Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 42
Reviravolta


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários. Dessa vez houve bastante o que me animou muito, valeu. Obrigada por atenderem o meu apelo.
Dessa forma, eu consegui escrever um capítulo grande em bem menos tempo que o habitual.
Vou deixar o capítulo abaixo, talvez não agrade a todas. Mas espero que compreenda o rumo, e no caso isso foi preciso para acontecer os meus planos. Muitas coisas ainda irão acontecer.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/359454/chapter/42

“Edgar, eu prefiro que você fique e assine o divórcio.”

Laura em Lado a Lado

Por Laura

O clima entre Edgar e os filhos estava melhorando. Até mesmo Pedrinho já era mais acessível. Pensei bastante e achei que já era hora de tomar o próximo passo.

Eu e Edgar vivíamos separados há anos. Mas pra sociedade, pra manter as aparências, ainda éramos oficialmente casados. Eu não queria mais viver pelas aparências ou fugindo. Quando voltei ao Rio estava decidida a encarar a verdade.

Eu amava Edgar, e ele ainda parecia me amar. Mas o amor não era o suficiente. E depois de tanto sofrimento, ações drásticas de ambos os lado, tantas brigas. Eu já havia desistido. Não acreditava que pudéssemos voltar a viver juntos. A nossa situação era irreconciliável.

Então era melhor encarar a realidade, a verdade, e divorciar. Nós continuaríamos sendo os pais de Pedrinho e Cecília, mas não éramos mais um casal.

Tinha medo da reação de Edgar, ele nunca esteve aberto ao divórcio. Mas estava decidida a abordar esse assunto, mais do que decidida já tinha até conversado com um advogado, só esperava que isso não afetasse as crianças, nossa relação com elas.

Edgar se mostrou resistente, até mesmo com raiva. Isso não era surpresa para mim Me controlei, estava disposta a conversar com ele, falar sobre o assunto, convencê-lo. Edgar era muito impulsivo, mas com jeito ele encarava as coisas com sensatez.

Foi então que ele agiu de forma inesperada por mim. Ele me beijou com vontade, com raiva até. Desde que eu contara sobre Cecília, ele não tentava nada do tipo. E realmente com tanto rancor que o povoava, ele me pegou de surpresa.

No susto, eu tentei reagir. Impedi-lo, mas isso durou muito pouco, e eu deixei. Era ótimo senti-lo tão perto de mim. Seus lábios contra os meus, o seu gosto. Eu começava a me arrepiar. Minhas pernas bambeavam. Sentia o meu corpo vivo de verdade.

Mas eu não podia deixá-lo continuar. Eu tinha que resistir, e tirando forças não sei da onde consegui afastar o meu rosto do dele:

– Não, Edgar, não! Isso não... vai resolver as coisas... Nunca resolveu – falei ofegante

– Não? - ele se aproximou de mim e me beijou novamente, só que eu afastei meu rosto com mais rapidez.

– Não, não resolve – falei decidida.

– Eu não vou me divorciar. Não vou aceitar – ele disse energético – Você tem ideia do que passam as mulheres divorciadas e as pessoas próximas a elas?

– Tenho, Edgar. E estou disposta a enfrentar, tenho que enfrentar. Só não quero continuar vivendo essa mentira. Nós estamos separados há anos, temos que encarar a verdade!

– E você vai desistir assim da gente?

– Eu já desisti... Há mais de 5 anos quando fui embora. Eu fui sabendo que não teria mais volta!

– Eu não! - ele falou firme

– Admita! Depois de tudo que aconteceu, do que eu fiz, do que você fez. Você acha mesmo que tem recuperação? Acha que somos capazes de nos perdoar? Você é capaz de me perdoar?

– E as crianças? Você não pensa nelas...

– Penso e muito... Por isso esperei a situação melhorar. Estou agindo com calma. Pedrinho e Cecília estão bem, estão se acostumando, se aproximando de você. Continuaremos a ser os pais deles, e podemos criá-los estando separados. Esse últimos dias são prova disso.

– Eu não dar o divórcio. Eu não vou desistir. Você é a minha mulher.- ele estava nervoso e já começava a falar em um tom mais alto

– Edgar, pense bem, um divórcio amigável é o melhor, menos visível, nosso casamento não existe há anos...- olhei para ele e vi o seu estado, ele estava bravo, prestes a gritar- Tome cuidado para não acordar as crianças – ele tentou se controlar

– Nesse caso, eu vou embora. E já pensei bem. Não vou dar o divórcio. - ele estava tomando a direção da saída, mas eu voltei a falar.

