Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 35
Flashback


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários e mensagens. Eles me ajudaram nesses dias. Valeu mesmo :)
Agora vou falar de algo que também me animou bastante. O momento no Brasil e essas manifestações. Sei que tem havido baderna e vandalismo. Ontem mesmo houve em cidades como Rio de Janeiro e Brasília. E esse tipo de coisa me deixou triste, pois isso pode acabar com o movimento e a beleza dele. Espero que episódios como esses acabem e não tire o brilho de tudo. Não à violência.
O movimento é bem legítimo, suas causas são muito justas, dentre elas : combate e fim da corrupção, investigação das obras da Copa (demora e super faturamento de muitas), não a Pec 37, mais investimentos em educação, saúde, mobilidade e transporte público, dentre outros em vez de investimento em estádios. O preço da passagem é o menor das coisas. A ideia é mudar esse país tão acostumado e acomodado com essa impunidade e falta comprometimento dos políticos com o povo. È um exercício da democracia.
Sabemos que parar avenidas das cidades é bem desagradável. Mas isso é algo que estão usando pensando em um bem maior.
Gente para mim, esse foi um sopro de esperança. Nunca imaginei que veria isso. Protestos feitos por uma juventude que na maioria das vezes me deixava desiludida. Ver tal engajamento, tal reação renovou as minhas esperanças de que algo vai mudar no Brasil, mesmo que demore décadas, essa corrupção e impunidade tem que acabar.
Não podia ficar alheia a isso e fui pra rua, gente. Há deturpações e aproveitadores, mas a maioria está lutando por causas legítimas, e pelo menos por enquanto, ainda não me deparei com a violência ( aqui em BH teve atos de vandalismo, mas nos dias que fui, estava tudo bem tranquilo, com o pessoal vaiando qualquer atitude mais perigosa).
Assim, gente leiam esse capítulo, comentem, mas não deixem de ir pra rua. Em Lado a Lado falou muito de mudanças, essa é a nossa oportunidade de fazer história, de mudar. Vamo pra rua, Brasil. A causa é justa, o momento é esse, precisamos pensar que as coisas mudarão para melhor. Isso é belíssimo e inspirador pessoal, esqueçam a manipulação, vamos pra rua, vamos nos unir.
Ahh, vou deixar vocês com capítulo mas não deixem de comentar e ir pra Rua, viu? Sábado dia 22, as 14 vou estar lá na praça 7 em Belo Horizonte. E sem violência.

"O povo brasileiro alterou seu status de 'Deitado eternamente em berço esplêndido' para 'Verás que um filho teu não foge a luta'"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/359454/chapter/35

“Meu amor, ninguém passa pela vida sem errar”

Tia Jurema em Lado a Lado

Por Laura

Eu não esperava que Edgar nos encontrasse tão cedo. Não esperava... Se eu soubesse... Tudo o que queria era agir com calma. Era esperar que as crianças ao menos assimilassem a mudança. Esperar ter uma conversa sobre o pai. Prepará-las para o encontro.

Sabia que a reação de Edgar não seria amigável. E sempre tive muito medo dela. Das palavras que ele falaria, do que eu falaria. Eu também precisava me preparar.

E aquele encontro na porta da escola, sem aviso, me tirou dos eixos. Ele chegara a mim tão rápido. Da minha família, só o meu pai sabia da minha volta, e tenho certeza que ele não contou. Assim como ele nos encontrara?

O que ele me disse fora tão duro, eu via a sua mágoa, o sofrimento em seu olhar. Além de toda a rispidez das suas palavras, a sua explosão. Eu imaginava que seria assim, mas nunca pensei que fosse tão difícil, realmente a realidade é bem mais dura do que pensamentos. Quando as coisas acontecem é que somos afrontados por tantas emoções.

Ainda bem que Isabel buscara os meninos mais cedo na escola para arrumar os seus uniformes. Senão era capaz de Pedrinho ver aquela discussão horrível. Ainda bem que não vira nada. Ver os pais daquela forma seria devastador para um menino tão pequeno. Seria devastador para mim.

Após a discussão, cheguei em casa completamente abalada. Tentei disfarçar para os meus filhos. Mas eles perceberam e se preocuparam. Isabel ficou com eles e colocou todas as crianças para dormir. Eu não tinha cabeça para isso. Não tinha cabeça para nada. A não ser pensar no meu reencontro com Edgar.

