Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 41
Acertando as coisas


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários, eu gostaria que tivessem sido mais, mas os 13 comentários, me ajudaram a escrever nesse período de diminuição de público. Não sei se é por causa das férias, ou se história não esta agradando a algumas pessoas como antes. Mas eu peço que quem estiver lendo não deixe de comentar, comentários sempre me ajudam a escrever e de forma mais rápida.
Desde o último capítulo, minha história recebeu uma recomendação o que me animou, valeu Micheli, esse capítulo é especialmente dedicado a você.
E sobre o capítulo, finalmente eu consegui escrever tudo que tinha planejado. Oba! Espero que gostem, e já aviso que ficou um pouco maior que o habitual.



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Como a gente vai pensar em mudar a mentalidade de um país inteiro se os pais não conversam com os filhos?Edgar

Não, é impossível- Laura

O progresso das avenidas largas, os automóveis. De nada adianta mudar o mundo se as pessoas permanecem as mesmasEdgar

Mas nós somos diferentesLaura

Lado a Lado

Por Edgar

Parecia que um furacão havia passado em minha vida, pois tudo começava desmoronar a minha volta.

Eu descobrira porque meu filho se portava de forma tão arredia comigo e a resposta era horrível. Nem nos meus pesadelos eu imaginei aquilo... Ele achava que eu era ruim, que não o amava... Parecia ter memórias do passado... Será que o ferira tanto assim naquela época? Ele era só um garotinho... Como o magoara assim? Sentia um peso tremendo em meus ombros. Será que eu conseguiria consertar isso? Será que em algum dia, ele perceberia que era amado e me amaria?

E a minha discussão com Laura? Havia passado semanas desde que fizemos aquele acordo. Há semanas me segurava para não discutir... Por que eu não me segurei mais? Eu tinha que me conter... Pedrinho já achava que eu era ruim, imagina agora depois de me ver discutindo com a mãe.

Mas eu estava tão nervoso naquele momento, e explodi. Não devia ter dito aquelas palavras duras sobre ela ter virado as crianças contra mim, sobre Cecília e Pedrinho. Muitas delas não passavam de rompante. Resultados de um debate que eu fazia comigo mesmo tentando afastar a culpa de mim.

Era tão recente... Eu fui muito impulsivo ...E tudo ficou pior quando Pedrinho esclareceu o que pensava. O medo de perder o meu filho, a minha família me assolava novamente. E dessa vez sabia que se isso acontecesse, seria para sempre.

Eu estava aflito. Pensei bastante sobre tudo que acontecera. Laura disse que conversaria com as crianças. E eu precisava saber, entender o que tinha acontecido. Saber se havia remédio. Não podia ficar parado. Mas antes decidi me acalmar.

Eu tinha que me acalmar para enfrentar a situação e não criar mais brigas. Já era noite quando me senti mais contido. Eu não podia esperar mais e fui a casa de Laura. Bati na porta ansioso, mas já sensato, disposto a resolver a situação:

– Edgar? - Laura atendeu a porta surpresa

– Laura … Eu tinha que vir aqui. Não podia ficar lá- falei emocionado e ela me deixou entrar

Estávamos na sala da casa quando ela disse:

– As crianças já estão dormindo.

– Eu imaginava... Queria falar com você... Entender as coisas, você conversou com as crianças? - perguntei inseguro com medo da resposta

– Falei... - ela fez uma pausa, o que me deixou mais ansioso pela resposta – com a Cecília foi simples. Ela está muito bem, só esclareci umas dúvidas dela. E sobre ela, Edgar, sobre o que você disse, eu não quero mudá-la...- a interrompi

– Eu também não quero. Ela é maravilhosa, Laura. Feliz, tudo tem graça com ela. O que eu disse foi coisa de momento, pensamentos confusos. Nunca deveria ter falado aquilo. O que você falou... sobre ela lembrar você... Eu adoro o jeito dela. E se ela se tornar uma mulher que quer fazer a diferença, e mudar o mundo pra melhor como você, serei o pai mais orgulhoso do mundo- eu era sincero e estava emocionado

– É tão bom saber isso – o olhar de Laura adquiriu um pouco de brilho, e ela sorriu de leve, o que me fez sorrir também, mas depois voltamos para situação difícil que nos cercava.