– Meu advogado entrará em contato com você. Segundo ele a justiça anda bastante lenta, e tem demorado alguns meses para marcarem a primeira audiência de um divórcio. Assim, espero que você pense melhor durante esse tempo. - eu realmente esperava que ele se acostumasse com a ideia e tivéssemos um divórcio amigável- Em relação às crianças espero que nada mude!

– Nada mudará com Cecília e Pedrinho – ele falou voltando o rosto para mim – E também espero que você pense melhor e desista dessa ideia! – ele se controlava, mas percebi que estava com raiva.

E mais uma vez, ele partiu chateado. Eu fiquei pensando no que tinha acontecido. Aquele beijo... ainda tinha a sensação dos lábios deles nos meus, ele mexia comigo. Até quando teria esse efeito em mim?

Mas tinha que ser mais sensata. Eu queria resolver as coisas, o melhor para os nossos filhos. E não acreditava que um envolvimento com Edgar seria o melhor para eles. Isso sempre trazia confusão e eles mereciam paz. Pensei tanto...um divórcio definitivo era decisão mais acertada. Mas como faria Edgar entender isso?

No dia seguinte, ele continuou bem natural com as crianças. Já comigo, eu percebia certos momentos estranhos minados com um pouco de raiva, crítica e insinuação.

No dia em que meu advogado me informou a data da audiência. Que seria vários meses pra frente, percebi que Edgar também fora informado, pois notei seus olhares velados, e palavras duras beirando a insinuação maldosa. Eu só tinha expectativa de que com o tempo, ele se acostumasse com tudo.

Mas a verdade é que essa atitude do Edgar não era a única me trazia receio..

Certo dia, eu fui até o teatro Alheira para me encontrar com Isabel. Levava Pedrinho, Neto e Cecília comigo pois nós faríamos um programa com as crianças.

Mas ao entrar no Teatro esbarrei com Catarina saindo dele. Um arrepio me percorreu, aquela mulher sempre me passava uma sensação ruim. E ainda havia o temor do que poderia acontecer a seguir. Eu imaginava que pela cara de surpresa dela, ela não sabia que eu tinha voltado e a partir desse encontro pensei nas coisas que ela podia armar contra mim e os meus filhos.

Achei melhor ignorá-la e me acalmar. Eu estava mais forte. Era independente, não iria disputar o Edgar, e a enfrentaria sem abaixar a minha cabeça, sem deixá-la me humilhar.

Entrei com as crianças, e eu e Isabel as levamos para tomar sorvete. Depois que elas já tinham dormido, nós conversamos, Isabel estava um pouco abatida e eu também não estava bem:

– Algum problema com o Zé?- perguntei

Depois que voltamos ao Rio, Isabel tinha se encontrado por acaso com Zé Maria na rua, sendo que esse trabalhava como mascate. Reavivando o amor deles, eles passaram a se ver novamente. Ela tinha ficado muito feliz com isso. Mas nesse dia, eu já não via a tal felicidade:

– As coisas não andam muito bem. Ele fica constrangido com o fato de eu ganhar e ter mais dinheiro que ele.

– Com o tempo ele se acostuma. - falei tentando apoiá-la

– Se fosse só isso, mas não é. O maior problema é que ele não quer conhecer Neto. E como poderemos ter alguma coisa séria se ele não aceita o meu filho? Como poderemos viver juntos um dia, eu, ele e Neto, se ele não quer nem conhecê-lo? - ela estava preocupada

– Isso realmente é um problema. Mas dá para entender o Zé. Ele se sente traído. É muito difícil para ele, pensar que você teve um filho com outro mesmo depois de tantos anos.

– Eu sei. Mas se ele não entender as coisas, nós não temos futuro! Um homem para viver comigo tem que pelo menos ter uma boa relação com meu garoto. – enquanto ela falava me lembrei de Lauro, veio uma saudade do meu amigo, mas para não criar mais confusão não citei o nome dele.

– Mas é muito difícil para um homem aceitar isso. Aliás, para qualquer pessoa. Eu passei por uma situação parecida. Mas a diferença é que a filha de Edgar não vivia com a gente. Eu não tinha que conviver com ela, e mesmo assim não deu certo. Com o Zé ele teria que conviver com Neto. Criá-lo. Talvez ele não se sinta capaz de amar uma criança que mesmo sem culpa foi uma das causas do seu sofrimento. – lembrei do meu passado também

– Você seria capaz de fazer isso, amiga? - perguntou Isabel

– O Edgar nunca trouxe essa opção. Mas sinceramente não sei se seria capaz de amar a filha dele da mesma maneira que amo Pedrinho ou Cecília. Me sentiria culpada. Não sei se seria justo com a menina. Ahhh, Isabel... Não sei.