Ele ainda mexia comigo. Vê-lo daquele jeito tão furioso, tão ferido fora tão doloroso. Tudo acontecera de maneira tão drástica. Não houve tempo de nada.

Fazia mais de 5 anos que não nos víamos, a minha saudade era enorme, mas não pude nem … nós não trocamos nem uma palavra de gentileza e ele parecia muito magoado. O que aconteceria a seguir?

Ainda tentei desviar as minhas ideias e conversei sobre outras coisas com Isabel. Ela decidira investir no ramo do teatro, e ao mesmo tempo ajudaria os seus amigos que estavam com problemas financeiros ao comprar o teatro Alheira. Ela parecia satisfeita com aquilo.

Mas isso não desviou a minha atenção e nem me fez sentir melhor. Assim acabei desabafando sobre o que acontecera com Edgar, tentava pensar no que faria a seguir.

Ainda passei a noite em claro, pensando... Os pensamentos me dominavam e não me deixavam dormir. Remoí cada coisa que aconteceu desde que eu conheci Edgar.

Quando nos apaixonamos pela primeira vez, depois o nosso afastamento nos 4 anos de noivado. Eu queria outro tipo de vida, dar aulas, mudar o mundo, ele também, e acabou se envolvendo com aquela mulher, como pode ter se envolvido com alguém tão vulgar? Depois nos casamos sem nos amar, cada qual encarando tudo como um martírio, o fim dos nossos sonhos. Aí houve a nossa aproximação, nos apaixonamos pela pessoa que havíamos nos tornado nesses 4 anos de separação. Sonhadores. Contestadores. Idealistas.

Veio descoberta sobre aquela mulher, o ciúme, a dor... A descoberta de nossos sentimentos, um amor forte, construído, que até hoje eu mantinha em meu peito. A minha gravidez, a felicidade que sentíamos, tantos sonhos que sonhamos.

Mas ele descobriu sobre a Melissa. E partiu. Me deixando em aflição, sem notícias. O tanto que sofri por ele, por mim e por nosso filho. Houve momentos que desejei não estar viva, quantas vezes pensei que nosso filho ia morrer depois de nascer tão pequeno, quantas vezes me senti devastada, abandonada e sozinha. Sofrendo com Edgar longe. Então ele voltou e trouxe aquela mulher com ele. Nosso filho mal havia se recuperado e eu me deparei com ela, a filha e ele na nossa casa, uma família feliz, como me senti ultrajada, traída.

E depois veio o tempo de nossa aproximação, onde eu pensei as coisas ficariam bem. Edgar me amava, amava Pedrinho e eu amava Edgar. Mas aquela mulher que nunca havia me enganado, voltou a atormentar, e o que me deixava injuriada nem era só ela, e sim o modo que ele se portava. Era só ela aparecer com a menina chorando que ele desesperava, sumia. Ela entrava na minha casa como se fosse a dela e até me afrontava com palavras. Edgar não agia de forma efetiva, não, não agia. Dizia que ia agir, a ameaçava, mas não cumpria as ameaças.

Enquanto isso, eu sentia a humilhação, a solidão de estar sem ele, a sensação de criar um filho sozinha, a sensação de eu e Pedrinho sermos menos importante do que Melissa, e via todos os nossos sonhos que tivemos quando estava grávida indo embora.

Havia momentos bons, às vezes, eu conseguia ver o velho Edgar de volta, ele era carinhoso comigo e com Pedrinho, mas esses momentos não compensavam e não apagavam os momentos de angústia, os momentos em que eu não me reconhecia, em que estava desapontada comigo mesma por ainda continuar vivendo daquela forma. Por não resistir a ele, por acreditar, por me sentir tão fraca e carente. Eu amava Edgar, mas eram muitas brigas, e tristezas, com algumas alegrias eventuais. Era a desilusão de acreditar de verdade em algo e no momento seguinte perceber que não era real. Era muita instabilidade e o momento crucial, quando percebi que Pedrinho estava sendo afetado com aquilo, me fez decidir mudar... Algo tinha que mudar senão o nosso amor morreria, eu viveria infeliz e nosso filho cresceria infeliz também.

