Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 43
O Pasquim


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram muito, mas a minha dedicatória especial vai para a LaurEd na veia, que recomendou a história no último capitulo, valeu, vc me deixou tão feliz.Ai esse capítulo foi menor do que os anteriores, me tomando menos tempo na escrita, e bem estou com medo e ao mesmo tempo ansiosa ao colocá-lo, é melhor deixar você com ele. Por assim dizer é meio que um extra...



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“Medo, Jonas? Eu quero mais é ver o circo pegar fogo”

Guerra em Lado a Lado

Por Pascoal

Meu nome é Pascoal Lima. Sou jornalista, e oficialmente estou desempregado. Mas o que muitos não sabem é que isso é apenas uma aparência, já que na realidade, sou o criador e escritor do Pasquim. E na verdade, nunca ganhei tanto em minha vida.

Podem falar o que quiserem sobre o Pasquim, é sensacionalista, atinge as pessoas de forma imoral, até mesmo os inocentes. Mas dá um ótimo dinheiro.

Já ouvi falar horrores sobre a pessoa ou pessoas desconhecidas que o escrevem, que são sujeitos traiçoeiros, abutres que se aproveitam de carniça, que não se baseiam em provas concretas e até aumentam os fatos propagando mentiras.

E de certa forma não posso negar nada disso. Já que uso os podres das pessoas, sem pensar em quem possa atingir e muitas vezes esses podres são de caráter íntimo, devendo ser do conhecimento e interesse apenas dos seus envolvidos. E normalmente aumento sim, para chocar, para criar um escândalo.

Mas um dia já fui um jornalista sonhador e até idealista. Eu já quis ser reconhecido e admirado pelo o que escrevia. E claro, pensava que assim também poderia me sustentar e ter uma vida confortável.

Entretanto estava enganado. Pois após anos no trabalho, ainda morava em uma pensão simplória, que era o que dava pagar. E escrevia para um jornal pouco prestigiado de direita. Meu serviço era escrever sobre amenidades, eventos sociais como velórios, bailes, festas de aniversários, matérias chatas e que não traziam respeito.

Entretanto um dia, eu consegui um furo nesse meio. Descobri que um vereador estava envolvido em um esquema de corrupção. Escrevi uma reportagem, insinuando esse fato. Era uma matéria que eu tinha orgulho pois diferente das outras possuía um conteúdo importante. Só que esse vereador conhecia o dono do jornal, eu acabei sendo despedido, e até publicaram uma nota de retratação sobre minha reportagem.

Então procurei empregos em outros jornais, mas descobri que as portas estavam fechadas pra mim.

Só que não sabiam com quem tinham mexido, eu não continuaria sendo a vítima. Assim planejei a minha vingança... Eu sabia de vários outros podres sobre o vereador. Usei todas as minha economias. E fiz o primeiro número do Pasquim.

A repercussão foi extraordinária. O que eu tinha escrito estava na boca de quase todos da cidade e meu desafeto vereador perdeu o seu prestígio, foi completamente desmoralizado.

E além disso comecei a escutar bochichos, haviam pessoas interessadas em aproveitar o Pasquim, pessoas que queriam acabar com seus inimigos. Pessoas com dinheiro que poderiam pagar uma nova edição.

Eu resolvi aproveitar isso. Não podia deixar passar a fama (mesmo que ninguém pudesse saber que era eu quem escrevia) e o dinheiro que se anunciava a minha frente.

Assim fiz uma caixa postal anônima, e comecei a soltar o boato de que quem tivesse uma pauta e estivesse disposto a patrociná-la poderia fazer uma solicitação nessa caixa postal.

Dessa forma, eu comecei a ganhar dinheiro e destruir reputações pela cidade. Sabia que estava mexendo em terreiro de cobra e tomava as minhas precauções.

Muitas vezes me disfarçava pra ir até a caixa postal, as vezes, pagava algum moleque na rua para pegar os papéis. Dificilmente entrava em contato direto com os “patrocinadores”, e quando o fazia, ia disfarçado, em outras deixava os esboços das matérias, e pedia que colocassem o pagamento em locais estratégicos espalhados pela cidade. Também usava alguns moleques nesse contato. Não era impossível me pegarem, mas seria difícil.

Um dia recebi, uma carta da cantora lírica Catarina Ribeiro. Ela propunha uma pauta sobre Laura Vieira, esposa de um advogado proeminente na cidade, filha de um senador da república, e nora de um ex-senador. Era a primeira vez que me pediam para escrever especificamente sobre uma mulher.

Fiz meu dever de casa e investiguei, como sempre fazia, também colhi dados sobre minha patrocinadora. E não foi difícil, já que ela era diretamente relacionada a um membro da investigação.

Catarina era ex-amante (já que como consegui constatar, esse caso não continuava), e mãe de uma filha bastarda de Edgar Vieira, marido de Laura. O Dr. Edgar sustentava mãe e filha, e apesar da sociedade em geral não saber existência da menina, ele a visitava de vez em quando, normalmente na casa da ex-amante. E quase não era visto com menina em lugares públicos.

A denúncia sobre D. Laura era a de que tinha roubado o filho e fugido do marido, tendo morado alguns anos no interior, voltando a pouco tempo para o Rio. Sendo que a história oficial propagada era a de que tinha adoecido, ido morar no interior com o garoto, e que o marido a visitava esporadicamente.

A informação de Catarina se mostrou verdadeira, Laura tinha fugido sim, e passou os últimos anos no interior de São Paulo. O que por si só, já era um escândalo. Mas eu tinha a suspeita de que a motivação da fuga estaria relacionada a Catarina e sua filha.

