Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 39
A discussão


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários.Eles me ajudaram bastante. Mas vou dedicar esse capítulo especialmente a Tauana Alecrim e a Patrícia Aguiar que recomendaram a história, isso mesmo 2 recomendações. Vocês me deixaram tão feliz.
Mais um vez esse capítulo era para ter abordado mais coisas. Mas acabou que as coisas se alongaram um pouco e preferi postá-lo assim. De certa forma ele tem um detalhamento maior em alguns pontos, mais do que pensava inicialmente. Espero que gostem.



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“Foi o meu pai que me colocou nessa situação. Por que ele me odeia tanto? Não, odeia, odeia não. Quem me dera. Ele me despreza.”

Fernando em Lado a Lado

Por Laura

Depois de algumas discussões finalmente eu e Edgar resolvemos fazer um acordo. Selar a paz. Era o melhor para os nossos filhos, mesmo que ainda houvesse um monte de coisas mal resolvidas entre a gente, até mesmo aquele beijo no sofá da nossa antiga casa.

Eu havia partido para conseguir um pouco de paz, e agora que estava de volta, lutaria com todas as minhas forças para mantê-la.

Edgar e os filhos tinham ficado afastados tempo demais. Quando fui embora, o fiz para nos afastar da situação e não pra mantê-los longe do pai. Mas não conseguiria me afastar da situação se não me afastasse de Edgar.

Meus filhos mereciam ter um pai. O Edgar merecia conviver com eles, e agora que estávamos no Rio. Eu me empenharia para que isso acontecesse, havia ido embora, mas agora faria o máximo para que se aproximassem. Tinha que fazer isso, tinha que ajudar e consertar essa situação.

Era tão lindo vê-los juntos. Nossos filhos e Edgar. Ainda tinha certo constrangimento entre eles. Mas Edgar estava empenhado, realmente disposto a conquistá-los, e usava o seu tempo e sua presença nisso, sendo tão carinho e atencioso. Ele contava histórias e brincava com eles. E aquilo me emocionava e ao mesmo tempo me preenchia de culpa, já que eu queria e estava feliz deles terem um pai, mas ao mesmo tempo, eu que os afastei dele. Mesmo que a situação naquela época fosse diferente, aquela velha dúvida me afrontava... Eu tinha feito o certo?

Cecília se mostrou mais aberta, mesmo sem conhecer o pai antes. Ela era mais pura e inocente. E para ela aquele homem grande grande e garboso de sorriso encantador, era lindo. O seu pai era lindo, carinhoso e bom. E ela já começava a adorá-lo.

Já Pedrinho era mais resistente, por ser mais desconfiado e protetor. Estava incomodado com a presença de Edgar. E eu tentava convencê-lo, conversava com ele, para ele se abrir um pouco, dar uma chance ao pai. Tinha fé que o tempo devia resolver isso. Edgar era um homem bom e ele conseguiria se aproximar do filho.

Eu e Edgar mantínhamos uma relação cordial. Guardávamos muito coisa dentro da gente, e as vezes a situação ficava um pouco mais tensa. Mas conseguíamos nos manter sem brigar, nos tratávamos com certa frieza, conversando basicamente apenas sobre as crianças.

Ao mesmo tempo, eu me sentia bem e mal com isso. Bem, pois apesar de um clima ruim velado, a situação era pacífica, ele convivia com os filhos, e para as crianças o clima era muito bom. E mal por ver o modo que nos tratávamos e ainda ter na lembrança nossa época de cumplicidade e amor. A época em que eu podia falar dos meus planos, ele me olhava admirado, e me estimulava. E ultimamente eu estava fervilhando em planos.

Entretanto eu não tinha voltado para reatar com Edgar. Eu havia voltado para construir a minha vida e das crianças sem precisar de fugir, as claras por assim dizer, para meus filhos terem um pai Eu o amava muito, ele era o homem da minha vida. Aquele dia na casa dele, mostrava o quanto ainda o amava. Só que eu já tinha desistido de Edgar no momento em que fugi, naquele momento eu desisti de lutar para ficar ao lado dele.

