Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 23
Cecília


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me estimularam a escrever esse capítulo. Assim, o dedico a todas que comentaram. Espero que gostem, ou ao menos entendam o rumo que escolhi.



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“-Eu tava pensando quando a gente tiver um filho... - Edgar

– Ou uma filha. - Laura

Lado a Lado

Depois da minha conversa com D. Amália, eu havia ficado mais tranquila. E essa tranquilidade aumentou após alguns dias quando D. Emília me chamou em sua sala novamente e tivemos outra conversa, dessa vez, bem agradável.

Ela me informou que havia feito um plano. O período de férias escolares da minha turma foi transferido para o mês de setembro. Assim, eu poderia ficar com o meu bebê durante esse tempo. Após isso, quando ele ainda não fosse muito agitado, naquela etapa em que mais dorme e come, eu poderia levá-lo a escola. Dessa forma, poderia amamentá-lo normalmente. Ela achou saudável que as meninas tivessem contato com o bebê, e até que eu as mostrasse como se cuida de um. E enquanto estivesse dando aulas, não seria difícil alguém ficar de olho nele. Segundo ela, os pais já tinham sido avisados e concordaram com com essa solução.

Eu me senti mais segura. Meu emprego estava garantido, poderia ficar na cidade e criar os meus filhos nela. E aquela era uma cidade pequena com rios, cachoeiras, muitas árvores, bichos, onde a maioria das pessoas se conheciam e me parecia um ótimo lugar para uma criança crescer. Estava decidido, eu ficaria lá.

Mas antes de contar a ela, D. Amália , já parecia saber do meu acordo na escola. E isso me fez desconfiar de que ela estava envolvida nele. A verdade é que não foi preciso perguntar muito, D. Emília me confirmou que ela havia lhe procurado, e a convencera dessa iniciativa. Também tinha conversado com alguns pais. Segundo ela, D. Amália era uma moradora antiga e muito respeitada, tendo certo poder moral na cidade.

Como não podia deixar de fazer, eu a agradeci e recebi como resposta um sorriso e algumas palavras:

– Não foi nada, filha. D. Emília gosta de você, as meninas gostam de você, os pais também. Eles só estavam precisando de um empurrão. Algo que os fizessem agir com o coração... E eu não queria vê-la partir com meu menino e o esse bebê – ele apontou para minha barriga - não quando o que te espera na capital é ruim. - ela disse carinhosa o que me tocou, fazendo com que a beijasse no rosto e a abraçasse

– Obrigada... D. Amália, a senhora não sabe como me fez bem.

– Não precisa, filha. Não foi nada … - ela parecia emocionada prestes a chorar e voltou a falar para disfarçar- Agora, vai que eu tenho que terminar o jantar, senão ninguém come hoje na pensão.

Com meu futuro mais certo, eu precisava pensar em outras coisas. Decidi preparar o enxoval do bebê. Contei a Isabel que venderia uma joia para comprar as peças. Mas no dia seguinte, tive uma surpresa quando encontrei D. Amália e Isabel na sala tricotando roupinhas de bebê.

Elas disseram que fariam as roupas e que não adiantava protestar. Assim, eu acabei me juntando a elas, não sabia tricotar, mas acabaram me ensinando alguns pontos e eu comecei a fazer umas pecinhas mais simples.

Após algum tempo, comecei a notar um pouco de roupinhas rosas no enxoval. Cheguei a falar com elas que podia ser um menino, mas me responderam que nesse caso, elas seriam doadas. Assim continuaram tricotando algumas pecinhas rosas.

Procurei conversar bastante com Pedrinho sobre o irmão, tinha medo que ele se sentisse abandonado ou excluído. Mas ele pareceu animado, dizia que ganharia mais um amiguinho para brincar. E aliás, ele e Neto torciam por um menino para fazer companhia em suas brincadeiras.

As professoras da escola também fizeram um chá de bebê para mim. Com isso fui presenteada com diversas coisas para o meu filho. Além do chá de bebê, algumas também me deram objetos em outras ocasiões, diziam que foram dos filhos ou de sobrinhos que já haviam crescido.

Minha gravidez corria tranquila, bem diferente da fim da primeira. Mas eu sentia falta de Edgar. Tinha tantos momentos que eu o queria ao meu lado, a primeira vez que o bebê mexeu na minha barriga, as vezes que Pedrinho a acariciava e beijava . E diferente da gravidez de Pedrinho, eu não consegui pensar no nome. Edgar não estava comigo, não tinha graça escolher, sem contar que eu me sentia mal, como se tivesse tomando um direito dele, decidi que escolheria o nome após o nascimento. Quantas vezes pensei em mandar uma carta a Edgar contando que ele seria pai novamente. Mas sabia que não podia fazer isso se quisesse paz. Não podia arriscar dele descobrir onde estávamos.

No fim da minha gravidez, o enxoval do bebê já estava praticamente completo. Faltava algumas coisinhas, mas eram poucas. A verdade é que eu ganhara muitas coisas.

