Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 59
Desaparecida


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram bastante, tanto que escrevi esse capítulo.
Espero que gostem dele e que comentem muito pra me animar a escrever o próximo.



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“Minha filha vai ficar com sei lá quem até amanhã á noi...?”

Edgar em Lado a Lado


Por Edgar



Minhas esperanças tinham sido renovadas pra valer. Laura e eu estávamos juntos e mesmo que ainda aparecesse alguns problemas, eu estava confiante que em breve nos acertaríamos de verdade, que ela e nossos filhos voltariam a viver comigo, como uma família feliz e unida.


E mesmo que Pedrinho e Cecília não soubessem o que acontecia, eu conseguia ver uma evolução na nossa situação. Pois às vezes, eles e Laura até passavam o dia comigo e dormiam em nossa casa. E nesses momentos, eu me sentia pleno, com uma família de verdade, era a visão dos meus sonhos mais desejados se realizando.

Por outro lado, eu também avançava na minha investigação sobre o Pasquim, o que me deixou bem animado. Eu tinha conversado com o empresário alvo da última edição e havia conseguido o nome dos seus inimigos.

Já começava a investigar quais eram os mais prováveis de encomendar uma edição. Tinha até alguns nomes conhecidos dentre eles. E um, inclusive, um político chamado Álvaro de Mello, era meu cliente.

Na verdade, não tinha a intenção de prejudicar nenhum deles, só queria uma conversa pra entender como funcionava realmente o esquema do Pasquim, de modo que eu pudesse pegar a pessoa ou pessoas que o escreviam.

Assim eu continuava a espreita, investigando e tentando descobrir algum comportamento suspeito desses homens. Uma retirada maior de dinheiro, passeios escusos, qualquer coisa que indicasse qual deles era o responsável. Não queria confrontar ninguém sem provas.

Mas eu também tinha outras obrigações e pessoas queridas a quem precisava e queria dar atenção, e a investigação não andava tão rápido quanto queria.

Um dia, Pedrinho e Cecília ficaram na minha casa e Laura saiu pra resolver uns problemas. Eu fiquei trabalhando no escritório, enquanto Matilde cuidava dos seus afazeres e de vez em quando ela olhava as crianças que ficaram brincando pela propriedade.

Mas ainda pela tarde, Matilde apareceu assustada perguntando sobre Cecília. Ela não conseguia encontrá-la em nenhuma parte. Aquilo me espantou, mas eu pensei que talvez as crianças estivessem brincando novamente de esconder.

Só que Pedrinho negou. E apavorado eu cheguei a pressioná-lo, mas ele continuou firme, e até parecia abalado. Cheguei a pensar que Cecília resolvera brincar sozinha. E essa ideia me parecia bem melhor do que uma alternativa mais grave.

Eu, Matilde e Pedrinho procuramos por toda propriedade. Mas sem sucesso. Meu coração dizia que alguma coisa mais grave tinha acontecido e eu me enchia de pavor.

Assim Laura chegou em casa. E também foi tomada pelo desespero... Todos estavam extremamente nervosos.

Matilde se sentia culpada ... mas tentava nos acalmar. Fez um chá, eu e Laura o tomamos enquanto tentamos colocar as nossas ideias no lugar.

Telefonamos pra Isabel indagando por notícias... Era uma esperança que nos agarrávamos, de que Cecília tinha voltado pra casa. Mas ela não aparecera lá.

Laura e decidimos sair pra perguntar na vizinhança. E tomávamos o rumo da saída quando Pedrinho apareceu:

– Eu também quero ir! – ele disse decidido

– Filho, fica aqui com a Matilde, seu pai e eu vamos procurar sua irmã. Fica aqui pro caso dela voltar!

– Me deixa ir, mãe, não vou atrapalhar, eu prometo – ele estava choroso, parecia muito preocupado.

– Vem, Pedrinho. Vem – falei, não podia deixa-lo lá com aquela preocupação.

