When Smiled You Knew escrita por Roses in misery


Capítulo 51
Battlefield


Notas iniciais do capítulo

Oiie gente, então ansiosos para este capítulo? Devo avisar que ele me deu muito problema,porque ele não queria ficar bom de nenhum jeito... mas finalmente deu certo.
Este capítulo vai dedicado para a queridissima Letícia Lopes por ter recomendado a fic tão bem, muito obrigada de coração. Esta autora agradece, espero que goste.

Quanto aos outros leitores queridos,boa leitura.



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“Calar e consumir-se é o maior castigo a que podemos nos condenar. De que me serviu o orgulho,o não te olhar e o deixar-te acordada noites e noites? De nada.

Serviu para me abrasar. Tu acreditas que o tempo cura e as paredes tapam,mas não é verdade, não é verdade. Quando as coisas chegam ao fundo, não há quem as arranque.

Que vidros cravam minha língua presa!

Eu quis te esquecer e coloquei um muro de pedra entre a tua casa e a minha. É verdade. Não te lembras?

Quando te vi de longe, enchi meus olhos de areia; mas se montava a cavalo, em tua porta me achava. Tornou-se o sangue negro, com alfinetes de prata.

O sonho foi me cobrindo as carnes de erva daninha. A culpa não é minha. A culpa,a culpa é da terra e do cheiro que desprendem teus peitos e tuas tranças.

A noite já está chegando. Vamos a um lugar escuro onde para sempre sejas minhas.

Não me importa o povo nem o veneno que dele exala. Dormirás a meus pés para guardares o que eu sonho, nua, contemplando o campo.

Fogo com fogo se abrasa. Vamos!

Vamos a um lugar onde não possam ir esses homens que nos cercam,onde eu possa finalmente te contemplar.”

Bodas de sangue- Federico Garcia Lorca

Paris, quatro anos depois...

Enjolras desligou o despertador e rolou para a esquerda,passando o braço pela cintura descoberta da garota adormecida ao seu lado. Ficou um tempo ouvindo-a ressoar calmamente antes de depositar um beijo em seu ombro, e se dirigir para o banheiro.

Observou as malas já prontas em um canto e balançou a cabeça.

Sentia que havia sido uma péssima ideia aceitar o convite para o aniversário de Fantine, contudo Cosette garantiu que Éponine não iria,por conta da peça de curta temporada que ela estava fazendo.

Mesmo assim, ele só concordara porque Thaís queria muito ir.

Era incrível,como mesmo tendo se passado quatro anos ele ainda sentia raiva ao lembrar de Éponine. Não queria, mas não podia evitar.

A decisão dela não quebrou só à ele, mas também todos ao redor.

Jehan, Courfeyrac, Combeferre e Augustinne estariam vindo para Paris,o que possibilitaria que todos fossem a festa. Enjolras desconfiava que Cosette havia armado tudo muito bem para a data bater com a visita dos Amis.

Penteou o cabelo cuidadosamente e começou a colocar a gravata. Seu celular tocou,avisando que chegara mensagem. Deveria ser de Grantaire,reclamando pela demora para encontrá-lo ou então Marius querendo saber onde raios ele estava que ainda não chegara no escritório.

Em um dia normal ele detestaria chegar atrasado no escritório. Mas hoje poderia passar. Seu pai entenderia que o que ele tinha para fazer era importante.

Foi até a cozinha e rabiscou um bilhete para Thaís deixando-o colocado na garrafa de suco dentro da geladeira. A garota gostava de pequenos lembretes como esse.

Enjolras entrou no carro e dirigiu rapidamente até a ponte dos cadeados. Foi fácil achar a cabeleira desgrenhada de Grantaire junto com um muito arrumado Simon. Deu uma buzinada de leve para chamar atenção dos dois.

O casal andou rapidamente até o carro. Grantaire se sentando na frente e Simon ocupando seu lugar no meio para poder participar da conversa.

–Meu traseiro está congelando.- declarou Grantaire assim que fechou a porta do carro.

–Bonjour para vocês também.- murmurou Enjolras,seguindo o trânsito matinal.

–Eu vou sentir falta desse monte de cadeado enferrujado.- Simon fungou observando os trabalhadores retirando as grades.

–Éponine deve estar triste.- Grantaire soltou enquanto observava.- Ela adorava vir aqui para observar as pessoas. Ela gostava de debochar dos casais que colocavam os cadeados,entretanto desconfio de que morria de vontade de colocar um também.- ele olhou para o rosto de Enjolras e percebeu que ele estava contorcido.- Merci,por nos levar até o cemitério.

