Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 11
Recuperação


Notas iniciais do capítulo

Então meninas muito obrigada pelos comentários, eles como sempre fizeram bastante a diferença. Olha, não sei, estava meio mole quando escrevi esse capítulo. Não sei se ficou do jeito que queria, mas mesmo assim resolvi colocar. Espero que não esteja ruim e que vocês o apreciem.



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Por Laura

Após o episódio em que meu filho quase morreu de frio. Meu pai tomou algumas providências. Pediu a Matilde que esquentasse bolsas de água, e as arrumou em seu berço. Ele mostrou a mim e Isabel como montar um ambiente que ele chamava de incubadora.

Segundo ele, há algum tempo* chegara na Rio de Janeiro uma máquina com propósito de manter bebês aquecidos. Se a situação continuasse ruim, nós teríamos que levar Pedrinho ao hospital para colocá-lo numa dessas máquinas, mas com as bolsas de água quente, ele já tentava simular o efeito da incubadora E se desse certo, poderíamos tratá-lo em casa mesmo.

E nosso medo foi tamanho que eu e Isabel passamos a noite inteira, trocando as bolsas de água quente e alimentando Pedrinho. No dia seguinte, ele estava bem aquecido e a situação de perigo parecia ter se afastado um pouco.

Mas meu pai ainda conversou com a gente. Ele queria nos levar para a casa dele. Lá haveria mais assistência, e ele seria capaz de dar uma atenção maior, além de estar próximo de todos os seus instrumentos médicos, e livros.

Entretanto havia uma problema que ele desconhecia, os temores de Isabel com a proximidade de Albertinho e minha mãe. Além da briga das duas, o fato dela querer manter o filho longe da nossa família. Assim ela mesma acabou contando sua história ao meu pai. E ele ficou chocado com tudo. Ele tinha outro neto (que estava mais próximo do que imaginava), e meu irmão não ajudava em nada, nem tinha contato com o filho:

– Você sabe que pode … que deveria pedir uma reparação. - meu pai falou envergonhado

– Eu sei … Mas penso que isso não seria bom para mim e nem pro meu filho. O Albertinho não é um homem confiável.

– Você é esperta, Isabel … Tenho vergonha de falar … mas ele é um moleque... Fique tranquila não facilitarei as coisas para ele, já passou do tempo dele crescer... e agora … Eu mesmo cuidarei disso, ele terá que crescer... nem que seja a força – ele estava preocupado – E amparará o filho nem que seja apenas financeiramente...

Como Isabel amamentava Pedrinho, nós não podíamos ir para casa da meu pai sem ela. Mas pelo meu filho, ela mostrou toda a sua coragem:

– Eu não tenho motivos para me esconder, se é melhor para o Pedrinho. Eu e meu filho iremos para sua casa, Dr. Assunção. - ela falou corajosa

– Você tem certeza, Isabel? - perguntei, eu sabia o quanto aquilo seria complicado para ela

– Tenho... Como disse não tenho por que fugir...

E assim, meu pai prometeu que ajeitaria a situação. Ele iria até a sua casa, conversaria com minha mãe e voltaria para nos levar com as coisas já arrumadas. Em poucas horas, ele voltou dizendo que já havia providenciado tudo. Minha mãe não atrapalharia, e nos prometeu que Isabel e Neto seriam muito bem tratados.

Assim fomos para a casa dos meus pais. Já havia dois quartos arrumados para gente, um para mim e Pedrinho e outro para Isabel e Neto, um ao lado do outro.

E os dias seguintes foram de cuidados intensivos com o meu filho. Meu pai se licenciou por um tempo do cargo de delegado de saúde. Ficou dedicado exclusivamente a Pedrinho. Ele lia livros, conversava com colegas, tudo para aprender as novas técnicas de cuidado com prematuros. Pelo neto, ele se tornou um especialista nisso. Além do leite de Isabel começamos a dar algumas misturas para fortalecer o meu filho. E ele parecia estar cada vez melhor.