– E Pedrinho? - perguntei apreensivo

– Com ele é mais complicado. Ele se lembra, realmente lembra. Lembra do que acontecia naquela época, das suas ausências, das nossas brigas, do aniversário dele quando você disse que lhe contaria uma história e não contou. Ele acha que você era ruim, que não nos amava. E por isso quer ficar longe de você ...– ela estava sentida e fez uma pausa- Eu não sabia que ele se lembrava. Juro. Se soubesse já tinha tirado essas coisas da cabeça dele, já tinha conversado. Mas eu pensei que por ser tão pequeno ele não se lembraria.

– Laura, eu não devia ter falado aquilo com você, ter te acusado. Eu sei que você não o viraria contra mim...É que … - a emoção era muito forte e comecei a gaguejar – O que eu fiz? Será … que per...di o nosso filho? - fazia força, mas uma lágrima caiu na minha face

Laura me olhou comovida, se aproximou e apertou as minhas mãos como se quisesse passar confiança a mim:

– Edgar ...Ele é apenas um menino. Ainda temos tempo. Você só precisa mostrar que o ama, que é um homem bom. Ele é muito bom, muito justo. E vai entender a verdade, só precisa ver. Ele me prometeu que vai tentar, que vai te dar uma chance.

– Mas eu tentei mostrar isso, me aproximar dele, e não consegui nada. - falei desesperançado

– Agora vai ser diferente- ela sorriu para me animar- Ele disse que daria uma chance. E eu estarei por perto de verdade. Eu ajudarei nisso. Me empenharei como nunca. Você precisa entender melhor as crianças, o jeito delas para descobrir uma forma de se aproximar. Os dois têm as suas particularidades e se você entendê-las e respeitá-las, conseguirá se aproximar com menos dificuldade. A Cecília ….

E ela começou a me falar sobre as crianças, acontecimentos das suas vidas, seus gostos, suas personalidades. Me contou das pessoas que os acompanharam. Falou de D. Amália que era como uma avó para elas. Uma avó muito dedicada e amada. E também de Lauro, um homem que morava na pensão em que viviam, e senti ciúmes dele. Era outro homem próximo de Laura e dos nossos filhos. Era bom com eles, e além de ter participado mais da vida deles do que eu nos últimos anos, não sabia as suas intenções. Ainda bem que ele estava longe.

Por fim, ela comentou até mesmo sobre Neto e seu sentimento em relação à ausência do pai. Me pediu que o ajudasse a não sentir tanta falta.

Eu voltei para casa mais animado. Com as esperanças renovadas. Escutei muitas estórias dos meus filhos. Eles eram ótimas crianças. Eu estava feliz em saber mais, mas ao mesmo tempo senti alguma tristeza por ter perdido tantos momentos. Mas era melhor saber do que evitar, só assim entenderia meus filhos completamente.

No dia seguinte, eu retornei a casa, e brinquei com eles. Cecília continuava agindo com sua espontaneidade de sempre. Já havia superado completamente o dia anterior. Pedrinho não era aberto como ela, mas me parecia agir com mais naturalidade.

Nos dias seguintes a situação continuou tranquila. Pedrinho não falava muita coisa dele, mas já falava alguma. E eu sabendo mais dos interesses de ambos procurava direcionar a conversa para isso. Me mostrava interessado, pois a verdade era essa, eu estava bem interessado em descobrir tudo sobre eles.

Nos programas e passeios que fazia, procurei incluir Laura e Neto quando era possível. Pedrinho e Cecília adoravam o primo e até ficavam mais felizes quando ele ia. Laura era a mãe deles, a pessoa que mais confiavam e sua presença deixava ambos, e principalmente Pedrinho mais à vontade.

Um dia, cheguei a casa deles com presentes nas mãos. Dessa vez, eu escolhera a dedo o que daria. Chamei Neto em primeiro lugar, ele me olhava encantado:

– É pra mim?- ele sorriu

– É claro. Você é o meu afilhado. É um garoto muito bom e merece - falei e o vi sendo tomado de felicidade

Ele parecia mais feliz ainda quando o abriu e viu que era uma bola de futebol:

– Uma bola de futebol de verdade! Obrigado, Edgar!- ele me abraçou espontaneamente, estava tão contente e isso me fez bem, era muito bom receber o carinho daquele garoto, e esperava que no futuro Pedrinho também agisse assim comigo. Depois ele saiu animado e foi mostrar a bola à mãe.

Cecília, curiosa, já esperava o presente dela, e lhe dei o seu embrulho. Ela abriu rapidamente e sorriu quando viu o que era:

– É um Ted Bear, Cecília. Um urso de pelúcia – falei satisfeito pois ela pareceu gostar – Um urso igual o da história da cachinhos dourados. Você gostou?