–Era minha vez.- foi tudo o que respondeu,prestando atenção no trânsito.

–Nem dá para acreditar que já fazem dois anos... Eu entendo porque Augustinne e Combeferre se mudaram daqui. Se fosse comigo, não seria capaz de ficar aqui também.- Simon refletiu,enquanto se reencostava no banco.

Dois anos antes, Annabelle conseguiu fugir das cuidadoras da creche e correu para rua.

Augustinne estava indo buscá-la e viu o exato momento em que o carro atingia sua filha.

Assim como sentiu o exato momento que a vida se esvaia de seu corpinho.

Enjolras ainda podia se lembrar de Combeferre chorando agoniado quando o viu e puxou para um abraço. Ele não estava acostumado a tanto contato,mas depois de um momento de hesitação ,retribuiu o abraço e deixou que o amigo chorasse o quanto precisasse.

Ele nunca confiou a ninguém,que mesmo dois anos depois,ainda podia os espasmos violentos que atingia o corpo do amigo e nem como Combeferre não disse nada, não culpou Deus,nem ninguém,como as pessoas nesse momento fazem. Apenas chorou.

Enjolras estacionou e entregou dinheiro para Grantaire que logo pulou para fora junto com Simon e se dirigiram para floricultura que havia ali perto. Ele ficou esperando no portão,observando os túmulos e tentando imaginar como cada família se sentiu ao enterrar alguém que amava.

Grantaire entregou um buquê para Enjolras e assim os três adentraram o cemitério, ainda vazio aquele horário, em silêncio e de cabeças baixas.

Chegaram ao tumulo de Annabelle e começaram a limpar. Enjolras mesmo já de terno se agachou e começou a arrancar as ervas daninhas que começaram a crescer.

Quando Combeferre e Augustinne decidiram se mudar, sem pensar duas vezes para o Canadá, os Amis que ficaram em Paris se prontificaram a cuidar do tumulo e assim o faziam. De duas em duas semanas eles se revezavam,limpavam e colocavam flores.

Cosette sempre ia na igreja orar pela alma da pequena e pedia ao padre que reservasse uma oração só para ela.

Depois disso Jehan como já tinha terminado a faculdade se mudou para o litoral para dar aulas,assim como Courfeyrac que estava terminando um estagio. Ele gostava de mostrar e falar sempre que podia do hotel que ele planejava abrir nos Alpes.

Enjolras não duvidava nada que logo o projeto iria sair do papel.

Após terminarem foram até um café próximo e se limparam o melhor que puderam,se sentando em seguida para comer alguma coisa.

–Então vocês vão na festa da Fantine?- Grantaire indagou levando a xícara à boca.

Enjolras assentiu.

–Você não acha que é uma má ideia?

Ele assentiu novamente.

–Você sabe que tem uma probabilidade da Éponine aparecer por lá... Digo, ela garantiu que não,mas você sabe como ela é. E agora você está namorando com a Thaís...

–E ela esta casada.- Enjolras o cortou.- Não tem que ficar brava mesmo se ela for.

–Você tem razão. Mas ela pode aparecer- Simon concordou.- Então... vamos? Não queremos nos atrasar para aula.

–Você não quer se atrasar.- Grantaire balbuciou.- Eu tudo que mais quero é me atrasar.

[...]

Enjolras entrou no escritório um pouco depois das noves. Quando foi deixar Grantaire e Simon na faculdade não resistiu a não dar uma olhada no campus e ir conversar um pouco com seus antigos professores.

–Bonjour.- cumprimentou a secretaria que ruborizou assim que levantou os olhos para ele e o respondeu.

Não que ele estivesse percebido esse rubor.

–Finalmente chegou.- Marius ralhou com ele.- Estou com esse caso aqui, mas queria que você desse uma olhada antes de eu decidir pegá-lo. Penso que pode agradá-lo.

–Deixe-o na minha mesa.- pediu deixando a maleta no sofá.- Meu pai já chegou?

–Sim, mas já teve que sair. Teve que ir ao fórum... – Marius andou até seu escritório.- E aqui temos uns casos de pessoas que não podem pagar advogados tão bons e lindos como a gente.

–Esses são meus preferidos.- Enjolras tomou as pastas da mão do amigo com um sorriso.

–Eu sei, eu sei.- Marius fingiu estar desapontado.- Infelizmente esses casos não enchem barriga.

–E ficar julgando criminosos enche?- Enjolras indagou sem levantar os olhos.

–Enche. E como enche.

–Você deveria ter ido para a área criminal e não trabalhista se gosta tanto.