A decisão de fugir... Ahhhh. A decisão de fugir. Até hoje me pergunto. Pensei no melhor para mim e Pedrinho, e posteriormente Cecília quando descobri que estava grávida, e não conseguia imaginar mais outra criança vivendo naquela situação. Será que foi o melhor?

Eles cresceram num ambiente cercado de paz, e de pessoas que os amava, eu adquiri tranquilidade e confiança. Realizei os meus sonhos profissionais, me tornei independente. Mas viver sem Edgar, sem o amor de pai e marido fora o preço por isso... E também ver toda aquela mágoa e angústia nos olhos dele. O sofrimento que minha ação lhe causara durante esses anos, eu causara... Será que ainda tinha resolução? Será que conseguiríamos conviver em paz pelas crianças?

Eram muitos acontecimentos, erros, verdades e mentiras. Muito sofrimento e amor. O que aconteceria dali para frente? O que eu deveria fazer? Fora uma noite de muita culpa, dúvida, certezas e choro. Eu me sentia mais pressionada agora, e tinha que agir.

Me levantei cedo no dia seguinte, os meninos e Isabel não demoraram a acordar. Só Cecília que dormia, eu a deixaria dormir livremente, já que no seu sono, essa confusão não seria capaz de atingi-la.

Percebendo o meu estado, Isabel resolver levar Pedrinho e Neto para a pracinha perto da nossa casa. Era uma ótima ideia, pois eu não queria passar a minha aflição para as crianças.

Mas pouco tempo depois eles voltaram, Pedrinho entrou assustado pela casa e eu vi Edgar adentrar na residência.

Houve mais uma discussão entre a gente. Mais acusações de ambos os lados. Mais palavras duríssimas de nós dois. E finalmente tivemos um acerto, pelo menos no fim, ele concordou em algo. Voltaria no dia seguinte para encontrar com Pedrinho. E pensei que felizmente ele ainda não descobrira sobre Cecília... Mas eu tinha que contar a ele, e já imaginava a sua reação.

Eu ainda precisava entender a atitude do meu filho. Por que ele fugiu de Edgar? Durante todo o tempo que ele ficou separado do pai, eu lhe mostrei a sua foto, e falei bem dele. Será que a surpresa o assustou?

Pedrinho sempre fora um pouco mais calado e fechado. Percebi que era o jeito dele, e sempre respeitei a maneira do meu menino. Mas dessa vez, eu precisava saber, precisava entender o que o incomodava e explicar as coisas para ele. Precisava falar de Edgar e do encontro que aconteceria no dia seguinte.

Sobre os seus sentimentos, ele se mostrou arredio e eu preferi não pressioná-lo. Pois ele estava ficando nervoso. Mas já comecei a falar sobre pai, e iniciar o assunto sobre vê-lo novamente.

Mas a verdade é que eu ainda tinha muito mais no que pensar e resolver. Havia Cecília e eu tinha que arrumar uma forma de contar dela para Edgar. Não seria justo, nem certo Pedrinho conviver com o pai e minha menina não.

Assim, passei o dia com eles, disfarçando o meu conflito interno,e sendo bem carinhosa, brincando e conversando, iniciando o assunto do pai.

Contei uma história para ambos dormir e levei cada qual para o seu quarto. Mas não sem antes os beijar e dizer o quanto os amava.

Eu ainda tinha que fazer algo importante naquela noite. Aquilo não podia ser adiado mais, e por mais que eu temesse muito, tinha que ser feito. Me arrumei, e fui para casa de Edgar. Eu tinha que lhe contar sobre Cecília. Ele precisava saber que tinha uma filha antes de ser apresentado a ela. E se ele fosse gritar e esbravejar que o fizesse apenas comigo e não com os filhos como testemunhas.

Meu coração ainda estava apertado quando bati em sua porta. Edgar atendeu. Só que dessa vez ele sorria. Como eu estava com saudades daquele sorriso... E quase no reflexo sorri de volta, depois me contive:

– Edgar, eu preciso falar com você – disse firme apesar de estar tremendo por dentro

– O que foi? Aconteceu alguma coisa? Pedrinho está bem? - ele parecia preocupado

– Sim, está tudo bem com Pedrinho... É outra coisa – já estava receosa, ele estava me tratando bem, de maneira civilizada

– Entre... - ele abriu completamente a porta e deu passagem para mim

Eu entrei apreensiva. Ele foi andando para a sala. E o segui enquanto era inundada por lembranças, aquela casa parecia não ter mudado. Continuava praticamente a mesma. E era tão estranho entrar nela novamente.