Eu ainda não tinha o berço e já havia decido vender algo para comprá-lo no dia em que Lauro entrou no meu quarto carregando o móvel nos braços. D. Amália o havia comprado, até tentei protestar, mas ela disse que a casa era dela, a pensão era dela, e os móveis eram sua responsabilidade. Ela tentava ser dura com essa posição, mas eu sabia que ela agira com o coração e não podia recusar.

Antes que ela comprasse mais alguma coisa, vendi um brinco e encomendei um carrinho de bebê no armazém que Lauro trabalhava. Pode parecer estranho um armazém vender carrinhos de bebê, mas por ser numa cidade pequena com pouca variedade de comércio, era no armazém do seu Ernesto que encontrávamos quase tudo, e se não tivesse, bastava encomendar ao dono que ele arrumava.

Também passei em outra loja, comprei algumas peças para completar o enxoval, roupas para Pedrinho que já havia perdido muitas das suas antigas, além de um brinquedo para ele, um agrado para o meu menino.

Faltava pouco tempo para eu dar a luz quando Lauro finalmente arrumou o piano e resolveu dar o seu “concerto”. Era uma noite de sexta-feira, e naquele dia, além de eu, Isabel, D. Amália e Marta (os meninos já haviam dormido), o seu público também era composto de um casal que estava de passagem pela cidade e um caixeiro-viajante.

Colocaram mais cadeiras na sala e até nos vestimos com as nossas melhores roupas para ver o espetáculo. Bem, talvez só eu não tenha me vestido com a minha melhor roupa, já que estava enorme e meus vestidos de festa não cabiam em mim.

Lauro se sentou garboso no piano, ele vestia um terno, e tirou o paletó, deixando-o num banco ao seu lado. Nunca o vira tão arrumado. Parecia um profissional e antes de tocar falou:

– A primeira música é dedicada a D. Amália, a mãezona da pensão que nos acolheu de braços e coração abertos. Sei que você gostará dela, D. Amália... Ave Maria...

E ele começou a tocar, havia ensaiado antes, então até que não cometeu muitos erros. D. Amália ficou emocionada. Ela era bem religiosa, então aquela música caiu como uma luva, pois além de tudo era sobre uma mãe, a mãe de Jesus. Depois da primeira música, ele recebeu uma salva de palmas e muitos incentivos, só então voltou a falar:

– A próxima é dedicada a moça que é como uma irmã para mim, a nossa professora, a minha xará, a grávida mais graciosa dessa casa. Ahhh... Xará, nós estamos torcendo por uma menina, viu? Já tem moleque demais nessa casa, queremos uma princesinha- ele riu, enquanto Isabel e D. Amália o aplaudiram, e eu percebi que somente os meninos mesmo torciam por um garoto– Prelúdio em dó Menor de Bach.

E começou a tocar, ele sabia que eu gostava dessa canção, pois enquanto ensaiava, havia lhe falado que era bonita e apreciava como ela começava agitada, depois se acalmava, me passando uma ideia de paz no fim após a confusão. Depois dos aplausos emocionados, ele voltou a falar:

– E a última música e não menos importante é dedicada a Isabel, a nossa mulata que sabe francês. A essa bela mãe que com seu jeito firme, doce e cheio de bondade está em nossos corações. - percebi uma troca de olhares e sorrisos entre Lauro e Isabel, e ao mesmo tempo um desapontamento em Marta, provavelmente porque ele dedicara canções a todas, menos a ela- Atraente de Chiquinha Gonzaga, que também tem sangue negro nas veias como a gente, Isabel.- ele riu e começou a tocar olhando para minha amiga

Isabel parecia encantada. E após essa última canção, ele foi aplaudido de pé por todos. Recebeu cumprimentos entusiasmados e sinceros, com exceção dos de Marta, é claro.

No dia seguinte pela manhã, Lauro ainda tocou brilha, brilha estrelinha para os meninos antes de ir trabalhar. Segundo ele era uma espécie de matinê, e os garotos também mereciam um concerto. Pedrinho e Neto ficaram bem contentes com isso.

Poucos dias depois, o mês de Setembro chegou. E com ele, a minha expectativa aumentou, já que faltava pouco para eu dar a luz, e dessa vez tudo ocorrera bem... Meu filho nasceria no tempo certo.

No dia 3 de setembro pelo manhã, comecei a sentir as primeiras contrações. E pouco depois, a minha bolsa estourou. Chamaram a parteira e ela alertou que o parto não demoraria muito. A verdade é que eu já sentia muita dor.

Lauro ficou com os meninos que estavam assustados, enquanto Isabel e D. Amália ficaram comigo para me amparar e ajudar a parteira.

E após umas horas de dor, gritos, incentivos, o choro de um bebê ecoou na pensão. Diferente de Pedrinho, o choro era forte a plenos pulmões como se que quisesse anunciar ao mundo que havia chegado. E aquilo me encheu de felicidade:

– É uma menina, eu sabia! É uma menina, Laura – Isabel gritava feliz

– Uma menina. E é linda, filha – disse D. Amália.

A parteira a enrolou em um pano e a colocou no meu colo, eu mal conseguia me conter de tão emocionada e aliviada, a segurei firme em meus braços e lhe dei um beijinho:

– Minha menininha – falei admirando o seu rosto, ela era clarinha, careca … grande, saudável, e ainda olhava para tudo assustada, o mundo devia ser algo muito estranho para ela.