–Eu iria. Mas... Ia deixar Cosette preocupada. Sabemos que a área criminal as vezes os advogados precisam de seguranças. Eu não podia submeter ela a isso. Conheço casos que bandidos mataram toda a família do advogado que os mandou para prisão.- Marius confessou ao deixar o escritório do amigo.

Enjolras só desviou os olhos das papeladas quando seu pai entrou no escritório o chamando para almoçar.

Os dois andaram juntos até a casa, entretidos em uma discussão sobre um caso. Enjolras sorriu por dentro ao reconhecer o homem que ele tanto admirava de volta. Ele tinha medo de piscar e que ele voltasse a ser o político que aprendera a odiar.

Enjolras se sentia uma criança por esse medo, mas não queria que nada mais mudasse em sua vida.

Assim que entrou na casa dos pais, a mãe veio lhe cumprimentar com um abraço e o sorriso costumeiro. Enjolras ia almoçar todos os dias ali e todos os dias eram do mesmo jeito. Ele podia sentir a calma e a felicidade que a mãe sentia ao se sentar na mesa todos os dias com eles. As vezes ela se esquecia da própria comida pra ficar observando-os, conversando e por várias vezes até rindo.

E Enjolras agradecia por poder proporcionar aquele sentimento para sua mãe. Foi aterrorizante demais sentir a sensação de que poderia perdê-la, quando seu pai bateu na porta de seu apartamento no meio da noite com os olhos vermelhos e lhe contou o que havia acontecido.

Nessa mesma noite seu pai lhe pediu desculpas por tudo que havia feito.

Enjolras fez o mesmo,porque por mais que seu pai não foi fácil,ele também não ajudara a melhorar a situação.

E assim era a sua nova rotina. Trabalhava, jantava com Thaís, os dois se sentavam e assistiam algum filme na TV ou então iam ao cinema. As vezes saiam com os Amis que ainda moravam em Paris.

E com o tempo todos aprenderam a gostar de Thaís e dessa nova vida.

[...]

Ao chegarem na fazenda, viram logo de longe as mesas dispersas e as luzes que iluminavam o ambiente. Uma pista de dança, a mesa com a comida. Dessa vez não havia uma grande tenda branca.

Thaís olhava admirada para tudo. Enjolras sorriu ao perceber o assombro da mulher ao reparar o tamanho do lugar.

–Eles são podre de ricos.- declarou para si mesma e Enjolras riu pegando o braço dele o colocando no seu.

–Você ainda não viu nada.- lhe falou e beijou o topo de sua cabeça.

Assim que se aproximaram, Cosette veio correndo na direção deles,com um olhar apavorado no rosto.

–Me desculpem.- pediu ela sem fôlego – Ela me garantiu que não iria vir.- falou antes de voltar.

Enjolras não precisava nem perguntar de quem ela se referia. Correu os olhos pelo local e a encontrou na pista de dança,com um homem e dois meninos pequenos, rindo e rodopiando.

Thaís se enrijeceu ao notar para onde Enjolras olhava,mas logo relaxou. Ele estava com ela, e Éponine estava casada. Não tinha problema nenhum, nenhuma competição dessa vez. Em sua cabeça ela vencera.

Os dois se aproximaram e cumprimentaram os Amis e deram os devidos parabéns para Fantine,agradecendo por estender o convite a eles.

–Bobagem, não precisam agradecer. Preciso me encher de jovens por perto para não me sentir velha.

–A senhora não está velha. Está muito bem para idade.

–Bondade sua.- Fantine sorriu docemente para Thaís ao colocar a mão em sua bochecha.- Se me derem licença, vou ali paparicar meus netos um pouco.- pediu ao se afastar e ir em direção de Éponine.

Grantaire não parava de observar o rosto de Enjolras.

–Eu estou bem.- garantiu em um sussurro.

–Vocês vão ficar aí sentados mesmo? Sempre achei vocês muito moles.- a voz de Éponine soou as costas de Enjolras e Thaís que viraram para a encarar.

Éponine não parecia surpresa ao verem os dois juntos. Muito pelo contrario, exibia um sorriso tranquilo para os dois. Como se estivesse feliz em vê-los de verdade.

Se não fosse os olhos para entregá-la. O sorriso não chegava aos olhos.

E ela estava tão bonita em sua saia longa e sua blusinha rendada.

–Como estão? Fiquei sabendo que estão namorando. Fico feliz em saber, afinal vocês dois sempre formaram um belo par.- Éponine dirigiu a pergunta para os dois, ela tentava soar amigável,mas o sarcasmo acabou saindo.

Os Amis olhavam a cena, silenciosos e ansiosos para ver onde aquilo ia dar.