Assim, ainda precisávamos resolver muitas coisas entre ele e as crianças. Eu tinha medo do que o futuro nos reservava. Mas tudo caminhava de maneira tranquila, era isso o que eu mais queria. Um ambiente de paz para os meus filhos, pois eles eram o mais importante.

Um dia, Edgar propôs levar as crianças na casa dele. E eu concordei, achei que seria uma excelente maneira de caminhar nessa aproximação.

Nesse dia eu iria ver um local. Era um prédio que poderia ser adaptado para se tornar uma escola. A localização era interessante. Se realmente fosse possível transformá-lo numa escola, eu o compraria e já começaria as obras para que no início do próximo ano letivo pudesse inaugurar o meu próprio colégio. Estava muito animada com essa ideia.

Fiz a visita ao lugar, e realmente fazendo alguns ajustes podíamos torná-lo numa escola com as instalações que eu imaginava. Assim sai de lá decidida a comprá-lo.

Fui até a casa de Edgar para buscar as crianças. Estava mais leve com a minha decisão, mais entusiasmada com o futuro. Ao chegar lá encontrei Pedrinho e Cecília com Matilde no jardim. Não tinha sinal de Edgar e o clima parecia ruim:

– Matilde, o que aconteceu? Cadê o Edgar? - perguntei apreensiva

– Ahh, Dona Laura, houve uma confusão com as crianças. O dr. Edgar não ficou muito bem e foi para o escritório – ela falou com precaução

– Vocês estão bem? - perguntei aos meus filhos, eles fizeram que sim com a cabeça, e eu continuei - Então fiquem mais um pouquinho com a Matilde que a mamãe vai falar com o pai de vocês.

Fui para o escritório e lá vi Edgar com o rosto apoiado nas mãos, os cabelos desarrumados, além de alguns objetos jogados ao chão. Meu Deus, o que havia acontecido? Ele levantou o rosto vermelho, e mesmo tentando disfarçar percebi que tinha chorado, me parecia acabado. Seu olhar estava perdido e a minha primeira vontade foi correr em direção a ele e fazer um carinho em seus cabelos, mas me contive e só disse enternecida:

– Edgar, o que aconteceu?

– Seu filho e sua filha... Mas o que eu podia esperar ? Você deve ter enchido a cabeça deles contra mim – ele falou em tom acusador.

– Eu, Edgar? Eu nunca fiz isso. Sempre falei bem. Você não pode falar assim! – me defendia já ficando nervosa.

– Então por que? Então por que ele me trata assim? Por que ele falou aquilo? - ele parecia perdido, estava ofegante

– Assim como? Se acalme e me explique o que aconteceu.

– Pedrinho me rejeita. Age como se estivesse sendo obrigado a ficar comigo. E hoje, quando fiquei um momento longe. Cecília e ele sumiram. Sumiram! Você não sabe como fiquei preocupado. Tem ideia do que é ficar tantos anos afastado dos filhos,e no primeiro dia em que vem a minha casa, eles somem? E eles se esconderam de propósito!

– Ahhh, eles tinham essa mania de fazer isso. Mas tinham parado, eu proibi e eles pararam, também me deixava bastante preocupada. - falei com compreensão

– Aparentemente não pararam. Para ver como você cria bem os seus filhos.

– Meus filhos, agora são só meus filhos? E eu a culpada das ações deles? – falei sendo tomada pela raiva, ele falava das crianças como se fossem marginais

– São meus filhos também, mas você os afastou de mim e eu não os criei. - ele falava duro

– É mesmo, né? Para você eles são péssimas crianças, que devem ser surradas para aprender? Pois saiba Edgar que eu tenho orgulho deles, se você não quer, saiba que sempre terão a mim. E sempre me orgulharei deles.

– Não foi isso que disse, Laura. Eu os amo, eles são meus filhos! Mas .. há algumas coisas. Veja a Cecília por exemplo … - ele parecia indeciso

– O que tem a Cecília?... – ele continuava inseguro- Diga agora que já começou!

– Laura, ela é encantadora. Mas é uma menina que age como um menino! Gosta de brincar com meninos, e de coisas masculinas. E é muito agitada!