E isso ajudou no meu ânimo, meu filho estava bem, ele ia se recuperar, foi nisso me segurei. Apesar de que ainda me sentia triste em vários momentos por não poder amamentá-lo, por ele ser tão frágil e por ter sido abandonada por Edgar.

Minha esperança de que Edgar voltaria era cada vez menor, pois mesmo após quase 2 meses da sua partida, e as diversas correspondências que mandamos, não havíamos recebido resposta alguma.

Além disso, havia outras coisas, meu pai colocou Albertinho contra a parede, e ele quase não ficava mais em casa com a desculpa de que estava procurando por emprego. Ele parou de dar dinheiro a ele e começou a dar uma quantia a Isabel, que segundo seu Assunção, Albertinho deveria pagar posteriormente. Isabel não queria aceitar o dinheiro, mas meu pai insistiu muito a deixando sem alternativa.

Um dia, estava com Isabel enquanto ela amamentava Pedrinho, quando escutamos o choro de Neto e eu me levantei para pegá-lo. Ao chegar no outro quarto, notei que choro já havia parado e me assustei com o que vi. Minha mãe o carregava e era carinhosa com ele:

– Não se preocupa, Neto. Você não está sozinho!- ela falava, o olhando encantada

– Mãe? O que você está fazendo aqui?- perguntei surpresa

– Não é obvio, filha?... Estou acalmando Neto. Cuidando dele...- ela falou como se fosse a coisa mais natural do mundo e sorria

– Você não devia estar aqui.

– E por que não? Ele não é meu neto? Estava chorando e vim atendê-lo. Que menino lindinho!- ela brincava com ele

– Agora é seu neto? - perguntei enquanto o tomava do colo dela

– Tenho que admitir, Laura. È meu neto. Reconheço o nosso sangue nele. E é um menino lindo, apesar de um pouco escurinho.... Ahhh... ele me lembra seu irmão..- eu olhei pasmada para ela e ela continuou – Estou falando alguma mentira?

– Com licença! - disse firme e fui embora, não conseguia dizer mais nada para ela, ela parecia gostar do menino, mas ainda assim destilava seu preconceito e sua falta de senso.

Acabei contando tudo a Isabel, que ficou muito preocupada e não deixou mais o filho sozinho enquanto ficou na casa dos meus pais.

O tempo foi passando e como Pedrinho estava melhor, não precisávamos mais colocar bolsas de água quente em seu berço. Meu pai até falou que podíamos estimulá-lo um pouco, brincar e conversar mais com ele. Ele ainda era pequeno, tínhamos que tomar um cuidado maior, mas meu filho já havia superado a fase mais difícil.

Essas palavras trouxeram um alívio enorme para mim, e eu decidi voltar para minha casa. Acho que essa decisão também aliviou Isabel.

Desde que Pedrinho nascera, Isabel quase não saíra do nosso lado. Então com essa melhora dele, ela decidiu pegar o filho e fazer algumas visitas. Iria ao morro, e ao teatro. Depois voltaria para minha casa.

Não aguentava mais ficar na casa dos meus pais, mesmo com o bom tratamento que recebemos, sempre houvera uma tensão no ar, certa cobrança por Edgar e Isabel. E apesar dos momentos difíceis que vivi, tinha saudades da minha própria casa.

Voltei com meu filho, levei nossas malas, pedi que o cocheiro as deixasse na entrada, depois arrumaria ajuda para carregá-las até o quarto. E entrei feliz por estar de volta. Feliz por meu filho estar se recuperando e estarmos em casa.

Mas nem em meus piores pesadelos esperava ver o que vi, Edgar com um bebê no colo, a sua filha, enquanto aquela mulher, a Catarina, o alisava e dizia com cinismo:

– Ahh... Edgar. Você é tão bom com ela.

