Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 22
A nova gravidez


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários, eles me deixaram tão feliz. Esse capítulo é dedicado a todas que comentaram. E espero que gostem dele, e entendam as motivações da Laura...



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“Não é o casamento que vai me fazer feliz.”

Laura em Lado a Lado

Por Laura

Eu ainda estava preocupada no quarto quando Isabel, bateu na porta e entrou:

– Laura... você saiu de forma tão estranha. Vim saber como está...

– Você percebe, tudo, né, Isabel. Não adianta tentar esconder nada de você. Eu passei mal, mas agora estou melhor … fisicamente. Apesar de estar remoendo tanta coisa dentro de mim- disse mostrando a minha angústia

– Então me fala, o que te incomoda?

– Eu estou grávida... Isabel. Tenho praticamente certeza- uma lágrima escapou do meu olho, ela ficou calada surpresa por um momento, mas depois voltou a falar

– Sei que a situação é difícil, amiga. Mas um filho é uma benção... -ela estava preocupada e dizia aquilo para me consolar

– Eu sei, Isabel. Mas a situação é muito complicada... Logo agora que estamos aqui, as coisas estavam se ajeitando … Eu não esperava isso. -ela me abraçou

– Pense positivo... Tudo vai dar certo. Quando eu descobri que estava grávida, sabia que não seria fácil, mas resolvi enfrentar a situação, e hoje, Neto está aqui comigo, eu o amo tanto, e de uma maneira ou outra as coisas se resolveram. O que você quer fazer? Vai voltar ao Rio?

– Demorou tanto para eu tomar a minha decisão, demorou tanto para eu resolver largar Edgar, e fugir daquele inferno que nos cercava. Fiz isso pelo meu filho e por mim. Não quero voltar para lá, Isabel. Sei que também é filho de Edgar, que ele tem o direito de saber. De conhecer e conviver. Meus filhos também tem direito a um pai. Mas não quero levar Pedrinho novamente para aquele ambiente, e também essa criança. Levar esse bebê para aquele inferno. Não é justo. Eles não são culpados. São apenas crianças. Também tenho muito medo. Lembro do que passei no nascimento de Pedrinho, a pressão que vivi, ele nascendo pequeno, quase morrendo. Tenho medo que naquele lugar sem sossego, aconteça o mesmo e que dessa vez seja até pior. Eu não quero voltar. Eu não posso voltar... Mas talvez eu tenha que voltar.- desabafei e ela parecia confusa

– Por que você tem que voltar, amiga?

– Como vou sustentar duas crianças sem trabalhar, Isabel? Como poderei trabalhar e cuidar de um bebê recém-nascido? Pedrinho já está maior. Mas esse bebê, eu não posso deixar com D. Amália, pelo menos, não no início. Eu terei que amamentá-lo … È difícil...

– Laura … talvez … nós encontremos uma solução... Só precisamos pensar...

– Eu mal comecei a trabalhar. O que dirão quando descobrirem que estou grávida? Tenho certeza que não manterei o emprego.

– Tenha mais fé nas pessoas. As vezes, ela nos surpreendem. E eu estou com você, te ajudarei em tudo. Pense apenas nessa criança agora, você tem que se alimentar bem, se cuidar. Pense nela, em como ela será e não somente nas coisas ruins.

Isabel tentava me animar e por algum tempo até conseguiu. Mas quando me vi sozinha enquanto meu filho dormia, os problemas voltaram a me assombrar e eu chorei muito.

Mas me levantei no outro dia e fui trabalhar. A cidade não tinha médico, então após o serviço fui a casa de um parteira. Onde confirmei o que sabia, eu estava grávida e em pouco menos de 7 meses seria mãe novamente.

Além de Isabel não contei a mais ninguém da gravidez. Resolvi levar a situação até onde pudesse. Eu não queria esconder, mas preferi evitar mais aflições no início da gravidez. Eu sabia que quando as pessoas soubessem, me olhariam de forma diferente e as coisas se complicariam.