– Ela é feliz, Edgar. È feliz. É isso que importa, em que lei tá escrito que meninas tem que ser quietas? Você disse que a Melissa é, mas por que Cecília tem que ser? Elas são pessoas diferentes!

– Eu dei uma boneca a ela, o primeiro presente que lhe dei, e sabe o que ela fez? A rasgou toda.

– Ela não fez por mal. Mas a verdade é que ela não gosta de bonecas, ela e os meninos costumam fazer cirurgias nelas. Provavelmente foi isso que aconteceu. Não era nada contra você. Só não adianta dar bonecas a ela. Onde tá escrito que meninas tem que gostar de bonecas e brincar de casinha? Onde, Edgar? Por que uma menina não pode ter outros gostos? Eu mesma era muito levada quando criança, e esse jeito foi fortemente contido pela minha mãe. Aquele jeito que um dia você disse que adorava em mim. Eu não vou conter a minha menina. Não vou. Você vai?

– Não é isso, eu só me preocupo com esse modo, como a sociedade irá tratá-la no futuro.

– Ela só tem 4 anos. Não vai continuar assim pro resto da vida. E pra você entender, te digo mais. Ela não é apenas uma menina levada que gosta de brincar com meninos. Ela é doce, carinhosa, inteligente. Aposto que não sabe que ela sabe ler e escrever, que adora cantar e declamar poemas? Que já fez muitas apresentações pra gente. Eu estava querendo colocá-la em uma aula de piano. E ela ficou bem animada. Será que piano é uma atividade que você considera adequada a uma menina?

– Eu não sabia dessas coisas. - ele falou confuso

– Pois é, você a conhece a tão pouco tempo e acha que já pode julgá-la, saber como é e como será a sua vida.

– Laura... Não é isso. E na verdade, nem é a Cecília que mais me preocupa. Você não imagina o que Pedrinho falou.

– Diga então, agora que você já despejou todas suas críticas sobre Cecília pode despejar sobre o meu filho também.

– Pedrinho disse na frente da Cecília e da Matilde que eu não gosto dele, ou da Cecília e de você. Que eu nunca gostei. Eu tentei convencê-lo do contrário, mas você precisava ver o seu olhar, ele tem tanta certeza disso – enquanto ele falava, eu começa a compreender realmente as ações do meu filho, ao mesmo tempo sentia meu coração pesando, isso era muito grave.

– Não sei da onde ele tirou essa ideia. Eu … - estava confusa

– Da onde pode ter sido, Laura? Da onde? Não me diga que você não disse nada, que ele não escutou nada. Que você o virou contra mim. - ele gritou

– Edgar, eu já disse. Não! Eu nunca faria isso. Nunca imporia esse sofrimento ao meu filho. Eu e você tínhamos os nossos problemas, mas eu … - fui interrompida, sendo tomada por uma nova angústia já que notava a presença de Pedrinho, ele nos vira brigando.

– Eu lembro. Eu lembro. - falava Pedrinho decidido - Você não gostava da gente. Só da Melissa.

– Meu filho, você está confundindo as coisas. Você era muito novo – falei abalada, enquanto olhava para Edgar que parecia ainda mais perdido. Aquilo não devia ter acontecido, Pedrinho não deveria ter nos visto assim.

– Eu lembro, mãe. - ele falou firme, mas bastante emocionado e depois saiu correndo

Eu estava indo atrás dele, mas antes virei para Edgar, que continuava acabado:

– Eu vou levar as crianças. Conversarei com elas. A gente vai resolver isso – tentava melhorar o seu ânimo e saí decidida a acertar as coisas.


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Notas finais do capítulo

Então menina, o que acharam? Essa fase é tensa, e por isso mais dificil de escrever pra mim, espero que tenham gostado e comentem para me ajudar. Talvez as coisas estejam sendo pesadas demais, mas por enquanto esse tom é preciso. Espero que compreendam, saibam que vai se resolver. No próximo a Laura já terá uma conversa com seus filhos. Não deixem de comentar, de recomendar a participação de vocês sempre me estimula. Até o próximo.



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