– Já escolheu o nome, amiga? - perguntou Isabel

– Já... Não podia ser outro. Cecília. O nome que eu e Edgar escolhemos caso Pedrinho fosse menina.

– É um nome lindo. Seja bem vinda, Cecília – Isabel falou sorrindo

D. Amália que ainda nos olhava encantada acabou acabou saindo apressada pela porta, parecia ter rejuvenescido alguns anos já que nunca a vira andar com tamanha agilidade, depois a escutei falando longe:

– É uma menina. È a Cecília.- ela informava aos outros

Eu lembrava de Edgar, era mais um filho que ele não vira nascer e talvez nem conhecesse. Mas eu não podia voltar, pelo menos não enquanto as crianças eram tão pequenas, não enquanto meu menino e minha princesinha ainda fossem tão desprotegidos e pequenos demais para entender as coisas.

Cheguei a imaginar que Edgar entrava pela porta, me abraçava, beijava a nossa filha e dizia o quanto ela era bonita. Mas não, ele não estava ali e lágrimas começaram a rolar em meu rosto:

– Não se preocupa, Cecília. O papai não está aqui, mas a mamãe promete que vai te proteger e te amar muito– e essa promessa, eu cumpriria a qualquer custo.

A agitação e excitação inicial na casa com todos querendo conhecer a minha filha já havia passado. E eu estava aproveitando a calmaria recente e a amamentava. Isabel se sentou na cama:

– Viu? Eu te disse que daria tudo certo, amiga.- ela sorriu

– È verdade, Isabel. Agora estou com essa menina linda no colo e a amo tanto.

– Eu sei, quando eu tive Neto foi assim, mesmo com os problemas. Antes de nascer já o amava, quando ele nasceu então.. ver a carinha dele foi a realização de um sonho. E não me importava que eu não era casada, que havia perdido o Zé, que o pai dele, o seu irmão, era um moleque. Nada disso importava, só ele e a realização que sentia - ela sorria – E você, chegou a pensar no Edgar, né?

– È claro, queria que ele estivesse aqui, mas ao vê-la nos meus braços, assim tão linda, saudável e ao mesmo tempo tão desprotegida. Me faz pensar que quando fugi de Edgar, fiz o certo. Ela nasceu cercada de tanta alegria e paz. Eu não conseguiria isso no Rio. E você, se arrependeu de ter vindo para cá?

– De jeito nenhum, Laura. Tenho saudades do meu pai, da Tia Jurema, do pessoal do morro e do teatro. Mas aqui conhecemos outras pessoas boas, essa cidade é acolhedora, e tenho paz. Nada da sua mãe me pressionando, querendo que eu obedeça os seus caprichos, mesmo que isso humilhe o meu filho, nada de ameaças dela tirar Neto de mim.

– Isso mesmo, Isabel. Nada de Baronesa … - falei

– e nada de Catarina. - ela completou e nós rimos

Só que nossa risada foi bruscamente interrompida, pois escutamos um som e notamos Marta tentando passar desapercebida no corredor. Um temor tomou conta da gente, já que ela poderia ter escutado a nossa conversa, e nesse caso, era provável que nos trouxesse problemas.

Mas depois nos distraímos com Cecília, que se remexia, não querendo mais mamar. Eu e Isabel fizemos carícias e conversamos com a mais nova integrante da família. Ela era tão linda, tão delicada. Era o que importava. Em Marta e no perigo em potencial, nós pensaríamos depois.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Gostaram? Gente, é a Cecília vindo aí. kkk. Sei que muitas esperavam que o Edgar visse a filha nascer. Mas isso não estava nos meus planos. Eu sinceramente acho que era pouco tempo de separação. Além de ser incoerente ela voltar por estar grávida, já que um dos fortes motivos dela fugir era proteger o filho. Laura e Edgar precisam de mais do que 7 meses de saudade penso eu, precisam para resolver os seus problemas, para amadurecer. E Laura também precisa montar a sua vida, seguir os seus sonhos profissionais, se sustentar, ser independente antes de voltar, e 7 meses é muito pouco, além do que há outras coisas que eu preciso desenvolver antes da sua volta. Espero que compreendam essa decisão que tenham gostado do capítulo.
Se alguém ficou curioso sobre as músicas que Lauro tocou, vou deixar vídeos delas:
http://www.youtube.com/watch?v=GXx2aTvI3w8 Brilha, Brilha, estrelinha
http://www.youtube.com/watch?v=8OmyD-h11G4- Prelúdio em Dó Menor
http://www.youtube.com/watch?v=pTrDzKKRBi0 - Ave Maria
http://www.youtube.com/watch?v=g1K_eojNzP8- Atraente

Ahhh, só mais um detalhe, amanha é feriado e é provável que esse seja o último capítulo da semana. Na verdade, se rolar um tempo, se eu me animar, eu posso até escrever outro capítulo. Mas não posso garantir. Assim gente espero que vocês comentem muito para me animar a escrever o próximo. Mesmo que ele só saia na próxima segunda.



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