O tempo foi passando e Isabel procurava me animar. Ela torcia por uma menina, dizia que já tínhamos meninos demais, e que uma menininha traria mais delicadeza, seria uma flor no meio dos garotos. Já eu torcia apenas que nascesse com saúde.

Eu pensava e sentia muita falta de Edgar. Gostaria que ele estivesse comigo nesse momento, gostaria de vê-lo curtir a minha gravidez assim como havia feito com a de Pedrinho. Sentia falta dele ao meu lado, me abraçando, me amando, conversando comigo, pensando em nomes, imaginando. E ele poderia estar fazendo isso, se a situação fosse outra. Mas não era. Não sabia qual seria o meu futuro, mas pelo menos, naquele momento, enquanto ainda tinha como me sustentar, não voltaria para ele. Mesmo que as vezes, eu fosse tomada por uma vontade de contar, até cheguei a escrever uma carta certa vez, mas não a enviei.

Pedrinho já havia parado de perguntar do pai. E eu não sabia se isso era bom ou ruim. Ele e Neto além de se apegarem a D. Amália haviam se aproximado de Lauro. Eu fiquei receosa, pois não queria que ele visse Lauro como uma figura paterna, já que não sabia quanto tempo ele ficaria na cidade, quanto tempo nós ficaríamos, e o pai dele era Edgar, mesmo que ele estivesse longe, Edgar continuaria sendo o pai dele.

Mas não impedi essa aproximação. Lauro era muito bom para eles e parecia gostar dos garotos, bem ou mal, ele era a única figura masculina deles naquela cidade. Algumas vezes até peguei Lauro brincando de cavalinho com os meninos, ou contando histórias do folclore brasileiro. Os três pareciam se divertir muito.

Certo dia, estava na sala conversando com Isabel quando Lauro apareceu e disse:

– Bonne nuit. Comment allez-vous, mesdames? (Boa noite. Como estão, senhoras?)

– Je vais bien. - respondi entrando na brincadeira (Eu estou bem.)

– Très bien – falou Isabel (Muito bem.)

– Quelle surprise. Parlez-vous français? - ele perguntou (Que surpresa. Vocês falam francês?)

– Oui, depuis l'enfance.– respondi (Sim, desde criança.)

– Surpris, je n'étais ...– respondeu Isabel (Surpresa, estou eu...)

– Até que da professora xará, eu esperava... Mas de você, Isabel – ele parecia admirado

– Eu trabalhei muito tempo na casa de uma senhora francesa.

– Como a vida é surpreendente... Nunca imaginei encontrar alguém aqui que poderia praticar francês. - ele disse sorridente e eu percebendo certa conexão entre eles falei

– Isabel sabe ler e escrever muito bem em francês e português, Lauro. Além de ser ótima em contas.

– A madame Besançon, me ensinou algumas coisas.- ela se fazia de rogada

– É impressionante. Você sabe, Isabel, a maioria das pessoas como a gente, não sabe ler nem escrever, quanto mais em francês.

– Eu sei. E como você aprendeu? Além de falar francês, sabe ler e escrever em português?- ela perguntou

– Sim. Escrevo e e leio em português e francês. Eu estudei. Minha mãe trabalhava até de madrugada, as vezes, mas conseguiu me manter um tempo na escola. Ela também teve uma patroa que ensinava francês e piano a meninas nas horas vagas e acabou conseguindo que ela me ensinasse também Ficava no canto para não perturbar as meninas, mas acabei aprendendo.

– Então você sabe piano também?- ela perguntou

– Sim... um pouco – ele falou rindo para Isabel

– Uma hora vai ter que nos mostrar. Não é Isabel? – falei dando corda para o flerte

– È claro – ela disse um pouco tímida

– D. Amália tem um piano aqui, mas como ela não sabe tocar, ele é praticamente decorativo, e está bem desafinado. Quando sobrar um tempo irei afiná-lo, e depois farei uma performance para vocês.