Edgar se sentou num sofá e eu no outro (era o mesmo conjunto em que um dia até nos amamos). Fiquei calada por instantes, olhava para ele. Tinha medo e não sabia de onde começar, enfim consegui falar:

– Espero não estar incomodando.

– De maneira alguma – ele comentou sereno

– Não quero tomar o seu tempo. Espero que a Catarina e a Melissa não se sintam incomodadas com isso – disse naturalmente, mas sentindo um peso no coração, a ideia de que Catarina morava na nossa antiga casa era excruciante para mim

– Catarina e Melissa? - ele perguntou confuso

– Sim... Imagino que elas estejam aqui, assim não quero atrapalhar.

– Laura … - ele estava tranquilo, quase sorria – Claro que elas não estão aqui. Eu moro sozinho. Elas estão na casa delas. Catarina não é nada mais que a mãe da minha filha.... E nós não tivemos nada, desde que eu era um estudante em Portugal.

– Bom saber … - aquilo me trouxera um baita alívio, mas eu não queria demonstrar e tentei disfarçar – Assim não estou incomodando – eu sorria

–È claro … -ele sorriu de volta, e nós ficamos nos olhando por alguns momentos, mas ele voltou a falar- A casa que você está morando é muito bonita. Seu pai está ajudando? Desculpe … não queria me intrometer

– Não ... não está intrometendo... Eu tenho falado com o meu pai sim. Mas na verdade, eu e Isabel somos donas daquela casa. Para encurtar a história, a dona da pensão em morávamos morreu e nos deixou quase todos os seus bens como herança.

– Então quer dizer que não estão tendo dificuldades financeiras? - ele parecia interessado

– Não, D. Amália possuía bastante coisas – falei sincera

– Bom saber … - ele olhava para mim de maneira encantada, me lembrava os seus olhares apaixonados e cheio de desejo do início da nosso casamento, e eu retribuí o olhar, há quanto tempo não me sentia como o objeto da admiração do homem que amava, era tão bom, ele se sentou ao meu lado e disse intenso – Laura …

– Edgar … - disse e seu rosto se aproximou do meu.

Ele me beijou com calma, tentando perceber a minha reação, que não era contrária a ele. Então ele aprofundou o beijo. Havia poucas horas que nós tínhamos discutido, assim aquele beijo não era sensato.

Mas eu não pensava, apenas sentia. Era um misto de saudade acumulada por mais de meia década, e uma vontade doida de saciá-la. Uma vontade de sentir, de viver, de amar que crescia a cada instante. Como era bom senti-lo, beijá-lo, saborear o seu gosto, estar em seus braços, somente assim eu notava cada célula do meu corpo. Sentia o quanto de vida ainda estava restava em meu corpo. O quanto era bom estar com ele.

O beijo havia se tornado voraz, as mãos dele começaram a percorrer o meu corpo. E sem descolar os lábios dos meus, Edgar me deitou no sofá. Nossos corpos estavam tão próximos. Sua mão achou caminho na barra da minha saia, e ele invadiu a região das minhas pernas. Ele levantava a saia, subia cada vez mais, até que tocou em minha coxa o me que arrancou um suspiro. Continuou indo para uma região cada vez mais íntima.

Não, aquilo não podia acontecer. Eu não estava lá para isso. Eu tinha que contar sobre Cecília, e sabia que assim que ele descobrisse, tudo iria desmoronar. Seria mais motivos de discussão. Não podia continuar, não podia deixar, tinha que resistir.

Mas era tão difícil resistir com tudo o que sentia, as sensações, o desejo, o amor me tomando. Era tão difícil resistir a Edgar, resistir a sensação de vida e completude que me tomavam quando estava em seus braços. Eu …


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Querem saber o que vai acontecer a seguir? Espero que tenham gostado. Comentem pessoal, sabem o efeito que tem mim.
E vamo pra rua, não fujam da luta. Esse é o momento de fazermos história.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lado A Lado - Novos Rumos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.