–Estamos bem, obrigada. E você? Fiquei sabendo que está em cartaz com uma peça em Londres.- Thaís foi educada e não perdeu a compostura.

Os olhos de Éponine brilharam.

–Ah sim. Estou muito bem. E sim, estou em curta temporada com Cidade dos Anjos. É um revival.- explicou olhando para o lado.- James.- gritou para o homem que conversava com Valjean.- Quero lhes apresentar meu marido.- anunciou quando James estava se aproximando.

Enjolras fixou os olhos no homem que se aproximava e passava o braço pela cintura de Éponine e a puxava para si,com um sorriso brincando nos lábios.

–Falta eu conhecer amigos seus ainda?- perguntou em um tom exasperado de brincadeira.

–Esses são os últimos, prometo.- ela ficou na ponta dos pés e depositou um beijinho no queixo de James. Enjolras teve que desviar o olhar.- James, esses são Enjolras e Thaís. Esse é James,meu marido.

–Prazer em conhecê-los.- James educadamente estendeu a mão para cumprimentá-los. Thaís a apertou rapidamente com um sorriso, mas Enjolras ficou encarando Éponine, ignorando a mão estendida de James.

Constrangido, marido de Éponine retirou a mão e a puxou ainda mais para si.

–Éponine e eu nos conhecemos em um workshop para um musical. Éramos um dos casais, uma pena que nunca saiu do Off- Broadway. Pelo menos eu fiquei com a garota.- explicou James dando uma piscadela para Éponine.

–É bem fácil ficar com a garota.- Enjolras murmurou ácido. Éponine dirigiu um olhar cortante para Enjolras.

–Ben e Peter, venham aqui cumprimentar.- Éponine chamou os meninos.- São nossos filhos.

Enjolras voltou a olhar para as crianças. Eram grandes, mentalmente ele tentou calcular quando anos deveriam ter. Éponine deve ter percebido a confusão no rosto de Enjolras.

–Na verdade são filhos do James, mas eu chamo de meus.

Os dois meninos se aproximaram,abraçando Éponine, cumprimentaram e logo puxaram o pai e ela para longe.

–Bom... poderia ter sido pior.- ouviram Courfeyrac murmurando em um tom bem alto.

Após o momento constrangedor os Amis voltaram a conversar e Grantaire correu para atacar a mesa de comida junto com Courfeyrac, só saindo de lá quando Valjean brigou com os dois que estavam competindo quem colocava mais comida na boca de uma vez só.

–Era de se esperar que a idade deixasse eles mais inteligentes.- puderam ouvir Valjean balbuciar irritado.

A noite se passara agradável. Enjolras e Thaís não tiveram mais nenhum encontro com Éponine,por mais que os olhos dele sempre varressem o ambiente procurando.

Até a hora que o jantar fora servido.

Fantine, fizera o melhor para colocá-los todos juntos em uma mesma mesa, alheia ao clima que estava sobre os Amis.

Cosette acabara de passar gritando com um dos garçons, dizendo que não tinha gelo suficiente nas bebidas.

–Vocês querem ouvir uma história?- Grantaire perguntou se sentando perto de Ben e Peter. Os meninos assentiram.- Muito bem, essa é a história que pouco sabem sobre a tia Cosette e sua louca obsessão por gelo...

–Eu não tenho obsessão por gelo.- Cosette o cortou.- E se falar mais alguma coisa corto sua língua fora.

–E é para isso que ela usa o gelo.- continuou Grantaire.- Ela sempre faz questão de ter muito gelo para assim congelar as línguas das pessoas que a irritam. Cosette tem uma coleção de línguas que ela cortou em seu refrigerador. Se algum dia forem na casa dela, não peguem o picolé.- concluiu com uma piscadela para os meninos que riram e voltou para o seu lugar.

[...]

A festa acabou de madrugada e só acabou porque uma chuva começou, fazendo todos fugir para dentro de casa ou para seus carros.

–Já estava na hora mesmo.- foi tudo que Valjean resmungou quando se retirou para o quarto.

Fantine agradeceu aos Amis pela festa e abraçou Éponine apertado antes de seguir o marido.

Tudo o que todos queriam era poder descansar.

Mas então, algumas horas depois a casa toda acordou com gritos ensandecidos, como se a dor fosse tão forte que não era capaz de aguentar.

Enjolras foi o primeiro a aparecer no corredor e encontrar um James confuso e apavorado na porta do quarto.

–O que esta acontecendo?- quis saber Enjolras ao se aproximar, nesse momentos os Amis já estavam em suas portas,olhando sonolentos.

