vou ganhar um cachorro? – ela parecia tão inquieta com essa possibilidade, ter um cão tinha sido o seu maior sonho nos últimos meses.

Dessa forma, não consegui ser dura. Aquilo amoleceu meu coração. Edgar e eu conversamos, e uma festa grande além de não nos agradar pela ostentação e falta de intimidade, poderia passar a impressão errada pra Cecília, já que ela ainda estaria de castigo em seu aniversário.

Resolvemos disfarçar a festa com uma apresentação dela. Uma apresentação especial de Cecília aconteceria na casa de Edgar no dia 3 de setembro. E ela contaria com alguns convidados, concordamos em não chamar ninguém que ela desconhecia, isso evitaria conflitos e manteria o clima íntimo.

Chamamos Guerra, Celinha, Carolina, Lauro, Isabel e Neto. Eu chamei o meu pai, e Edgar a mãe. Na verdade, como D. Margarida iria, pensei em chamar a baronesa. Já que Cecília adorava as duas avós, e a presença de apenas uma delas poderia soar estranho a minha menina.

Pedi a opinião de Isabel. Sabia que seria problemático, já que ela e Neto estariam na festa. Mas Isabel apesar dos seus medos concordou com a ideia. Assim, também chamei minha mãe.

Seu Afonso, Tia Jurema e umas crianças que Cecília brincava no morro foram chamados. Mas o receio de entrar numa casa rica, e mais ainda no caso de Seu Afonso e Tia Jurema o incômodo de encontrarem a minha mãe, acabaram fazendo com que eles recusassem o convite.

Assim além dos familiares que já conheciam Cecília (eu incluía Lauro como familiar), só esperávamos a presença de Matilde, Efigênia e Cássia na apresentação.

A reunião ocorria de forma tranquila. Minha mãe tinha prometido se conter, e parecia estar tentando mesmo... Conversou animada com os meninos. Principalmente com Neto que via pela primeira vez desde a nossa partida, e não provocou Isabel.

Entretanto nós tivemos uma surpresa, a presença do meu sogro, que apesar de não ser diretamente convidado chegou com D. Margarida, e foi bem agradável. Era a primeira vez que via as crianças. Ele deu atenção aos netos e parecia encantado com eles. Chegou até mesmo a comentar sobre Cecília... que ao vê-la, sentiu que uma menininha fazia falta e que até gostaria de ter tido uma filha.

Então houve a apresentação. Cecília cantou algumas músicas acompanhada por Lauro e no fim, cantou e tocou uma sozinha.

Ela foi muito aplaudida, e todos a incentivam e elogiavam. Tivemos até mesmo o reforço dos avós orgulhosos e babões, e dos tios.

Discretamente Edgar saiu e trouxe o presente de Cecília, dentro de uma caixa, estava a nossa surpresa do dia:

– Parabéns, filha. A apresentação foi tão linda que você merece um prêmio. Feliz aniversário. – ele disse lhe entregando a caixa, e ela parecia radiante ao olhar dentro dela.

– Um cachorrinho, pai. Um cachorrinho? –ela segurou o filhote pequeno e branco de poodle, que parecia muito contente, e agitava a cabeça que tinha uma fita vermelha.

– Na verdade, é uma cachorrinha, Cecília. Gostou? – Edgar perguntou

– É o melhor presente do mundo – ela colocou a cachorrinha no chão e abraçou Edgar eufórica – Obrigada, papai.

– Agradeça a sua mãe também. É um presente de nós dois – ele sorria contente com a empolgação da filha

– Obrigada, mamãe. – ela me abraçou e me beijou, e ainda agitada, pegou novamente a cachorrinha no colo, e lhe fazia carinho.

– E como ela vai se chamar, meu amor? – perguntei

– Sherazade – ela falou satisfeita

– Sherazade? Das “Mil e uma noites”?

– É... Eu vou contar um monte de história pra minha Sherazade – ela respondeu satisfeita.