– Eu vou cobrar, viu?- falei rindo

Nesses momentos eu até conseguia esquecer que estava correndo contra o tempo. Já que minha barriga começava a crescer, e eu comecei a perder as minhas roupas. Estava pensando em vender algo de valor para poder comprar algumas peças, já que sobrava pouco do meu salário de professora, quando Isabel disse que alargaria algumas roupas minhas.

Eu não sabia costurar, mas ela sabia. E até me ensinou algumas coisas. Em contrapartida, depois que Isabel trabalhou no Alheira, ela passou a ter interesse pela área, e eu peguei alguns livros na escola sobre teatro, peças e outros livros famosos da literatura. Nós conversávamos sobre eles, e eu percebia uma genuína sede de saber em Isabel.

Até D. Amália ficou animada com a nossa conversa e as vezes pedia para lermos alguns trechos de livros para ela. Ela dizia que não enxergava bem, principalmente a noite. Mas eu já começava a desconfiar que ela tinha um nível de instrução precário.

A perda das roupas foi o meu primeiro problema. Mas não o único. Pois um dia, após o expediente tive que passar na sala de D. Emília, eu sabia que havia chegado a hora da nossa conversa:

– Eu gostaria de falar sobre você, Laura. Soube que está grávida.. É verdade?-ela foi direta

– Sim.

– Eu não esperava por isso. Você começou a trabalhar há tão pouco tempo … Não esperava que …

– Eu não sabia que estava grávida quando deixei o Rio, mas eu precisava sair, meu marido … - ela me interrompeu

– Laura … Você é uma excelente professora, as meninas te adoram, e é muito difícil arrumar uma professora para cá. Para quando é o bebê?
– Para início de setembro.

– Até lá, eu tentarei arrumar outra professora então.

– Mas eu não quero parar de trabalhar... Aliás, eu preciso continuar trabalhando pelos meus filhos.

– Eu gostaria muito que você continuasse, com um filho maior é mais fácil, mas com a gravidez, e um bebê recém-nascido que precisa de atenção. Convenhamos, fica difícil, Laura. As meninas não podem ficar muito tempo sem aulas.

– D. Emília quando se quer, se dar um jeito. Ainda falta um tempo, podemos pensar em alguma solução. Eu não quero sair da escola. Eu preciso desse emprego. E a senhora não quer que eu vá. - vi que ela ficou balançada – Que tal pensarmos um pouco mais?

– Tá bom, Laura. Eu esperarei um tempo antes de procurar uma nova professora.

– Obrigada, D. Emília. Aprecio a sua compreensão.

Nesse dia eu voltei tensa para a pensão. Sabia que meu emprego estava por um fio. Mas ao menos, eu teria até o nascimento do meu filho para decidir o que fazer. E ainda tinha uma pequena esperança de conseguir ficar nele após o seu nascimento.

Mas à noite, quando eu já havia colocado Pedrinho para dormir, D. Amália bateu em minha porta. Ela entrou, se sentou em um cadeira enquanto permaneci sentada na cama. Ela parecia desconfortável com a situação, mas acabou falando:

– Laura … Pode parecer que estou interferindo indevidamente na sua vida. Mas você mora aqui, essa é uma casa de respeito, então preciso saber algumas coisas.- essa conversa seria difícil, mas resolvi cooperar- Você está grávida, não está?

– Sim...

– Eu imaginava. Aliás, vi a sua aliança, você é casada?