– Amei! – ela estava empolgada e eu a segurei em meu colo

– Então esse é o papai urso ou o bebê urso? - perguntei

– O papai urso, claro. - ela disse como se fosse a coisa mais lógica do mundo

– Por que o papai urso?- perguntei

– Porque ele parece com você. E ahh ...ele vai chamar Edgar.- olhei para o brinquedo tentando notar onde ela via a semelhança, e percebi que tinha razão em alguns pontos, não me contive e dei uma risada

– Se parece comigo?

– É! Você é o meu ursão Edgar, e ele o meu ursinho ...Edgar. - eu gargalhei mais ainda, a abracei e lhe dei um beijo.

– Você é a minha cachinhos-dourados, filha – falei sorrindo emocionado

Cecília sorriu de volta e eu a coloquei no chão. Ela estava ansiosa para mostrar o presente a todos.

Olhei pela sala e percebi que Pedrinho observava tudo. Ele se mantinha afastado, então peguei o último embrulho e levei até ele. Era o menor de todos, mas eu realmente esperava que ele gostasse do presente. Ele o abriu e falou surpreso:

– Um tabuleiro de xadrez?

– Sim – sorri, ele não havia ficado indiferente- Você sabe jogar xadrez? - perguntei

– Não – ele foi direto

– Esse é o jogo dos mestres na lógica e estratégia. Você parece gostar desse tipo de coisa.

– Eu gosto. Mas não sei jogar esse.

– Se você quiser, eu te ensino. Vou adorar te ensinar... Você quer? - falei e ele parecia indeciso, mas depois de um tempo respondeu com certo brilho em seus olhos.

– Quero.

Isso me deixou extremamente alegre. Ele parecia ter gostado. Além de ser uma ótima forma de passarmos um tempo juntos. E naquela noite, eu já comecei a ensinar as regras pra ele. Até jogamos a nossa primeira partida.

Nas semanas seguintes, eu e ele jogávamos todos os dias em que o via. Percebia o quanto ele estava empolgado com o jogo e ficava cada vez melhor nele. Ao mesmo tempo que sentia me conectando ao meu filho. Era uma evolução, era maravilhoso.

O clima havia melhorado bastante. Até mesmo entre eu e Laura. Ainda tinha muita mágoa, sentimentos e problemas não resolvidos entre a gente. Mas tínhamos conquistado certa cumplicidade.

Não aquela cumplicidade de antigamente, onde dividíamos os nossos problemas, os nossos planos, o nosso amor. Mas éramos cúmplices em sermos pais de Pedrinho e Cecília. Conversávamos de verdade sobre eles, das coisas mais simples às mais profundas. Falávamos dos momentos e sentimentos em relação aos nossos filhos. Nos orgulhávamos deles e de seus avanços. Ela sempre me ajudava e dava sugestões para me aproximar das crianças. E nós começamos a conviver mais como uma família mesmo morando separados. Eu queria mais que aquilo, mas já era uma situação animadora.

Certo dia, eu estava na casa de Laura com Cecília. Laura e os meninos ainda não tinham voltado da escola e nos distraíamos juntos.

Desde que eu soubera do gosto de Cecília por poemas, eu pedia que ela me declamasse alguns. Eu adorava vê-la fazendo isso. Até mesmo descobri que ela começava a compor algumas frases mais simples, e a estimula a escrevê-las. Sempre dava a minha opinião deslumbrada de um pai babão.

Só que sabendo que ela também cantava, eu tentava convencê-la a cantar pra mim, mas ela resistia:

– Sem o Tio Lauro não tem graça – ela falava sem perceber que isso acendia certo ciúme em mim

– Por que não? - tentei disfarçar o meu sentimento

– Não tem ninguém pra tocar piano.

– Mas você não está aprendendo a tocar? - ela tinha começado a ter aulas duas vezes por semana

– Eu não sei nada ainda. Ele sabia um tantão de musica- ela protestou

– Eu quero ouvir a sua voz, não o piano, filha. - tentei incentivá-la

– Mas não tem graça.

– O que você quer para cantar pra mim? - perguntei para convencê-la e ela pensou um pouco

– Brincar com o seu cabelo.

– Brincar com o meu cabelo?- estava confuso e ela sorriu – Você não vai colocar nenhuma tinta ou coisa do tipo, né?

– Não, não coloco nada.