Mais tarde enquanto as crianças brincavam com o presente de Cecília, e os adultos bebiam, a conversa girava em torno da apresentação, a criatividade e felicidade de Cecília ao ganhar Sherazade... Comentávamos que era um nome bem complicado pra uma garota pequena como ela dar a sua cachorrinha...

Na noite seguinte, Edgar estava na minha casa e nos preparávamos pra dormir. Já tínhamos conversado sobre a festa do dia anterior e sobre a batalha pra Cecília deixar Sherazade ficar na almofada no chão ao lado da sua cama, já que ela queria dormir abraçada a sua cadelinha:

– Ela está muito feliz – ele falou

– E você, meu amor, está feliz? – perguntei

– Estou... – ele riu, mas percebi uma ruga em seu olhar.

– O que foi, Edgar?

– Não é nada, meu amor... Eu estou feliz ... de verdade – percebi que tinha algo estranho e imaginava que ele queria falar sobre voltarmos a morar juntos

– Desembucha... – insisti

– Laura, não quero estragar o clima ... – o olhei com uma cara feia, e ele continuou – Você foi falar com a Catarina? A acusou de...- então era isso, aquela mulher tentava manipulá-lo

– Falei... Aquela mulher tá envolvida no Pasquim e no sumiço de Cecília tenho certeza- fui direta

– Laura ... Você não pode achar isso... não sem provas. Sei que pra você a Catarina não foi a melhor das pessoas, mas ela é uma boa mãe e não seria capaz de tais coisas... Meu amor, não deixa o seu ciúme te guiar...

– Ciúme? Ciúme, Edgar? Não é isso que me guia. Até porque confio que você não quer nada com ela. Na verdade, me surpreendo como você quis algo com ela no passado... Uma mulher tão vulgar.

– Lau..ra ... – ele gaguejava

– Ela é manipuladora, Edgar. E ao contrário do que você pensa não é uma boa pessoa. Nem nas aparências, nem no fundo. É capaz de qualquer coisa pra atingir seus objetivos. Vi isso nas vezes que me confrontou antes de eu partir. Eu vi isso na vez que ela veio até a minha casa pra me ameaçar e me provocar depois que voltei... Vi na última vez que falei com ela, os seus olhos, as suas palavras... Foi ela, tenho certeza, ela é a que mais ganharia com isso... e tem o caráter pra fazê-lo. Você não enxerga, ou parece não querer enxergar... talvez porque seja bom demais ou porque Melissa precise de uma mãe. Mas foi ela, tenho certeza, suas palavras não mudarão minha opinião– despejei tudo o queria falar e me deitei na cama.

Ele se deitou ao meu lado e disse inseguro:

– Ela veio falar com você? Quando?

– Antes da Edição do Pasquim sair...

– O que ela queria?

– Veio com um monte de pretextos... Falava que não queria que eu te afastasse de Melissa, mas acabou entrando em outros assuntos e provocações.

– Meu amor, ela devia estar se sentindo insegura pela filha. Eu nunca deixaria de cuidar da Melissa. Ela não devia vir aqui, mas ..

– Eu sei como a Melissa é importante pra você – o interrompi querendo encerrar a conversa, esse rumo não me agradava, e virei às costas pra ele.

– Por que você não me falou que ela veio aqui antes?- ele perguntou virando o meu corpo pra ele

– Ahhh Edgar... na época ... a gente não tava bem e depois aconteceu aquilo tudo com o Pasquim... E nós... Não queria acusá-la sem provas... Parecer que era ciúmes, e você me acusar disso como fez agora.

– Mas Laura ... – ele ainda protestava, e eu coloquei meu dedo em sua boca.

– Xiii, meu amor... Não quero mais discutir...Vamos aproveitar esse tempo de uma forma melhor? – falei o beijando, ele ainda parecia ter dúvidas e eu continuei carinhosa e sedutora– Vamos? – enchia o seu rosto de beijos

Ele não tentou mais conversar, beijou minha boca com vontade e acabamos nos amando com fervor.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Acham que Laura conseguirá provar as armações da Catarina? E o aniversário de Cecília gostaram?
Espero que tenham gostado e que comentem muito pois isso sempre me anima a escrever o próximo.