Perguntamos sobre Cecília a vários vizinhos e pessoas na rua. E todas as respostas foram negativas. O bairro era tranquilo e eles não se sentiam ameaçados, sendo que pareciam não reparar numa criança pequena andando pelas redondezas.

Eu tentava me manter otimista, mas a minha preocupação estava atingindo níveis gigantescos quando chegamos em casa.

Lauro e Isabel tinham aparecido e tentavam nos animar, mas eu percebia que estavam bem preocupados.

A situação era muito grave e Laura e eu resolvemos ir até a polícia. Contei o que tinha acontecido ao delegado Praxedes, mas ele falou:

– Como pai, imagino a preocupação de vocês. Mas eu não posso fazer nada concreto ainda. A menina sumiu há poucas horas, pode ter fugido e  é possível que volte logo,pode estar escondida na casa... Tenho que esperar mais algum tempo pra começar as investigações.

– Cecília é só uma menininha, nem completou 5 anos ainda ... Ela é feliz não fugiria. Enquanto o senhor espera ela pode ... – Laura não conseguiu continuar, começou a soluçar e tentava conter o seu choro.

Eu a abracei e mesmo estando desesperado tentava ser forte por ela:

– Delegado, enquanto o senhor espera, ela pode estar correndo perigo. Alguém pode estar fazendo mal a ela. Se acontecer qualquer coisa com a nossa filha nesse tempo, o senhor vai ter que ... – falei em tom de ameaça

– Dr. Edgar é o procedimento, não posso começar uma investigação por enquanto. Vou emitir um alerta pros meus policiais, e se eles encontrarem a menina, vocês serão avisados. Mais do que isso não posso fazer – não era exatamente o que queria, mas eu sabia que não adiantava insistir

– De qualquer forma, obrigado, Delegado Praxedes.

Eu sai com Laura, ela ainda me parecia bem perturbada, e a abracei novamente:

– Vai dar tudo certo, meu amor. Nós vamos encontrar Cecília e não vai acontecer nada de ruim com ela – eu também precisava acreditar no que dizia

– È o que eu espero... meu amor, é o que espero –eu a beijei delicadamente, tentando acabar com suas lágrimas que ainda cismavam em cair, mas por um momento também deixei escapar uma lágrima.

Ao chegarmos em casa, já escurecia, e encontramos Pedrinho de pijamas com Isabel e Lauro, mas ele resistia a ir pra cama:

– Eu não vou dormir sem Cecília.

– Pedrinho, ela vai aparecer... Nós vamos encontrá-la. Você não precisa ficar acordado enquanto isso – Isabel falou

– Meu amor – Laura o pegou no colo, se fazia de forte e mantinha a calma por ele – Você tá cansado ... Vai dormir e quando você acordar, é capaz da sua irmã já estar aqui.

– Eu não quero dormir... Quando Cecília chegar, eu quero estar acordado!

– Eu imagino, meu amor. Mas é melhor você descansar pra ver a sua irmã– Laura acariciava o seu cabelo

– Pedrinho... Quando a Cecília chegar... eu te acordo - falei firme, ele levantou a cabeça do ombro de Laura e me olhou desconfiado – Eu prometo!- ele ainda não parecia confiar

– Confia em seu pai... Confia em mim, filho. Vou te levar pro quarto. Vou te contar uma história, cantar, o que você quiser. Quando sua irmã chegar, você vai saber– Laura falou saindo com ele

Eu me sentei nervoso no sofá. Na frente de Isabel e Lauro, não precisava fingir calma. Falei sobre o tinha acontecido na delegacia e desabafei sobre os meus temores mais profundos. Era apavorante, minha menininha estava desaparecida nessa noite escura. Eu tentava manter o otimismo, mas não conseguia, pensava em coisas ruins.