– Então temos um trato – falei apertando a sua mão

E ela começou. Sua voz era tão doce, e eu ficava cada vez mais encantado enquanto ela cantava brilha, brilha, estrelinha. Aquela menina era incrível.

Depois disso eu tinha que cumprir a minha parte no acordo, assim me sentei no sofá enquanto ela ficou em pé nele. Cecília usava uma escova, e direto, eu sentia uns puxões em meus cabelos. Mas quem era pai tinha que aguentar.

Laura e os meninos acabaram chegando. E ao ver aquela cena todos caíram na risada. Quando Laura conseguiu se conter um pouco, ela mandou os garotos para o banho e depois falou com Cecília:

– Meu amor, o que você está fazendo com o seu pai?

– Ele deixou. Não é, Edgar?

– É, nós fizemos um trato. Uma canção por brincar com meu cabelo– falei firme, mas já estava receoso do que ela podia ter feito.

– Mas agora já cumpriram o trato, né? Se o virem assim no fórum, seu pai não consegue mais clientes. - Laura riu

– Tá bom. - Cecília foi para o chão e eu me levantei

Fui até um espelho, e vi o meu cabelo cheio de trancinhas. Realmente estava muito engraçado. Mas contive o meu riso e falei tentando parecer sério:

– Já estou com o penteado pronto para um baile de gala. - falei e Laura riu

– Filha, seu pai não ficou bem com essas trancinhas.

– Não tem problema – disse pegando-a no colo – Acho que a nossa garota está querendo dizer que eu preciso cortar o cabelo. O que acha, Cecília, de cortá-lo bem curto?

– Não... Não corta, não. Seu cabelo é lindo! - Cecília falou sincera, mexeu no meu cabelo e eu ri – Não é mamãe? O cabelo do Edgar não é lindo? - Laura me olhou dos pés a cabeça, parecia constrangida com a pergunta.

– Filha … Isso não … - Laura estava ficando vermelha e eu a olhei com certo desejo e curiosidade

– Você não acha o cabelo do Edgar lindo? Você não acha o Edgar lindo?- ela perguntou e Laura foi ficando mais vermelha, eu sorri para ela, queria ouvir aquela resposta.

– Sim, meu amor. Seu pai tem um cabelo lindo. Seu pai é lindo- Laura abaixou o rosto e saiu tentando disfarçar, enquanto eu sorria feliz com a sua resposta.

Dias depois, quando eu e Laura já tínhamos colocado as crianças pra dormir. Ela me chamou para uma conversa, o que me deixou um tanto ansioso:

– Edgar, a situação está bem melhor, não? A sua relação com Pedrinho e Cecília está melhor, as coisas estão se ajeitando. - ela sorriu um pouco nervosa, e continuou - Talvez chegou a hora de falar sobre nós dois.

Aquilo realmente me pegou de surpresa. Ela queria resolver as nossas coisas? Não sabia se estava preparado para isso. Ainda guardava dentro de mim todo o sofrimento dos últimos anos, os momentos que não passei com meus filhos, mágoas. Ela também devia guardar muitos problemas dentro dela. O clima estava melhor, e tinha medo de estragar tudo:

– Laura... Não sei se ainda... - ela me interrompeu

– Edgar, escuta... - ela me encarava corajosa até me lembrou a primeira noite que passamos juntos, e a deixei continuar - Acho que está na hora de conversarmos sobre o divórcio. Está na hora de oficializar a nossa situação!

E aquilo caiu como uma bomba pra mim. Divórcio? Não... Eu não queria. Eu não ia me divorciar dela. Ela era a minha mulher. E mesmo com tantos problemas, eu a amava, a queria de volta e não deixaria que …. Eu achando que ela falaria sobre uma reconciliação e mais uma vez, ela vinha com esse assunto de divórcio. Falei com certa raiva:

– Laura... Nós não vamos nos divorciar.

Ela ficou calada, parecia ficar nervosa. Mas depois sua expressão foi ficando mais calma. Eu olhava para ela. Eu amava, a desejava, não podia ...

– Edgar, vamos conversar direito. A gente não … - ela parecia firme e eu não ia deixá-la continuar com isso

Me aproximei de Laura e a beijei com arrebatamento. Ela tentou resistir, mas eu continuei.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Foi um capítulo mais leve do que anterior, de avanço em alguns pontos, né? Tá rolando alguma expectativa para o próximo? O que acham que vai acontecer? Alguém esperava que Laura voltasse com a conversa do divórcio? Espero que tenham gostado e que comentem muito. Isso sempre me anima a escrever.