– Não há solução – Isabel falou desanimada

– Talvez tenha. Só o tempo irá dizer.

– E falando nisso, como anda você e o Edgar?

– Não há eu e Edgar. Ele é o pai dos meus filhos. E quero que seja apenas meu amigo- falei firme

– Um amigo que te beija de vez em quando e que você deseja

– Não, Isabel... – eu ri- A gente tem que parar com isso... Mas é que...

– Eu sei, você o ama.

– Mas não há solução pra gente. Por isso pedi o divórcio...

– Ele não está muito contente com isso.

– Mas vai se acostumar... espero.

– Laura, se ele quer e você ainda o ama por que não dá mais uma chance?

– Não.. Não depois de tudo o que aconteceu. Ele tem tantas mágoas. E Eu ... eu não posso voltar a viver aquilo novamente, não posso dar aquele ambiente aos meus filhos.- estava emocionada

– Mas as coisas não mudaram?

– Não tenho certeza ou segurança nisso, e não é apenas esse ponto... Hoje mesmo eu encontrei a Catarina, ela parecia não saber da minha volta. Sei que trará problemas.

– Eu fiquei com medo disso. Mas não sabia que ela iria ao teatro... Aquela cobra apareceu de surpresa para marcar um dos seus recitais. Laura, tô quase cancelando o seu contrato e pagando a multa absurda dele, pelo menos terei sossego!

– Não faça isso. Não quero que jogue dinheiro fora por mim!

– Não é só por você. Aquela mulher é insuportável. O contrato que Mário assinou não a faz responsável pelos danos ao teatro. Os recitais dela tem um bom público, mas todo o lucro vai para ela, e se alguém quebra alguma coisa, sou eu que tenho que arcar com os custos. Assim, ela dá prejuízo. Além das suas exigências, as brigas de ego com a Diva. A maneira como ela trata os outros, até mesmo eu já tive algumas discussões com ela. Ela olha para mim, e me trata como se ainda houvesse escravidão no Brasil. Estou farta dela!- Isabel era verdadeira

– Mas talvez seja bom a ter por perto. Não dizem que é bom manter os inimigos próximos?

– Olha a D. Laura entrando na arte da Guerra – Isabel riu

– Ao menos poderemos observá-la um pouco. Ela é perigosa, Isabel. Não sei o que pode fazer comigo e com as crianças. - desabafei

– Tá bom. Então ficarei de olho por você – Isabel riu novamente– Agora mudando um pouco de assunto, eu recebi um convite estranho no teatro hoje. - ela me deu um envelope

Era endereçado a ela, um convite para um baile de gala que se realizaria dentro de um mês e alguns dias na casa de um iminente Senador. Um baile beneficente para arrecadar dinheiro para a fundação dele, que cuidava de crianças carentes, dando comida, escola, abrigo.

– Esse senador é amigo do meu pai. O objetivo é que os convidados doem generosas quantias para sua fundação.

– Como que ele soube que eu poderia doar tais quantias?- ela perguntou

– Com certeza tem dedo do Dr. Assunção- opinei

– Você não recebeu um convite?

– Não e nem devo receber. Como ainda sou oficialmente casada, deve ir pro Edgar.

– Eu nunca recebi um convite para um baile assim. Nem sei se saberia como me portar.

– Você é muito bem educada, Isabel. Tenho certeza que tirará de letra. Acho que deveria ir. A causa é justa.

– Eu vou se você vier comigo. Tem direito a um acompanhante.

– Eu não posso ir, não com essa situação mal resolvida com o Edgar. Se eu fosse com você, todos descobririam.

– Mas você não quer encarar a verdade?

– Quero. Mas não quero criar um escândalo e se eu aparecesse sem o Edgar, seria um verdadeiro escândalo.

Isabel ainda tentou me convencer, mas eu sabia que não podia. E tentava fazê-la ir com outra pessoa, o Zé Maria, por exemplo.

Eu estava vivendo de forma discreta e evitava frequentar os lugares de antes para evitar fofocas. Esse baile seria um evento repleto de pessoas da sociedade, e como para todos, eu ainda continuava bem com Edgar e vivendo no interior. Seria o comentário da festa.