– Sou - por enquanto estava fácil

– Você me parece uma moça muito direita, e me desculpe por perguntar isso... Mas devido a situação... Esse bebê que espera é filho do seu marido?- eu já começava a entender aonde ela queria chegar

– Sim, D. Amália. É.- falei firme

– Eu achava que era viúva, mas como está grávida e não deve ser uma viúva recente, pois não usa preto. Aonde está o seu marido?- ela tinha chegado no ponto crítico, não sabia como ela iria reagir, mas resolvi falar a verdade

– Resumindo D. Amália, eu e o Edgar vivíamos numa situação complicada e insustentável há algum tempo, isso já estava afetando Pedrinho. Aí, eu peguei o meu filho e fui embora... Você deve estar chocada … mas foi isso que fiz.

– Chocada? Não. Eu estou impressionada – aquilo me surpreendeu – Você foi muito corajosa, Laura. Muitas mulheres não tem essa coragem que você teve. Eu não tive.

– Como assim? - perguntei confusa

– Já te falei um pouco sobre meu falecido marido, que eu queria adotar uma criança, mas ele não aceitou. Mas não te contei toda a história. Tião não era o melhor dos homens, tenho que admitir,... veja bem, eu sou uma mulher cristã, e quando me casei com ele, ambos fizemos um voto. E apesar de muitos falarem que não, como a minha mãe me disse na época, pois meu pai era infiel. Acho que ambos devem manter a fidelidade. Ambos fizeram um voto... Mas quando eu não engravidei, Tião achou que não precisava manter, que se eu não lhe dava filhos, ele devia procurar outras mulheres que lhe dessem. E assim, ele me traiu por vários anos. E eu fiquei sofrendo com isso... Sendo negligenciada. Minha mãe dizia que era normal. Que eu tinha que aguentar... que os homens eram assim. Mas dentro de mim, sempre achei que não. Ele tinha feito o mesmo voto que eu. Ainda bem que Deus é grande e ele não teve nenhum filho com outra mulher. Admiro a sua coragem, menina, de tentar mudar a sua situação. - era uma história triste, mas aquelas palavras tiraram um peso do meu ombro

– Obrigada. D. Amália. Eu estava com medo de contar a verdade e ser mal vista.

– De jeito nenhum, pelo contrário. Agora vejo que você tem mesmo fibra – ela riu

– Sinto pela sua história. Mas sabe o que eu acho? Você e seu marido não tiveram filhos, pois ele não podia ter e não a senhora.

– Que isso, menina... O homem quando … você sabe … pode ter filhos. Se a mulher não engravida é porque ela não pode gerar.- ela falava uma opinião bem comum

– Nada, D. Amália. Isso não é verdade. È apenas algo que dizem. – eu ri – Vamos pensar por outro lado. Seu marido se envolveu com outras mulheres... Mas nenhuma delas engravidaram, é mais coerente pensar que todas não podia ter filhos, ou o seu marido que não podia?

– Pensando por esse lado … - ela riu – Mesmo assim, eu acabei não sendo mãe. E estou muito feliz que você irá trazer mais uma criança para essa casa- ela se aproximou de mim e carinhosa colocou a mão na minha barriga, aquilo realmente me comoveu.

Ela estava saindo, mas ainda na porta voltou a falar:

– Laura, onde a Isabel entra nessa história? - ela me perguntou curiosa

– A Isabel é uma grande amiga, uma ótima pessoa, que também passava por problemas no Rio e resolveu vir comigo. Mais sobre ela, eu não devo contar, já que é a história da Isabel. E ela própria que deveria falar.

Ela se contentou com a resposta e saiu. Eu havia ficado emocionada e feliz com a nossa conversa. Ela pareceu compreender o meu lado. Mais do que isso, ela admirou a minha ação. Mas depois pensei em minha amiga, pelo o que eu e D. Amália havíamos conversado, se ela descobrisse a história de Isabel, provavelmente não teria uma reação boa.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Concordam com a visão da Laura? O que acham dela não querer voltar? E essa situação que está passando, vai superar? E Isabel? E os novos personagens?
Gente espero que tenham gostado e compreendido a minha argumentação... E ahhh comentem muito para me animar a continuar escrevendo para vocês... Sabem que eu adoro comentários né?



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