Depois de um tempo, Laura voltou e eu a aconcheguei no meu colo. Segundo ela, Pedrinho já tinha dormido:

– Edgar... não podemos ficar parados. Cecília está por aí sozinha, ou sabe lá com quem nessa escuridão. Isso se ... – ela voltou a chorar

– Não, meu amor. Vai ficar tudo bem. E não vou ficar parado. Vou sair pra procurar a nossa filha.

– Eu vou com você – ela se levantou, mas não estava em boas condições.

– Não, meu amor, fique aqui... Tenta se acalmar um pouco, você está tão preocupada!- falei

– Minha filha desapareceu, Edgar. É claro que estou preocupada! – ela disse com um pouco de irritação, mas eu não me zanguei, ela só estava muito nervosa!

– Xará... O Edgar tem razão. Você não esta bem. Fica aqui com Isabel... Pedrinho pode acordar... A Cecília aparecer... Ou surgir alguma notícia. Eu vou com ele – Lauro argumentou

– Amiga, é melhor você ficar aqui. Seria bom algum responsável por Cecília ficar – Isabel comentou, mas Laura ainda não parecia estar convencida.

– Eu e Edgar procuraremos Cecília. Posso ir com um carro e o Edgar com o outro. Assim procuraremos em mais lugares – Lauro continuou

Eu abracei Laura e ela se rendeu:

– Está bem... Eu fico, mas vocês encontrem a minha filha- ela pediu emocionada

– Eu vou encontrar, meu amor – Laura estava tão frágil, eu a beijei com ternura, e estava saindo quando falei – Cuida dela pra mim, Isabel.

– Pode deixar – ela disse firme

– Cuida da Xará, amor – Lauro se despediu beijando Isabel.

Antes de irmos para os nossos carros, eu segurei no braço de Lauro:

– Obrigado – eu estava realmente agradecido

– Disponha... E se anime, Edgar. Nós vamos encontrar a nossa garotinha – eu sabia que ele estava preocupado, mas continuava otimista. E essa declaração, me lembrou de que de certa forma, Cecília também era a garotinha dele.

Eu entrei no carro. E comecei a dirigir pelas ruas. No início, fiquei calado. Só observando e tentando ver Cecília. Mas à medida que meu medo aumentava, eu comecei a gritar o nome dela.

O tempo passava, meu desespero atingia proporções enormes. Eu imaginava todo tipo de horror que podia acontecer com minha menina e aumentava o meu tom de voz:

– Cecília!

Em um momento, escutei uma voz fraca e fina:

– Edgar – parecia Cecília, e pensei que estava delirando, o desespero já me trazia ilusões, mas ainda assim era um fio de esperança.

– Cecília! – gritei novamente

– Edgar! Edgar. – escutei, parecia real.

Parei o carro, e consegui identificar de onde vinha a voz. Saí correndo. E avistei a minha menina longe, ela corria pra mim e eu corria pra ela. Parecia bem, e eu queria tê-la em meus braços para me certificar disso.

A peguei no colo. A emoção que me tomava era enorme, um misto de alívio e extrema felicidade. Cecília estava ali, bem, em meus braços. Era real.

– Filha... Filha- a abracei apertado, e até deixei escapar lágrimas de felicidade.

– Pai... Papai... – ela me abraçava feliz

Outra gama de emoção começou a tomar conta de mim, ela me chamava de pai, de papai. Era a primeira vez que isso acontecia e eu me senti nas nuvens:

– Você me chamou de papai? – perguntei olhando bem no rosto da minha menina

– Você não gostou?

– Se gostei? Eu amei. Há tanto tempo que sonho com isso, filha – falei a abraçando novamente.

A levei pra um lugar mais claro e comecei a reparar melhor nela que estava um pouco suja, mas não me parecia machucada:

– Você está bem? Minha princesinha, fizeram alguma coisa com você?

– Tô bem, pai– ela me respondeu e eu notei uma pequena mancha avermelhada e seca em sua boca, parecia sangue.

– E isso na sua boca, Cecília? É sangue... – insisti

– De ser da moça ... ela não queria deixar eu ir, mordi ela e fugi.