–Eu...eu não sei. Eu acordei e ela estava assim.- James apontou assustado para o quarto. Enjolras entrou e encontrou o quarto destruído. Éponine gritava e chorava copiosamente. O grito rasgava sua garganta. Ela sentia dor.

Ele entrou no quarto e teve que desviar da luminária que ela jogou quando tentou se aproximar.

–Éponine.- chamou com a voz baixa.- Está tudo bem, eu estou aqui.

Éponine caiu de joelhos no chão, ainda gritando e chorando. Enjolras pode identificar a palavra “não” várias vezes.

Enjolras se sentou ao seu lado, a puxando para seu abraço. Ela se agarrou em sua camiseta.

–Ele... ele...e-es-tá, mo..morto.- ela conseguiu dizer depois de muito tempo, ainda com o rosto enterrado no peito de Enjolras.

–Quem, Ponine?- perguntou suavemente, acariciando suas costas.

–Mont.- ela mal sussurrou quando voltou a chorar.

Enjolras olhou para a plateia que os observava, alcançou o celular de Éponine e viu a última ligação.

–Montparnasse, ele faleceu.- ele avisou para os Amis.

Cosette soltou um “ah não”, antes de se abraçar a Marius e começar a chorar também.

Então depois do que pareceu uma eternidade, Éponine se soltou dos braços de Enjolras e se colocou de pé, ainda tremendo.

–Melissa me ligou.- ela conseguiu falar, a voz tremia.- Ele...ele- Éponine engoliu em seco,apertando as mãos.- foi... assassinado.- contou por fim, fechando os olhos.- Eu preciso de um tempo.

E saiu correndo,empurrando quem estava na frente. James, estava atônito, sem saber o que fazer.

–Para onde ela vai nessa chuva?- quis saber, perguntando para ninguém em especial.

–Eu sei para onde.- Enjolras respondeu e saiu abrindo caminho.

Não se atreveu a olhar para Thaís.

[...]

Enjolras forçou a memória para se lembrar o caminho para a casinha da árvore. Ele sabia que o único lugar que ela iria era para lá. Assim como sabia que não podia deixá-la sozinha nesse momento. Ele sentia que deveria ser único que entendia a importância que Montparnasse tinha na vida dela.

Assim como sabia que naquele momento uma outra parte dela deveria ter morrido.

Depois de dar voltas e voltas acabou encontrando o caminho para a casinha e Éponine sentada ao pé da árvore, encolhida e ensopada.

–Eu torci o tornozelo, não consigo subir.- ela explicou sem olhar para ele e sem mesmo ele se aproximar mais.

–Deixe que eu ajudo você a voltar para casa, a chuva está forte e você pode acabar ficando gripada.- Enjolras se aproximou estendendo a mão.

–Não me importo.- ela rebateu, empurrando sua mão para longe.

Enjolras bufou impaciente.

–Então ao menos vamos tentar subir nessa casa de madeira podre.- resmungou levantando Éponine do chão e a forçando a segurar na escada, enquanto a ajudava o melhor que podia.

Com muito esforço os dois entraram. Éponine desabou arfando no chão e logo se encolheu como um animal assustado. Enjolras ficou ao longe observando a mulher tentar normalizar a respiração.

–Eu sinto muito, pelo Montparnasse. Eu sei como vocês dois eram próximos.- Enjolras falou com a voz sem emoção. Observando a chuva que ainda não diminuíra.

Ela assentiu com a cabeça, abraçando os joelhos.

–Ele era a única coisa que eu tinha certeza na minha vida. Era para ele que eu sempre ligava mesmo estando longe. Ele foi meu norte por tanto tempo,que agora estou meio perdida.- ficou em silêncio,olhando as manchas na madeira.- Mas de alguma forma eu sabia que esse seria o fim dele. Ele era um malandro, no pior sentido da palavra, eles não duram muito.

–Mesmo assim, saber não diminui a dor.

–Não.- concordou a morena.

Enjolras engoliu em seco e andou até onde Éponine estava,sentou e puxou a perna esquerda dela para olhar o tornozelo inchado.

A morena fungou e reclamou baixinho.

Enjolras deixou a mão ali.

–Parabéns.- Éponine falou de repente.

Ele olhou confuso para ela.

–Ah, você não sabe. Acontece que eu ouvi a Thaís falando que está grávida, imaginei que soubesse.

–Não, eu não sabia. Obrigado por me dizer.

Éponine começou a rir.

–Que foi?

–Só você mesmo para ter essa reação.

–Qual deveria ser minha reação?- quis saber.

–Sei lá. Vindo de você? Imaginei que desmaiaria de medo ou então começasse a considerar o suicídio, levando em conta como é o seu sonho ser pai. Ou então deveria ficar muito feliz.