Enquanto eu olhava aquela cena, eles pareciam um família! Milhares de coisas passavam em minha cabeça. Há quanto tempo eles estavam lá? Edgar estava morando com ela na nossa casa? Como ele pudera trazer aquela mulher e aquela menina para o Brasil? Como pudera ser tão cruel comigo nesse momento tão difícil, e será que ele achava que eu aceitaria morar com ela? Que nós dividiríamos a mesma casa e o marido? Ou ele já contava que eu não moraria mais lá? Eram ideias malucas, eu sei, mas estava sem chão. Não sei como ainda consegui me manter de pé.

E vendo aquela mulher pela primeira vez, eu percebera o quanto era vulgar. Como Edgar podia envolvido, ter se apaixonado, ter tido uma filha com um mulher assim? Como?

Então ele percebeu a minha presença e falou assustado:

– Laura … meu amor …

Eu estava possessa, queria fazê-lo engolir as palavras meu amor, machucá-lo como ele havia me machucado. Mas estava com meu filho, e afrontada por um turbilhão de sentimentos, raiva, humilhação,tristeza, decepção, medo... Não consegui falar nada, só o olhava, um olhar nada amigável, enquanto apertei Pedrinho contra o meu peito.

– Essa é a Melissa – ele estendeu a filha, ostentava um sorriso amarelo, e eu percebi o quanto aquela mulher estava gostando daquilo

Aquilo foi demais para mim... O que ele esperava que eu fizesse? O cumprimentasse … elogiasse a menina? Ficasse feliz? Minha raiva só aumentava. Parecia que esse sentimento iria me sufocar... E andei pela sala, pretendendo tomar a direção das escadas... Já que a situação me enojava. E eu não conseguia mais ficar ali.

– Laura … espere !- Edgar disse apreensivo

Vi que Catarina pegou a filha:

– Laura... Sinto incomodar. Me desculpe. Não queria invadir... Mas a Melissa estava passando mal...E não se preocupe, pois já estou indo!- mesmo falando isso, eu sabia que ela se divertia, ela não me enganava, eu sabia, daquela mulher só viriam problemas, ao menos, apesar de trazê-la, Edgar não a instalara na minha casa.

Ela foi embora e eu retomei meu passo firme, já subia as escadas, quando mais uma vez escutei Edgar:

– Laura é o nosso filho... que está em seus braços? É o nosso filho? È menino ou menina? Ele está bem? O que aconteceu, Meu amor? Quando nasceu?- ele parecia preocupado e confuso

– Como se você não soubesse ou se importasse... - falei dura e continuei a subir as escadas

– Me responde, Laura- ele falou acima do tom, eu virei a cabeça, e parei novamente

– Não finja, Edgar. Te mandei várias cartas e telegramas! Você sabe! Sim é o nosso filho! É o Pedrinho! Ele não estava bem, mas agora está melhor. - voltei a subir as escadas

– Meu Amor, eu não sabia que ...– ele nos seguia assustado, eu cheguei a porta do quarto de Pedrinho, e ele continuou- Me deixe vê-lo ... pegá-lo! Ele é ...- ele pedia, praticamente suplicava, mas não amoleceu o meu coração, entrei no quarto, e tranquei a porta em sua cara.

E ele ficou do lado de fora, me pedindo para entrar, para conhecer o filho, pedia desculpas, enquanto uma fúria me dominava ...


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Notas finais do capítulo

*De acordo com esse artigo, já haviam incubadoras no Rio desde 1903: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072004000300017&lng=en&nrm=iso
Então o que acharam? Eu não continuei do momento exato que parou o outro, mas é que eu senti a necessidade de mostrar a recuperação do Pedrinho e a baronesa conhecendo o filho da Isabel. Espero que entendam. Agora que já temos a situação completa, no próximo pretendo continuar extamente de onde parei.
De qualquer forma, espero que tenham gostado e peço que comentem muito para me animar a escrever o próximo.



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