De certa forma, eu ainda me escondia, mas a minha intenção não era aparecer de repente e sim aos poucos até que se resolvesse e se acostumassem com a minha nova situação. Não queria que meus filhos fossem atingidos drasticamente nesse processo.

No dia seguinte quando Isabel havia saído para o Teatro, os meninos faziam suas tarefas escolares e eu me distraía com Cecília na sala. Escutei baterem na porta, e pensando que podia ser Edgar, deixei que Efigênia a abrisse:

– D. Laura, essa moça quer falar com a senhora- foi então que vi Catarina, ela estava dentro da minha casa, e agia como se fosse uma visita desejada, aquilo me enfureceu, mas eu tentei disfarçar.

– Obrigada, Efigênia. Leve a Cecília para ficar com os meninos, preciso ficar a sós com ela. Vai com a Efigênia, meu amor –quando elas saíram, me voltei para aquela mulher – Fale logo!

– Por que essa grosseria comigo?- ela falou cínica pensando que me atingiria

– Só não tenho tempo para perder com você. Seja direta.

– Pois bem. Eu vim te falar que não vou te deixar afastar Edgar da filha e de mim. Eu lutarei pela Melissa, pelo o que ela tem direito!

– Eu não quero afastar Edgar da filha.

– Se você acha que ele deixará a Melissa, que voltará para você depois de tudo o que aconteceu.

– Fique tranquila, eu não voltei para isso. Não voltei para recuperar o Edgar. Mas voltei pra ficar! E Edgar e meus filhos vão conviver ...

– Você, sai com um filho e volta com dois! E acha vão acreditar que ambos são filhos do seu marido!- ela disse venenosa

– Diferente de você, eu nunca dei motivos para duvidarem da minha honra. E você viu a minha filha, não há motivos para duvidar! Aliás, isso é algo que não é do seu interesse. Não devo nada a você, e ainda bem não tenho relação nenhuma com você!

– Eu sou mãe da filha do Edgar. Faço parte da segunda família dele!

– Isso não me interessa, como te disse, não voltei para reatar com Edgar, nem para afastar a sua filha dele. Você e ele podem ser e fazer o que quiserem como fizeram nesses últimos anos. Aliás, você podia ter feito. Mas não conseguiu o Edgar, né? - a alfinetei e percebi que ela não ficou indiferente ao comentário

– Você não sabe com quem está mexendo.- ela me ameaçou

– Sei e não tenho medo, Catarina. Só mais uma coisa. Essa é a minha casa... e não do Edgar. Não quero ver você aqui novamente. Esse é um aviso meu e não dele. É definitivo! Você não será mais recebida aqui, e se aparecer para me perturbar novamente, se chegar perto dos meus filhos, não pensarei duas vezes em chamar a polícia e usar toda a minha influência para te manter presa. É você que não me conhece!- finalizei mais ameaçadora

Os dias seguintes foram mais tranquilos. Catarina não apareceu mais, Edgar continuava visitando as crianças, apesar de ainda parecer chateado com o meu pedido de divórcio. E eu não contei a ele sobre o meu encontro com Catarina.

Um dia, eu recebi um telefonema ainda cedo. O diretor da escola queria que passasse lá pela manhã. Segundo ele era um assunto urgente e importante.

Me arrumei e falei a Efigênia que caso eu não chegasse a tempo, ela deveria levar os meninos para o colégio.

Eu estava muito ansiosa. Que assunto poderia ser? Mil coisas passavam em minha mente. Ao chegar a escola notei vários olhares atravessados em direção a mim. Como se eu tivesse feito algo muito errado. Os olhares dos funcionários e dos professores demonstravam asco. O que tinha acontecido? Será que descobriram alguma coisa?

Me sentei a frente da mesa de Seu Octávio, e ele me olhou duro. Colocou um folheto em cima dela e disse:

– Explique isso. D. Laura!

Abaixei os meus olhos e li: “O Pasquim --- D. Laura Vieira fugiu do marido” E nele ainda havia uma foto tirada de longe na rua, comigo carregando Cecília nos braços e levando Pedrinho pelas mãos. Mal dava para ver o rosto dos meus filhos, mas dava para me reconhecer claramente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Ainda lembravam do Pasquim? O próximo capítulo deve ser praticamente um extra, mas acho que será necessário para entender as tramoias envolvidas na história. Gente, não deixem de comentar, e até o próximo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lado A Lado - Novos Rumos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.