–Como você acha que é o jeito menos doloroso de se matar?- Enjolras perguntou como se realmente estivesse considerando a ideia. Éponine riu de novo.- E qual seria a reação do James?

–Ele ficaria radiante se eu ao menos conseguisse segurar uma criança por mais de cinco meses.- o olhar dela ficou opaco e ela desviou para a barriga.- Ele finge que não mas, eu sei que ele fica desapontado e aborrecido. Já tentamos três vezes. E os três eu perdi.- confessou baixinho.

Enjolras a abraçou, se detestando por ter perguntando.

E surpreso ao perceber que não sentia mais raiva dela. Talvez não sentisse há muito tempo, só a mantinha com medo de se esquecer.

Éponine se soltou do toque de Enjolras. A chuva caia com força do lado de fora da casa da árvore onde anos atrás eles estiveram depois de seu primeiro beijo.

A tensão então, estava presente e era palpável. Enjolras encarava a mulher a sua frente que tentava ignorá-lo ao olhar para fora. Ele deu um passo á frente e pode ver Éponine se retesar.

–Por que?- ele perguntou, a voz mal saindo. Sabia que não era o melhor momento para exigir explicações,mas se não fosse ali,seria quando? Ela poderia muito bem ir embora no dia seguinte e ele nunca mais a veria. Não podia acreditar que estava ali com ela,e como Éponine continuava linda mesmo depois daqueles anos. Tudo o que queria era pegá-la em seus braços e poder abraçá-la e sentir o calor, o toque, o beijo e sentir tudo aquilo que só ela podia proporcionar. Ao mesmo tempo que queria poder guardá-la de toda dor que ainda iria sentir na vida.

Éponine se virou para encará-lo. No seu olhar havia dor e magoa,como se olhar para Enjolras fosse doloroso demais, como se não pudesse suportar, como se a qualquer momento os pontos de um machucado fossem estourar. Passara todos esses anos se mantendo no controle, tentando apagar qualquer vestígio de memória dele,por mais difícil que fosse. Depois de um tempo estava se saindo bem e gostava de estar na companhia do seu marido. Mas de repente, ali estava ele,na sua frente, mais lindo do que sua memória a permitia lembrar e ainda preocupado com ela, como se ela realmente valesse o esforço.

–Por que, o que Enjolras?- ela falou com toda sua força para sua voz sair controlada, não querendo mostrar que queria quebrar e que ansiava que ele a consertasse como fizera uma vez muito tempo atrás... antes de quebrá-la de novo.

–Por que você desistiu de nós? Por que me traiu? Por que não me contou? Eu estava te esperando.- Enjolras suplicava por respostas que a tanto esperava, não conseguia entender por que ela havia escolhido largá-lo. Ele compreendia perfeitamente o trabalho que Éponine tinha escolhido e a apoiava. Éponine riu de incredulidade enquanto secava algumas lagrimas teimosas que escaparam. Não era essa resposta que Enjolras esperava.

–Eu? Você tem coragem de dizer que fui eu quem desistiu de nós?- Éponine questionou com a voz falhando. Enjolras a olhava confuso.- Muito bem, você não esperava que eu descobrisse você e a Thaís certo?- ela desistiu de lutar com as lagrimas.

–O que você quer dizer?

–Eu... eu tinha acabado de chegar de viagem. Queria fazer uma surpresa... eu estava morrendo de saudade de você e do seu abraço. Foi tudo o que eu pensei naqueles seis meses. Quando eu chegasse pensei que você iria me abraçar e estaria tudo bem,como foi um dia. Mas eu fui ingênua. Sabia nada seria como antes porque você...- ela parou respirando fundo e olhando para teto.- você simplesmente deixou de me amar. E eu sabia disso quando eu decidi ir naquela viagem. Sabe como eu sabia? Porque não era o Enjolras que eu conhecia que estava deixando para trás, era outro completamente desconhecido e que não me amava.

–Éponine, eu nunca deixei de te amar... Quando descobri que você tinha casado... isso me quebrou de maneiras que você não faz nem ideia.

Éponine riu novamente não acreditando que ele ia insistir naquela história.

–MENTIRA!- ela cuspiu a palavra. A chuva, se possível havia aumentado. Enjolras ficou um em silêncio, esperando que ela se acalmasse.- Eu não avisei ninguém que estava chegando que queria fazer uma surpresa para você... foi quando cheguei no nosso apartamento- Éponine sorriu levemente ao dizer “nosso apartamento”, mas logo depois fez uma careta de dor.- E você estava lá... porém não sozinho. Adivinha quem teve a grande surpresa?- indagou com sarcasmo.