– Moça? Mordeu? – perguntei confuso

– Mordi. Eu quero ir pra sua casa, pai. Quero ver a mamãe, o Pedrinho...

Eu estava curioso, mas ela tinha razão. Laura estava preocupada e seria melhor levá-la pra casa. Sem contar, que eu estava bobo com o fato dela me chamar de pai, e não conseguia negar nada a ela. Depois, esclareceria direito as coisas.

Laura ficou extremamente emocionada ao ver Cecília. No início não queria largá-la. Mas depois até começou a lhe dar bronca e falar do sufoco que passamos.

Como eu tinha prometido, acordei Pedrinho que ficou até um pouco elétrico depois que eu contei que tínhamos encontrado sua irmã. Ele parecia tão feliz, correu até a Cecília e a abraçou aliviado.

Isabel também estava muito aliviada e Lauro ficou após voltar a casa. Depois de um tempo, eles preferiram nos deixar sozinhos e foram embora.

Laura ajudou Cecília no banho, e depois eu aproveitei pra tomar um. Eu precisava tirar totalmente toda aquela descarga de sentimentos perturbadores que me afligiam até pouco tempo atrás.

Ao entrar no quarto, vi uma cena tocante. Laura estava na nossa cama com as crianças. Pedrinho já tinha adormecido. Mas Cecília ainda estava animada e conversava com a mãe. Aproveitamos pra fazer algumas perguntas a nossa garotinha e ela nos contou o que acontecera.

Enquanto Cecília estava no quintal, uma moça a chamou e disse que era amiga de Isabel e que Laura tinha mandado buscá-la para lhe dar um presente, já que seu aniversário estava próximo.

Cecília foi com ela. Mas achou que estava demorando para encontrar a mãe. Ela começava a ficar com calor, fome, a mulher lhe deu um biscoito. Mas ela desconfiou. Pediu pra voltar, só que a moça recusou.

E numa oportunidade, ela mordeu a mulher e fugiu. Assim, ela ficou andando pelas ruas, até que começou a identificar o lugar, pegou o caminho da minha casa e acabou me encontrando.

Imaginava que ela deveria ter tido muito medo e passado por vários perigos, ainda mais quando foi ficando escuro. Mas ao narrar a história, ela parecia animada como se fosse uma heroína em uma trama épica. E eu via como minha menina era corajosa.

Enquanto ela contava a história, Laura se mostrou muito desconfiada e fez várias perguntas sobre a moça que a levara. Segundo Cecília, era uma mulher negra, mais velha do que Laura ou Isabel, mas mais nova do que a madrinha dela, e que ela nunca tinha a visto antes.

Eu e Laura não lembramos de nenhuma mulher que se encaixava nessa descrição. Mas uma coisa percebemos, ela tinha informações privadas da nossa família, assim ela devia nos conhecer ou ter contato com alguém que nos conhecesse. Ou quem sabe ela nos seguisse.

Só que era melhor não pensar nisso naquele momento, nós queríamos aproveitar a presença de Cecília, como se precisássemos captar toda a sua doçura depois do sufoco que tínhamos passado.

Cecília acabou dormindo depois que eu e Laura nos revezamos em lhe contar histórias. Eu olhei para os nossos dois filhos com apego e perguntei:

– Quer que eu leve as crianças?

– Não, meu amor. Hoje eu não quero e não conseguiria dormir longe deles- ela tinha razão, eu também não queria me separar deles.

Assim nós dormimos os 4 naquela cama. Todos bem juntos. Laura abraçada a Pedrinho e eu a Cecília. Os nossos filhos ficavam entre a gente. E eu nunca me sentira tão bem acompanhado. Com uma família tão unida em em paz. Daquela forma era como se nós pudéssemos protegê-los de todos os perigos do mundo.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? A situação já foi resolvida, né?
Espero que tenham gostado e que comentem muito pra me empolgar no próximo capítulo.