Obviamente a minha patrocinadora, insistiu que essa informação ficasse escondida, e que não fosse citado nada sobre ela e a menina.

Diante dessas descobertas, eu entendera a motivação dela, seu foco era a senhora Vieira, já que se sentia ameaçada pela volta da esposa do seu ex-amante, e percebi até alguma inveja dela. Ela queria acabar de verdade com reputação de Laura. E o mínimo de responsabilidade deveria ser colocada sobre o marido, apesar de já ser humilhante ao ego de qualquer homem todos descobrirem que sua esposa fugiu, ainda mais com algumas insinuações que Catarina insistiu em colocar.

Haviam muitas informações desencontradas e mistérios permeando esse retorno de Laura Vieira. Ela e uma amiga mulata chamada Isabel Nascimento, que na época era camareira de teatro, tinham saído do Rio há mais de 5 anos sem dinheiro algum e sem ajuda da família. E voltaram possuidoras de uma fortuna considerável. Laura que tinha apenas um filho, voltou com 2, um casal. E em vez de tentar uma aproximação com a família ou o marido. Laura e Isabel compraram uma casa e moravam juntas.

Mas considerando o que eu tinha observado e minha intuição, sentia que não havia nada de tão ortodoxo em nenhum desses mistérios. A fortuna eu ainda não suspeitava de onde vinha. Mas possuía a sensação de que não seria nada chocante. Já a filha de Laura, constantemente a vira acompanhada por Edgar Vieira, senda a cara dele. E teria certa segurança em afirmar que era filha do marido e que ela estava grávida quando fugiu, já que a idade da menina também batia. Quanto a Isabel e Laura, apesar da diferença de classe e cor, elas me pareciam grandes amigas.

Entretanto Catarina queria acabar com Laura, e somente liberou a publicação depois que coloquei um monte de insinuações maldosas, de teor vulgar e duvidoso, sendo que a maioria dessas eu sentia serem falsas.

Laura, mesmo sendo filha da nobreza, e Edgar, filho de um reconhecido corrupto, me pareciam boas pessoas. A mesma coisa de Isabel, que era apenas uma filha de escravos que fora enganada por um janota e acabara se tornando mãe solteira. Já em relação a Catarina, eu percebi o quanto era vulgar e manipuladora.

Entretanto eu já havia cedido a tentação do dinheiro, a moral já não me guiava, e mesmo não concordando, não orgulhando do que havia escrito, publiquei aquela edição do Pasquim com o seguinte texto:

“D. Laura Vieira fugiu do marido

D. Laura Vieira, herdeira da nobreza e filha do distinto senador Alberto Assunção, que as boas línguas dizem que está convalescente no interior, e que mesmo afastada do marido mantém um casamento exemplar com Dr. Edgar Vieira, na realidade roubou o filho e fugiu há mais de 5 anos.

E com quem? Os leitores podem perguntar... Com um amante? Com algum parente? Não, meus caros, com uma amiga, a mulata Isabel Nascimento, a ex-camareira que por uma virada do destino, se tornou a atual proprietária do teatro Alheira.

Isso se for apenas uma amiga ... Já que podemos e devemos achar estranho uma mulher fugir com outra mulher. E como diziam que D. Laura era uma mulher tão moderna, talvez tenha cansado do seu marido e caído de amores por sua “amiga”.

Mas não é somente esse mistério que permeia toda a situação... Alguns podem confirmar que D. Laura foi embora com um filho, e surpresa, voltou com dois. Isso mesmo, Laura é mãe de um menino e uma menina! Vocês podem ver as crianças com a senhora Laura Vieira na foto.

E de onde surgiu essa filha? Será que além de uma “amiga”, D. Laura se envolveu com um “amigo”? Algum padrinho ou coronel abastado do interior do nosso Brasil? Afinal eram duas mulheres sem dinheiro algum, sem ajuda, e precisavam lutar pelo seu sustento!

Ou será que essas amigas, firmes em seu amor, acabaram sucumbindo a função feminina mais antiga da humanidade? Lembram de Maria Madalena?

Se for o caso, conseguiram um bom lucro nessa função, já que ambas voltaram ao Rio de Janeiro e com uma boa fortuna, tendo comprado um teatro, e uma ótima casa em um bairro nobre da cidade. E continuam juntas... Dá para desconfiar de onde veio tanto dinheiro? Dá para desconfiar dessa relação?

É... caro cidadãos do Rio de Janeiro... A nossa sociedade está podre, até os nossos cidadãos mais distintos vivem em imundice e pelas aparências. E eu com a obrigação de tirar as máscaras deles, venho mostrar mais esse caso escabroso. Então lembrem-se quando escutarem o nome Laura Vieira, digam com propriedade, ela é uma vadia, de gostos exóticos e fugiu do marido!”


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Notas finais do capítulo

Então gente, o que acharam? Eu tinha muitas duvidas ao colocar e criar um personagem dúbio como Pascoal. Na verdade é o primeiro dúbio que crio, mas acho que será interessante. Quanto a nota no Pasquim, foi bem drástica, né? Acho que pior do que a maioria pensava. Olha não é uma punição para a Laura, mas achei que esse tipo de texto poderia trazer várias consequências, deixando a historia interessante e tornando possível eu concretizar algumas ideias que tive. Espero que entendam e comentem muito para me inspirar a escrever as consequências desse texto vil.E bem vou confessar que até me simpatizo com o Pascoal.