Ele fechou os olhos com força se odiando.

–Eu sabia que tinha ouvido a porta se fechando... O que você viu Éponine, foi um acidente. Thaís me beijou e se você tivesse esperado,me procurado, saberia que foi um mal entendido.

–Tão mal entendido que você está namorando com ela agora e está grávida de você. Não é mais fácil admitir que você estava cansado de mim?

Ele deixou sua vontade vencê-lo e andou até Éponine, pegando seu rosto com as duas mãos. A garota fechou os olhos ao sentir o toque de Enjolras, sentiu seu corpo todo ficando mole.

– A única mulher que eu amo está bem aqui na minha frente...

–Casada com outro.- ela completou, a voz fria enquanto tentava se soltar de Enjolras.- Que a ama.

–Ele não a ama. Não como eu.

–Ele não trai minha confiança.

–Eu não te trai, Éponine.- Enjolras cansado tentava convencê-la.

–Do que isso importa agora?- Éponine perguntou.

Os dois se encararam.

Sim, do que explicações adiantaria agora? Enjolras a soltou e deixou as lagrimas virem, não chorava havia muito tempo. Mas não conseguia mais segurar, ele passara tanto tempo culpando Éponine,que não havia parado para ver seus próprios atos. Quando ela saiu de casa para a turnê do grupo de teatro que trabalhava,os dois já não eram os mesmos. Alguma coisa tinha mudado,se apagado, mas ele nunca deixara de amá-la e imaginava que com aquele tempo, o que eles tinham antes pudesse voltar. Então veio Thaís e o pegou em um dia que estava se sentindo... vulnerável. E ele se entregara. E Éponine neste dia estava voltando para ele.

E nesse mesmo dia a perdera.

–Nós fomos uma má ideia, Enjolras. Nunca deveríamos ter acontecido... você me causou uma dor muito maior que a dor física que eu fui obrigada a passar.

Enjolras passou a mão pelo cabelo molhado, desesperado. Ele não achava que eles haviam sido uma má ideia. Muito pelo contrario, Éponine havia despertado seu lado emocional, despertado tantas coisas boas.

–Não diga isso, por favor.- ele implorou.- Deve ter algum jeito.

Éponine negou com a cabeça.

–Não tem nenhum jeito. Você escolheu nosso caminho.

–Foi um erro!.- ele gritou.- Nós parecíamos uma boa ideia,porque no fundo você sabe que somos!

Éponine sorriu, um sorriso doloroso.

–Enjolras, acabou.

Se seguiu um silêncio. O único barulho era o da chuva. Enjolras e Éponine não ousaram se mover e mal respiravam. Éponine sentia um aperto insuportável no peito,como na noite em que vira Enjolras e Thaís aos beijos.

Depois de minutos que pareceram séculos, Éponine se moveu, indo para a janela. Estava tremendo,mas não sabia se era de frio ou uma reação de seu corpo, desesperado para se juntar ao de Enjolras.

–Enjolras...- ela o chamou, agora sua voz livre de qualquer magoa, dizer o que tinha acabado de dizer de certa forma a aliviara.- Me desculpe.- Enjolras se aproximou dela, ficando de frente para ela.

–Pelo o que, Ponine?

Ela ficou em silêncio, não sabia pelo o que estava se desculpando. Só sentia que devia isso a ele.

Por fim deu de ombros.

–Foi um erro eu ter voltado. Eu só quero que você seja feliz. E com isso eu estou te libertando. De mim.

Enjolras pegou as mãos de Éponine e as colocou em seu próprio rosto, depois beijando a palma de cada uma.

Mais um pouco, Éponine não teria mais auto controle para se manter longe de Enjolras.

–Você sempre foi tão melhor que eu.- Enjolras admitiu.- Infelizmente eu não consigo te libertar, Éponine. – ele a olhou nos olhos e foi se aproximando lentamente, esperando que ela fugisse, porém ela ficou o encarando,até que Enjolras beijou.

Éponine se deixou ser beijada. Não estava pensando naquele momento, se lembrava de James, mas aquela sensação de conforto que Enjolras a proporcionava era tudo que ela precisava no momento.

Foi Enjolras que a confortou quando ela estava tão louca que James não conseguia nem chegar perto, foi ele quem a seguiu até ali porque estava preocupado.

Sempre foi ele, mesmo quando ele não era o homem bondoso que era hoje,sempre foi ele desde o dia que se conhecera,

Os dois se deitaram no chão da casinha,ainda se beijando,lentamente, sem pressa de acabar o momento, como costumavam fazer. Estavam cansados de lutar, cada um em seu campo de batalha interno. Se esqueceram de tudo que havia fora daquela casa. Tudo que tinham em mente era como sentiam falta um do outro. Paravam para tomar fôlego,para logo voltarem para os braços do outro.

A chuva diminui rapidamente após a conversa, como se para alertá-los ou então alguém lá encima estava satisfeito com a conversa, mas somente Éponine pareceu perceber isso,quando Enjolras tentou tirar sua blusa do pijama. Ela o empurrou com toda força, o arrependimento estampado em seus olhos.

–Eu te amo.- ela sussurrou. Enjolras sorriu com aquelas palavras.

–Eu te amo, Éponine.- ele devolveu indo na direção de Éponine mas ela se afastou.

–Mas está na hora de seguir em frente. De deixar um ao outro ir. Eu tenho minha família agora, você tem sua família. Thaís está grávida, Meu Deus! O que nós tivemos foi lindo, uma história que o mundo tinha que saber. Uma história que sempre vai existir, mas temos que aceitar que acabou.

Enjolras a encarou por vários segundos, as palavras entrando em sua mente. Ela admitira que ainda o amava mas mesmo assim o estava deixando ir.

–Você está certa.- Enjolras concordou. Logo ele seria pai e não podia abandonar Thaís,mesmo que não tivesse planejado nada disso, do mesmo jeito que sabia que Éponine não iria abandonar seus filhos adotivos.

–Vou sentir sua falta, Enjolras.

–Quem sabe, podemos nos ver? Quando você vier para Paris.

Éponine mordeu o lábio inferior.

–Melhor não.

–É. Melhor não.

Éponine foi a primeira descer, recusando a ajuda de Enjolras, mesmo com o tornozelo torcido. Enjolras antes de descer olhou para a casa. Se lembrou daquela noite, no casamento de Marius e Cosette, que os dois fugiram para lá, após o primeiro beijo, de como ela contou a história da constelação do corvo e como ficaram abraçados por tanto tempo sem dizer nada.

Enjolras a estava deixando ir,mas sempre iria se lembrar de cada momento em que tiveram juntos.

Foram em silêncio até a casa, e antes de entrarem se abraçaram uma última vez.

–Obrigada por ficar do meu lado essa noite. Era exatamente do seu apoio que eu estava precisando fazia tantos anos.

–Disponha.

Éponine abriu a porta e os dois meninos, filhos de James vieram correndo e a abraçaram. Logo James a abraçou e a beijou, cheio de preocupação, os olhos correndo a esposa da cabeça aos pés e fazendo uma careta ao ver o tornozelo.

Enjolras viu Thaís parada no batente da porta da cozinha. Os dois se olharam e ela assentiu com a cabeça. Sabia o que havia acontecido entre Enjolras e Éponine minutos atrás do mesmo modo que sabia que eles haviam se deixado ir,para que cada um seguisse sua vida.

Isso não queria dizer que Enjolras não ouviria poucas e boas quando chegassem em seu apartamento em Paris. Naquele momento sorria, mas estava borbulhando de raiva interiormente.

Thaís sorriu e abraçou Enjolras. Éponine sorriu ao vê-los se abraçando. Não conseguia mais odiar Thaís do jeito que antes. Sabiam que estavam exatamente onde deveriam estar.

Fantine e Vajean a abraçaram com força quando a viram, sussurrando como sentiam muito e que faziam questão de acompanhá-la ao velório de Montparnasse.

No dia seguinte, Enjolras e Thaís se despediram de todos, menos de Éponine que não desceu,mas ficou observando da janela discretamente. Se sentia orgulhosa de ver o que Enjolras se tornará.

Um advogado bem sucedido.

Um ser humano admirável.

E com toda certeza seria um bom pai.

E sabia que ela tinha feito parte daquela mudança. Do mesmo jeito que ele a havia mudado para melhor.

Enquanto dirigia de volta para Paris, Enjolras se permitiu levar para aquela manhã gelada,onde um jovem escondia seus livros nos seus casacos e andava apressado para a biblioteca de Sorbonne. Até que uma garota sem rumo trombou no seu caminho...


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Notas finais do capítulo

Aiii, e então o que acharam? Acho que já deu para perceber que falta tão pouco para acabar que eu já sinto vontade de chorar.

Por isso quero saber se querem que o próximo capítulo seja divido em dois (no caso o próximo seria o último) ou se já posto e acabo de uma vez com a palha assada. Dessa vez querido leitores vou deixá-los escolher.

Espero que tenham gostado e me digam.

Até mais!



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